Sejamos 3D Emocionais

Estava pernoitando no quarto da sogrona, e ali deitei minha visão naquele guarda-roupa que junto com uma cômoda, cama e penteadeira formam um conjunto harmônico. São móveis da década de 30, herdados do clã dos Pinatti de Pirajuí-SP, uma italianada que migrou para SP no início do século. Tutte le persone buone. Engraçado que nunca tinha parado para contemplar estes móveis, e frequento o lar dos Pinatti desde 1997. 
Fiquei assombrado com tamanha beleza e delicadeza dos entalhes. Mas assombrado ainda por nunca ter parado para contemplá-los com o devido respeito e admiração.
Como tem gente que passa pela vida, ao nosso lado, sem nunca ter olhos deitados sobre seu ser, vendo o que sempre tá ali pertinho e nunca é admirado, posto que resta só indiferença aos olhos opacos de retinas cansadas dos que lhes rodeiam.
Os móveis de hoje são retos, chatos, com acabamento sem detalhes algum. O povo chama de "estilo clean".
Os de antigamente esmeravam-se em estilo. Cada peça era uma obra de arte, cheias de tons sobre tons, ruelas, vales e montanhas.
São móveis em terceira dimensão. Seus acabamentos possuem largura, comprimento e fundura.
O artista, desse conjunto de móveis, era tão caprichoso que esculpiu no recanto deles, um conjunto similar de frisos, como se fosse sua assinatura; seu traço identitário.
Quando nascemos somos assim também. Carregamos o traço genético de nossas famílias e somos cheios de dobrinhas e plexos de todas as ordens, por isso somos complexos.
Ao amadurecer alguns de nós vão perdendo os plexos, as dobrinhas, vales e montanhas que nos tornam diferentes uns dos outros. Perdemos a terceira dimensão e fica-se 2D. Largura e comprimento, profundidade nenhuma.
Naquela madeira, no local que só havia 2D, um carpinteiro talhou um sulco, uma covinha, um recalque e deu no que os designers chamam de volumetria.
É amigos, precisamos de volumetria em nossa vida. Não falo das originárias do excesso de calórias, como as que porto no barrigão de chope.
Nem falo da volumetria, tão comuns nos móveis de nossos tataravós e em casas mais simples, nas quais as paredes verticais encaram a gravidade - com tanta coisa que nelas vão se afixando, criando espaços que desafiam a lógica subjacente, A La Niemeyer.
Falo de uma volumetria emocional, que nos destaque da multidão, que escreva a nossa história singular no viver de uma comunidade.
Afinal, cria-se filmes 3D, móveis 3D, casas 3D e porque não pessoas 3D?
Tem muita gente que perdeu o 3D com o que nasceu, o 3D emocional que fazia acreditar em sonhos, em fantasias, em acreditar em quem não conhecia e no brincar com tudo que tinha a mão. Aquele 3D que faz sorrir, amar e perdoar com uma naturalidade como o alimentar, assim éramos na tenra infância. Éramos 3D emocionais. Mesmo que inseguros e imaturos, ainda assim, cada um carregava um jeito próprio de chorar, sorrir, brincar, ser, fazer e acontecer. Pais de muitos filhos como eu, e talvez você, sabe bem do que falo. Todas fomos crianças diferentes, 3D falando, mas incrivelmente belas, por diferente que éramos.
Aí foram ficando rasos, aplainaram superfícies, como numa lima que lixa tudo que desafia a harmonia do toque.
De tanto se formarem, nas formas da família, igreja, escola, trabalho e sociedade perderam uma de suas dimensões, justamente a das dobrinhas, entalhes, vales e montanhas emocionais.
Aquela que nos diferencia, aquele jeito autêntico e soberano de ser, a que chamamo de autonomia.
Tudo tem ficando muito sem personalidade, sem diferenciação nos tempos atuais.
Tudo muito 2D - só largura e comprimentos emocionais - profundidade nada.
E, é justamente na profundidade que se faz a terceira dimensão do ser.
Quero recuperar minha função 3D emocional, qual o primeiro amor, qual quem lustra a prataria com KAOL.
Quero continuar podendo decidir se penso como todos, ou se tenho uma outra vista de um ponto. E, quando todos pensarem da mesma forma, quero exercitar o 3D emocional e tentar enxergar traços escondidos que na horda social em que nos tornamos não conseguimos ver.
Quero continuar escavando em mim emoções que me conectem às coisas boas da vida, à simplicidade e amorosidade do encanto do viver.
E, vez por outra, parar e olhar para o friso esculpido nos meus DNAs, que me tornam família, e sentir-me honrando de ter vindo de onde vim e pertencer aos clãs a que pertenço, inclusive os que foram moldando em meu viver, a que chamo das família sociais - a escolhemos para dividir nossas jornadas.
Se tua vida anda um tanto vazia, sem graça, sem sabor, quem sabe não é hora de levar-se a um carpinteiro para que em ti sejam entalhados novos adereços, novos projetos, sonhos e motivos para viver.
Não é hora de adormecer tua existência ficando igual a tantos que apenas sobrevivem. Afinal, é sobre a vida de que estamos falando e uma vida que não se envergonha das cicatrizes pelas quais passou, antes as têm como troféus que nos momentos de dificuldade - ao para elas olhar, sentirá mais forte.
Vamos lá, eu e você, esculpir coisas novas em nosso existir. Nos diferenciar de alguma maneira, sem ser diferente, mantendo aquele traço maior que nos faz a todos humanos e belos, o do amor.
Vamos deixar de aplainar tudo que temos de bom para nos ajustarmos à mediocridade dos que esperam de nós pouca coisa. Não espere de você mesmo pouca coisa. Nunca.
Somos eternos demais para perdemos nossa 3 Dimensão ao nos ajustarmos à tudo e a todos, sem nenhum senso crítico, apenas para nos sentirmos aceitos. Nem sempre valerá a pena lixar nossos volumes que nos diferenciam. Alguns de meus volumes emocionais são o que de melhor ainda tenho, outros nem tanto, lixa neles.
O perigo é ficar de de renúncia em renúncia ao nosso existir, acovardando nossa presença no mundo, ao ponto de se perder de si mesmo. Ficando mais um sem noção, sem história, sem rebelião, sem mudança, sem graça e vida - igualzinho a um tantão de zumbis sem emoção perambulando por aí. Gente bovina. Gente sem identidade, que não transforma, faz ou acontece, apenas repete a forma dos outros - a de móveis tipo modernoso, sem volumetria assimétrica.

