Cartas ao JG - Permita-se às Estações do Murchar, Mas...


Sabe filho, anteontem não sei o porquê mas me senti murchinho. 
Com um certo ar melancólico, uma tristeza que não sabia de onde vinha. 
Explosões solares, hormônios, constelações librianas, conjunções espirituais, 
ou apenas leseira, sei lá, tudo deveria estar conspirando.
Extrovertidos nestas horas penam.
Todo mundo saca e lança logo a peixeira no peito do infeliz, em forma da maldita pergunta:
“O que é que tu tem?”
- Sei lá. Deve ser TPM natalina.
Já me conheço. Deixo-me quieto, não forço minha barra para aparentar ser quem não estou sendo.
Antigamente eu ficava preocupado. Hoje, compreendo-me e deixo-me fluir. 
Vai passar. Mais cedo, ou mais tarde.
Escuto, enquanto teclo, a canção Windmillis of Your Mind.
Quando você crescer e quiser lembrar-se de teu pai escute esta canção.
Ela conta minha história. Não precisa acessar sua letra, igualmente bela, só escute a melodia.
Voltando à minha TPM, previno-lhe: você irá passar por períodos assim.
Chamo-lhes do “Modo Murchar”.
No Modo Murchar tudo fica maior e mais dramático.
Ficamos muito sensíveis e pouco resilientes aos trancos do dia a dia.
Tudo vamos selecionando com o olhar da tristeza. 
Um email de felicitações de ano novo que mandamos para 15 pessoas e só uma respondeu.
Um pedido de ajuda excepcional que logrou êxito e a pessoa que solicitou não disse um obrigado sequer.
Tudo vai ficando melodramático.
Já no Modo Florescer focamos no único dos 15 que retribuiu.
No modo Murchar, focamos nos 14 que não retornaram. Entende?
No Modo Murchar, focamos no cara que não foi grato.
No Modo Florescer, focamos na satisfação pessoal de ter resolvido um problema de alguém que nos pediu socorro.
Aprenda a se ler quando estiver de birra com a vida.
Cuidado para não sair descontando nos outros. Não tome decisões nesse modo,
nem fale nada que depois possa se arrepender.
Espere passar para o Modo Florescer novamente.
Hoje atendi a um colega no modo Murchar. 
Ele vive dramas pessoais: o término de um casamento de 10 anos, a morte recente de um parente próximo.
e sente muito o vazio que a falta da mulher causou, é que ele a ama ainda.
E, até a lacuna que a imensa, alegre e afetuosa família dela passou a lhe fazer.
Procurou-me para saber se eu tinha passado por situações difíceis, e como fiz para continuar trabalhando.
Contei-lhe um pouco minha vida, e ele foi ficando aliviado. 
Quando sofremos achamos que só nós estamos passando por aquilo.
Saber que outros passaram e conseguiram sobreviver nos dá ânimo. 
Contei-lhe meu segredo para florescer, apesar dos pesares: ajudar alguém.
Ele, agora mora com sua mãe. Falei que a ajuda dele à sua mãe pode ser terapêutica,
dependerá de como ele veja a situação: bênção ou maldição.
Então, filho amado, nos momentos em que estiver no Modo Murchar faça algo para alguém, 
doe-se até a uma causa.
Isso ajudará a sair da murcha.
Segunda, por exemplo, resolvi participar do evento Top-Chef BB produzindo um prato 
e trazendo na terça para a degustação dos colegas. 
Cozinhar para os amigos é uma excelente forma de florescer.
Aprenda a cozinhar, nem que seja um mexidão. 
Quem cozinha se conecta ao universo arquétipo e simbólico de nossos ancestrais,
sendo um excelente tônico para o viver.

