Cartas ao JG - A arte de contar os números da vida.

Meu filho, ontem cheguei em casa perto das 23hrs. Voltava de uma aula que lecionei na UNIP, cheguei em casa feliz. A aula rendeu. O tema foi sobre a capacidade que temos de fazer com o que a vida nos faz, uma ponte para novas descobertas, ou um muro de uma prisão.

Um dia você entenderá o que teu pai agora escreve. Costumo dizer que na mesma realidade há benção e maldição, há o bom e o ruim. Mas, que olhar o lado bom da vida é uma decisão, uma escolha, algo que fará toda a diferença. Somos treinados para o negativo, pessimismo e vitimização. Precisamos reprogramar nosso cérebro para que ele aprenda a filtrar melhor a realidade, destacando dela às coisas pelas quais somos gratos: um belo pôr do sol, uma amizade, um pássaro que canta, uma refeição prazerosa - e também reaprendermos a agradecer às pessoas que tornam nosso dia a dia um pouco melhor, reconhecê-las e elogiá-las, desde que seja um elogio verdadeiro.

Ensinei aos meus alunos o que agora te ensino nessa cata: chore e sofra com as coisas ruins que te acontecem, somente um dia e uma noite. Somente. Depois, bata a poeira, enxugue as lágrimas e siga sua jornada. Ontem foi um desses dias na vida de teu pai. Algo me decepcionou no mundo do trabalho, me fez profundamente infeliz, algo do tipo de uma fofoca. Chorei o dia de ontem e a noite. Hoje, as 6 da manhã, quando escrevo pra ti, já virei a página. Aprendi com o ocorrido, extraí preciosas lições e segui adiante. A vida não para, não dá uma pausa, para que você enxugue as lágrimas. E, fugir para a arquibancada dela, quando o jogo fica difícil, não é uma boa escolha.

Cheguei em casa e tinha um bilhete de tua mãe: “Amado, tem pizza no forno. Se sobrar guarda na geladeira por favor”.

Contei minas bênçãos novamente. É muito bom chegar em casa e ler um bilhete desses. Não sobrou pizza, estava deliciosa.

Aí escutei uns passos na escada. Pensei que seria tua mãe. Mas era você. Fui tomado de surpresa. Você nunca sai de perto dela, principalmente quando chora.

Tu manténs uma certa distância de teu pai nessas horas.

Você chegou até mim tossindo muito e chorando. Chorava que se engasgava a tosse com o choro, o choro coma tosse, aponto de vomitar o leite recém-tomado.

Quase que vomito junto.

Mas não era hora de teu pai dá chilique.

Te abracei. Perguntei-lhe o que ocorreu, e onde estava tua mãe.

Você contou que ela dormia. Então saquei que ao ver a luz da cozinha acesa você veio procurar ajuda com seu pai, então a coisa era séria.

Você, entre lágrimas e soluços, dizia que chorava por “não saber contar”. “Que era difícil”

Que a professora fizera um jogo na escola e que você “perdeu”.

Perdeu o jogo dos números, por não saber contar e que a tia ficou brava.

Disse-me chorando que “não iria aprender a contar” e que os outros ganharam o jogo.

Pediu pra não mais ir pra escola, hoje, e que queria ir comigo ao trabalho.

“Pois não sabia contar os números”.

Coloquei-te mais forte contra meu peito, abafando tua profusão de choro, e te ninei. Disse-lhe que sou professor e que iria te ensinar a contar os números. Todos os dias ao chegar em casa. Disse-lhe que você mal tinha feito 5 anos e que nem todos aprendem as coisas ao mesmo tempo.

Disse-lhe que perder faz parte do jogo da vida. Que nem sempre ganhamos. Que sempre haverá uma nova oportunidade, uma outra partida para tentar novamente.

Você foi se acalmando. Te levei para dormir comigo, na rede. Eu acarinhava seu cabelo e você soluçava baixinho.

Aquilo doeu em você.

Algo te magoara no ato pedagógico de tua “tia”.

Dias atrás, morreu no Brasil um grande filósofo e professor chamado Rubem Alves. Procure ler a obra dele e entenderá que só se faz uma boa pedagogia com afeto, com amor. Que o conhecimento deve ter sabor, que deve ser prazerosa a descoberta das coisas.

E que a escola tradicional destrói o espaço do prazer em aprender, com métodos ultrapassados e autoritários como o que te fez tão infeliz ontem.

Com certeza, quando você ler essas linhas já saberá contar. As pessoas têm ritmos diferentes de aprendizagem. E é isso que muitos pretensos educadores não sabem. Querem botar todo mundo na mesma “forma”, de formar, e que que dali saia “bolinho” pedagógicos em forma de gente, todos iguais e no mesmo estilo, tom e jeito de ser.

