Quanto ao resto, já será amanhã.

Pela manhã fui deixar o pequeno JG no seu treino de futebol, era umas 9hrs. Quando voltava, e ainda nas imediações, vi três balanços esvoaçantes.
Andei mais uns metros e a vozinha me falou: "Não vai voltar?"
Brequei o carro, dei ré, e fiquei alguns minutos contemplando a cena.

Eram três irmãs, não sei se gêmeas, mas que vestiam um vestido da mesma padronagem e que brincavam com se fosse a primeira vez num balanço.

Aquele minutos foram catedrais em minha alma.

Aí, uma delas olhou para trás e me viu, e abriu um sorriso.
Elas estavam imersas no brincar, num simples brincar de balançar.

Quando vim buscar o JG no futebol, já pelas 10h30min, vi que o Condomínio Ouro Vermelho-DF estava fazendo a festa das crianças, dos condôminos e funcionários.
Então, descobri que aquelas três meninas eram filhas de um dos aux. de serv. gerais que sempre o vejo na jardinando.
Imagino a mãe dela comprando uns metros de tecido e fazendo um modelo para cada filha.
Hoje, meninas urbanas e criadas com tudo, se usarem o mesmo vestido deprimem.
Elas não, elas estavam inteiras e intensas no simples fato e milagre de existir, e de brincar.
Não tinham tempo para vaidades, ou birra.
Estavam aproveitando o brinquedo, com gosto: leves, soltas, alegres e livres, aproveitando o que a vida lhes dá, no momento.
De sua condição social, não é comum tempo de brincar, nem brincar em parquinhos bacanas, com brinquedos prestando, sem estarem danificados.
Voltei pra casa feliz. Orgulhoso daqueles papai e mamãe que não se vergam, e deram do que tinham de melhor para as meninas.
Orgulhoso da meninas, pelo tanto de prazer que demostraram num brinquedo que meninos da cidade grande rejeitam, só querendo coisas mais sofisticadas ou eletrônicas.

A vida é feita desse balançar. Sim meus amigos e amigas, contemple essa foto. Sinta a vida. Sinta a alegria de ser dessas meninas.

Hoje preparei os quartos para que meus filhos venham dormir em casa. Arrumei o de hóspedes para o Tiago Barros​ e a esposa, e o escritório para o Rodrigo Barros​ e esposa.
Fofei a cama, acionei o mata muriçocas, liguei o ar previamente.
É disso que também pode ser feita a vida. Do prazer de arrumar a cama para receber os filhos.

À tarde cantei parabéns para a Lia, 5 aninhos, e fiz muitas fotos dela de borboleta. É disso que que também pode ser feita a vida.

Antes disso, preparei quatro sementeiras, com substrato dos bons, para ver se consigo tirar umas mudas de uma árvore que prometi à minha sogra que faria uma muda para sua casa.
É disso que também pode ser feito uma vida boa.

Mais cedo, na calçada de casa, num local que antes era um muro e a calçada gramada, fiz um canteiro de Marias Sem Vergonhas e Onze Horas, apoiando a terra numa pequena mureta de um tijolo deitado, sem cimento mesmo, e depois pintei de branco os tijolos, e reguei os canteiros. É disso que pode ser feito uma vida boa.

Mais tarde, boca da noite, meu filho mais velho vem trazer em casa uma muda de Oliveira para que amanhã eu presenteei meu mano, que se aposentará na segunda. Quero marcar essa data com uma planta sagrada.
É disso que pode ser feito uma vida boa.

É queridos amigos, tudo isso talvez não tivesse acontecido se eu não visse, pelas 9hrs da manhã, as meninas na sua avoante alegria.
Quando vemos o amor acontecer, nos outros, e se formos do bem, nossos neurônios espelhos se conectarão ao amor e também sairão amando, à sua maneira.
Talvez, naquela festinha que tinha pula pula, escorregador inflável, pipoca, dindim e algodão doce, quem mais se divertiu foram aquelas meninas, que pela sua pobreza e pouco acesso a bens materiais, ainda conseguem se assombrar com coisas que nossos olhos, opacos pela indiferença, já delas não se encantam mais.
Já sinto o prazer do encontro de amanhã, com Sr. Valdecir. Vou tomar um café com ele, e falar de como podemos terminar sua casinha. Sr. Valdecir, que não existia há 7 dias atrás,e que só passou a existir porque me permiti: prestar atenção e fazer contato, me conectar.
Quantas coisas vamos perdendo por estarmos ficando insensíveis, ensandecidos, velozes e furiosos demais?
Quantas?
Uma sociedade que por uma disputa por uma cadeira de praça de alimentação de shopping acaba em luta corporal e tiro.
Precisamos urgentemente resgatar o encanto das coisas simples, tal balançar num balanco.
Voltar a perceber que a vida acontece em todo lugar, e que é só ficar mais atento e programar o cérebro para extrair e selecionar coisas para as quais viver vale a pena.
Acabo de receber convite do vizinho Pergentino Araújo​ para "ser cobaia" num prato. Esse convite também é uma coisa boa que por ela vale a pena viver.

Ficará para outro dia, agora vou comer pipoca e ver um filme qualquer mais dona patroa. Isso também é uma coisa boa pela qual vale a pena viver.

Procure a sua, está cheio... Mas, perca o orgulho, a vaidade, e se tiver que usar o mesmo vestido, para ir numa festa, vá! No limite, a questão será de você para consigo mesmo.
Então, pare de querer agradar todo mundo. Condicionando sua felicidade a ser aceito e a receber migalhas de afeto, em troca de sua submissão.
Entre no seu balanço, balance, sinta a vida, voe, dance, liberte-se e leve-se para passear. Viva a vida que vale a pena, a das alegrias bobas, dos prazeres pequenos, da felicidade de instantes mágicos, saboreados como quem degusta um bom vinho. Como aquele de quem apalpa a cama para o filho dormir.
Quanto ao resto, já será amanhã!

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