Sorriso de Alívio



Diário de um pai babão.
Era uma manhã como as outras quaisquer, destes últimos 30 dias.
Entro na UTI no horário de minha vista, pela manhã às 11h00min. Minha esposa faz as visitas da tarde. A médica plantonista me chama numa sala. Já vou estremecido, o que houvera acontecido?
Faz as preliminares mais longas de minha vida, pergunta pela mãe, se ela não vem pela manhã, coisa e tal...
Tal e coisa.
E eu tendo síncopes, disfarçando a ansiedade, comas pernas em bambolê, e segurando a onda.
Aí ela fala que o João Gabriel passou no teste de alimentar-se pela mamadeira. Embora no dia anterior, dia 3/8/2009, ele houvera tirado zero no teste de comer pelo copinho, no da mamadeira, feito ontem, no início da manhã (04/8/2009), ele tirou 10.
Ou seja, ficou com uma média de cinco. E uma média cinco, pra quem está na UTI, é vitória.
Aí ela deu a notícia que ele estava de alta. Agora iria para o quarto da maternidade, treinar alimentação no peito e mamadeira, e se não perder peso, irá para casa em até cinco dias.
O tempo parou quando ouvi aquela frase, Não sabia se abraçava a doutora, se beijava, se saia correndo... Liguei para a esposa e ela amarelou... Pediu mais uma tarde, não tava segura de que seria uma boa mãe, entrou em pânico.
Eu só ria, sorria mesmo, e fiquei ao lado do João Gabriel, contemplando seu rosto sem a sonda nasogástrica.
Não via e ouvia nada, só aquele pequeno ser que me dá tamanha satisfação e vontade de viver. Que me faz um pai bobão, abestado.
Fiquei ali o fitando, com a câmera em punho, eis que ele abre esta expressão, que emoldura esta foto. Um sorriso "monalisiano". O primeiro que testemunhei. Um sorriso de libertação. Não me contive, ri também. Ri das nossas travessuras que faremos sem a mamãe saber, descer de patinete a rua, soltar pipa no telhado, fazer trilha, acampar no gramado, cozinhar, comer tudo que é porqueira.
O relógio deu 12h00min, senti que era a última despedida, da rotina de visita uma vez por dia na UTI. Agora, poderíamos ficar junto o quanto quiséssemos.
Por um instante ouvi os sabias e bem-te-vis de Brasília, senti o céu azul inundando meu ser, colorindo novamente minha vida. Senti o quanto os amigos fazem a diferença em nossa caminhada. Aí pensei, tenho que blogar.


Crônicas Anteriores