Influenciando o Carrossel do Destino.


Hoje, esperando o elevador num Centro de Eventos, observo o trabalho de faxineiras.
As vejo caprichando o esfregão no chão, deixando-o um espelho.
Aí não tive como deixar de escutá-las:
“Foi uma bênção conseguir esse trabalho, fui contratada por 6 dias e vou ganhar R$ 528,00. Com esse dinheiro, vou pagar meu curso de Brigadista e tentar achar um trabalho ”fichado”. [fixo, com Carteira assinada]
Enchi o coração de emoção ao ouvir tão belo sonho de ascensão.
Sábado passado, caminhando pelo Condomínio Ouro Vermelho-DF, cruzei com o pessoal de manutenção e jardins. Já os conheço e posso me considerar amigo de um deles, Sr. Valdir.
O papo estava animado, um deles acabara de dar um lance num Consórcio de motos, um lance de R$ 300,00, aguardando o resultado de quem deu o maior.
Sr. Valdir queria entender direito esse “trem de Consórcio”.
“É um negócio que vai sorteando todo mês. Pode-se ganhar a moto por sorte, ou botando um dinheiro - sendo quem mais botou naquele mês”.
Sr. Valdir, do alto de seus vívidos 62 anos queria mais informação. “E, quantos participam do sorteio da “sorte”.
“Meu grupo tem 200 pessoas”. Sr. Valdir matutou, matutou e disparou:
“Oxe e pode levar 200 meses para tirar?” Não Valdir, 100 meses: tem a tirada mensal do dinheiro que damos, além da prestação de R$ 65,00, e a do sorteio.”
Nunca senti tanta esperança numa fala, o que seria para ele 100 meses? Nada.
De R$ 65,00 em R$ 65,00 ele chegaria lá. Ou, quando aparecesse um extra, como os R$ 300,00, quem sabe.
Os sonhos desses dois brasileiros: a faxineira e o jardineiro, são representativos dos sonhos de todos nós.
No primeiro deles, a disciplina em adiar consumos imediatos, para investir em educação. Procurar as melhoras da vida, via educação.
Que cena mais bela. Belo ainda mais a gratidão que ela sentia ao ter sido convocada para aquele emprego temporário. Que acabará funcionando como uma incubadora de seu projeto de vida profissional. Tem gente que desaprender a conjugar o verbo “Gratidar.”
Para muitos que me leem talvez R$ 500,00 não façam tanta diferença. Para a classe mais simples, da base da pirâmide social, juntar R$ 500,00 é uma façanha e tanto. Façanha maior ainda é pagar o estudo com eles, escolhendo que conta deixará em aberto, ou que satisfação presente – que a grana extra traria, será adiada.
Essa faxineira é um exemplo. Quantos de nós desaprendemos a plantar sementes no presente, para crescerem árvores no futuro de nossas vidas.
Parece que desaprendemos a esperar o que venha a ser, cultivando no hoje o que virá.
Queremos chegar à janelinha, “mas sem esforço”, ok?
Imediatistas demais; ambiciosos demais; apressados demais... perseverantes de menos; disciplinados de menos e resilientes de menos.
Criando uma geração ansiosa e preocupada, querendo a todo custo respostas da vida, contudo pouco disposta ao esforço.
Nossa faxineira sabe que se não investir nesse projeto não terá capacidade de quando uma vaga aparecer disputa-la.
Longe de ficar reclamando da vida, vitimizando-se como uma coitada qualquer, ela fornece uma resposta à vida, capacitando-lhe a uma melhor posição na disputa por uma vaga de brigadista.
Os sonhos de nosso amigo jardineiro vão no mesmo sentido.
Juntou seus R$ 300 e deu um lance.
Imagino ele guardando, centavo a centavo, além da mensalidade que já paga, um dinheirinho para o seu “lance”.
Quanto guardamos de energia positiva para o “nosso lance”?
O lance é o sonho.
Ele sonha em pegar uma motinha e deixar de pegar o buzão. Um sonho de maior mobilidade.
O tamanho de nosso “lance” é variável direta de nossas escolhas, renúncias e decisões.
Por isso não gosto muito daquele negócio da estrela cadente. De declarar um sonho ao vê-la.
Gosto de fazer meu sonho.
Sempre tive um desejo de ministrar aulas. Aqui em Brasília o mestrado pode abrir portas, ou não.
Têm muitos colegas que terminam o mestrado e ficam na mesma.
No grupo de colegas do mestrado circulou um email com uma proposta de emprego para uma faculdade.