Porco no Tacho

Hoje uma de minhas alegrias foi ao parar no sinal e ver aquela senhora, distribuidora de jornal Metro, trabalhando. Quanta alegria e jovialidade, do alto de seus 60 e poucos anos. Saí maravilhado com tanta entrega dela a um trabalho rotineiro e nada glamouroso. Ela encontrou seu jeito de ser feliz e fazer a diferença, mesmo entregando jornal num sinaleiro. Quem quiser tomar uma dose de esperança, preste atenção nela, ao parar no Setor de Industria e Alimentação do DF, na esquina da Cinfel. Ela atua naquele ponto no início das manhãs, entregando otimismo aos seus clientes, junto com o jornal Metro. 
Entro no prédio e dou de cara com a atendente do subsolo, ela logo me disse que as sementes que eu a presentei, quinze dias atrás, estão germinando e que são flores do tipo Chitinha. Enquanto aguardo o o adotou. Agora tá uma belezura.
Lembrei-me de minha mãe: "quer conhecer como anda a saúde emocional de um lar, veja como estão cuidando do jardim". Sábia mamãe.
Fiquei sabendo por Chris Rodrigues que essa mesma atendente, no Natal, faz coleta de brinquedos no prédio e se fantasia de papai noel para distribuí-los juntos às crianças carentes de onde mora. Bela mulher.
Chego no setor, abro uns emails, compartilho decisões e dirijo-me à copa, para o cafezinho matinal. Sem ele não funciono. Ali, embeveço novamente o coração, dou de cara com as duas copeiras bordadeiras do 1. andar. Hoje, elas estão no mesmo turno, e entre uma garrafa de café e outra, elas bordam paninhos de prato que ali mesmo são vendidos para complementar suas rendas. São R$ 10,00 de pura arte. Hoje as fiz felizes ao comprar um paninho de cada, mas feliz mesmo fiquei eu ao conversar um dedindo de prosa com tão doces senhoras, cheias de cicratizes que a vida lhes deu, mas que não perderam o viço, a coragem de viver e a mansidão no olhar.
Sou pescador de pessoas especiais, ou um garimpeiro, como queira. As coleciono como troféus. Muitas de minhas crônicas são inspiradas nelas. Elas são para mim um sustento, uma esperança e um estímulo. Nelas, miro meu viver e me fortaleço. Elas estão espalhadas em todo o lugar. Para vê-las precisamos de óculos 3D.
Como assim, Ricardim, óculos 3D?
Amigo(a), você já percebeu que alguns filmes que passam no cinemas são em 3D? E que na entrada nos dão uns óculos para poder apreciá-los em todas sua gama de efeitos especiais que mais parece que vamos tocar nos objetos e pele dos atores.
Quando tiramos os óculos e tentamos ver o filme, não é a mesma coisa. Aparece uns borrões.
Desenvolver a visão 3D emocional e ver o não visto. É ver para além das aparências, rótulos, cargos, ver até o invisível.
Assim o filme da pessoa à nossa frente fará sentido, ficará mais belo e complexo, plexos que somos em nossas entranhas comportamentais.
Nem sempre estou com o 3D ativado. Aí vejo o que a maior parte das pessoas veem: crachás, cargos, ferramentas em forma de gente, atendentes automatizados, colegas no piloto automático e relacionamentos sem envolvimento.
Para ver a distribuidora de esperança, a jardineira de sonhos e as bordadeiras de coragem precisamos ativar a função 3D do olhar.
Ver profundamente, em empatia e compaixão, procurando esvaziar-nos de nós mesmos e todas os conceitos encardidos para dá lugar às pessoas especiais que movem a humanidade no que ela tem de melhor: a esperança e amorosidade.
Você deve conhecer alguma pessoa que vista no 3D te causa uma paz enorme, ou te enche de alegria.
Aliás, pode ser uma destas pessoas que enche a vida de esperança por onde passa.
Há anos frequento pessoas assim e elas vêm esculpindo em mim um outro ser. Ainda sou bruto e às vezes desanimado, mas sinto que estou melhorando.
Queria contar uma história recente de uma família 3D.
São pessoas lindas. Tive a felicidade de conhecê-los no ano 2000, desde então viramos bons amigos. Visito esta família uma vez por ano, quando vamos pra Londrina-PR aproveitando o feriado de final de ano.
Em 2000 dei sorte. Estava com o óculos 3D. Vi o que muitos que ali frequentam não vêm. Vi amor, dedicação, paz, trabalho em equipe, alegria, serviço e atenção aos clientes.
Logo aproximei-me do balcão, no qual Julinho abria as carnes preparadas no bafo, e as servia a cada cliente com um sorrizão no rosto e um instantezinho especial para cada um deles, no qual ele fazia saudação ou referência às suas vidas pessoais.
Fiquei encantado. O clã é formado por descendentes de italianos e alemães e atuam num estabelecimento chamado de Porco no Tacho, em Londrina-PR.
Domingo passado fui convidado pelo patriarca Alemão (O Bisavô da turma) para adentrar a cozinha. Até então ficava pelo balcão, ou mesas próximas. Ser chamado para adentrar a cozinha é prova inconteste de confiança e admiração pela visita.
Pelo menos na minha terra.
Fiquei emocionado. Do alto de seus 82 anos, aquele patriarca da família com um vozeirão olhou para mim e disse-me: "Venha comigo ver onde trabalho".
Entrei por corredores e salas de preparação de carnes de estufas climatizadas até chegar à cozinha. Ali, ele mostrou-me orgulhoso o tacho. O tacho no qual prepara o porco previamente temperado nos dias anteriores. Explicou-,me com candura todo o processo. Eu estava muito feliz. Um dos garçons levou até mim a minha bebida, ele disse que me acompanharia. Senti que era outro sinal de deferência.
Tomei coragem e fui mexer as carnes no imenso tacho.
Aí ele contou-me sua vida cheia e a de Dona Nilda Cantagalli (a matriarca descendente de italianos) e do quanto foram crescendo e mantendo a família junta e trabalhando com eles: 4 filhos, 6 netos e agora a Mariana, a primeira bisneta.
Ricardim, e o que tem a ver a cozinha de Sr. Strass com os óculos 3D?
Elementar amigo(a), quando usamos os óculos 3D para melhor enxergar os que nos rodeiam é como se estivéssemos acessando a cozinha de seu coração.
Acolhendo-o no que tem de melhor, vendo para além da nata empoeirada que cobre as retinas de nosso coração e que nos brindam com olhares de indiferença a tudo e a todos.
Óculos 3D emocionais nos dão acesso à cozinha do ser, lugar no qual habita o que temos de melhor, nem sempre visto, compreendido ou valorizado.
Sem eles, o outro será sempre um borrão disforme à nossa frente. Nunca se revelará por inteiro, na sua completude e complexidade.
Será sempre escravo de nossos preconceitos, idiossincrasias e muros ideológicos.
Que legal que em 2000 estive com eles, e que hoje também fizeram presença em meu viver. Vou tentar amanhã olhar pra vida com esta prumada, foco ou luz.
Se tua vida anda cansada, cheia de preocupações e ansiedades para com o amanhã, se várias expectativas estão sendo uma a uma frustradas, bote seu melhor óculos 3D e saia para a festa da vida, pronta(o) a pescar, garimpar, e cultivar pessoas especiais, que te darão força, pessoas que sob as mesmas condições - ou até piores, desafiam a ordem reinante e insistem em serem portais da esperança e amor.
Quem sabe, inspirando-se nelas, e usando um bom óculos 3D emocional, mais pessoas especiais se farão presente em teu viver, ou aquelas que já foram um dia, voltarão a ser - após um brilho de Kaol que dará nas retinas de teu coração para podê-las novamente fitar com as dimensões do belo.
Quem sabe...

