Nos dias ruins, contemple!

Dias atrás, as preocupações e aflições cotidianas transbordaram.
Encheram a lata, parecia que eu tinha pisado em cocô de pato.
Sim meus amigos, também tenho meus dias de fúria.
Uma coisinha chata ali, foi se somando a outra coisinha chata acolá, e, perto do meio dia, eu já estava um coisa chata de chateações.
Um porre e sem energia.
Têm dias assim, e você já deve ter tido os seus.
Aquele dia em que nossa autoestima está fraquinha, fraquinha, e que um sopro qualquer é capaz de nos derrubar.
Aquele dia em que não temos coragem de olhar a nós mesmos no espelho.
Aqueles dias em que tudo perde as cores, sons, aromas, texturas e sabores.
Nos quais, o cão bravo da tristeza anda à nossa espreita.
Estava tudo se encaminhando para terminar o dia assim, até que escrevi num bloco de notas, em meio a uma reunião: “Preciso abastecer o espírito”.
Então, usei o intervalo do almoço para seguir resoluto para tal missão.
Saí em busca das flores, para caçá-las em fotos, tal qual caçadores de pokémons.
Lembrei-me de um ipê branco, no canteiro central da 905 Norte, e segui em sua direção.
Estacionei o carro no canteiro da direita, e fiz minhas fotos daquela presença de Deus, entre nós, que é um ipê em flor.
Já me senti melhor.
Depois, lembrei-me que perto do Iate, na Av. das Nações, tem uma planta com flores róseas, que mais parece um quadro de tão bela. Ainda encantado com a beleza do Ipê branco, segui para lá.
Achei um lugar para estacionar o carro, no canteiro central que seguia para as embaixadas, e caminhei uns 200 metros em direção às flores. Que beleza de flores, tive até vontade de me deitar sobre elas.
Mas, estava de roupa social, e o máximo que fiz foi sentar-me no seu tapete e tirar um self.
Quanta paz dali vinha! Que capricho de Deus.
No caminho de volta, percebi uma frutas em forma de bolotas que pendiam de uma árvore do Cerrado e fui vê-las mais de perto. Eis que testemunho uma família de soldadinhos, como eu os chamava na infância, fazendo da fruta morada.
Uauuu... Delícia de cena.
Entrei no carro revigorado, esquecera os problemas, ou melhor, enfrentaria um a um, e pelas beiradas. Quando estamos cansados tendemos a botar os pés pelas mãos e os problemas ficam maiores ainda. Perdemos a capacidade de enfrentamento, tudo parece maior ainda, ampliado pelas lentes do estresse.
Saí dali e a fome bateu, era perto das 13hrs, já fazia uma hora que eu floreava a vida.
Lembrei-me de um restaurante, perto da Diretoria de Tecnologia, cuja proprietária gosta de mim, e eu dela.
Lá chegando, recebi dela uma profusão de abraços, sinceros abraços. Senti-me qual netos almoçando na cozinha da vovó.
Conversamos um pouco, como velho amigos, entre uma pesada e outra dos pratos que ela fazia, na função de pesadeira de balança de self-service.
Uma alegria invadiu meu ser. Estava em paz e, agora, alimentado no corpo também. Meu ser psicológico, social e biológico havia se energizado.
No caminho de volta, vejo ao longe o que achei que era um ipê lilás. Contudo, depois corrigiram-me com o nome correto, trata-se de um Jacarandá Brasilianna.
Ele fica no pátio da Igreja Nossa Senhora Consolatta, na W5 915 Norte. Uma das árvores mais bonitas que já fotografei.
Após os registros. Aproveitei que a igreja estava aberta e coloquei meus joelhos em prece. Abastecendo-me do espiritual.
Passei uns minutos em oração de contemplação, de gratidão, e dali voltei para o trabalho, bem renovado.
Em estado de gozo, de satisfação. Existe um verbo que exprime o nível avançado de um estado de gozo, se chama regozijar.
Eu me sentia regozijado.