Quase ninguém deu muita bola, muitos já estavam empregados ou não tinham essa vocação.
A faculdade não era lá essas coisas. Baixa remuneração por aula, atraso por pagamentos, recursos tecnológicos escassos e muitos alunos na classe.
Além de ser distante lá de casa (uns 40KM) e pegar muito trânsito.
Mas, era meu sonho. Quanto eu poderia pagar por ele? Qual o tamanho dele para minha vida?
Você pode perguntar-me se não era muito cansativo e pouco rentável.
Sim, para ambas as perguntas.
Mas, como chegar num centro de ensino mais à frente na “cadeia alimentar privada da educação superior” sem experiência no meio?
A coisa funciona muito a partir de recomendações de outros professores e coordenadores.
Então, eu sabia que quando eu batesse em outra porta não teria apenas duas respostas à pergunta sobre minha experiência: “Professor de Religião, no Colégio das Damas, e Educador Interno do BB.
Meu sonho estava criando musculatura, adquirindo capacidades.
E, confesso-lhes foram dois anos muito felizes naquela pequena faculdade. Tive demonstrações de carinhos de meus alunos e do corpo docente que disseram-me que eu estava na rota certa. Aquilo me dava um porquê viver maravilhoso.
Pegava alunos cansados ao chegarem ao turno noturno, muitos com severas carências educacionais, e de profissões mais simples - mas que guardavam seu pouco dinheiro para custearem seus sonhos também.
Então, amigos e amigas, ali havia um encontro de sonhos.
E, eu dava o meu melhor.
Fazia piruetas naqueles 4 semestres, para cativá-los à busca do conhecimento.
Era uma troca justa de sonhos.
Um dia, um de seus professores, perguntou-me se eu podia ir visita-lo numa pequena faculdade de “bairro”, numa sexta à noite – único dia vago na agenda de aulas noturnas.
Ela pagava em dia, 15% melhor, e as turmas eram pequenas. Além de contar com excelente logística educacional.
Ou seja, “pobre mais limpinha”.
O professor que me convidou era Coordenador do Curso de Administração, mas logo no bate papo inicial disse-me que na área dele não tinha vaga. Contudo, a Coordenadora de Turismo estava precisando, pra àquela noite ainda, de um professor. Não daria tempo nem de assinar a carteira.
Ele lembrou-se de mim, lá daquela faculdade em que juntos trabalhávamos.
A disciplina era Gestão de Turismo Sustentável – ou algo assim. Totalmente fora do escopo das disciplinas que eu me sentia confiante.
E, ainda estaria assumindo a vaga de um professor que fora demitido por justa causa, deixando a turma enlutada, ele era querido. Não sei o que ele fez. Só sei que a turma me rejeitou primeiro.
Mas, era meu sonho.
Valeria tudo. Valeria caras amarradas, pessoas me comparando, e até alunos entrando alcoolizados desafiando minha autoridade.
Preparava as aulas pra essa turma como quem tece uma obra de arte. Cuidava de cada detalhe para ajudá-los a superar o luto e a se envolverem com minhas aulas. Nunca estudei tanto turismo, para dar o meu melhor.
Nossa amizade ficou tão grande, aula a aula, que na colação de grau eles convidaram-me a ser homenageado. Mas, ministrar boas aulas esperando isso é burrice, sandice e idiotice.
Afinal, “vaidades das vaidades, tudo é vaidade”.
Só conto-lhes para terem a dimensão do quanto a paixão por um sonho, pode converter o mais gélido coração.
Aprendi que a natureza conspira pra quem sonha.
Então, caro amigo, todas as vezes que escutar no seu GPS interior aquela vozinha: “corrigindo rota, corrigindo rota”.
Alegre-se, é ela quem nos fará querer ser mais, progredir, desenvolver nosso potencial adormecido.
É isso que nossos amigos – o jardineiro e a faxineira estão fazendo em suas vidas: “corrigindo rotas”.
Ao se aquecerem na chama frágil da esperança, confiantes que será o agir deles - no aqui e agora, quem criará as condições para que novas possibilidades tornem reais em seu viver.
Eles são o sonho.
Então, vem comigo. Vamos corrigir rotas para que o tamanho de nossos sonhos não se apequene diante das dificuldades da vida.
Somos eternos demais para adormecemos esperanças.
Precisamos ousar alterar o curso do Carrossel de nosso destino.