Demonstre amor, e em vida.

Pousamos em Londrina, perto das uma da manhã, numa madrugada chuvosa. No aeroporto, tivemos que aguardar um tempo na fila do táxi. Era sexta, véspera de carnaval, e aquilo lá tava lotado. Após certo tempo, pegamos nosso táxi e seguimos para casa da Sogrona, perto do Estádio do Cafezal. O taxista era uma figura, 56 anos de boa praça, Sr.Claudio tornou nosso trajeto menos cansativo ao nos revelar as últimas da cidade, sempre com bom humor e um diálogo cativante. Para quem precisar de táxi por aquelas bandas, ligue pra ele: 043 96050906, garanto que não se arrependerá.
Chegando à casa de Dona Madalena, tiramos nossas bolsas do táxi, pagamos e nos dirigimos ao portão para tocar a campainha. Eram umas duas da manhã. Sr. Cláudio não arredou o pé. Ficou aguardando que entrássemos, como os educados seres faziam, à moda antiga. Ainda insisti, sabendo que o aeroporto estava lotado e que ele poderia perder corridas, mas ele ficou.
Toquei uma vez, duas vezes...dez vezes e nada.O último contato com Dona Madá tinha sido pelas 22hrs, quando revelamos o status do voo, já na conexão em Congonhas. Minha esposa tentava pelo celular. Na rua um silêncio sepulcral.Garoava mansinho. JG, foi convidado a adentrar no táxi e papeava com Sr.Claudio. Ouvíamos o som da campainha tocando dentro da casa e nada dela.
Cristina ligou pra suas irmãs, o que só aumentou a preocupação, para elas a mãe estava em casa.
Começou então a chorar, imaginando o pior.
Eu, pasmem, fiquei tentando me lembrar das últimas fotos que fiz dela.
Pode uma coisa dessas? Só eu mesmo.
Sr. Claudio entrou no time e passou a ligar do celular dele para o número fixo.Ouvíamos de fora da casa o telefone tocando, e nada.
Pronto, a velha bateu as bielas. Tentava me lembrar qual seria o número do Samu, pensamentos confusos na minha mente.
Por fora, consolava a mulher e o JG que percebendo algo estranho começou a chorar querendo a avó. Eu dizia: "gente, ela tá dormindo deve ter tomado umas pílulas a mais".
Resolvemos ir buscar num hospital no qual sua irmã dava plantão uma cópia da chave. No caminho a esposa chorava. Sr.Claudio tentava animá-la. E eu pensava em como agir, caso as notícias não fossem das melhores.
No caminho de volta, já com as chaves reservas, o celular da esposa toca e é a outra das suas irmãs. A mãe acordara assustada e estava tudo bem com ela.
Minha tese estava certa.Tomou mais bolinhas do que o recomendado e pimba.
Aí presenciei o abraço mais forte que minha mulher já deu na sua mãe.
Nos outros dias notei o quanto ela ficou mais tempo com ela, mais paciente e atenciosa.
Aquele susto fez um bem danado na relação de todas para com a mãe.
Acontece que vamos esquecendo de dizer a quem amamos o quanto são importantes pra nós. São telefonemas a menos, para os que moram distante uns dos outros; visitas, rareiam;
E, nas vezes que encontramos ainda temos tempo de ficar recolhendo mágoas passadas, chateações ressentidas ou um monte de tranqueira que quando se junta vêm á tona e explodem.
Tem filhos assim com os pais; têm pais assim com os filhos e amigos idem.
Que já não ligam mais, ou que quando estão junto é só para brigar: perderam a capacidade de admirarem o que o outro tem de legal.
Perderam a capacidade de expressar amor, os canais estão entupidos e o fluxo não sai.
Até o dia em que um deles morre. Aí tome sentimento de culpa, de que poderia as coisas terem sido diferentes; e, os "se, se, se, se, se ..." tão comuns.
Ficam ativos de mágoas, ativos de perdões adiados, ativos de desilusões ou desentendimentos não processados.
Ficam passivos de passeios não feitos; de abraços rejeitados; de beijos esquecidos num canto qualquer do coração; de palavras simples de gratidão e atenção para com o amado.
Tocar a campainha do coração do outro e percebê-lo ausente, viver o pânico de poder perdê-lo, o terror de não ter podido fazer um monte de coisas ao seu lado, pode ser salutar.
Você já se imaginou perdendo seus pais, caso vivos ainda?
Ou seus filhos?
Ou aqueles amigos de todas as horas?
Tem pendências afetivas pra zerar, acertos de contas emocionais?
Então aja agora e demonstre o quanto são importantes. Escreva cartas, mande cartões, viaje com eles, vá vê-los sempre que puder, ou os convide para uns tempos contigo.
Faça um almoço de final de semana e os convide para comemorar Nada.
Têm muitas pessoas que chegam à quarta idade sozinhas de filhos vivos.
Não deixe que isso aconteça na tua relação com quem ama.
Tudo que eles não querem é serem lembrados apenas na hora da partida:com aqueles cânticos piedosos, grandes coroas de flores, ou lamúrias compungidas à beira do berço do eterno.
Agora tenho que desligar e ligar para meus pais em Campina Grande-PB, como é bom saber que após alguns toques algum deles vai atender e poderemos conversar de coisas simples da vida, do tipo como anda o clima por aí.
Faça isso também! Ligue pra quem ama e nunca o deixe sem que saiba o quanto é importante em teu viver.