Uma pena. Uma escola que deseduca para a autonomia.
Hoje será um dia difícil emocionante pra ti. Você precisará dar uma resposta pra vida. Precisará enxugar as lágrimas e lutar para aprender a contar. Não vou passar a mão em tua cabeça. Dizer que não precisa aprender a contar. Aprender a contar faz parte do viver.
Hoje você vai ter que vencer a vergonha, superar os maus tratos de uma tia que te expôs - por não acertar o jogo de contar os números, superar o medo dela: “mas a tia é muito braba”.
Superar os gracejos de tua turminha, superar a inflamação em tua autoestima ainda tão jovem.
Não poderei fazer por ti. Gostaria muito. Essa é uma luta só tua. Você precisará encará-la e não correr pra arquibancada do jogo de tua vida, quando num dia infeliz, levar 4 gols em 6 minutos. (Veja o replay do jogo Brasil e Alemanha, Copa do Mundo Brasil 2014).
Vai precisar se fortalecer para enfrenta-la. Muitas desses pretensos professores vão passar pelo teu viver e te dizerem que você “é um perdedor”, um “fracassado”. Que você não sabe “contar os números”.
Não deixe que eles te diminuam. Ninguém é, está.
Não desista. Corra atrás e supere as dificuldades com mais dedicação e comprometimento ainda.
Na vida, 90% das cosias que nos acontecem vem da transpiração, da disciplina, da pegada no chifre do touro da vida e na sua doma.
Os outro 10% da inspiração, da sorte, do acaso, de tá na hora e lugar certos.
Os outros 100% vem da mística, da presença de Deus em nosso viver a nos animar e soprar em nós seu espírito.
Mas pai, aí deu 200%. É filho, Deus também não sabe contar, pra ele o menos pode ser mais, e o mais pode ser menos. Coisa que tua professora ainda não aprendeu.
A conta da vida sempre é credora, ela sempre tem mais a nos ofertar, mesmo que pensemos que dela já tiremos tudo, já saquemos tudo. Afinal, Deus não é bom em contar os números e nos medir com a rigidez de uma calculadora. Pra Deus tudo pode ser 7 x 70, o infinito.

Vá e viva esse dia 22/07, o dia que descobriu que precisará encarar a dor, o luto e o sofrer de frente. E tente mais uma vez aprender a contar os números.

Esse é teu cálice e é tu quem terá que bebê-lo hoje. Têm pais que querem beber pelos filhos, superprotegê-los, tomar satisfações de tudo, e produzem filhos indefesos e frágeis.

Vão sofrer pois não aprenderam a perder, a sofrer. Alguém fazia por eles.

Na primeira perda vão procurar ajuda nas drogas.

Você vai ter que aprender a lidar com essas pessoas – do tipo de tua professora nas cenas de ontem na escola.

Vai ter que desenvolver a casca grossa, a saber sair de situações desagradáveis a que foi submetido. Sem perder tua ternura, tua alegrai, teu otimismo e esperança em dias melhores.

Aprender a levar pancadas da mãe vida sem ficar bruto, sem devolver na mesma medida.

Caso contrário, aí sim eles ganharão de ti.

Você não precisa ganhar o jogo de contar os números. Para teu pai, só participar do jogo já é uma vitória. Nem sempre ganhamos os jogos, nem sempre perdemos, o importante é jogar.

Não vou te criar, assim como não criei teus irmãos, para o sucesso.

Vou te criar para ser o melhor para o mundo, e não pra ser o melhor o do mundo.

Aqui reside uma enorme diferença.

Não vou te criar para ser modelo, perfeição, para ser o primeirão em tudo.

Para excessos de competição, poder, vaidade e orgulho que vejo pelas famílias afora.

Teu pai não joga esse jogo! Aqui o sistema é mais simples, e, garanto-lhe, no final bem mais prazeroso do que essa luta ensandecida por sucesso, nem que seja numa disputa de um jogo de contar números.

Em nosso lar o quarto lugar está de bom tamanho, desde que você tenha lutado para ser o primeiro!

E, voltando à minha aula de ontem à noite: mais do que saber contar os números, a contar teu saldo bancário, a contar teus bens, aprenda a contar tuas bênçãos, a contar teus amigos, a contar tuas superações, a contar e guardar em teu coração as coisas boas que todos os dias estão ali pertinho de nós e que nossos olhos opacos pela indiferença vão esquecendo de vê-las.

Isso é o que fará a diferença na contabilidade do jogo da vida e do viver.


Obs: Uma noite e um dia é uma expressão que uso para definir um certo tempo determinado. Parar de chorar, mais do que uma proposta emocional, é uma decisão racional. É uma escolha de fechar janelas, dá um Atl + F4 no Sistema Operacional Interior e permitir-se a abrir outras possibilidades. Mas, cada um tem o seu próprio tempo, a sua própria "noite e o seu próprio dia de luto". Só não pode virar meses, metaforicamente falando.