Um gesto de doação, um calor no coração de quem o recebe.



Cheguei ao trabalho aborrecido, tenho minhas TPMs emocionais.
Hoje era dia dela.
Uns 50 emails para ler e encaminhar, reunião com áreas de regulação e controle, e horas de menos para uma agenda cheia.
Para complicar, o engarrafamento que peguei fazia birra comigo, com carros de "espertos" brincando de esconde-esconde à minha frente - é que eu vinha andando atrás de uma carreta, e os espertos usavam o acostamento para passarem ao meu lado e entrarem à sua frente, aproveitando-se do fato dela ser lenta nas arrancadas, ao avançar fluxo adentro.
Após aumentar o nível da TPM, umas duas horas depois de chegar ao trabalho, vou tomar um café com cabelos desgrenhados e aparência de embravecido. De poucos amigos. Sabem como é?
Aquele dia que achamos que somos os mais feios, os mais gordos, os menos importantes e tememos que o pior estará à espreita a cada telefonema, ou email que chegar. Dia de fragilidade emocional. Todos temos os nossos. 
Entrando na copa, a Lene me saúda efusivamente, trata-se de uma das copeiras que ali trabalham.
E, me diz que fizera um presente para mim: um paninho de prato bordado com as cores de meu estado, a Paraíba, vermelho e preto. Disse-me que era uma forma de agradecer a divulgação do trabalho delas, e que até tinha aumentado as encomendas. Fiquei com aquele pano bordado na mão, "abestalhado", atordoado e sem reação. 
Sabia o quanto era precioso aquele presente. Podia sentir o carinho invadir meu gélido ser.
Aquele gesto de gratidão entrou em minha corrente sanguínea. Foi aquecendo-me, aquecendo-me, e me inundando de amor. Olhei para elas, com olhar embevecido, e agradeci-lhes a delicadeza e gentileza do gesto.
Acabou na hora a TPM. Agora eu era o mais disposto, motivado e potente do setor. Fora amado.
O amor nos torna imbatíveis.
Aliás, ficamos sem mecanismos de defesa para um afeto genuíno, um carinho inesperado, bem dizia Freud.
Aquela dose de atenção curou-me numa fração de segundos. Botei o paninho de prato perto da estação de trabalho, e, todas as vezes que eu olhava para ele me sentia melhor. Foi meu talismã. 
Impressionante como receber carinho nos faz bem. 
Como pode ser a diferença entre um dia bom, e um dia ruim. Voltando para casa, bem feliz com o mimo que recebi, lembrei que uma amiga precisava de mais uma série de lições para sua filha, que está fazendo meu curso de inteligência positiva, com dez anos de idade, e é uma das melhores alunas. Liguei para ela, e por telefone mesmo passei as lições para os próximos sete dias. 
Pude sentir a felicidade daquela mãe, que já vê os progressos da filha, em receber mais uma série de práticas positivas para fazer com ela. Retribuí a corrente do bem. 
Você pode ser bênção no dia de alguém. Já parou pra pensar nisso?
Talvez o único abraço que alguém amanhã receba seja o teu. Talvez o único gesto de afeto seja seu olhar bondoso sobre ele. Talvez, seu único reconhecimento, após um dia cansativo de trabalho, venha de ti. 
Talvez, a única pessoa que parará para escutá-lo seja você.
Quantos "panos de prato bordado" estamos dispostos a doar para pessoas que queremos demonstrar gratidão?
Ou, desaprendemos a demonstrar isso?
Um amigo chamou-me para almoçar. Sou grato a ele. Tantos não têm com quem dividir a vida ao almoçar juntos. 
Uma amiga postou uma poesia e lembrou-se de mim. 
Sou grato a ela, ao lembrar-me que um ou outro texto que postei fez a diferença em seu viver. Ela Inspirou-me a continuar, apesar de cada vez mais difícil a briga com as ideias, fruto de uma amnésia crescente. 