Agora sim, estava recuperado da saúde em seu conceito bio-psico-social e espiritual.
Eu era outro, e aquelas duas horas pareciam dias. Estava com o tecido emocional recuperado. Em estado de gozo, numa alegria boba. Daquelas sem ter de que.
Lembrei-me do que São Paulo falou aos Tessalonicenses, I Carta Cap 5 15-19:
“Siga o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos. E, não retribua o mal com o mal. Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dei graças. Não extingas o Espírito.”
São seis dicas, preciosas dicas, que de alguma forma as vivi e que recuperaram meu tecido emocional, e que recomendo firmemente:
1. Siga o bem. Que coisa mais linda e forte. Seguir o bem nos torna belos. Seguir o bem pode ser encontrar um tempo para fotografar flores. Seguir o bem pode ser visitar uma velha amiga para desfrutar de sua companhia, enquanto almoça. Seguir o bem pode ser não se corromper, não imitar o ruim, tão comum em nossos dias.
2. Regozijai-vos sempre. A interpretação desse verbo é difícil. Vamos por partes. Um estado de gozo, ou de fruição (flow) é um estado de extremo contentamento; no qual o tempo para, no qual os pensamentos se esvaziam deles mesmo, para que o motivo do gozo se faça presença e ocupe plenamente o pensado. É uma alegria enorme, quase um estado de o êxtase do gozo. É aquele sentimento que temos quando a febre de nosso filho baixa. Quando passamos no vestibular ou num concurso. É aquele sentimento de ver chegando na rodoviária a nossa amada. Ou o de um filho voltando para casa. Mas, o verbo é mais forte ainda. Tem a partícula RE, ou seja se tudo isso é bom, duplique e sinta novamente. E, o mais interessante, o que quase ninguém comenta, tem a partícula VOS. REGOZIJAI-VOS. Que significa, aprenda a alegrar-se com os outros, alegrar-se com as alegrias dele, alegrar-se por conviver com ele, alegrar-se por ele existir. No meu abraço em Dona Bia, havia um regozijai-vos! Ambos estávamos em alegria profunda pelo nosso reencontro. O tempo parou. Como estamos desaprendendo a se alegrar com quem se alegra. Ou a nos alegrar coletivamente, em comunhão. No "VOS", está o outro, sem o qual nossa alegria regozijada não é completa.
3. Orai sem cessar. Trata-se de uma recomendação-alerta. O estado de contemplação, a percepção do espiritual do viver, deve ser incorporada ao cotidiano. No trânsito, no trabalho, no lar. E, não precisa de muitas palavras. Uma contemplação de um sol que se põe, ou de uma família de soldadinhos numa fruta amarela, já nos conectam, nos religam, com as coisas do alto.
4. Em tudo daí graças. Que bacana! Quando estiver chateado e com auto-estima baixa. Quando teu time perdeu. Quando a tosse não ceder, noite à noite. Quando o carro funcionar ao dar partida. Quando o ônibus chegar. Quando alguém te servir um copo de água fresquinha. Em tudo seja grato. A gratidão é a janela da alma, por ela percebemos o imperceptível; escutamos, o inaudível. E tocamos o que intocável. Um coração grato se aquebranta, se humilha e degusta a vida com encanto. Em tudo que ela tem de melhor e de pior.
5. Não extingas o espírito. Extinguir é um verbo muito severo. Uma coisa extinta é uma coisa que foi exterminada por completo. Apagou, não ficou nenhuma brasinha, para recuperar o fogo. Tudo está acabado, é o que queremos dizer com extinto.

É preciso cuidar das coisas espirituais para que elas não se extingam em nosso viver. Deixar pelo menos uma brasinha ainda chamejante. Não renunciar a esperança de nosso coração.
A esperança é a brasa que evita que o espírito seja extinto.

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