O dia do homem

Aquela guia para exame periódico de saúde jazia na minha mesa há dois meses. Nela, inscrito em letras miúdas, a palavra Urologista. No ano que farei 50 anos acho que é uma cidadã iniciativa em saúde, no mundo das organizações do trabalho, contudo um tanto delicada. rsrs
Desde 2007, aprendi que quem faz o exame de próstata é o urologista, não é no proctologista, como o sugestivo nome indica.
E, naquele ano aprendi da pior forma, indo aos dois. Uma segunda opinião é importante nesses casos.
Ontem, tomado de súbita coragem, após uma pane na CPU de minha estação de trabalho resolvi buscar nos classificados, de Brasília-DF, nomes de Urologistas.
Achei um tal de HU - Hospital Urológico de Brasília, ligo pra lá e acho um “encaixe” pra amanhã com um tal de “Alerrandro”. Um espanhol. Simpatizei de cara. Um médico espanhol pelo menos é de fora, não comentará nada om os brazucas locais.
Hoje, tomei banho caprichado e cu-i-dadoso. Coloquei a menos furada cueca.
E parti. No caminho, a lua deitava-se no horizonte, após uma noite de chamego com as estrelas. Estava linda, luão de julho 2014.
O céu, de um azul-Brasília, estupidamente belo. Como tem gente que ainda não o viu?
Ainda passei pelo trabalho, resolvi umas coisinhas corriqueiras. Na saída, avisei às minhas funcionárias que iria ao médico. Elas desejaram-me boa sorte.
Era visível a pontinha de riso em suas expressões. Sabiam do maldito periódico.
Como sou ansioso, cheguei com muita antecedência.
Entro na recepção dos Consultórios e escuto uma música bacana, daquelas que cantamos em barzinhos. Pois não é que tinha um cara solando num violão e soltando a voz na melhor MPB!
Pego a senha e aparece um número eroticamente cabalístico: 069.
Sento-me e contemplo, olhar lânguido, o banquinho e o violão.
Chega minha vez do credenciamento. Dirijo-me à atendente e ela me saúda, com um atendimento ímpar, querendo saber detalhes de minha pessoa: onde moro, o que tomo de remédios, quem me indicou. Ela queria conversa. Eu queria me esconder.
O cara tocando violão canta sussurrando, olhinhos fechados, dá quase pra tirar alguém para dançar. Só falta a meia luz e servirem um bom vinho.
Aguardo umas três horas, na porta do Consultório 3, e nada.
Já conheço o Alerrandro pela voz. Timidamente, olho de soslaio quando ele aparece novamente pra chamar outro infeliz.
O cara é bonitão. Passaria por um sufista espanhol indo ver a Copa no Brasil.
Lasquei-me novamente.
Agora toca o Rei. São muitas emoções. Pra complicar, sinto a barriga muito cheia, acho que estou com gases. Que merda!
Abro o “uotzapi” e tem um monte de gozações de meus amigos.
Lembraram-me que é o dia do Homem. Aproveito, e posto na minha página a senha e a situação.
Mais gozações. Pelo menos relaxei ao ler as brincadeiras.
No dia do homem, só um macho paraibano sairia de casa para encarar o dedão.
Angustiado com a espera, dirijo-me à sorridente atendente. Pergunto-lhe se meu nome tá na relação dos atendimentos pendentes.
Ela me fita com candura, e, falando baixinho diz: “tenha calma, o senhor é o próximo.”
Quem disse que estou nervoso? rsrs
Todos os companheiros de sina olham pra lugar nenhum. Caras de paisagem.
Não tem ninguém pra puxar assunto. Pego o jornal, o Correio Braziliense e faço uma leitura saltitante.
Paro no horóscopo e leio que me reserva, sou de Libra:
"Contatos abrirão portas que até agora estavam emperradas".
Vixe Maria, é hoje!
Nada ajuda, nem o horóscopo.
Eis que o bonitão me chama. Levanto-me com o restim de coragem que restou. No caminho, ele percebe um cliente antigo na espera. Deixa-me plantando, na soleira da porta de seu consultório, enquanto ele comenta com o cliente fiel os resultados da Copa, e o fiasco da Espanha. Sim, o cara é espanhol. Poderia ser pior, poderia ser Argentino, ou um alemão. Alemães batem um bolão.
Agora não tenho como disfarçar o vermelhão. Ali, e em pé, aguardando com um sorriso falso que as amenidades entre os dois acabem.
Chega o Alerrandro. Começa a me “interrogar”.
Respondo-lhe laconicamente. Espero o convite para os aposentos.
Ele pergunta das frequências das urinadas, se fica restinho a fazer. Aprendi as respostas corretas e falo com segurança. Não fica nada dentro.
Ele volta a carga com as perguntas: “Não fica a sensação de que ainda tem urina? Não vai ao WC umas 3 durante a noite? Não sente que a bexiga está cheia todo tempo? Não sente dificuldade em produzir o jorro? Não fica aguardando um tempão?”.
Não. Não. Não. Não. Não.
Resoluto respondo. Em 2007, descobri da pior maneira que se eu respondesse a um "Sim", um simples simzinho, eu ficaria em más lençóis. Após tantos "não", ele finalmente relaxa. Um perigo esse tipo de médico quando relaxa. Começa a puxar assunto de minha vida, o que faço, o que como, o que me estressa, coisas do tipo.
Imaginando o pior, digo-lhe que sou apenas mais um bancário latino-americano.
Nessas horas o mais é menos.
Não quero puxar assunto. Não falei do Bode com Farinha, dos livros, das aulas, dos filhos, em que trabalho.
Ele olha o exame PSA. Passa uns 10 segundos que mais pareceram uma eternidade avaliando.
E fustiga-me. O senhor aparenta estar bem. Mas, precisará fazer uma ecografia da próstata.
Pronto, lasquei-me novamente. Escapei do dedo e cai no tubo.
Ele se despede. Fala alguma coisa do time do Brasil que não prestei atenção.
Saio para marcar o exame cabisbaixo.
Se pudesse escolher preferiria o dedão.
A atendente me dá os parabéns.
Eu digo-lhe que nada.
Esse negócio deve incomodar, essa tal de eco pelas partes baixas.
Ela sorri, e diz que o doutor pediu pelo abdômen.
Que eu fique tranquilo.
Senti vontade de beijá-la. De pegar o cara do violão e sair dançar.
De abrir uma cerveja e pedir um tira-gosto.
Agora, esperemos os resultados das imagens.
Nada de cantar vitória antecipado.
Não é hora de perder a concentração. rsrs

Limpe os lixos emocionais de teu viver.


Desde sexta passada não voltava no cantinho que tinha preparado para ver o jogo Brasil e Alemanha.

Fiz um altarzinho especial, para ver o jogo do Brasil. Tudo bem planejado, figuras da copa, alemães de cabeça pra baixo, iluminação, sinal digital, freezer perto...

Preparei as cadeiras reclináveis, a bebida, o som plugado na TV, a pipoca, amendoins, e tudo que se pode comer sem tirar os olhos da TV. A torcida Brasil seria reduzida. Eu e o filhão de 5 anos, o João Gabriel e a Cristina. Dona patroa estava presente, mas ausente, trouxe a tábua de passar roupa para o nosso estádio e languidamente “engomava” roupa. Como alguém pode passar roupa em pleno jogo do Brasil? Nem Freud entenderia.