Contrata-se Personal Trainer Emocional




Acordamos cedo para o embarque, pelas três e pouco da manhã. Nosso vôo começaria o embarque às 4h35min. Chegamos ao saguão de embarque cambaleando de sono, aliás, nós e uns tantos outros. Logo identificamos uns amigos que também estavam vindo de Londrina-PR para Brasília-DF, nessa quarta feira de cinzas. Nossa aeronave estava a postos e os tripulantes já tinha embarcado para os preparativos iniciais. Pouco a pouco fomos ficando ansiosos. Corria um zum zum zum de que o aeroporto estava fechado. Pensei comigo, também a estas horas. Perto das 5h30min o sistema de som avisou-nos que não havia previsão para embarque, por motivos meteorológicos. O saguão ficou animado com gente brava. A todos, os operadores da Gol e Azul explicavam que a aeronave não poderia subir, pois não haveria teto para descer, caso necessário. Sei que o entendimento é difícil. Pra mim traduzi assim: subir, sobe. Mas, se precisar descer novamente, fazer a volta e abortar a partida, lascou. Não consegue ver a pista e já era.

Eu fiquei muito preocupado com o atraso. Mas, o que fazer?

Beirei, por uns momentos, o desespero e um estado de impotência da alma.

É que eu tinha um monte de providências no trabalho.

Pouco a pouco fui recuperando a lucidez e ativando o Plano B onde daria.

Noutras providências, paciência, perda total.

Nessas horas de profundo estresse, como a perda de um vôo com os seus compromissos dele derivados, testa-se à exaustão a natureza das emoções que por elas nos deixamos guiar.

É a hora da verdade para um monte de gente piedosa e temente, que solta as bestas feras em todo mundo quando se ver diante de uma crise.

Os mais exaltados cobravam uma providência, sobrando até para a Providência divina, na figura do célebre São Pedro.

Destacava-se da barbárie uma senhora com um casaco de couro carmim. Ela estava visivelmente descontrolada emocionalmente.

Xingou comissárias, atendentes, piloto, São Pedro, Londrina, Dilma e etc.

Perto das 10hr todos já estavam mais calmos, à exceção daquele casaco carmim.

Enfim o aeroporto abriu e todos foram para seus compromissos perdidos resignadamente.

Fazer o que? Costumo dizer que se não posso mudar uma situação limite, ainda assim posso mudar a mim mesmo permitindo ou não que aquela situação imutável abale totalmente meu ser.

Abalar um pouco eu permito,afinal não sou ameba.

Chegamos a Congonhas, almoçamos um banquete num dos restaurantes disponibilizados para eventos da natureza, tudo 0800.

Comi um filé de tilápia maravilhoso, de quebra ainda botei uns troços tipo francês, só para fazer a festa da gastronomia, já que a do trabalho em Brasília fora para o saco.

Após o merecido desjejum seguimos para nosso portão de embarque. O vôo só sairia 15hrs e ainda teríamos uma hora de espera.

Eis que nosso número de vôo desaparece da tela de chamada. Dirijo-me pra atendente e ela nos pede que aguarde o serviçod e som chamar para um novo portão.

Sentamos, e eis que da multidão ela aparece novamente.

Adivinha quem? Lady Casaco Couro Carmim passou a esbravejar novamente com atendente. Dizendo que não mais sairia dali para outro Portão, e coisas do tipo.

Que iria procurar os direitos, que era um absurdo mudar de portão, após tanta demora que já tinha passado.

Tome cortisol, tome adrenalina no sangue da coitada. Quase eu via uma baba escorrendo de sua boca.

Adivinha quem senta atrás de minha fila no avião?

Dona Carmim. E a comissária pergunta-lhe se ela sabe usar a saída de emergência.

Outro desaforo ela soltou, e eu pedindo a Deus que ela parasse pois poderia ter que ser tirada do vôo.

Disse que não sabia e que não iria sair dali: "da janelinha" para uma outra cadeira qualquer, ainda mais "no meio".


A Comissária percebendo o estado alterado usou a mais sublime das intuições: a empatia, e fez-se de surda deixando-a ficar ali mesmo.

Estava salvo o vôo.

Ao pousar em Brasília, percebo que dela abrira-se um lindo sorriso e um obrigado.

É que o seu vizinho de cadeira pegou sua bolsa no bagageiro e ela ficou alegre com o gesto e agradeceu.

Fiquei feliz. Há salvação.

Acho que andamos precisando de contratar uns personal-trainer emocional.


Contratar alguém para treinar, em momentos de crise, nossas respostas emocionais.


Ter inteligência emocional em céu de brigadeiro é fácil.


Quero ver é mantê-la nas turbulências.


Pois bem, é para as turbulências que precisamos de treinamento.


Quando nos deixamos guiar pelo ímpeto das emoções perdemos a capacidade de ver alternativas, possibilidades ou até administrar a crise.


Tudo fica turvo e entra-se num ringue. Um cansativo embate emocional no qual preciso provar que a minha ira é a maior, a minha mágoa idem, e a minha vontade de fazer justiça com as próprias mãos também.


Por isso acho que as escolas deveriam investir em personal trainer emocionais, pessoas que treinariam à exaustão, como os que nos treinam para combater as calórias irreverentes.


Saber viver as perdas, a frustração de expectativas, ou até de limites de determinadas situações é fundamental para a arte da coletivivência.


Na sociedade atual uma geração de adultos mimados comporta-se como crianças sem limites, carentes e que explodem com tudo que quebre suas expectativas. Tolerância e resiliência beiram a zero. Outro dia testemunhei uma senhora explodindo com seu marido, em pleno estacionamento do mercado, pelo fato dele ter comprado um guardanapo mais caro. Ela o xingou de um tanto que baixei a vista, envergonhado. Casamentos estão sendo feitos para durarem pouco, pelo fato de ambos explodirem um com o outro por coisas pequenas. E, dependendo da ótica do explosivo, ele tem razão. Pergunto-me, onde vamos parar? Com tanta gente que tem razão solta por aí, gente mimada e superprotegida.




Há formas e formas de defender nossos direitos, caminhos e caminhos.


Encontrar a sabedoria da serenidade, flexibilidade, empatia e, até o adaptabilidade pode ser uma das maiores dádivas que a vida nos ensinará.


Mas, só após muito cipó de burro no couro; muita tranqueira juntada na alma e em esclerosadas veias emocionais; até que um dia, alguns de nós começam o processo inverso de despir-se de si mesmo, de desaprender velhos e insalubres hábitos comportamentais, e pouco a pouco em belos dias da manhã vindoura, e em meio a turbulentas nuvens, vamos reagindo de outras formas - com a coragem e ousadia de ser de paz, ao lado da guerra; ser de perdão, ao lado de vingança; ser do pouco para ser feliz, ao lado do muito tão triste.

Deixando habitar em nós um jeito de ser menos rancoroso, rabugento e chato de ser.


Afinal, ali pertinho tem sempre alguém disposto a nos amar, nos ajudando com as malas no bagageiro.


Mas, no meio de uma overdose de emoção negativa; daquelas que destilamos veneno, nem o mais belo pôr do sol será visto; pois tudo cegará nosso coração que só pede razões para justificar-se na ira.