Ao retornar pra casa, dirijo-me a uma obra de construção civil que estou fazendo.
Ondas de TPM Emocional invadem-me novamente. E, nem o paninho tá por perto, pois o deixei no trabalho.
É que os pedreiros construíram a parede no local errado. 
Enquanto olhava para a desgraceira da obra mal feita, um vizinho me viu e chegou perto da divisa dos lotes e me abordou. 
Perguntando-me se eu ia precisar de material para impermeabilizar as paredes.
Falei-lhe que sim. Então, ele me presenteou com sobras desse material, muito caro, e ainda me deu valiosas dicas sobre impermeabilização.
Mais uma vez, uma onda de felicidade e bem-estar invadiu-me.
Esqueci na hora a parede errada. Esse um aprendizado da inteligência positiva. Sair do modo murchar, permitindo ao florescer.  Sair do disco arranhando de "ninguém me ama, ninguém me quer, só comigo, sou a vítima..., etc". 
Viver o luto, ou a eventual dor de viver, só o tempo necessário à sua muda, à sua superação. 
Aquele gesto de doação tirou meu foco no problema, e me fez lembrar que não há nada que uma marreta não conserte numa obra. 
Agora, ter um bom vizinho, do tipo que se preocupa com tua obra de construção civil, e doa sobras de material da dele, é uma bênção. E marreta nenhuma faz isso acontecer. Só o amor. Parei na hora de resmungar da parede de tijolos feita próxima demais do muro de arrimo.
Agora, no meu coração só morava a felicidade e paz que sentimos quando somos amados e valorizados por alguém. 
Assim é com um monte de problemas e preocupações.
Quando estamos nelas perdemos a capacidade de ver para os lados, de olhar coisas legais que ainda estão funcionando e criar forças para enfrentá-los. Chama-se a isto de inteligência positiva. .
E é uma bênção.
Assim, enchi meus pensamentos de coisas boas que me acontecem e pude relevar as não tão, que fazem parte do pacote do viver.
Sem fazer proselitismo religioso, longe disso, lembrei de algo que li na Carta de Paulo aos Filipenses, no qual ele ensina: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento."
É amigos, em nossos pensamentos cabe um mundo de situações que podem nos fazer florescer, ou murchar.
Existem pensamentos murchantes, e os florescentes.
Assim sendo, escolhi naquele dia só pensar nas coisas boas, enquanto atacava as nem tanto. Quase que ganhando energia para enfrentá-las.
Em quanto tenho de familiares, amigos, dádivas, dons, oportunidades que o estresse, ansiedade e preocupações acabam por cegar a visão deles - tornando-lhes o mais grave ainda, indiferentes ao meu viver.
Quero ter sempre "um paninho de prato bordado" para oferecer a alguém.
No sentido da metáfora, entende?
Quero fazer alguém mais feliz, com um gesto de doação, da saudosa fraternidade: palavra cada vez mais utópica e distante em tempos de endeusamento do ter, poder e prazer.

Cartas ao JG - FA FE FI FO FU (ops!)


"Sabe feijão filho? Aquilo que você não gosta.
É F, não é G. De figurinha, furo, foto"
Escuto à distancia tuas primeiras sílabas: Fa, Fe, FI.
Tua mãe enlouquecendo, com tua pouca atenção. "Fofão, FÔ... como é o Fão?"
"Pão". rsrsrsr vai tomar uma bifa.
Mas, fofão é difícil mesmo. Poderia ser Fada, seria melhor. Têm fadas lindas.
Fico curtindo tudo, numa respeitosa distancia. Se chegar perto te assusta mais ainda, tu fica nervoso achando que não aprende.
Depois da sabatina, tu chega na sala e liga a TV.
Me diz que viu um circo na escola, "teve até a mulher da faca".FA + CA.
Como é que se escreve faca? Desliga isso até me dizer.
Um telefone tocando te salva. Desisto.
Confio que o aprendizado pede tempo, maturidade, como sementes pedem sua dormência para germinarem.
Filhos pedem paciência, em sua evolução desigual, temerosas de qualquer padrão comparativo.
Só precisamos ensinar-lhes a não desistir.
A não se desesperarem quando não aprenderem algo, ensinar a frase da canção célebre: "Tente, e não diga que a vitória está perdida".
Pais, ansiosos demais com a evolução dos filhos: "para concorrerem num mundo extremamente competitivo", acabarão por produzir neles angústia e medo - medo de decepcioná-los.
A partir desse momento, nunca mais farão algo para si mesmo, mas para provarem que são o projeto de filho que existe na cabeça dos pais. Viverão em função de agradar-lhes e perderam de si mesmos pelo caminho.
Privando os meninos do brincar e do conviver, sempre muito cobrados em agendas cognitivas extenuantes. Brincar até com um hambúrguer, que largado ao relento por falta de fome, acabou virando um boneco. E porque não?
Então, filho amado, hoje não foi o dia da faca, fofão e do feijão.
Mas, pelo menos teve nele a arte da moça circense, a da faca. E o boneco do hambúrguer, pura arte.
Então têm facas que tu não sabe ainda escrevê-las, mas têm facas que tu soube vibrar com elas. Torcendo que a moça escapasse ilesa.
Verás que quando calarem teus motivos, será a poesia, em todas as expressões que em ti falará, fortalecendo teu coração para novos soletrares.

