Florescer ou murchar, a opção é só sua, acredite!

Hoje minhas meninas pediram-me que eu escrevesse um pouco mais sobre uma preleção que fiz pela manhã. Falei que nosso modelo mental tem dois fluxos de processamento das experiências que enfrentamos no dia a dia. Um deles é o fluxo instintual, apreendido ao longo dos anos. É uma forma rápida de reagir e se defender. Não pede muita reflexão. É pá, puf!.

Essa forma de processamento vai sendo moldada em nosso viver, sendo permanentemente reforçada e atualizada em sua concepção.
Imagine uma pessoa que na infância não podia falar quando à mesa de seus pais. Que ao primeiro balbucio recebia um: "cala boca rapaz".
No modo de processamento instintual, sempre que essa experiência for revisitada, noutros papéis vida afora, ele reagirá como fez na adolescência: ou seja calará. Calar é o padrão de reação aprendido e apreendido.

A única forma de evitar que os padrões infelizes sejam apreendidos é a consciência crítica, ou seja, a cognição, o conhecimento, a autonomia do ser.

Imagine que você sofreu um grande aborrecimento de seu cônjuge. Pensemos num extremo, no dia do seu aniversário ele esqueceu.

Essa vivência ou experiência de desamor poderá seguir os fluxos I ou II, sendo o II o lógico.

Se seguir o fluxo I, você reagirá da mesma forma como reagiu em experiências anteriores, na vezes que não se sentiu considerado (a) pelo amado (a). E tome patada!

No fluxo II há uma outra possibilidade. Você pode intervir nos seus pensamentos e remodelá-los pela razão, ou cognição como nós psicólogos gostamos de chamar. Como assim Ricardim?

Deixa eu te falar, nós temos um monte de coisas, gatilhos, prontos a ativarem nossa reação e o processamento instintual. Vamos virando animais. Brutos.

A única forma de não continuar a alimentar esse repositório de reações são os pensamentos. Os mesmos pensamentos que poderão te levar para uma reação descabida, são eles que poderão te levar para o fluxo de processamento racional.

Voltemos ao exemplo. Quando o pensamento de que você não é amado suficientemente chegar, por causa do esquecimento de seu dia de aniversário, você pode repreendê-lo e inserir uma dúvida no mesmo: como você não é amada é amado(a) se no dia anterior você ele(a) passou a noite planejando suas próximas férias?

Uma outra forma potente de lutar contra pensamentos tristes é a colocação no seu lugar de pensamentos alegres.

Tá bom, ele (a) esqueceu o seu aniversário mas o pessoal do setor fez festa. Ou você ligou para ele(a) e cantou parabéns para si mesmo com humor e deixou o(a) outro(a) sem jeito.

Se você não pode mudar uma experiência acontecida, ou uma vivência de dor, você pode mudar a si mesmo. a forma como permite que os pensamentos sobre ela aflijam você, ativando o fluxo do sofrer:
- Emoções: raiva, mágoa, tristeza, inveja, frustração, nojo, etc;
- Atitude: procrastinação, tibieza, apatia, perda da vitalidade, desconfiança;
- Comportamento: tirar satisfação; hostilizar; agredir; se vingar;
- Padrão Apreendido: Toda vez que se sentir desamado: apunhalar!

Qual o perigo dos pensamentos sobre o que não deu certo virarem prioritários em seu dia?

Eles ativam o modo automático, o processamento instintual, já que geram um dos condicionamentos mais letais que existem, o condicionamento operante, o mesmo que animais de circo são treinados. Um dos livros da bibliografia da psicologia positiva que recém adquiri e que venho dedicando muito estudo chama-se A Inutilidade do Sofrimento, autora portuguesa chamada de Maria Jesus Alava Reyes. Trata-se de uma obra brilhante. Afinal, os maiores centros de produção de pesquisa e publicação de conteúdos em psicologia positiva estão hoje em Portugal e nos EUA.

Reyes tem uma linha de tratamento para depressão, com 10 anos de resultados cientificamente documentados, baseado na teoria do pensamento. Ou terapia cognitiva.

