Gestão das Emoções


Gestão das Emoções (Por Ricardo de Faria Barros)
Tomei café apressado, precisava chegar antes da palestra Gestão das Emoções e Relacionamento Interpessoal, que conduziria pela manhã no Ministério do Meio Ambiente.
E, nessas ocasiões, só relaxo quando chego ao local e checo que tudo está ok.
No evento, iria compartilhar um dos achados mais impactantes da psicologia positiva, em suas pesquisas de campo: “Nosso estado de ânimo (emoções e pensamentos) produz realidades, para que nela habitemos. E, de tão acostumados a elas, pela repetição, elas viram hábitos, não mais questionados.”.
Várias pesquisas têm demostrado isso. O poder do que sempre fazemos, das nossas experiências anteriores, na modelagem da realidade.
Por exemplo, um experimento em psicologia social testou se o tempo de resistência de ratinhos de laboratório, levados à exaustão ao nadarem num balde meio cheio água, tinha alguma diferença, caso a área de nado fosse bem maior.
Então, repetiram a experiência trocando o balde por uma piscina infantil, igualmente meio cheia. E descobriram algo impressionante, o tempo limite à exaustão dobra. Na piscina, os ratinhos continuam nadando por uma hora. O que leva eles a tentarem algo mais?
No primeiro caso, o hábito de nadar e chegar até a borda do balde, para escalá-la era rapidamente, era logo frustrado e posto em dúvida, pela proximidade das margens.
Então, eles desistiram mais rápido de continuarem tentando, dado que os limites pareciam intransponíveis.
No segundo caso, até eles alcançarem a próxima margem, já tinham esquecido da frustração anterior, e passavam mais tempo tentando.
Esse mesmo experimento foi feito com humanos, simulando situações de ausência de oxigênio, x tamanho da sala. Obtendo o mesmo resultado. Quanto mais apertada a sala, mais pessoas entravam em pânico achando que o ar não daria para todos, e acionavam o botão para saírem do experimento. Os testes com o ar restante, revelava que eles ainda tinham oxigênio por um bom tempo, mas a opressão do lugar fizera com que eles desistissem, mais rápido.
Fiz essa viagem para você entender o que aconteceu comigo, ao me preparar para ir palestrar.
Olhei para fora de casa e vi aquele carro preto, estacionado com a "bunda" tapando minha garagem.
Esse fato já ocorreu por duas vezes, nesse mês, pois eu tenho uma boa sombra na calçada que a metade dela cobre o acesso à minha garagem. Aí, esse mês dois visitantes do vizinho de frente de minha casa, pegaram a boa sombra, deixando os fundos do carro bem rente à minha saída.
Olhe para aquele carro, o da foto desse texto. Foi isso que vi.
Voltei para cozinha puto de raiva, movido pela força do hábito negativo. E, comentei em voz alta: "vou comprar dois cones do Detran para sinalizar minha garagem, um absurdo".
Papai para me acalmar pediu a chave do carro e minha bolsa, para ir adiantando as coisas para mim.
Aí, engoli o café e percebi que papai estava lá fora, no abençoado do carro.
Pensei, será que papai foi tirar satisfações?
E, fui me aproximando, até que vi a mala aberta, e ele colocando minhas sacolas.
Uauu, eu o meu carro. Eu fiquei tão constrangido que tirei essa foto na hora.
Era meu carro, que troco louco. Acontece que eu cheguei no dia anterior muito cansado, e não queria tirar meu carro logo cedo, para que a Cris fosse deixar com o carro dela o JG no colégio.
Então deixei na calçada mesmo.
Entendem o que aconteceu com meu cérebro? Volto para um dos conceitos da palestra:
“Nosso estado de ânimo (emoções e pensamentos) produz realidades, para que nela habitemos. E, de tão acostumados a elas, pela repetição, elas viram hábitos, não mais questionados.”
A realidade que criei, pelas experiências passadas, foi que era o carro do amigo do vizinho que mais uma vez tapava minha garagem. E, ao criar essa realidade, eu apaguei a de meu próprio carro na mente.
A realidade que os ratinhos do balde criam é que não há saída, então pra que nadar mais?
A realidade que os homens que estão presos num elevador, num experimento que simula a falta de oxigênio é que não haverá ar para todos. E desistem de ali continuarem, mesmo existindo muito oxigênio ainda. Nota, nos testes com humanos foi descartado o pânico por claustrofobia.
Por isso é tão importante uma atitude diária e contínua de gestão sobre nossas emoções, sempre começando pela capacidade de "pensar sobre o pensado".
Ao pensarmos sobre o que estamos pensando, conseguimos ativar o cérebro lógico-racional.
Ao querer pensar sobre o que estamos pensando, de forma intencional, ativamos o cérebro límbico, o perceptivo-emocional.
Ambos, o Límbico e o NeoCortex, consegue nos tirar do cérebro reptiliano, ancestral, o de sobrevivência cujos comandos ecoam em nossos DNA, desde as cavernas, dizendo-nos assim: "Se algo der errado, ataque, defenda-se, ou fuja, não pense muito, portanto seja rápido."
Ao pensar sobre o pensado, deixamos de ser autômatos de nosso existir. Desligamos o piloto automático e assumimos a gestão de nossos pensamentos, comportamentos e atitudes.
E, nos abrimos para criticar nossas próprias verdades limitantes.
Tal qual aquela fronteira do balde dos ratinhos, essas quase crenças limitantes nos dão um lugar seguro para habitar, para não sair dele, ou mudar.
São do tipo: "Sou assim mesmo. Não dou certo com.... Tudo de ruim acontece comigo. Eu nunca conseguirei fazer aquilo..."
E por aí vai. Essas crenças criam a realidade que se apresentará a nós, do jeitinho que pedimos que ela viesse.
Se acreditamos que não há saída, desistiremos logo após a largada.
Então uma das coisas mais importantes para o crescer como ser humano, é o questionamento de nossas pseudo-verdades limitantes, que nos colocam dentro do balde de água, tal qual ratinhos.
Ou que fazem-nos teclar o atacar, defender ou fugir, sem qualquer mais juízo de razão, ou seja, sem avaliar se a situação mudou, se os atores mudaram, se a própria pessoa mudou.
Ao não fazê-lo, atuamos no piloto automático, no hábito, e perdemos chances maravilhosas de nos repreender, ao dizer: "Dessa vez, eu estou errado". A isso chamo de gestão das emoções, e é decisão puramente racional.
E como é bom ter essa autoconsciência presente para o desenvolvimento do ser humano.
Veja um exercício que uso na palestra que citei no início do texto. Eu peço que um dos presentes responda à minha pergunta sobre se estar gostando da palestra com o polegar pra baixo. Então eu pego minha camera e dou um zoom nele.