Segunda cozinhamos juntos. Você era o mestre verdureiro.
Só em ter me envolvido com a compra dos ingredientes, e com a produção de um prato inédito,
já me deu uma alegria danada.
Passamos uma boa noite de segunda juntos, lado a lado na cozinha.
Eu, vivendo o personagem de cozinheiro experimental, daqueles sem receitas, 
e deixando-me guiar pelos sabores, texturas, aromas e cores.
Você, o de malabarista de legumes.
Ontem, trouxe o prato e o pessoal do trabalho gostou. 
Quem cozinha não come muito do que faz; gosta mesmo é de ver o povo comendo e com prazer.
Fiquei super feliz.
E não é que ficou bom, Acho que foi o tempero de tuas mãos.
Filho meu, precisamos de motivos para renovar nossas esperanças.
Precisamos de motivos. Os motivos estão para a saúde mental, como o sol está para o florescer.
Motivos nos dão garra, energia e bem-estar.
Cultive seus motivos com carinho.
Por mais simples que lhes pareça, são os teus motivos o que te pluga à força do viver.
Tem gente que vai murchando, murchando, como quem perde a conexão WIFI. 
Gente que acostuma-se a dividir a conexão de sua vida com vampiros emocionais, 
que só roubam sua vitalidade. 
Deixando-lhes piores ao saírem de suas vida. Cuidado com eles - os vampiros. 
Cuidado para não ficar com o jardim do coração cheio de agrotóxicos emocionais,
que farão murchar tudo em tua alma. 
Cuidado para não ficar como aquele som de celular quando tá acabando a bateria, 
ou perdendo o sinal da torre.
Recarregue-se, mesmo no sofrer.
Recarregue-se levando menos fardos dos outros, menos expectativas acerca deles.
Esperar demais das pessoas é abrir espaço para a tristeza.
Algumas pessoas irão te ferir, mais cedo ou mais tarde.
Algumas pessoas não voltarão para te agradecer.
Algumas pessoas simplesmente te verão como invisível, se é que se pode ver o invisível.
Algumas pessoas vão puxar teu tapete, vão desconfiar de ti, vão te agredir.
Tenha calma, “elas passarão, você passarinho”.
Não nivele sua felicidade pelo que receberá delas.
Se assim o fizer estarás condenado, vida adentro, à tristeza.
Algumas pessoas estarão sempre nos devendo generosidade, afeto, atenção e reconhecimento.
Simples assim.
Tenha compaixão delas. Mas, seja diferente.
Ouse não se embrutecer. Nestes tempos de rostos sem face, atreva-se a viver! Sê diferente, ame no deserto.
Diga muitas vezes obrigado.
Aprenda com seu pai, vamos lá, repita comigo e em voz alta:
OBRIGADO!
Deveria ter a disciplina “Obrigado” nas escolas. 
Fazendo parte dela os tópicos: Como ser grato; Como demonstrar afeto; 
Como perceber as necessidades dos outros; e, Como retribuir generosidades.
Por falar nisso, obrigado por você existir. Obrigado por você, entre um vídeo do GTA e outro, 
visitar o coração de teu pai e dizer que lhe ama.
Mas, repito-lhe cuidado com o modo Murchar.
Ele só deverá habitar teu coração o tempo de um outono e um inverno.
Depois cuide de si mesmo, abrindo novas estações em teu viver, repletas de sol e flores.
Antes que me esqueça, segue a receita que fizemos juntos e que me tirou do Murchar, 
que venham outras receitas, ou motivos para florescer.

YAKISSOTO By Ricardim

Ingredientes:

½ quilo carne de porco
½ quilo carne de carneiro (bode); ou de gado
200 ml de azeite de oliva
2 pimentões vermelhos
8 dentes de alho
4 cebolas
2 cenouras
Sal
Pimenta do Reino
200 ml de shoyu
100 gramas uvas passas sem caroço
100 gramas cogumelos
1 sachê de sopa de cebola
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Procedimentos:
1. Refogue a ½ quilo de carne de porco, previamente cortada em cubinhos, em azeite e ½ pimentão, dois dentes de alho e uma cebola. Coloque sal e pimenta do reino a gosto. Reserve.
2. Corte a carne de carneiro, bode ou (costela de gado) em pedaços grandes. Não tire os ossos.
3. Refogue na panela de pressão até o ponto de doura os pedaços de carneiro (bode). Para o refogado, use uma cebola, dois dentes de alho e ½ pimentão vermelho. Sal e pimenta do reino a gosto. Reserve.
4. Pique uma cebola e dois dentes de alho e ferva-os com um litro de água, levemente salgada e apimentada. Coloque esse caldo na panela de pressão, junto ao carneiro e cozinhe por 30 minutos após levantar fervura. Reserve.
5. Numa panela larga e funda (Tipo WOK) refogue no azeite, uma cebola e um pimentão vermelho picados, até ficarem quase uma pasta, de amolecidos, e coloque dois dentes de alho e duas cenouras, todos cortados em pequenos pedaços. Regue com mais azeite, sempre que necessário.
6. Acresça o ½ quilo de arroz e misture bem. Cozinhe essa mistura por três minutos, mexendo bem.
7. Junte a carne de porco e misture.
8. Desosse o carneiro (bode) cortando em pequenos pedaços. Misture-os ao arroz.
9. Agregue a água do cozimento do carneiro e misture bem. Deixe cozinhando em fogo baixo.
10. Adicione um copo de shoyu e misture.
11. Após ponto de fervura, dissolva um sachê de sopa de cebola no caldo e misture levemente.
12. Acompanhe o cozimento do arroz, sem mexer muito na panela, sempre completando com água previamente aquecida, caso necessário.
13. Não deixe secar muito a água. O ponto da liga é de risoto para mais molhado. Após cozimento, desligue o fogo certificando-se de que a água restante será suficiente para absorção final do arroz, sem que fique seco o resultado final.
14. Deixe o prato descansar por 30 minutos.
15. Realce os sabores adicionando cogumelos e uvas passas, misturando-os ao Yakisssoto.
16. Antes de servir, aqueça bem revirando lentamente o quase risoto e quase yakisoba.

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