Influenciando o Carrossel do Destino.


Hoje, esperando o elevador num Centro de Eventos, observo o trabalho de faxineiras.
As vejo caprichando o esfregão no chão, deixando-o um espelho.
Aí não tive como deixar de escutá-las:
“Foi uma bênção conseguir esse trabalho, fui contratada por 6 dias e vou ganhar R$ 528,00. Com esse dinheiro, vou pagar meu curso de Brigadista e tentar achar um trabalho ”fichado”. [fixo, com Carteira assinada]
Enchi o coração de emoção ao ouvir tão belo sonho de ascensão.
Sábado passado, caminhando pelo Condomínio Ouro Vermelho-DF, cruzei com o pessoal de manutenção e jardins. Já os conheço e posso me considerar amigo de um deles, Sr. Valdir.
O papo estava animado, um deles acabara de dar um lance num Consórcio de motos, um lance de R$ 300,00, aguardando o resultado de quem deu o maior.
Sr. Valdir queria entender direito esse “trem de Consórcio”.
“É um negócio que vai sorteando todo mês. Pode-se ganhar a moto por sorte, ou botando um dinheiro - sendo quem mais botou naquele mês”.
Sr. Valdir, do alto de seus vívidos 62 anos queria mais informação. “E, quantos participam do sorteio da “sorte”.
“Meu grupo tem 200 pessoas”. Sr. Valdir matutou, matutou e disparou:
“Oxe e pode levar 200 meses para tirar?” Não Valdir, 100 meses: tem a tirada mensal do dinheiro que damos, além da prestação de R$ 65,00, e a do sorteio.”
Nunca senti tanta esperança numa fala, o que seria para ele 100 meses? Nada.
De R$ 65,00 em R$ 65,00 ele chegaria lá. Ou, quando aparecesse um extra, como os R$ 300,00, quem sabe.
Os sonhos desses dois brasileiros: a faxineira e o jardineiro, são representativos dos sonhos de todos nós.
No primeiro deles, a disciplina em adiar consumos imediatos, para investir em educação. Procurar as melhoras da vida, via educação.
Que cena mais bela. Belo ainda mais a gratidão que ela sentia ao ter sido convocada para aquele emprego temporário. Que acabará funcionando como uma incubadora de seu projeto de vida profissional. Tem gente que desaprender a conjugar o verbo “Gratidar.”
Para muitos que me leem talvez R$ 500,00 não façam tanta diferença. Para a classe mais simples, da base da pirâmide social, juntar R$ 500,00 é uma façanha e tanto. Façanha maior ainda é pagar o estudo com eles, escolhendo que conta deixará em aberto, ou que satisfação presente – que a grana extra traria, será adiada.
Essa faxineira é um exemplo. Quantos de nós desaprendemos a plantar sementes no presente, para crescerem árvores no futuro de nossas vidas.
Parece que desaprendemos a esperar o que venha a ser, cultivando no hoje o que virá.
Queremos chegar à janelinha, “mas sem esforço”, ok?
Imediatistas demais; ambiciosos demais; apressados demais... perseverantes de menos; disciplinados de menos e resilientes de menos.
Criando uma geração ansiosa e preocupada, querendo a todo custo respostas da vida, contudo pouco disposta ao esforço.
Nossa faxineira sabe que se não investir nesse projeto não terá capacidade de quando uma vaga aparecer disputa-la.
Longe de ficar reclamando da vida, vitimizando-se como uma coitada qualquer, ela fornece uma resposta à vida, capacitando-lhe a uma melhor posição na disputa por uma vaga de brigadista.
Os sonhos de nosso amigo jardineiro vão no mesmo sentido.
Juntou seus R$ 300 e deu um lance.
Imagino ele guardando, centavo a centavo, além da mensalidade que já paga, um dinheirinho para o seu “lance”.
Quanto guardamos de energia positiva para o “nosso lance”?
O lance é o sonho.
Ele sonha em pegar uma motinha e deixar de pegar o buzão. Um sonho de maior mobilidade.
O tamanho de nosso “lance” é variável direta de nossas escolhas, renúncias e decisões.
Por isso não gosto muito daquele negócio da estrela cadente. De declarar um sonho ao vê-la.
Gosto de fazer meu sonho.
Sempre tive um desejo de ministrar aulas. Aqui em Brasília o mestrado pode abrir portas, ou não.
Têm muitos colegas que terminam o mestrado e ficam na mesma.
