Cartas ao JG - Não existe o amanhã.


Hoje, após o almoço, dirigi-me ao Cemitério Campo da Esperança para despedir-me de um de meus funcionários da Ditec - a Márcia. No caminho, fui pensando na fatalidade da morte, que não poupa ninguém. Afinal, entre a descoberta de sua doença e o óbito foram 90 dias.No caminho parei no hospital Sta Luíza para pegar resultados de meus exame da coluna. Aguardando minha vez, recebo uma mensagem via uoptzape do amigo Niéliton Gomes.
Ele, com muito jeito, informa-me da morte de nosso amigo comum, oMarcio Landes Claussen, ocorrida no RJ, no hospital no qual ele recuperava-se de um infarte ocorrido no natal.
Pela manhã, no dia de hoje, ele teve outro e foi fatal.
Duas vivência de mortes, de pessoas amigas, e numa única tarde, foi muito para teu pai. Mas, estava estranhamente calmo, consolado e em paz. Saudoso, triste, mas em paz.
Márcia e Márcio.
Eu conhecia a história de vida de ambos, e sabia que eles desprenderam-se dos cabos - do porto da vida terrena, e agora singrariam com suas naus em busca dos mares do infinito, rumo à casa do bom Jesus. Após velar um pouco, fui caminhar por entre lápides no campo. Precisava de ar fresco. Estava com um peso no coração, um embrulho na alma, pronto a vomitar de lágrimas. e saí pra ninguém me ver assim.
Descobri umas árvores com bom sombreado, e bancos de ferro as circundando e fiquei ali por um bom tempo. Observava os pássaros, o vento mexendo com flores plásticas, dando-lhes vida. O local ainda estava deserto, era pelas 15hrs, e a maioria das entregas à terra, acontecem após as 17hrs.
Mas filho, não é sobre morte esse texto. É sobre vida.
Acho que todo mundo deveria escolher um dia pra visitar o cemitério. Caminhar por entre suas vielas, sentir o amor dos que na saudade continuam a se expressar aos seus queridos -mesmo em flores de plástico.
Pense nisso. Ninguém tem a vida inteira para depois de vivê-la decidir ser gente.
A morte espera na esquina.
Então, viva com intensidade seu tempo presente. Márcia (44) tinha na positividade e alegria para com a vida a sua marca.
Ela escreveu sua biografia com tintas dessa natureza. Durante o velório vários testemunhos foram proferidos nesse sentido.
Ela não morreu.
Já Márcio (68), mais parecia um adolescente de tantos projetos sociais que tocava ao mesmo tempo, e todos com um olhar amoroso: educação de adultos, bosque Luíza e Izabelle, Faculdade da Terra e tantos outros.
Então filho, se a morte espera na esquina, a vida acontece na calçada de tua casa.
Sê bom, justo e fraterno. Não se sinta nunca um "imorrível".
Não guarde tranqueiras emocionais em teu coração. Não deixe nunca alguém sem um abraço ou um perdão. Ou até uma palavra de esperança, de alegria.
Faça valer a pena a vida que tu vives. Cada minuto, cada desafio, cada realização.
Sê grato e conta sempre tuas bênçãos.
Diferencie-se pelo amor. Amor a você mesmo, aos outros e para com a vida. Não queria viver no lugar comum de pessoas que perderam o viço, o prazer de viver.
Não antecipe seu prazo de validade.
Nesse momento, cinco aux. de serviços gerais - humildes serviçais de jardim, oram pelo que seria seu futuro professor das letras.
Márcio devolveu-lhes, por um breve momento, a esperança de aprenderem a ler - já adultos, e os contagiou com a coragem de vencer esse desafio. O curso começaria esse mês.
Márcia, ensinou a todos o valor do trabalho em equipe e otimismo: "Gente, vamos animar isso aqui".
Márcio e Márcia... anjos de luz ente nós.
Encontre seu jeito de fazer a diferença na vida das pessoas, encontre o anjo de luz dentro de si e viva como se não houvesse o amanhã.
Curta tudo. Esteja presente. Veja o invisível, ouça o inaudível, toque o infinito.
E, quando estiver esmorecendo, visite o Campo da Esperança. Ali, veja o quanto tantos dariam tudo por mais uns dias de vida, expresso sentimento nas falas de seus amados.
Para uns, tempos extra para abraços amorosos, esperados há séculos. Para outros, perdões não dados e encardidos pelo desuso. Para alguns, dias de prazeres simples - sempre adiados.
Para os mais racionais, overdoses de manifestações de amor.
Quanto aos Márcios desse texto, não precisam pedir um tempo extra, pois já viviam uma vida plena de sentido. Para a qual, mais dias, ou menos dias, não alteraria em muita coisa. Seriam os mesmos alegres, sonhadores, amigos e cheios de tesão para com a vida que já foram.
Creio que temos que viver sem grandes dívidas emocionais, ou hipotecas relacionais a saldar. Viver tendo presente que nada se repetirá, nada.
Assim, que não se iluda tua existência ao te fazer perceber-se como matéria.
És espírito, e espíritos são luz, anjos de luz. Ajudam, acolhem, estimulam, animam, curam e fazem todos serem melhores ao passarem por suas vidas.
Assim deve ser com tua vida! O amanhã é um lugar que não existe.
Só existe o hoje, no qual pressentindo este texto, tu me enche de carinhos, coisa difícil quando você fica ligado nos filmes de games.

2 comentários:

  1. Belo texto. Realmente grandes perdas.
    Um forte abraço.
    Niéliton

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  2. Lindo texto, meu amigo! Profundo e verdadeiro!
    A morte é sempre muito difícil de se lidar...
    Eu tive uma grande perda, que me marcou profundamente: a morte de minha sobrinha Júlia, com 7 anos... Essa foi uma perda muito difícil, pois a morte de uma criança não segue o curso natural da vida..
    Lendo esse seu texto, me lembrei de um vídeo que gosto muito.
    E também fala de morte e de vida!
    Segue o link. Dê uma olhada, vale a pena!
    https://www.youtube.com/watch?v=0NVOPHm_NVY
    Um grande abraço, que Deus o abençoe e que Jesus conforte seu coração.
    Adelisa.
    http://adelisa-oquerealmenteimporta.blogspot.com.br/

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