Depois da sexta feita passada, dia da emocionante decisão de uma das semifinais da Copa do Mundo de Futebol Brasil 2014, não voltei ao local em que assisti o jogo.

Sempre volto para arrumar a bagunça, no outro dia. É que a dona patroa é muito brava com sujeira.

Faz oito dias que fechei a porta que dá acesso à área de lazer e não aqui voltei. Nem no sábado seguinte, nem no domingo.

O local ficou em ruínas por exatos oito dias.

Trata-se de um lugar da casa integrado com a área de lazer, o pomar e o canil de Balu. Meu refúgio, o refúgio do guerreiro.

Hoje, amanheci disposto a abrir aquela porta novamente e fechar esse ciclo.

Resolvi assumir a limpeza, a limpeza de mim mesmo, de tudo que me desagradara e que deixara apodrecendo num canto qualquer de minha vida.

Ou encarava, ou aquilo iria virar um atentado à saúde emocional.

Entrei no local e os sons ainda estavam ali. Ao longe, escutei: gol, é gol, mas é gol, não é possível é gol novamente...

E, o JG gritando Flamengo!

As emoções voltaram à minha mente. Aquele pesadelo de 5 gols contra o Brasil, e em 29 minutos. Revisitei a cena do luto e sofri.

O lugar estava intacto, do jeito que eu deixara.

Sujamente intacto. Uns 4 pacotes de pipocas jaziam com a boca aberta pelo chão. Latinhas de cerveja, ainda cheias, denunciavam o abrupto corte da comemoração.

Amendoins espalhados pelo chão evocavam uma saída ríspida do local.

Fiquei matutando que todos temos um tempo para encarar a bagunça de algo que aconteceu conosco.

Um tempo para arregaçar as mangas e com vassoura, detergente e pá, retirar o lixo para bem longe, limpar o local e deixa-lo pronto para outras emoções.

Com nosso coração é assim, ao vivermos estados de luto.

Um dia chega o tempo, um belo tempo, de abrir o quarto escuro, encarar os medos, revisitar as cenas doloridas e processá-las de outra forma em nossas vidas, ou seja: recomeçar.

Tem um tempo de arrumar a bagunça e começar.

As imagens daquele dia agora não mais me assombravam. Passou, vida que segue.

JG teimava em querem me ajudar. E, vez por outra, ele me perguntava se iríamos ver um outro jogo. Sim, veríamos a muitos outros jogos.

O luto pede dormências, pede silêncios, pede portas fechadas.

Pede cinco ciclos cuidadosos, para ser processado, como um bom vinho.

São eles: O ciclo da negação: ‘não é possível que isso esteja acontecendo.” É pegadinha”.

O ciclo da raiva: “bando de filhos da puta, fizeram uma nação se envergonhar perante ao mundo ao levar de 7 a 1.”

O ciclo da barganha: "Não ganhamos a copa, mas fizemos a melhor das Copas.”

O ciclo da resignação: "Chegamos tão perto...”

O ciclo da aceitação: “Temos coisas mais importantes para nos preocupar. Copa tem de quatro em quatro anos.”

Vivi em 8 dias todos esses ciclos.

Saber a hora de descer as escadas, ao porão de seu viver, e encarar as coisas sujas que te fizeram sofrer – limpando-as de tua existência, é fundamental para o bem viver.

Parar de ficar remoendo, de ficar resmungando, de ficar se vitimizando.

Parar de viver o personagem: O Sofredor.

Pronto, passou, já deu...

Aquele luto incapacitante por um ente que faleceu, pronto tá na hora de passar, na hora da limpeza.

Aquele luto amoroso por um amor desfeito, pronto tá na hora de passar, na hora da limpeza.

Aquele luto afetivo por uma ingratidão sofrida, pronto tá na hora de passar, na hora da limpeza.

Tenha coragem.

Volte ao lugar da dor, revisite-o, e cresça com a experiência de se perdoar, perdoar a quem te fez sofrer e com isso rejuvenescer sentimentos adormecidos, num entulho de tranqueiras emocionais guardados em teu coração.

Limpe-se de tantas toxinas que os lutos foram produzindo em teu ser.

Encare de frente a vida que segue, sinta-se como criança - aberta a outras possibilidades e relativizando as situações acontecidas; procurando extrair delas ensinamentos e aprenderes.

É urgente e fundamental ser feliz. E, ser feliz é decisão. Nem que seja a decisão de limpar o lixo emocional que se acumula em teu ser, vez por outra.

Agora tá tudo limpo. Até cheirando ficou. Boto um samba pra tocar. Ligo a churrasqueira. Telefono para pessoas que amo.

E sinto a vida entrando em meu ser novamente.

Limpando tudo que estava morrendo e mofando pela culpa, dor e sofrer.

Mudam-se os jogos, as estratégias..., na vida tudo é mudança.



“A Holanda começou a prorrogação com uma postura diferente,
tomando a iniciativa. O técnico Louis van Gaal trocou Van Persie por
Huntelaar, apostando em sangue novo no ataque. Eu teria feito a
mudança (dos goleiros), mas já tinha usado minhas três
substituições, então não pude", declarou Van Gaal após a partida.”