Encontrei ao longo de minha vida verdadeiros personal trainer emocionais. Sempre, antes de fazer merda, confesso-me com algum deles e reverto o que poderia ser um caos: a palavra escrita, a voz soada e o gesto desmedido.


A eles agradeço nessa noite. Agora vou botar uma dose de uísque e curtir o final da quarta-feira de cinzas, chegando agora em casa e desde das 3 acordado e em trânsito. Eu deveria ter trazido um filezinho de tilápia no bolso, entre guardanapos. Agora daria um bom tira-gosto. Já que... vai tu mesmo, ovo cozido.

Os Sete Hábitos para Infelicidade - Aprendiz de Profeta do Apocalipse (7)


"Aqui todos me perseguem." "Estão pensando em restruturar a área, lógico que é o primeiro passo para privatização". "Saio de casa e a minha lixeira está vazia. Chego e tem lixo. Aposto que o é vizinho." "Ouvi um pessoal falando mal de você."
O último hábito da infelicidade é o de ser um profeta do apocalipse: de si mesmo, dos outros e da realidade onde inserido.
É aquele hábito de quem precisa de teorias de conspirações - reais ou imaginárias, para ocupar-lhe o tempo. Não só nutre percepções de que estão tramando contra ele, em algum lugar, em alguma sala fechada, como aprende a semear a intriga e as divisões - "as tramas do submundo do crime".
Nesse hábito de infelicidade, o mundo é um lugar mau.
E, "nada é tão ruim que não possa piorar".
As pessoas são más. Tudo é negativo. Tudo.
E, não basta assim pensar, é preciso externalizar esse sentimento com porta-estandartes de dor: porta-dores.
De tanto pensamento assim que o cérebro processa não há mais lugar para a confiança, a esperança, a bondade, gratidão e compaixão para com o outro. Vive-se sob o império do "cérebro reptiliano" que se enche dos hormônios do estresse: adrenalina e cortisol; capacitando-nos continuamente para a guerra, em comportamentos de ataque, defesa ou fuga.
Como um liquidificador, os pensamentos vão triturando tudo e todos ao redor.
O pior, as pessoas viciadas nesse hábito se aliam formando verdadeira comunidades de sofredores, pessimistas ou vítimas de todo tipo de opressão, ou de vilões.
Ninguém escapa do viciado em dor: filhos, família, amigos, vizinhos, membros da igreja, do grupo de lazer, ninguém lhe escapa. Tem sempre alguém para criticar, ou para colocar-lhe no teatro de uma intriga, ou uma conspiração.
A pessoa acaba por gostar de viver esse papel de vítima. Na cabeça só há espaço para pensamento do tipo.
Passa o dia pensando em coisa ruim, em tudo que não presta.
Doenças, inveja, mágoas encardidas, puxadas de tapete que levou, fechadas no trânsito, fechadas na vida. Ou em armações contra ele, nas tramas e intrigas de "Estado". Todos com os quais convive podem ser suspeitos, traidores, ou não-dignos de confiança e respeito. Só ele presta e é confiável.
Vive no medo, medo da entrega, medo de criar vínculo, medo de ser atacado.
Afinal, para esse hábito de infelicidade, o mundo é um lugar ruim, perigoso, sempre em guerra e que precisa de um estado de alerta permanente, de postura para o ataque.
E, caso não haja guerra aparente, armam-se para uma que ainda virá.
Esse hábito precisa ser estancado.
Esse curso de infelicidade precisa ser alterado.
Um caminho possível, mas não fácil, é o da reeducação postural-atitudinal.
Desenvolvendo outros sentimentos mais positivos sobre si mesmo, sobre a vida e sobre os outros. Investindo em gestos de gratidão, escrevendo um diário com anotações das bênçãos.
Saindo de círculos pessimistas, excessivamente negativos, sejam reais sejam virtuais.
Fazendo crescer outros sentimentos, no jardim do coração.
Reaprendendo a confiar, um confiar sem tanta exigência, sem tanta expectativas, sem tanta cobrança.
Reaprendendo a criar vínculos saudáveis, positivos, com pessoas e grupos que elevem nosso espírito.
Onde mora nosso pensamento, mora nossa ação sobre o mundo. Que ela seja transformadora e positiva, o que não significa que será alienada e boba.
Vive em estado de alerta, de desconfiança e medo rouba a luz - por mais radiante que seja o dia.
Priva o ser de novas experiências, recomeços, "acreditações".
Surrupia-lhe o que tem de melhor, a arte de encantar-se com a maravilha de viver, a arte de assombrar-se com as coisas que só olhos atentos para o mundo, olhos que estão presentes, conseguem perceber.
Nega-lhe o dom de ver o belo, mesmo que muitas das vezes escondido em meio a tanta dor.

