Aposentadoria - Não se Aposente da Vida - Autor Ricardo de Faria Barros (*)


Nos últimos meses, o número de pessoas ingressando na aposentadoria tem aumentando em nosso país. Essa expansão dos aposentados está sendo alavancada pelo medo da mudança nas regras da previdência oficial, estimulando as pessoas que já tinham esse direito à anteciparem sua decisão; Além dos programas de incentivo à aposentadoria, recém-lançados por grandes corporações nacionais, em busca de uma maior eficiência operacional, para sobreviverem a um ambiente de negócios com viés de baixa.
Esse tema me seduz, desde que concluí minha formação de psicólogo, no século passado.
Eu era recém-formado, trabalhava no Banco do Brasil, e naqueles anos de 1995-96 o BB lançou seu maior programa de Demissão Voluntária, com quase 30.000 pessoas "aderindo" a ele.
Aí vi e ouvi de tudo, já com a percepção seletiva de psicólogo. Tantos relatos bons, como relatos não tão bons, em sua grande maioria, de pessoas com dificuldade de adaptação à vida no outro lado da margem de si mesmo, agora a do CPF, no lugar do CNPJ.
Naquela década, também vivi em casa esse fenômeno. Vendo como meu pai e mãe se adaptavam, após longas carreiras no Senai-PB, 45 e 40 anos, respectivamente.
Recolhendo esse material vivencial e estudando sobre o assunto, passei a escrever sobre o tema e ministrar palestras nos éticos e bem-vindos Programas de Preparação à Aposentadoria.
 Costumo iniciar a palestra com o enigma da Esfinge de Tebas. Até brinco com os participantes, dizendo que quem acertá-lo terá uma maior qualidade de vida no pós-carreira.
Após o frisson das "férias" de uns 90 dias, a poeira baixará e o aposentado precisará "entrar em Tebas", atravessando um portal vigiado pela monstruosa Esfinge. Só passa pelo Portal do bem-estar quem acerta ao enigma que ela propõe. Caso contrário, ela comerá o peregrino.
O enigma era esse:
“Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?
Na mitologia, foi Édipo quem resolveu a charada:
"O Homem — engatinha como bebê, anda sobre dois pés na idade adulta, e usa um arrimo (bengala) quando é ancião."
Nas palestras que conduzo costumo dizer que Édipo errou a resposta, em se tratando de uma pós-carreira e aposentadoria de qualidade.
E que no lugar da bengala, a resposta certa é um cajado.
Trocar a bengala por um cajado fará toda a diferença na aposentadoria. Entenda a metáfora, não estou criticando quem usa bengala, por amor de Deus!
O cajado aponta caminhos, conduz sonhos, abre veredas, afasta temores. Quem segue com um cajado, segue à frente de seu tempo.
Aposentados-Cajado entendem que há muita vida a ser vivida ainda, pelo menos uns bons 20 anos. Muito conhecimento a ser conhecido, muitas aventuras, muitos sonhos a serem sonhados, ou tirado das nuvens, muitas sementes a plantar, muitas pessoas a cuidar e outas a vir a conhecer.
Ontem almocei com um desses aposentados-cajado. Descobriu uns sites de treinamentos pela WEB e já fez curso de fotografia à culinária.
Esse é o segredo de uma maior qualidade de vida na aposentadoria: não parar de se movimentar. Tanto biologicamente, como socialmente e psicologicamente falando.
Não entender que a vida chegou a fim, como fruto do processo de luto e morte social que está vivendo, é determinante para erguer o cajado e caminhar.
Esse processo de luto, e quase morte social, é universal. Inúmeros autores registram esse momento como um dos lutos mais significativos da vida humana, com consequente erosão nos relacionamentos sociais, que acontece na margem de lá, a do CNPJ.
Então, a dica é não se aposentar de si mesmo.
Deixo-vos com algumas coisas que falo na clínica e palestra e têm dado resultados.
a. Compre uma agenda, usando o capital-tempo a seu favor. Nela, preencha as páginas em branco com coisinhas legais para fazer a si mesmo, ao outro e na realidade onde mora. Tipo visitar um parque que nunca foi.
b. Continue a participar da vida, seja em ocupações remuneradas, seja noutras voluntárias. Até em rodadas de dominós vale participar.
 c. Se vincule a outros grupos sociais. Gente cura gente.
d. Cuide da saúde nos seus aspectos bio-psico-sócio e espiritual.
e. Esteja sempre fazendo algo, nem que seja arando o jardim da praça. Ou escrevendo a biografia da família.
O segredo para o bem-estar no pós-carreira é não vestir pijamas.
Um amigo, o médico Leandro Minozzo produziu um livro exatamente com esse título: Não se aposente, e disponibiliza a versão digital gratuitamente, nesse link:
http://www.leandrominozzo.com.br/presente-especial-dia-do-…/
Também deixo leitura complementar, como fruto de minha prática terapêutica junto ao grupo de aposentados, parte integrante de um livro que escrevo. São os capítulos das “síndromes” emocionais negativas que precisamos aprender a superá-las.
A do ninho vazio: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/aposentavel-decifra…
A de abstinência à vida corporativa: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/2014/05/savc.html
A da alienação fantástica:
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/livro-aposentavel-d…
E a do tempo elástico, que recomendo e insisto que comece lendo ela.
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/aposentado-ou-quase…
Vamos lá, erga seu cajado e siga corajoso. Há trabalho na empresa vida, esperando por você.
Em tempo: Em breve montaremos Grupos de Apoio para facilitação do processo de adaptação à aposentadoria, aqui em Brasília.
(*) O autor é professor do IBMEC-DF, psicólogo (CRP 01/7844), proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito, Membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva, Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB) e Especialista em Gestão de Pessoas (USP).
Contatos com o autor: ricardodefariabarros@gmail.com
Na foto, o dia de minha aposentadoria.

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