Com essa decisão – a de substituir um atacante cansado por um inteiro, queimava-se a última substituição, das três possíveis que o time da Holanda fez contra a Argentina, nas Semifinais da Copa do Mundo Brasil 2014.
Quando Persie chegou ao Banco de reservas, deu um tapinha no goleiro reserva, para consolá-lo, não seria naquele dia que ele novamente entraria em campo e poderia vir-a-ser mais uma vez o herói da partida, a exemplo da anterior contra a costa rica, na qual ele pegou dois pênaltis.
Vi a cena e fiquei pasmo. Nunca imaginei que a estratégia vencedora iria ser abandonada por outra, no mesmo contexto e cenário.
Se você estivesse numa prorrogação de uma partida de futebol, cujo empate levaria aos pênaltis, e se no jogo anterior foi justamente por ter tirado do banco e botado para pegar os pênaltis o II reserva de goleiro, queimaria sua última substituição com um atacante?
Tirando de você a possibilidade de repetir a estratégia do goleiro reserva, caso houvesse pênaltis?
O que Van Gaal fez foi desconsiderar o trunfo que tinha no banco, a arma agora não mais secreta, que tinha encantado a todos que amam o futebol.
Desconsiderou um talento, no enfrentamento de uma estratégia similar, mudando o posicionamento tático em relação ao iminente fim de jogo.
Ele quis matar logo o jogo, sem ir aos pênaltis. Mas, ao fazê-lo substituindo o seu atacante, por um mais inteiro, matou a si mesmo na outra substituição possível.
E o pior, deixou o goleiro “que não tem bom fundamentos em pegar pênaltis” em campo, num momento difícil.
Passei a admirar mais ainda o Van Gaal. Pelo menos ele decide. Gestor é quem decide. Ele decidiu por uma nova estratégia: a troca de um atacante, e seguiu sua intuição de que poderia matar o jogo fora dos pênaltis.
Arriscou-se muito, mas ser gestor é se arriscar
Em toda decisão há risco. Só não há risco na indecisão.
Na indecisão reina a mediocridade, a monotonia, a burrice. Amigas da fatalidade como o oportuno álibi do apagão, como diria nossa Comissão Técnica.
Virei fã do Van Gaal. Um gestor que um dia acerta, noutro erra, mas que faz acontecer.
Não terceiriza culpas, não adia responsabilidades, faz acontecer.
Pode ser amado, ou odiado, mas é presença.
Tenho dó dos gestores do tipo Comissão Técnica Brasileira que não mudam esquemas táticos, que não se arriscam, que não valorizam outros talentos no banco de reservas.
Gestores que se escondem atrás de processos, normas e padrões de comportamentos para não decidirem.
Omissos. Eminências pardas. Querem ficar bem com todo mundo e protegem sua imagem, mais que suas equipes e interesses de trabalho.
Pavões.
Van Gaal não é pavão.
Ele sabia que estava apostando. Poderia ter continuado na mesma estratégia do jogo com a Costa Rica, mas resolveu agir diferentemente.
Apostar em novas fichas.
Ele viu o invisível, sentiu o não sentido, tocou um lugar que só líderes ousam tocar, um lugar chamado risco, num futuro incerto.
Contra a Argentina não deu certo. O atacante entrou, e o jogo não alterou o placar.
Tudo bem. Faz parte. Quem garantiria que o goleiro reservas pegaria os pênaltis? Na incerteza do futuro, o gestor Van Gaal apostou todas as fichas no presente.
Van Gaal nos ensina que estratégias podem ser troadas, que não existe uma única fórmula, do tipo Neymar, para se ganhar uma partida.
Mostrou fibra, conhecimento das capacidades de seus integrantes e, sobretudo, inovação.
Inovação, até em não repetir a fórmula de sucesso anterior, sob condições bem parecidas, sacando da cartola uma outra possibilidade.
Van Gral é um apanhador de possibilidades nos campos do infinito.
Não ganhou o jogo, mas ensinou um monte de gente que o lugar que ele ocupa, o cargo, o papel, é um lugar de decisão. Não de omissão, ou terceirização de culpas e responsabilidades.
Não é um lugar para contemplar pernas correndo, bola e grama, apenas.
A Disciplina Van Gaal deveria ser ensinada nas pós-graduações para gestores. Nela seria ensinado a tomar decisões, a alterar trajetórias, a mudar, a valorizar os talentos, a romper paradigmas e a aprender com os erros. A sair da protegida posição de aversão ao risco e decidir. A sair da posição de concordar com tudo que o padrão Fifa oferecia e botar a boca no trombone, sem medo de se expor. Com ética, segurança e consistência profissional. Van Gaal reclamou de um monte de coisas da Fifa e sua organização.
Para um monte delas tinha razão. Os outros técnicos calaram. Falar pegaria mal.
O estilo Van Gaal é quem muda os processos, produtos e serviços e os normativos interno das Corporações.
É o de quem se abre ao novo, quem experimenta, quem não teme o ridículo.
De quem não compactua com esquemas políticos, mediocridades técnicas, status-quo quase místico, tão presentes nos gestores das organizações de trabalho.
Naqueles que fazem e tudo para manterem-se no poder e na pose do cargo.
Valeu Van Gaal, de agora em diante tu farás parte das minhas aulas.
Pensar que eu teria repetido a estratégia anterior.
Você ensinou-me a manter minha essência, a continuar a apostando no insight, intuição, a decidir, mesmo quando todos ao lado já se calaram, ou as condições não recomendarem.
Todos os dias tenho decisões Van Gaal a tomar. Daquelas em cuja três opções são possíveis.
Mudar a realidade. Adaptar-me à realidade. Abandonar a realidade.
Em todas estará presente a decisão. Só não posso fingir que não existe uma realidade que pede decisões. Mudar, adaptar-se ou abandonar são as escolhas possíveis. As outras são enganação, procrastinação e alienação
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Carta ao JG - A Copa das Copas – Brasil 2014

Querido JG, escrevo-lhe dia 09/07/2014, com um misto de alegria e pesar. Alegria por ser o aniversário de teu irmão mais velho, o Tiago. Ele faz 29 anos.