Só um voltou...

O dia convidava à vida. Botei meu tênis, mais pelo tempo do que por exercícios, e fui pra feira. De longe avistei Dona Chica e sua Kombi cheia de plantas.
Ao me aproximar, vi que um cliente conversava com ela. 
O tom da conversa era pastoral, não tinha como não escutá-los, enquanto admirava as plantas que ela trouxera.
Ela, justificava-se para ele, o porquê de estar triste, véspera do dia das mulheres.
Quanto a ele, tentava animá-la com as palavras que lhes vinham à mente.
Dois amigos ajudando-se, numa manhã de sol tão bela.
Logo ele despediu-se e ela veio me dá atenção.
Disse-lhe que estava escolhendo umas flores para o dia das mulheres.
Ela olhou-me um olhar de súplica. Disse-me o quanto ficava triste nas duas datas que se seguem: dia das mulheres e das mães.
Parei toda a pressa do mundo pra escutá-la. É que encaixo a ida à feira livre no sábado, antes do futebol do JG que começa às 9hrs.
Ela contou-me que teve três filhos. Duas moças e um rapaz. E que [sinto a presença de Márcio (+68) de onde teclo, ele partiu dia 26/12, éramos amigos e nossa última conversa foi exatamente onde agora estou. Obrigado Márcio, pela luz que deixou e nos irradia]
Deixando a divagação espiritual, Dona Chica contou-me que criou os filhos com muita dificuldade e deu condições deles tocarem a vida sozinhos. Pagou estudo caro para as filhas “até no exterior”. Deu um caminhão para o filho trabalhar de frete. E comprou duas áreas para as filhas tocarem negócios próprios de plantas, projetando para o futuro a independência das mesmas.
Hoje, sente-se sozinha e abandonada pelos filhos. Percebe-se vítima de ingratidão. O marido já faleceu. Ela diz que sofre quando fala com as filhas e sente frieza, e acha que as filhas têm vergonha dela ser uma feirante.
Disse-me que ultimamente nem atende mais aos telefonemas das meninas. Não quer sofrer e prefere não falar com elas.
Olho para Dona Chica e rememoro tantas pessoas com as quais cruzei e que adoeceram de desamor, sofrem de coração partido.
Pessoas que terceirizaram sua força de viver para os outros. Que esperam dos outros reconhecimento, atenção, cuidado e carinho, e porque não dizer até respeito, e quando não os tem satisfeitos, com as expectativas em relação a eles nutridas, sofrem. Sofrem muito.

De namorados, maridos, chefe, colegas de trabalho, pastores/padres, amigos, irmãos...

Respirei fundo, fitei-lhe nos olhos e disse-lhe: Dona Chica, vou lhe contar umas histórias que tem mais de 2.000 anos.
Um dia Jesus curou dez leprosos. Sabe quantos voltaram para agradecê-lo? Apenas um.
Outro dia, Jesus contou uma parábola de um filho que estava perdido e voltou pra casa dos pais. Sabe qual foi a reação do irmão, ao ver a alegria do reencontro? De indiferença e mágoa com o pai. Ele não gostou da reconciliação de seu pai.
Dona Chica, a ingratidão faz parte da história da humanidade. Esperar que os outros nos agradeçam pelo que fizemos, nos reconheçam em nossas ações para com eles, nos devolvam um pouco do que a eles doamos, é um passo para a intoxicação emocional.

E, nem sempre fazem isso por serem maus. 
Fazem por não terem aprendido a ser diferentes, mais amorosos.