Ela defende, e eu endosso, que a úncia forma de não alimentarmos o inconsciente instintual é debatermos com nossos próprios pensamentos.

Longe de ser uma terapia de auto-ajuda, trata-se de uma terapia que privilegia a autonomia do ser e suas escolhas.

O foco para o bem-estar passa por um combate aos pensamentos que teimam em poluir e empestar nosso ser, sobre tudo que não deu certo ao longo de nosso dia, mês, vida.

Esse pensamentos negativos acabam por gerarem reações aprendidas ao longo de nosso viver, nos colocando sempre em posições defensivas, ou de vítima. tome cortisol e adrenalina.

E, ao longo de nosso história vamos ficando ressentidos, resignados, rabugentos e descrentes de tudo e todos. Ou seja, chatos.

Para combater pensamentos negativos, ruins, só com pensamentos que o anulem e sobre eles cresçam: os bons.

Ontem, comecei o dia recebendo um presente de um amigo, frutos da cagaita.
Ontem, terminei o dia recebendo uma chamada de meu chefe por ter feito algo indevido.

Vamos ao exercício. O pensamento da chamada chega e me atordoa.
Fico sem chateado. Pergunto-me, posso voltar a cena e corrigir o fato? Não.
Pergunto-me, farei errado novamente? Não.
Aprendi e cresci com o fato? Sim.
Posso alterar rotas e cursos de ação, minimizar os danos causados? Não.
Então, não posso levar esse sofrer para o mês que vem. Preciso fechar as janelas dele.
Após essa reflexão, ativo o pensamento antídoto: o dia foi legal, ganhei cagaitas, e elas são deliciosas.

Agora convivem na minha psique o - e o +. Ou seja, anulo a força do negativo e não deixo que ele pegue o beco para uma relação instintual que tive vida afora, quando era menos preparado para lidar com situações do tipo.

Esse pensamento negativo tem o mesmo poder de um disco arranhando, ele fica remoendo, remoendo, remoendo. E você tem que ficar atento, para a cada remoer, lançar o outro. Repreender o negativo.
Mandá-lo calar a boca.

Será que você me entende?

Qual o segredo do bem-estar de pessoas com as quais cruzamos vida afora, mesmo em piores condições sócio-econômicas que as nossas?

Os pensamentos que elas deixam habitar em seu ser, e deles produzir emoções, atitudes, comportamentos e moldarem novos padrões do ser.

Eduquem seus filhos para valorizarem as coisas boas, e agirem sobre as não tão boas. Celebrarem e degustarem o bom, eternizando-o.

Eduquem-se para selecionar coisas boas, bênçãos, dádivas, pequenos milagres que vão acontecendo durante o dia, usando esses pensamentos para contrabalançar ao que de ruim aconteceu.

Esse é o algoritmo do bem-estar.

Que pode ser resumido num acrônimo: SEERR.

- Sentido (o norte de nossa vida, nossos valores, senso de missão)
- Emoções Positivas (alegria, gratidão, doação, bondade, esperança, etc...)
- Engajamento (envolver-se com algo que ao fazer o tempo para)
- Realizações (abrir o baú de nosso viver e celebrar o que fomos e somos)
- Relacionamentos Significativos (vincular-se ao afeto e amigos de fé)

O SEERR opera nos pensamentos, remodula nossa postura diante da vida e nos faz viçosos e animados para enfrentar a realidade: com a coragem de sobreviventes!

Por isso, alimente seu coração com coisas boas, pensamentos bons, um olhar sobre a vida que por ela valha a pena viver.

Isso fará toda a diferença quando estiver diante de uma dor insuportável.
Eu te digo, pois já vivi, e sobrevivi.

Pare de ficar resmungando sobre tudo e todos. Isso não te fará bem.
Pare de ficar só procurando o que te faz infeliz, como quem procura defeito em carro velho. Vai achar. Ahh se vai!

No algoritmo do florescer, aprender substituir os pensamentos ruminantes de dor, luto, mágoa ou culpa é uma questão de vida ou morte.

Pense nisso!

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