A data de seu aniversário não poderia cair em dia mais significativo, no qual uma nação inteira chora, inclusive teu pai.

O aniversário de teu irmão trouxe luz num dia de trevas, de vergonha, tristeza e decepção com nosso time de futebol. Trouxe-me um pouco de paz e felicidade. Um bálsamo pra mim.

Hoje acordei cedo para te deixar com tua irmã Priscila e ir trabalhar. Ontem você “trabalhou” comigo, picando papéis no setor, enquanto esperávamos a hora do jogo.

Mas, leva-lo novamente seria abusar dos colegas. Você não para quieto e não há mais papeis a serem fragmentados, você catou todos ontem e fez um bom trabalho, operando a fragmentadora de papel, sob supervisão dócil e atenta da Carol.

Depois, você entrava na caixa de papel picado e brincava.

No caminho seguiu triste. Os carros silenciosos. Ontem, nossa Seleção Brasileira de Futebol tomou uma goleada da Alemanha, na Copa do Mundo 2014, aqui no Brasil. O jogo valia pelas quartas de final.

Em 29 minutos, de primeiro tempo, já tínhamos levado cinco gols. Um fato inédito na história do futebol. Vexatório.

No caminho pra casa do Tio Hugo perguntei-lhe:

- Qual time você torce: flamengo ou fluminense?

Você perguntou-me em que país nasceu. Achei uma pergunta muito fora de propósito e um tanto avançada para seus agora, cinco anos e três dias.

Respondi-lhe que você nasceu no Brasil.

Então você me respondeu que torce pelo Brasil.

Aí fiz a pergunta matadora.

E por que ontem você torceu por aquele time de vermelho e preto, mas parecendo com o Flamengo?

- Por que o Brasil não estava jogando, ué! ´!

Levei uns minutos atônito com tua resposta. De todas as tuas tiradas, aquela fora a mais sincera.

No teu mundo infantil, ainda tão jovem não era o Brasil que tomava aqueles gols todos.

Era um outro time.

Nasci em 1964, e já são 64 anos que nos separam da fatídica derrota de 1950, na Copa do Mundo no Brasil, daquela vez contra o Uruguai. A derrota de ontem, pelo inusitado e vergonha da goleada, frente a um time que não reagia, que mal disfarçava a vontade de que o jogo acabasse logo, foi um trauma nacional de igual proporção, reação agora que reverberou nas mídias sociais.

Vimos bons jogos juntos na Copa. Lembra-se de EUA e Bélgica? Lembra de Argentina e Irã? As torcidas, as comunidades que hospedavam as Seleções, vimos uma energia linda tomando conta do Brasil. O humor do brasileiro mudou, virou uma fanfest. E na hora de nosso hino nacional, todo mundo cantando à capela. Que cenas marcantes.

Fizemos uma bela dupla de torcedores, mais dois que se juntou aos 200 milhões de brasileiros.

Vimos uma abertura da Copa fuleira. Sem graça. Sem o vigor de nossa dança e som. Sem arte tupiniquim. Vimos um mascote da Copa, o boneco inspirado no tatu-bola, chamado Fuleco que não vimos. Um mascote que foi vetado, que não apareceu em nada. Um esquecido num canto qualquer.

Vimos um monte de gente saindo de casa para trocar as figurinhas do álbum da Copa. Entre eles nós. Na página do Brasil, ainda falta a figurinha do Neymar. Sempre o Neymar. Colecionar figurinhas da copa virou uma febre aqui em Brasília. Chegávamos da escola e trabalho e íamos, eu, você e sua mãe, pregar no álbum as novas aquisições do dia.

Vimos um povo alegre indo aos estádios e uma corrente que jogo a jogo foi se fazendo para torcer. A Copa pegou mesmo na segunda rodada. Um povo que preparava a casa com o cuidado de que quem prepara uma celebração religiosa, tudo para que o momento de ver os jogos fosse uma verdadeira festa.

Vimos a mordida de Suarez. Um jogador que meses antes tinha operado o joelho e que seu fisioterapeuta descobriu um câncer nas vésperas de embarcar pra Copa e que ainda assim veio para ajudar ao jogador a se recuperar da operação. Ele virou noites fazendo fisioterapia, aplicando compressas, recebendo massagens e conseguiu brilhar na copa. Foi afastado por uma reação indevida à ira, à frustação. Ele perdeu o controle e mordeu o adversário. Em sua trajetória futebolística foi a terceira mordida. Como punição saiu da Copa.

Vimos nosso time perder o artilheiro Neymar, e o melhor defensor, o Thiago Sylva, vítimas de falta e cartão, respectivamente. O país entrou em êxtase pelo afastamento do Neymar. Ele teve direito a uma overdose de matérias das grandes TVs brasileiras. Só dava Neymar. Até psicóloga levaram para trabalhar a perda do Neymar junto à Seleção. Dramatizaram mais da conta. Só se falava nisso. Fiquei chateado. Achei que aquilo tiraria o foco e objetividade da partida. Que seria um emocionalismo inútil, que poderia contaminar o time todo, aumentando ainda mais a tensão da partida. Quando nosso time chegou para jogar com aquele boné (saudando o Neymar), e num falso break para a mídia, demorou a sair do ônibus cantando.

Lá dentro a Delegação Brasileira sambava “É dia de sol, mas o tempo pode fechar” (Tá Escrito. Ao ver aquelas cenas ficamos, eu e você, ainda mais desconfiados. Ninguém chega pra uma quarta de final tão relaxado. A adrenalina nos capacita à reação. A NEYMAR fixação estava demais. Todos mundo queria jogar pelo Neymar, e esqueceram de jogar por eles mesmos. Para eles mesmos. Um vexame o de ontem dia 08/07/2014, o dia que o Brasil dormiu em campo.