Não espere ser feliz somente quando suas filhas demostrarem que lhe ama.
Não delegue a ninguém a sua existência nesse mundo.
Acolha as pessoas como são.
Isso não significa que a senhora não tem razões para sofrer. Tem sim.
Mas vou te provocar agora. Olhe para sua Kombi.
O que ver nelas?
“Vejo minhas plantas”.
Bem, outros que não gostam de plantas sabem o que podem ver?
“Não”.
Uma tranqueirada danada, sacos de estrume com a boca abera derramados no chão, uma Kombi que mal se levanta das pernas - quase arrastando o lastro no chão, falta de água para beber, de um banheiro, ausência de placas sinalizadoras, de balcão para atendimento, de cadeiras, de máquina de cartão, de saco decente para levar as mudas, de uma sombra para facilitar as escolhas e até da tabela de preços.
A vida é exatamente assim. As coisas vão nos acontecendo e vamos deixando de ver as plantas ao redor, as flores, o mistério da vida desabrochando e nascendo de frágeis sementes.
Passamos a procurar razões para ser infeliz. Razões para resmungar, murmurar e ficar rabugento.
O pior é que todas as razões têm razão.
Atribuímos muitas expectativas ao outro, nos relacionamentos, e é um passo para a morte. Vamos ser magoados. Ah! se vamos!
Na vida, como disse uma amiga, temos que pisar leves. Ser menos exigentes, carentes e ausentes de nós mesmos.
Olhando-se por esse prisma. É como o cliente que queria conforto ao comprar suas plantas e não encontrou.
Se a senhora do alto de seus 72 procurar razões para ser infeliz, na relação com seus filhos, achará e um monte delas.
Pare com isso!
Deixe de se intoxicar com emoções negativas. Deixe de ter pena de si mesma, de sair para todos proclamando sua infelicidade.
Nesse tempo, que para mim durou uma eternidade, ela [Pera aí Márcio que já conversaremos]
Marejou olhos e ergueu o esqueleto, como quem leva um soco ao contrário.
Vou lhe ensinar um segredo: somos o que pensamos.
Repense sua vida e tenha menos expectativas sobre os outros.
Como: treine comigo.
“Como sou feliz, tive três filhos. Tantas pessoas não conseguiram.
“Como sou feliz, pude criar e dar vida digna a três filhos, quantas pessoas não conseguiram.”
“Como sou feliz, com meus 72 anos ainda tenho disposição para trabalhar e me sentir produtiva. Quantas pessoas não conseguiram.”
“Como sou feliz, tenho um monte de clientes amigos que param tudo que estavam fazendo ficam por meia hora proseando comigo. Quanto outros comerciantes não têm relação com seus clientes de amizade.”
Viu dona Chica?
Reprograme seus pensamentos, incluindo pensamentos positivos, no seu viver.
Repreenda as emoções tóxicas mais agressivas e danosas ao ser humano: culpa, inveja e mágoa.
Sê feliz consigo mesma, sendo bênção para os outros. Faz um jardim dentro de ti. Não é o do vizinho que é mais belo, é o teu que está descuidado esperando por alguém que lhe dê sentido. Mas, só quem poderá dar sentido a ele é você mesma.
Ame-se mulher! Deixe de besteira. Goste de si mesma e viva a vida que vale a pena. Tome sorvete, banho de chuva, suba em árvore, conheça novas pessoas e lugares, dance, cante, louve, ajude, plante, e cozinhe.
Se outros quiserem vir juntos, excelente, caso não: ótimo também!
Nunca coloque o sentido no outro. Nunca.
Afinal, Ele mesmo falou que a condição para o ir ao encontro do outro está em nós
“Ame ao próximo, como a ti mesmo”.
Atenda o telefone de suas filhas. Acolha e aceite o amor que elas podem lhe dar.
Fui no carro, peguei um exemplar de meu primeiro livro, dei-lhe de presente do dia das mulheres e prescrevi, como leitura obrigatória, o texto Florezinhas Amarelas.
Ela adorou o presente, afinal de cultivar flores entende, só esqueceu momentaneamente de fazê-lo no seu coração.
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Sr Márcio, sabe quem chegou aqui o Sr. Waldyr. E ele vai pegar uma abóbora pra gente. Disse que o milharal deu umas espigas enormes e ainda comeu dois cozidos de feijão.


Florezinhas Amarelas
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/2011/12/atitudes-florezinhas-amarelas.html

Semear

Elas moravam num saquinho, na despensa, e há anos.
Doadas que foram tiveram a felicidade de se encontrarem com um coração gentil e amoroso, que com cuidado lançaram-lhes à terra. 
Ali, no quentinho de um berço do eterno, molhadas em vida diariamente, como quem dá banho em bebê, germinaram do antes apenas promessa de vir-a-ser.
Quanto mistério no milagre de uma vida que se ergue. 
Quantos seres se conectam para que isso aconteça?
Seres de mãos jardineiras.
Sem eles, nunca seremos o que poderemos ser, e nem nós sabemos ainda. Nunca!
Seremos sempre menores.
Mas, se tivermos a felicidade de cruzar com pessoas-jardineiras de gente, ah! quanta revolução em nós se fará.
Quanto potencial despertado. Quanta vocação assumida.
Quanto dom colocado à prova, frágeis no princípio, mas corajosos ao sentirem as mãos que lhes apoiam.
No principio, era apenas um saquinho de sementes de flores Chitinha.
Agora, são rebentos de flores debutando nas mãos do eterno.
Erga-se, sinta que tudo em ti clama vida.
Erga-se, não é hora de arquivar tuas sementes.
Erga-se, mesmo oprimido pela terra que te sufoca, acredite na força do amor que faz em ti morada, e te capacita à luta em busca de janelas de ar e sol que te façam crescer.

