Desse jeito, você não serve para mim!


Pela manhã, foi ganhar umas milhas com Cristina, procurando no mercado o tal do Molho Inglês, para sua receita de costela de porco desse sábado.
Entrei num mercadinho, caminho para São Sebastião-DF, chamado Magalhães.
Aproveitei que chovia e não tinha ninguém por lá, e troquei uma prosa com o Magalhães. Tudo começou quando falei exatamente o parágrafo acima, no sentido de fazer um agrado para minha mulher, vindo procurar um dos ingredientes da receita, numa manhã que tinha outros afazeres, também pedindo urgência e atenção, como um plano de aula para uma disciplina nova que inicia dia 17/11.
Aí ele soltou uma frase que deu um mote pra um monte de conversa, e das boas: "Minha vó dizia que um Homem se conhece pelas suas companhias".

Continuou, dizendo-me: "quem"bota um homem para frente é uma mulher".

E passou a contar sua vida, digna de um filme de faroeste candango, até que achou Rosa, na calçada de uma rua, na qual acabara de sair de um cabaré.
Magalhães me disse que em todas as categorias de pessoa má ele se encontrava: drogava-se, bebia, gastava todo o dinheiro com bares e que não tinha responsabilidade alguma. O que ganhava na semana, como "chapa" de caminhões, perdia no final de semana com as mulheres com as quais andava.

Magalhães queria falar. E eu queria ouvi-lo, e a chuva final afugentava os clientes, nessa manhã de sábado.

Então ele começou a namorar a Rosa. E a Rosa, vejam o que ele disse: "me deu motivos para mudar".

Ela disse-lhe: "Não quero ao meu lado um homem bêbado, drogado, que se envolve com pessoas más, e que não assume compromissos. Quero uma pessoa de bem, um trabalhador, e não um vadio, que vive às custas do irmão.
Magalhães contou-me que quem tocava o mercadinho era seu irmão. E que ele nunca quis compromisso com o mercado".
Vivia de bicos, que dava para comprar "bebida e sair com as meninas".
Até Rosa! Rosa fez com ele o que dona Zica fez com Cartola. Resgatou-lhe para a vida, deu-lhe motivos.
A partir da influência dela, procurou um "trabalho fichado", e aceitou trabalhar com o irmão, no Mercado, agora Dos Magalhães".
E, pela fatalidade do destino, seu irmão, o que tocava o estabelecimento, passou por um processo de separação muito desgastante, levando-o a abandonar os negócios.
Agora, é ele e a Rosa que tocam Os Magalhães. E dele tiram a renda para viverem dignamente: "Não é muito, mas o suficiente para pagar as contas e criar nossa filha de 8 anos. Sou feliz, eu renasci para uma vida que não conhecia".
Aí chegam clientes, um à procura do pão francês, e outro atrás de um pedaço de carne de sol, que o próprio Magalhães aprendeu a fazer.
Despeço-me daquela meia hora que valeram por uma eternidade, em ensinamentos.
Quem bota um ser humano para frente, não é necessariamente sua companhia afetiva.
São as pessoas que lhe rodeiam, que lhe influenciam, que lhe estimulam a ser mais.
Do mesmo jeito que elas podem influenciá-lo: ao Ser Mais; podem sobre ele também exercer uma energia ruim: para o Ser Menos.
Se você que me ler, tiver Rosas em seu viver, agradeça ao bom Deus. Eu tenho as minhas. Que não me deixam desanimar, entrar pelo caminho das trevas. Que acreditam que posso desenvolver mais e melhor o meu potencial humano.
A crônica do dia é sobre o papel da influências sobre nós mesmos.
Procure ser uma "Rosa" para seus liderados, caso gerente for. Não abdique de seu papel formador. Ninguém, em nenhuma equipe que liderará, estará pronto. Estamos em construção, e sempre.
Se for pai, seja Rosa para seus filhos. Não delegue sua paternidade ou maternidade. Não se canse em conduzi-los à luz! Que teu amor seja exigente. Não se canse deles. Mesmo que não esteja vendo progresso.
Ser for amigo, seja Rosa. Alerte seu amigo quando perceber que ele está mergulhando num abismo. Ajude-lhe a refletir sobre suas condutas. Não negue-lhe um conselho, uma admoestação. Talvez só a você ele ouvirá.
Não há natureza das coisas que resista à força do amor. O amor sara, liberta e transforma realidades e pessoas.
Por isso, cerque-se de quem te ama, verdadeiramente falando. E que, muitas das vezes não dirá, apenas o que que quer ouvir, e o que massageia seu ego.
Valeu Magalhães, ficarei freguês de teu mercadinho. Tão simples, mas tão cheio de história. Quero fazer parte dela.
E, da próxima vez, quero conhecer a Rosa. Essa sim é uma "mulher de verdade", e não uma Amélia. Metaforicamente falando, como diria a canção.

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