Vimos o técnico holandês Louis trocar o goleiro, pelo 2 goleiro reserva, minutos antes de iniciarem os pênaltis após uma prorrogação sem gols, entre em Holanda e Costa Rica. Na hora, eu esbravejei ao teu lado, lembra? Fiquei achando que ele estava humilhando o goleiro titular. Depois vi que ele estava dando uma aula de gestão ele foi ousado, inovador e conhecia a fundo as melhores características de sua equipe. Uma pintura de decisão. Passará para a história e poderá criar uma nova forma de pegar pênaltis em prorrogação.

Vimos o técnico da Bélgica, Wilmots, após mais de 20 bolas que seu time chutava e que o goleiro Tim Howard dos EUA pegava, se aproximar da área na qual o técnico americano orientava o seu grupo, o Klinsmann, e saudá-lo. Quem veria técnicos combatentes entre si, numa partida emocionante e tensa, pararem uns segundos e juntos conversarem sobre a beleza do espetáculo que estavam testemunhando? Quem veria? Nós vimos.

E vimos a forma elegante com a qual os Alemães reagiram ao nosso fiasco. Não chutaram o Brasil caído e ferido.

Essa foi uma copa especial. Foi nossa primeira Copa juntos. Você não perdia um jogo ao meu lado. Esqueceu até dos jogos de celular.

Ontem, voltando do trabalho, você ia pontuando sobre o engarrafamento. Estava louco para chegar em casa, botar sua camisa do Neymar e ver o jogo.

Sua irmã nos chamou para ver na casa dela, e o vizinho na casa de uns amigos, papai recusou. Tinha medo do trânsito louco e bêbados pós-jogo.

Ficamos sozinhos. E, você e sua mamãe. Mamãe Cristina passava roupas, um olho na tábua de passar outro na Televisão.

E, todas as vezes que ela subia para buscar uma peça de roupa, ou algo na dispensa, o placar era outro. Que coisa!!!




Gostei de ver a Copa em meu país. Foi a minha primeira. Gostei da emoção a cada jogo, do ajuntamento de amigos e família. Lembra o que fizemos na casa de Tio Guga? Papai, ao término da inesquecível e suada partida com o Chile teve perda total, apaguei no colchonete, sendo ninado por Priscila, tua irmã. Naquele dia juntamos toda nossa família, e seus irmãos em peso: Rodrigo, Priscila e Tiago.




Essa energia que nos move como Nação é que quero que nunca se esqueça.

O pano da bandeira de uma Nação também se tece com esportes, cinema, livros, teatro, música e dança.

E, cada coisa no seu lugar. Você pode ser o mais aguerrido crítico político do Brasil. Pode lutar pela saúde, educação, emprego, moradia, saneamento e ainda assim gostar de forró, de uma partida de futebol, de celebrar as mais variadas e ricas expressões da cultura popular de nosso povo. Falo-te isso pelo mimimi (gente que resmunga) que ouvi e li sobre a Copa do Mundo no Brasil.

Ela acontece em ano eleitoral, e muitas agendas ficam confusas. Muita gente se aproveitando para tirar uma casquinha.

Tenha discernimento para separar o joio do trigo.

Muitos protestaram, e no seu legítimo direito de assim o fazerem, negam-se a si mesmos como povo.

Quando acabarem as festas, as danças, os esportes, acaba junto o senso de pertencimento, de coletivo, o elo que nos une e que faz cada um se sentir irmão um do outro pelo simples fato de ver em seu carro a mesma bandeira que nos une e eu tremula.

Não seja um intelectual chato. Aliás, não seja um intelectual.

Goste das coisas simples, como ver uma partida de futebol pela TV junto aos vizinhos.

Ou comer pastel de feira livre.

Não tenho vergonha de sofrer. Eu, sofro uma noite e um dia. Amanhã já estarei bom e desejando que a Copa da Rússia chegue logo.

Quanto a você, vou doutriná-lo melhor para torcer pelo Fluminense.

Torcemos na Paraíba pelo Campinense, mas temos que ter um segundo time, de expressão nacional.

Como o hino do Fluminense é lindo, uma marcha canção, vale a pena torcer por ele.

Acho que teu tio e meu irmão, o Guga, está te botando no mau caminho do Flamengo.

Por último, não tenho nada contra os Argentinos. Lá têm uns filhos da puta, mas aqui também!

Cuidado em preconceitos. Estamos nutrindo um distanciamento com aquele país que excede o campo de futebol. O que era para ser uma pura sacanagem, entre os dois países que amam o futebol, está virando um muro de intolerâncias e agressividade, de ambas as partes, que não é legal.

Não embarque nessa. A Argentina tem um povo lindo e com excelente autoestima, coisa em falta no nosso povo que tem síndrome de vira-latas. Precisamos de mais orgulho de ser brasileiros e, isso eles nos ensinam em relação ao seu país, e talvez seja o que mais nos incomode.

Eles perdem e ainda continuam dizendo: As Ilhas Malvinas são nossa! Que cidadania santa...

Eles só não sabem jogar futebol.

Sim meu filho, foi a Copa das Copas, mesmo que nos dramas que vivemos.


Sem Neymar e Thiago Silva, e agora?


Ontem o pequeno JG foi dormir triste. Na sua tenra idade, não entendia o porquê de Neymar, seu ídolo, não jogar mais essa Copa.
Achava que ele iria amanhecer bem, que só estava "dodói".
Que a mamãe dele iria cuidar dele.
Bela inocência.