Depois repito o exercício, pedindo que ele continue com o polegar pra baixo, e os demais ao seu lado, com o polegar para cima. E troco a lente da máquina, agora usando uma grande angular.
E percebo que todos os demais estão gostando.

Nosso cérebro, tem o hábito de selecionar a pessoa de polegar para baixo, em tudo que fazemos em nosso viver, esquecendo as que estão com o polegar para cima.
O negativo entra em nosso viver, nós focamos nele com muita força, e isso acaba por apagar todas as demais vivências positivas que ainda estão acontecendo em nosso viver.
É como se eu fosse avaliar a qualidade de minha palestra por apenas aquela respondente, de polegar para baixo. E ficasse remoendo nisso por muito tempo, dizendo para mim mesmo: "a palestra foi uma droga". Esquecendo-me completamente de colocar no mesmo juízo de valor os que gostaram, em número bem superior
Fazemos isso todos os dias e de todas as formas, por isso precisamos aprender a gerir o rio de emoções negativas em nosso viver. A fazer conosco mesmos a gestão das emoções. Decidindo racionalmente, que é hora de parar de valorizar tanto, as cenas que estão dando errado, e passar a contemplar o filme por inteiro. Que, com certeza, tem um monte de coisas legais para nos assombrar pelo encanto do viver.

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