Caminhos

Termina uma semana cheia de emoções. Novas instalações e local físico de trabalho, mudanças na estrutura organizacional das equipes com as quais me relaciono mais ativamente, medo de não dá conta do recado. 
Era perto do meio dia e teria um compromisso de almoço, particularmente difícil: a despedida de um amigo que irá para outro setor.
Olhei para o relógio e vi que ainda faltavam 60 minutos para o almoço, eu estava ao lado de onde minha filha mora. Mandei um what pra ela, sabendo se estava em casa, e pra minha sorte ela estava.
Logo chamou-me para visitá-la, o que fiz.
Entrando lá senti cheiro de paz: ela estava cozinhando uma comidinha caseira para seu quase marido (casam dia 28 em Campina Grande-PB).
Avistei uma rede na varanda e ali me deitei.
A cada minuto eu ia ficando mais forte, mais esperançoso.
Vendo-a à beira daquele fogão, contar-me com tanta vivacidade as últimas dos preparativos para o casório, sem deixar de mexer as panelas me encantava o coração.
Vivemos tempos tão duros quando de minha separação, e ela sobreviveu, aliás todos os meus três filhos do primeiro casamento são sobreviventes.
Aquele cheirinho de comida caseira era como aroma de lexotan, ia me acalmando, acalmando. Como é bom ter a casa dos filhos para repousar por um momento.
Entre um balanço e outro percebi que tem coisas que precisamos vive-las para compreendê-las em toda sua plenitude. Não adianta vê-las num mapa, num Google qualquer, tem que sentir, tocar, cheirar, provar e permitir-se ao seu absorver.
O amor é uma destas coisas de que falo. Por mais que seja decantado aos quatro cantos, rimado, letrado, dramatizado, dançado, pintado, esculpido e falado precisa-se vivê-lo.
O amor pede a experiência.
Quem ama por mais doloroso que possa ser o estado amoroso, alimenta a alma.
Existe amores de pais e filhos. Amores de colegas de trabalho que tornaram-se grandes amigos, como o que nutro pelo Mauricio Lyra. Amor de recomeços, amor com cheiro de travessuras de crianças, amor de redescobertas, amor de amor a si mesmo.
Todas as formas de amor são sagradas, nos religam ao infinito, nos conectam às emoções mais profundas, que só os amantes me entenderão.
Quinta tracei minha rota para o trabalho pelo Google Maps. Já tinha errado bastante e me aborrecido comigo mesmo em não encontrar a rota mais fácil.
Acesso o google e vejo-a ali na minha frente. Uma economia de 4 km e o trajeto sempre em azul, ou seja, trânsito fluindo.
Levanto-me cedo, na quinta, e começo a dirigir pela nova rota todo orgulhoso de minha capacidade de navegação.
Mas, o Google Maps, por mais sabido que seja, esqueceu de me dizer que aqueles 15 km que percorri, do início do Eixo Monumental, até a antiga Rodoferroviária era eivado de sinais de trânsito. Até onde contei foram 12.
E, como estou no refluxo, acho que programados para mais tempo do que na saída ao trabalho. Ou seja, o caminho era mais perto, trânsito bacana, contudo precisava fazer muitas paradas e esqueça a onda verde.
Acho que amar é como pegar essa rota. Consigo traz um monte de caminhos bacanas, mais curtos de chegar ao coração, mas exigirá paradas. E. algumas vezes exigirá mudar o trajeto, converter, retornar. 
Amar pede paradas. Entendeu?
Eu tive que parar meu ritmo frenético e visitar minha filha.
Amar pede sujar as mãos ao se envolver, ao chorar, ao sorrir, ao perdoar e juntos sonhar novamente.
Amar pede paradas. Momentos que reavaliamos a jornada, que contabilizarmos perdas. Tempo para nos ligarmos ao que realmente importa.
Não se ama pelo Google. Por mais que tenha quase todas as respostas, a resposta do amor será sempre única e plena para quem a vive: não tem como ser vivida a não ser por quem a vive.
Tem gente que começa uma vida a dois e na primeira parada do sinal vai se aborrecendo com o outro. Imagine nos 12 KM que atravessará anos à frente.
Começa a cobrar demais do outro, a persegui-lo com crises de ciúmes. Começa a gostar do joguinho: "eu estou certo, e você não".
Ou o outro jogo pior ainda: a desqualificar o amado perante terceiros, procurando uma forma de dizer publicamente que carrega um mala.
Ambos vão se matando lentamente, de tanta indiferença e resmungamentos que fazem um para com o outro.
Cada parada na jornada afetiva, cada vez que o fluxo do amor deixou de correr, precisamos aproveitar o momento para lamber as feridas - um do outro.
Amar é decisão. Uma decisão de quem diz para si mesmo: isso também passa, amanhã será melhor.
Se você encontra-se parado no sinal de sua vida amorosa - em qualquer forma e expressão de amor que esteja sentido: no lugar da irritação e impotência; como as que tive ontem no trajeto ao trabalho, conecte-se ao infinito.
Faça um exame de consciência, use os breves instantes da parada do sinaleiro para se conhecer melhor e cuidar do jardim de seu coração.
Amar exige paradas. Mas, ficar nas paradas matará o amor.
O amor se faz ao caminhar, e não ao chegar em qualquer destino cobiçado.
Levantei-me da rede, ela não sabia o quanto ajudou o pai a continuar na jornada da vida a confiar. 
O sinal abriu e fui em direção ao almoço de despedida.
No caminho lembrei o quão feliz são as pessoas que se permitem à jornada do amor.
Pessoas que em meio às maiores crises, dificuldades e problemas, continuam suas trajetórias amorosas - não parando à beira do caminho para sentirem pena e chorarem por si mesmas.
Amar pede loucuras santas de místicos recomeços.
Amar pede você, pede eles, pede nós e até um pouco de mim mesmo.

Se amar é decisão, felicidade idem. Para de procurar razões pra ser infeliz, ou desamar.

Desconecte-se do que te rouba as emoções positivas. Conecte-se ao que realmente importa e te faz bem, te deixa em paz. Esqueça de procurar a felicidade no consumo, no dinheiro, no poder ou prazer.

Ela está justamente no lado oposto: no servir, no dar a outra face, no humilhar-se, no perdoar, no amar, na esperança que amanhã será melhor, nas crises a certeza de que ela também passará, no confiar, no ser solidário, no ser disponível para outro, no se alegrar com o que se tem...
Não desista ao primeiro conjunto de faróis vermelhos que enfrentará. Eles estão no pacote de qualquer amor verdadeiro.
Simples assim.

Mas, nada fácil...