No grupo de colegas do mestrado circulou um email com uma proposta de emprego para uma faculdade.
Quase ninguém deu muita bola, muitos já estavam empregados ou não tinham essa vocação.
A faculdade não era lá essas coisas. Baixa remuneração por aula, atraso por pagamentos, recursos tecnológicos escassos e muitos alunos na classe.
Além de ser distante lá de casa (uns 40KM) e pegar muito trânsito.
Mas, era meu sonho. Quanto eu poderia pagar por ele? Qual o tamanho dele para minha vida?
Você pode perguntar-me se não era muito cansativo e pouco rentável.
Sim, para ambas as perguntas.
Mas, como chegar num centro de ensino mais à frente na “cadeia alimentar privada da educação superior” sem experiência no meio?
A coisa funciona muito a partir de recomendações de outros professores e coordenadores.
Então, eu sabia que quando eu batesse em outra porta não teria apenas duas respostas à pergunta sobre minha experiência: “Professor de Religião, no Colégio das Damas, e Educador Interno do BB.
Meu sonho estava criando musculatura, adquirindo capacidades.
E, confesso-lhes foram dois anos muito felizes naquela pequena faculdade. Tive demonstrações de carinhos de meus alunos e do corpo docente que disseram-me que eu estava na rota certa. Aquilo me dava um porquê viver maravilhoso.
Pegava alunos cansados ao chegarem ao turno noturno, muitos com severas carências educacionais, e de profissões mais simples - mas que guardavam seu pouco dinheiro para custearem seus sonhos também.
Então, amigos e amigas, ali havia um encontro de sonhos.
E, eu dava o meu melhor.
Fazia piruetas naqueles 4 semestres, para cativá-los à busca do conhecimento.
Era uma troca justa de sonhos.
Um dia, um de seus professores, perguntou-me se eu podia ir visita-lo numa pequena faculdade de “bairro”, numa sexta à noite – único dia vago na agenda de aulas noturnas.
Ela pagava em dia, 15% melhor, e as turmas eram pequenas. Além de contar com excelente logística educacional.
Ou seja, “pobre mais limpinha”.
O professor que me convidou era Coordenador do Curso de Administração, mas logo no bate papo inicial disse-me que na área dele não tinha vaga. Contudo, a Coordenadora de Turismo estava precisando, pra àquela noite ainda, de um professor. Não daria tempo nem de assinar a carteira.
Ele lembrou-se de mim, lá daquela faculdade em que juntos trabalhávamos.
A disciplina era Gestão de Turismo Sustentável – ou algo assim. Totalmente fora do escopo das disciplinas que eu me sentia confiante.
E, ainda estaria assumindo a vaga de um professor que fora demitido por justa causa, deixando a turma enlutada, ele era querido. Não sei o que ele fez. Só sei que a turma me rejeitou primeiro.
Mas, era meu sonho.
Valeria tudo. Valeria caras amarradas, pessoas me comparando, e até alunos entrando alcoolizados desafiando minha autoridade.
Preparava as aulas pra essa turma como quem tece uma obra de arte. Cuidava de cada detalhe para ajudá-los a superar o luto e a se envolverem com minhas aulas. Nunca estudei tanto turismo, para dar o meu melhor.
Nossa amizade ficou tão grande, aula a aula, que na colação de grau eles convidaram-me a ser homenageado. Mas, ministrar boas aulas esperando isso é burrice, sandice e idiotice.
Afinal, “vaidades das vaidades, tudo é vaidade”.
Só conto-lhes para terem a dimensão do quanto a paixão por um sonho, pode converter o mais gélido coração.
Aprendi que a natureza conspira pra quem sonha.
Então, caro amigo, todas as vezes que escutar no seu GPS interior aquela vozinha: “corrigindo rota, corrigindo rota”.
Alegre-se, é ela quem nos fará querer ser mais, progredir, desenvolver nosso potencial adormecido.
É isso que nossos amigos – o jardineiro e a faxineira estão fazendo em suas vidas: “corrigindo rotas”.
Ao se aquecerem na chama frágil da esperança, confiantes que será o agir deles - no aqui e agora, quem criará as condições para que novas possibilidades tornem reais em seu viver.
Eles são o sonho.
Então, vem comigo. Vamos corrigir rotas para que o tamanho de nossos sonhos não se apequene diante das dificuldades da vida.
Somos eternos demais para adormecemos esperanças.
Precisamos ousar alterar o curso do Carrossel de nosso destino.

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