Encontre seu jeito de fazer a diferença


Todas as manhãs sou abençoado ao cruzar com essa senhora.
Não tenho como não passar por ela e sair melhor.
Torço até para o sinal, na qual ela faz ponto entregando jornal, esteja fechado.
Quando ela me entrega o jornal Metro, agrega ao mesmo, uma farta dose de felicidade e disposição em servir.
Ela achou o sentir no trabalho. E não, como muitos ficam procurando - tal cachorro correndo atrás do próprio rabo, achar trabalho que faça sentido.
Ela trabalha com sentido e isso faz toda a diferença.
Aliás, ela encontrou seu jeito de ser diferente.
Enquanto ela posava para foto, estacionada ao meu lado, uma senhora acenava para ela.
Logo, ela foi ao seu encontro. Tratava-se de um mimo que a senhora do carro ao lado trouxe para ela. Algo numa sacolinha presente, Aquela senhora está retribuindo, os dias a dias, sob sol e chuva, que é brindado com o amor.
Sim, amigos, o trabalho pode ser um grande espaço para expressarmos amor aos nossos clientes.
Após receber o presente ela voltou-se para mim,l sempre correndo e gritou - ao ver o sinal abrindo, hoje ganhei dois presentes. E olhou para mim com olhos de vovó quando ver os netos.
Entendi então que um dos presentes fora a foto que fiz a pouco.
Ela deve ter se sentido bem, ao ser retratada.
Parti com um sorrisão largo no rosto.
Esqueci de todas as preocupações matinais e deixei fluir em mim o amor que dela emanou.
Que coisa linda é acharmos um jeito de fazer as coisas diferentes, nosso jeito de servir, independente do trabalho que executamos.
Servir com atenção, respeito e delicadeza ao outro.
O serviço dela não é fácil. Já vi outro operadores do mesmo trabalho que ligam o piloto automático e mais parecem máquinas dispensadoras de panfletos.
Trata-se de um serviço cansativo, tem que correr entre carros e aproveitar a brecha do sinal. E, convive-se com todo tipo de humor e personagem da selva social em que vivemos.
Mas, ela não se cansa. Sempre ativa e correndo entre as fileiras.
Amanhã vou presenteá-la com meus livros e perguntar seu nome.
As pessoas precisam de nomes.
Acho que ela se satisfaz mesmo é em não deixar nenhum cliente sem o jornal.
Chego a pensar que ela se diverte com o trabalho, e deve considerar as carreiras entre as filas a sua ginástica matinal.
Ela positivou sua existência.
Ela não tem medo de cara feia, vidro fechado.
Com seu sorriso, nos desarma.
Flagro vários "clientes" abrindo os vidros, ou deixando o celular de lado e renderem-se ao seu gesto de doação do jornal.
Ela encontrou seu jeito de fazer a diferença.
E, agora, estimula-me mais uma vez a procurar o meu jeito de fazer a diferença.
De bem servir, de encontrar o sentir no trabalho; e de fazer do mesmo uma vocação em transformar o local em que atuo melhor do que encontrei.

Nininha


Acordei, na manhã do primeiro domingo de março, bastante encharcado emocionalmente.

No dia anterior, fora o casamento de minha filha.
Entrar na igreja, levando-a ao altar, foi o cume de um monte de bênçãos que recebi na criação de meus filhos. Bênção maior ainda ver o amor de um para com o outro que contagiou a todos. Amor dos bons: simples, alegre e afetuoso. Eu estava um bagaço, esticado no sofá, rememorando com familiares as fortes emoções do dia anterior.

Era um dia especial em nossa família, estávamos os três irmãos juntos na casa de nossos pais. Eles nunca conseguiram essa proeza, ao terminarem de construírem-na.

É que todos foram casando e migrando para Brasília.

Ninguém mais teve agenda para que num único final de semana nos encontrássemos em nosso lar, todos juntos, em Campina Grande-PB.