Hoje pela manhã, vendo comigo aos jornais matutinos, descobriu que a Seleção Brasileira de Futebol jogará também sem seu melhor jogador da defesa, o Thiago Silva. Aí ele me perguntou:

"Pai, e agora como fica? Sem Neymar e sem o Thiago... "

Falei que ficará melhor ainda. Que as boas equipes de trabalho quando passam por problemas, ficam mais fortes ainda, e que seus integrantes juntam forças para superarem as dificuldades. Equipes de alto desempenho não possuem reservas.

Ele não entendeu. Só se acalmou, vendo minha calma.

No meu dia a dia como gestor, aprendi que ninguém é insubstituível. Pode fazer falta, mas o grupo se auto-organizará para aprender a viver sem o talento. Desde que o espaço laboral seja fecundo em formar novas lideranças, outros "Neymares e Thiagos" aparecerão para continuar a missão.

No time que gerencio tenho meu Neymar e meu Thiago Silva.
Atacante de excepcional qualidade, cuja meta dada, será meta cumprida. Tenho defensor exímio, para o qual, por maior que seja a pressão mais forte e consistente é sua reação à ela, não esmorece jamais, fica mais forte ainda com o estresse do trabalho.
Muitas das vezes já aconteceu de meu Neymar e meu Thiago Silva estarem fora do jogo, e ao mesmo tempo. Seja por férias, por cursos, transferências, ou por ausências não previstas.
O que faço?
Junto o time e conversamos sobre como poderemos suprir a ausência dos talentos.
O que acontece em seguida é mágico. O time fica muito mais forte, cada um cobre a área descoberta do outro. Se desdobra em comprometimento, inovação e produtividade.
Ao final do dia, circula uma energia mística no grupo, uma energia que só sobreviventes de grandes batalhas sentem. O grupo vibra e celebra terem se superado e oferecido os mesmos resultados, mesmo com a ausência de importantes "jogadores".
Se você que me lê é um gestor, e têm seus Neymares e Thiago Silvas na equipe, cuidado com a tentação de não formar outros. A tentação de não cuidar da sucessão, da formação de outros talentos e lideranças é grande. Um pecado mortal nas organizações de trabalho.
Nenhuma equipe de sucesso pode se basear apenas nos seus maiores potenciais, do ataque e da defesa.
Vejo gestores prendendo seus "Neymares e Thiagos" nas equipes, impedindo-os de fazerem cursos, serem transferidos, e, em alguns casos, até dificultando a liberação de suas licenças, folgas e férias.
Estão perdidos. Equipes que dependam de um profissional apenas, que não compartilham conhecimentos, que não formam outras pessoas em processos críticos e complexos, mais cedo ou mais tarde vai fracassar.
Em equipes de sucesso não há reservas no banco. Há talentos que podem dali sair, e atuarem em campo, a qualquer momento quando as condições, características e contexto do jogo exigirem.
Invista tempo e forme sua equipe de trabalho. Lembre-se de periodicamente botar alguém pra fazer dupla com seu Neymar ou Thiago.
Se ele tiver forte dose de comprometimento e atitude, e um pouco de conhecimento e habilidade, ele se desenvolverá e acabará aprendendo o estilo e processo de trabalho de seus craques.
E, caso seu Neymar ou Thiago não seja do tipo que compartilhe conhecimentos, que ensine, você estará com um problemão gerencial pra resolver.
Que seja então você que comece logo a treinar alguém para substituí-los.
Deixar processos, críticos e estratégicos de trabalho, sob condução de apenas uma "estrela" profissional é assinar uma Nota Promissória com o risco.
Grupos de trabalho excessivamente dependentes de um craque profissional são grupos de baixa performance.
Pense nisso. Embora sofra, sou um gestor feliz, pois tenho quem colocar no lugar de meu Neymar ou Thiago quando estão fora da partida.
Olhei novamente para o JG, e disse-lhe.
Tenha calma filho, temos outros Neymares e Thiagos na seleção.

Ele não entendeu nada, mas confiou!

Sobre Ipês e o Choro




Um Ipê, destaca-se no luscofusco de um fim de tarde
no Setor Comercial do Jardim Botânico-DF, 
e provoca-me sobre o choro. 
Afinal, como disse o poetinha maior: 
"Ai de quem não rasga o coração."
Chorar não pode ser associado à descontrole emocional. 
Descontrole emocional é mordida, é negar-se a ocupar sua posição de Capitão, 
quando o momento pede... 
Quem chora pode ser muito mais controlado emocionalmente de que quem não chora. 
Controle emocional não significa não expor estados emocionais. 
Significa saber lidar com os sentimentos, em momentos de estresse ou de calmaria, 
usando-o a favor do grupo, e de si próprio. 
E, muitas das vezes, as lágrimas estarão a favor de quem as verte,
numa expressão final - justa e ética, do controle emocional. 
Deixarão mais fortes os que lavam a alma, seja de raiva, 
seja de dor, seja de alegria, seja de saudade, capacitando-os a novos embates. 
Chorar, sorrir, cantar, dançar, abraçar são expressões profundamente humanas, 
desde as cavernas. Negá-las, seria será negar o que temos de mais belo.
Chore meu filho, mas não deixe de apresentar resultados.
Ou seja, chore com os dentes cerrados, lutando!

E o Ipê? O Ipê está dentro de ti, e tuas eventuais 
lágrimas fortificam suas raízes e fazem sua florada, 
a cada nascer do sol da vida, ainda mais belas em teu ser. 
E, quem não chora em profundos momentos da vida, que atire a primeira lágrima. 
E eu a recolherei em meu coração, com ela irrigarei minha alma, 
pois cada lágrima carrega em si a história de nós todos.

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