Cartas ao JG - Expanda Seu Pau de Selfie


Sabe filho, uma dica queria deixar pra tuas férias e viver: expanda teu pau de selfie. Acabamos de voltar de férias e estou baixando as fotos no micro. Essa que ilustra o texto foi uma das que muito me marcou. Tá na moda comprar esses trecos (pau de selfie), vendidos até nas praias, e fazer um monte de foto com os amigos.
Só deixo como dica a de expandir o raio de visão da foto.
Imagine que sua psiquê é um pau de selfie. Quando você foca nas oportunidades, nas possibilidades e no positivo da vida você amplia as fronteiras de seu pensamento, de suas emoções. Chamo a isso de estender, ou expandir, o teu pau de selfie.
Uso o pau de selfie, como o da foto, como uma metáfora. Nada contra selfies, selfiados e selfiar a vida.
Quando se expande a haste - configura-se mais coisas no enquadramento da foto, coisas bacanas que podiam estar passando despercebidas, indiferentes ao teu viver.
Mais amigos caberão no enquadramento, mais paisagens, ou seja, mais vida.
Expanda o seu olhar. Tem uma cena no filme Poder Além da vida que te recomendo ver. Aliás, veja o filme inteiro. É lindo.
Na cena, o professor de filosofia, do jovem atleta, leva-o a um parque e pede que que ele observe o movimento. O jovem se irrita e diz que não ver nada que lhe interesse, que está tudo parado.
O professor coloca a mão na mente do jovem, e na beleza da cena, o jovem passa a ver pelos olhos dele. Ver casais enamorados, filhos brincando com pais, borboletas e beija-flores, ver pessoas conversando alegres, ver outros dividindo o lanche, ver um turbilhão de coisas - como num transe elas se fizerem presente aos seu viver, antes despercebidas. e.
Isto é o que chamo de pau de selfie estendido.
Amplie o olhar do que está ao teu redor. Conecte-se às pessoas, à natureza, à história e cultura do lugar. Na Psicologia positiva essa ampliação do olhar chama-se de visão periférica.
A visão periférica da vida melhora a percepção de emoções positivas, nutrindo áreas de otimismo e esperança no ser.
Aí, suas férias, em qualquer lugar que irá, serão sempre maravilhosas.
Hoje caminhei pela praia pela derradeira vez. Vi o mar engolindo a areia e sorrindo para mim - como quem me dizia que batia foto com a máquina que perdi. Pescadores ajeitavam suas redes em barquinhos toscos, quase ruínas vivas, prontos a partir novamente para o desconhecido do alto mar.
Uma vovó banhava sua neta, ela tinha um daqueles gorrinhos que são um charme. A vovó era só doçura.
Conchinhas brincavam com as espumas, enquanto ansiavam serem descobertas por crianças vadias.
Vendedores de tudo que se imagina posicionavam-se estrategicamente, esperando banhistas sedentos e esfomeados como teu pai.
Uma igreja congregava irmãos para um batismo no mar. Cena envolvente e emocionante que vi.
Amplie seu olhar. Essa é a dica.
Aprenda a perceber o rotineiro, o tradicional, o tido até como feio. Veja o que apressados e pessoas de selfie pequeno não veem mais, uma vez que só veem a si mesmas.
Nessas férias tu adoeceu, infecção intestinal, e foram 3 dias de internação em hospital. Foi muito violenta e tememos por ti.
Nas tardes de hospital, vendo-te sofrer com dores abdominais, além de sofrer com coletas de sangue e aquele soro que te prendia, eu saia do quarto aflito e caminhava pelos corredores.
Conectava-me às enfermarias, aos outros pacientes, aos corredores, aos maqueiros, aos sons e cheiros do lugar, e, quando voltava para o teu quarto, conectava-me ao pôr do sol. Você me perguntava o que eu olhava pela janela, e eu o narrava para ti. Nosso quarto dava para o poente e aqueles fins de tarde foram especiais. À noite, nos conectávamos com a comida de hospital, tentando adivinhar qual seria a de pior sabor.
Cada enfermeiro que entrava era um pouco de prosa, de conexão com a vida dele. Ampliamos nossas fronteiras e descobrimos estratégias de sobrevivência, ao perceber o entorno e admirá-lo.
A visão positiva da vida nos capacita a observar o infinito, a navegar pelas extremidades e alargar a percepção das coisas que nos rodeiam e que estão passando pela nossa vida sem nós nos atermos a elas.
Quando você aprende a olhar o lado bom da vida, até da dor faz humor e sai mais forte.
Lembra quando perdi minha máquina fotográfica aquática. Foi semana passada no mar do Bessa, logo após do Shopping MAG. Aquele é um mar bravio. Você adora pelas ondas fortes. O mesmo que hoje pela manhã sorria para mim, ao engolir as areias.
Você tinha acabado de levar um caldo no mar bravo e eu o estava passando para seu avô.
Para que ambos saíssem.
Aí a máquina caiu no mar e já era.
Você chorou de tristeza, ao ver minha tristeza.
Eu, amei de amor, ao ver sua compaixão para comigo.
No outro dia, lembrei aos meus familiares - todos tristes pela máquina, que na manhã do ocorrido eu tinha trocado o disco dela, por um virgem. E que as fotos de parte das férias em Ilhéus e redondezas, tinha sido preservadas.
Essa era a visão estendida do ocorrido. Poderia ter sido pior.
Outra cena, no mesmo tema que me marcou, foi a de uma banhista que falava ao celular, olhando para o lado oposto ao mar. Enquanto ela falava, saia no molhe do porto de cabedelo um grande navio. Lentamente ele passava pela praia que frequentávamos, bem próximo e imponente. Uma cena de rara beleza. Ela não viu. Concentrada no telefonema de uns 5 minutos ela não virou-se um vez sequer.
Tem gente que fica tão concentrado num problema que vive que esquece outras facetas da vida, outros prazeres e viveres que estão passando ao largo e são legais. Absorvidos na dor, no sofrer, nas preocupações, perde-se a visão ampliada, abrangente da realidade. Vê-se apenas o problema e suas mazelas. Foca-se excessivamente nele e perde-se o encanto com tudo mais que lhe rodeia.
Cuidado, filho meu, pessoas assim sofrem de pau de selfie pequeno. Só percebem o ponto que se destaca na sua frente, e muitas das vezes o destaque é de dor, aí já era.
Essa é minha dica pra teu viver. Amplie sua visão de você mesmo, dos outros e de tudo que lhe rodeia. Há muitas cosias boas acontecendo ao redor da cena principal. Permita-se a elas e terá sempre uma vida plena de sentido. Conecte-se, estabeleça vínculos, interesse-se e perceba a vida em todo lugar.
Mas, sem domesticar tuas preocupações, tua ansiedade, teu corre corre para o poder, prazer e o ter nunca verás o que teu pai vê. Nunca!
Espero que aprenda mais cedo do que eu, só vim descobrir que a beleza está nas beiradas dos 45 em diante.

Cartas ao JG - Filho, essa sombra não é tua.

Sabe filho, essa segunda foi um dia difícil para nós dois. Tu começou no primeiro ano fundamental. Cheio de medos e choroso, dizia-me que já tinha esquecido de tudo do ano anterior e estava inseguro. "Mas eu não sei matemática".
Quanto a mim, fazendo rota diferente da que por 5 anos fiz, ao trabalhar no final da Asa Norte. Acontece que durante minhas férias todo o andar em que eu trabalhava foi transferido para outro prédio, na parte Sul da cidade, a uns 15 Km de distância.
Não tive tempo de me despedir, de processar o desapego. Botaram minhas coisas numas caixas e mudança feita.

No meu primeiro dia para o novo prédio segui tateando. Novas rotas, Novas árvores à beira do caminho. Senti falta das que por 5 anos me acostumei a vê-las crescendo. Somos seres de apego.
Aprender o desapego e o mudar é uma arte, penosa, mas super necessária à sobrevivência.
Confesso-lhe que passei o dia como cachorro que cai de mudança. 
No final do expediente, para completar minha fase de abobalhamento, descobri que o elevador que pegara só ia até o térreo. Meu carro estava no subsolo do estacionamento. Resolvi testar a saída de incêndio. Descendo então pelas escadas, achava que acessaria o sub-solo pela porta de incêndio. 
Contudo, uma enorme surpresa tive ao abri-la e sair do outro lado. Não é que ela só abria pra fora. rsrs
Depois que entrei na área, ela voltou e travou. Não tinha maçanetas externas. Lá fora descobri que não era o estacionamento. Era um beco - espécie de corredor sem teto, entre o muro dos escritórios e o muro externo. Agora, o cachorro que caíra da mudança tornou-se real. Fiquei zanzando e atônito sem saber como voltar. "Arrudiei" o prédio (dei a volta) pelo beco e já entrando no modo pânico, achei uma outra porta de saída de incêndio que não fechara completamente, algum outro desavisado por ali passara mais deve ter a encostado lentamente que ela não conseguira travar. Por ali retornei, todo suado de medo - e podendo sentir a risadagem de quem estava me vendo pelas câmeras de segurança. 