Papai e mamãe não sabiam o que faziam com tanta felicidade. A todos papai dizia: "o maior presente com o casamento de Priscila Magalhães e Hugo Felinto foi juntar os filhos e netos todos ao mesmo tempo em nosso lar. Aí era que eu ficava um bagaço mesmo, aguenta coração. No dia anterior já tinha feito uma surpresa a ele, papai, paramos no meio da nave da igreja e o convidamos para dividir a "entrega da noiva!, segurando no outro lado do braço. Papai e mamãe foram fundamentais na criação de meus filhos, por uns 15 anos, até que terminasse seus estudos naquela cidade. Combinamos, eu e Priscila, na noite dos ensaios. Só nós sabíamos e a cerimonialista. Para papai, foi uma surpresa. E,toda a igreja chorou de emoção. Engraçado que sonhei na noite da quinta pedindo isso a Pri. E, foi ela na noite da sexta - durante o ensaio, quem me abordou toda envergonhada, com medo que ficasse chateado, e fez a proposta de divisão do cortejo. durante o ensaio, toda envergonhada, com essa proposta. Caímos juntos na risada, de tamanha coincidência, afinal Deus não joga dados.


Voltando à manha do domingo, escuto a campainha tocar. Eis que a porta se abre e entra uma senhora. Fragmentos de antigas lembranças desafiam meus neurônios.

Cego de tanta assombramento, em sinapses confusas, tal qual um desarranjo afetivo olho para ela e digo: "Nininha?"

Ela me abraça e diz que sim. Choramos os dois abraçados.

Do alto de seus 70 anos, estava diferente.
uns 12 anos. Ela foi vítima de um tumor no cérebro. À época meus pais cuidaram dela, e fizeram de tudo para salvá-la, conseguindo uma operação cara e rara num hospital escola. A operação foi um sucesso, mas ela não teve mais condições de trabalhar e aposentou-se por invalidez. 

Nininha foi nossa ama, babá, confidente, governanta, disciplinadora, educadora, amiga e companheira - de nosso nascimento até o início da juventude. Foi morar com meus pais quando tinha 18 anos, ficou com eles por uns 15 anos. Depois de seu adoecer, ela foi morar com seus parentes. E, cada um de nós foi se perdendo uns dos outros.
Há 35 anos que não a via.
Cada um de meus irmãos que adentrava a sala, ia passando pelo mesmo e intenso choque emocional que eu passei.

A casa ficou mais ainda em festa.

A chegada da Nininha era um reencontro com nossa infância.


O aroma de peraltice enebriou o ar. Encantamentos, sonhos, aventuras no fundo do quintal de uma casa tipo "tripa" de meus pais.

Ela era um arquivo ambulante da nossa infância.

Durante o almoço do JG, que luto colher a colher com ele para comer, ela nos contou que o Guga era do mesmo jeito.

Aproveitei a deixa e pedi que ela desse o almoço do JG, como ela sempre fez comigo. Era um revival de um gesto muito precioso ao meu existir.

A cozinha silenciou, em reverência, afinal naquela cena voltava-se 45 anos na fita de nossas vidas.

Era bênção demais para um pai que acabara de casar a filha.
Muito mais que mereço.

Nininha desafiou minha amnesia e me fez sentir-me novamente protegido.

Quantas vezes ela limpou minhas feridas, tomou comigo as tarefas, brigou para que eu não subisse nos móveis, ou sujasse a casa?

Quantas vezes ela acalentou meu choro de saudade de meus pais, ou de birra, ou de medo por qualquer coisa..., consolando-me que logo logo eles estariam de volta.

Quantas vezes fez nossa comida, deu-nos banho, botou-nos para esperar nossos pais na calçada de casa, todos penteados e cheirosos?

Quantas vezes ela ajudou em nossa criação, e até na superação de meus pais em busca de suas melhoras, dando o suporte no lar para que eles pudessem avançar em vida?

Obrigado Nininha. Obrigado...
Obrigado meus pais.
Obrigado por terem feito de tudo para Nininha sarar, cuidaram dela, e deram a ela condições dignas de existência.
Obrigado Jesus por ter possibilitado esse reencontro, 35 anos depois, ela agora com seus 70 e eu com meus 50.
Como seira bom se pudêssemos voltar o filme de nossa vida e dizer a todos que nos ajudaram um obrigado, o quanto somos gratos.
Que bom que para com Nininha eu pude dizer ainda em vida.
Como estou feliz!
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