Só comigo. Descobri que o acesso ao subsolo era pelo elevador 2. 
Mudanças são assim mesmo. Levamos um certo tempo para aprender novos hábitos, rotinas e padrões de comportamento. Tudo que é novo e precisa ser apropriado pela existência. Leva um certo tempo, mas aprendemos. Desde que não fiquemos numa posição de resistência ou saudosismo, que só dificultarão a adaptação. Mais nunca passo por uma porta de incêndio do mesmo jeito. 
Saindo do prédio passei a procurar a melhor melhor via para te buscar no colégio.
Tome engarrafamento e caminhos que amanhã não os farei mais, têm outros melhores. Mas, quanto a isto também se aprende.
Se é uma coisa que o erro pode ensinar é a mudar rotas. Isto vale pra tudo, preste atenção ao que falo!
Recebo-lhe no pátio. Você estava alegre, não teve aula de matemática. rsrs
Disse-me que livrou-se da boladas na brincadeira Queimada, que foi o campeão. Na minha terra chama de baleada este jogo.

Voltando pra casa, agora sim na rota das árvores amigas, percebo que um carro ao meu lado não emparelha comigo quando o sinal fecha. Ele espera lá atrás. Fica embaixo de uma sombra e deixa uns dez metros entre ele e o meu carro e uns 20 do sinal. 

O carro é o da foto que ilustra esse texto. Foto a que ao tirá-la fui reprendido por ti: "Pai, a vida não é uma foto". Não sei onde aprende estas tiradas.

Engraçado que cena parecida aconteceu durante nossas férias em João Pessoa. 

Um outro Zé Ruela atravancou o acesso ao sinal parando embaixo de uma sombra e mandando pras favas quem vinha atrás e queria avançar posição. Ele deixou tanto espaço que a fila que alguns carros da fila que emparelhou ao lado, passaram à sua frente, mesmo ficando no sol.

Quanto à mim, não dei sorte, eu estava atrás do ZR (Zé Ruela) e  no sol do que seria minha sombra. Não buzinei. Minha vingança é dar a outra face.

Ele ficou numa sombra que pelo fluxo natural dos carros não seria a sua, compreende?

A vida anda tão violenta que temi buzinar o o cara ainda partir pra cima de nós, tudo pelo seu "direito" de ficar na sombra enquanto o sinal estava fechado.

Mas três "acontecenças", e do mesmo tema chamaram minha atenção e hoje te conto.


Conto-lhe para que não esqueça de quem é, e não faça como eles. Ouse ser diferente.
Afinal, tenho 50 e tu 5.  E ando esquecendo de muitas coisas, então, prefiro que elas fiquem registrada para teu futuro. Quem sabe poderão ensinar-te algo?

A segunda cena, do mesmo mote, foi quando curtíamos a praia na barraca da Cibely na praia do Poço, em João Pessoa.

Uma barraquinha legal num trecho de praia bem bacana. Chegamos cedo ao local, um dos pontos de embarque para a paradisíaca praia de Areia Vermelha.

Pegamos uma mesa bacana, frente ao mar. Teu avô, Celina e você foram para o mar. Tua vó, foi se bronzear mais próxima da praia. Eu e tua mamãe saímos para uma caminhada básica, coisa leve.

Deixamos nossas coisas em cima da mesa, e pedimos ao garçom que olhassem para nós. Coisa que em João Pessoa ainda é possível. 

Quando voltei da caminhada sua mãe ficou contigo no mar e eu subi até a barraca para pedir uma cerveja.

Chegando á nossa mesa notei que um grupo grande estava ao lado. Umas dez pessoas. 

Duas delas, despudoradamente, ou melhor, descaradamente viraram duas das cadeiras de nossa mesa e nela sentaram-se olhando para seu grupo.

Ou seja, uma lateral de nossa mesa passou a servir ao outro grupo, mesmo que nos arranjos das cadeiras.

Eles me viram chegar. Eu esperei que devolvessem as cadeiras e se ajeitassem na mesa deles. Do jeito que sentaram não caberia mais quatro dos nossos.

Eles me viram e sorriam baixinho. 

Nenhum fez qualquer menção em pedir desculpas, levantarem e devolverem as cadeiras, ou simplesmente acomodarem-se na mesa deles, aproximando uma outra para acomodar as pessoas que estavam nas nossas cadeiras.

Conversando e sorrindo estavam, continuaram.

Quanto à mim, era invisível. Li os pensamentos deles: "os incomodados que se retirem".

Foi o que fiz. Arrastei as três mesas e nossas coisas para um lado vazio, peguei duas cadeiras que estavam sobrando noutras mesas, remontei nossa área e pedi minha cerveja.

Não eram geração Y.  Eram pessoas de meia idade, bem vestidas, com filhos pequenos -  gente bacana que chega de carro locado para fazer um dos passeios turísticos mais badalados de JP. Não era o povo simples da CVC. Eram pequenos burgueses que acham que o dinheiro compra tudo. 

Gente que ensina aos filhos, desde pequenos, com exemplos dessa natureza a amealharem tudo que podem, pois "merecem". Gente que não respeita e percebe os direitos, ou necessidades, de quem está ao lado. Gente que quando se agrupa vira uma horda bestial. Temo eles. Tenho pena deles.
Você poderia me dizer, mas pai, porquê não reagiu. 
Minha reação, filho amado, e dar a outra face. 
É a não violência ativa. 

Reagir com gente da espécie é se expor ao perigo. Se puder ceder, ceda. 
Tratam-se de pessoas sem valores que poderão te agredir, por coisas bestas como um espaço entre mesas de bar.

Corta a cena e lembro de uma praia paradisíaca entre Ilhéus e Itacaré que fomos juntos também nas férias de 2015. Chama-se Praia do Sargi. Fomos pra Cabana do Rubão e ali passamos amanhã e um pedaço da tarde. Pedi a conta forçado. Forçado por um carro que acabara de chegar de Vitória da conquista. Era uma daquelas camionetas imensas. Delas desceram dois casais de jovens marombados e suas namoradas.

Até aí uma beleza de cena, as moças eram bonitas. rsrs. 

Mas, do carro deles saltou uma besta fera, transmutando-se em forma de monstro. 
O monstro do som alto.

Caixas de som enormes estavam sob a lona da carroceria. Delas, ao se erguerem saíam uns 500 watts de som. 
Era som pra metro e meio. 

Ninguém mais conseguia conversar, e o garçom que me atendia disse-me com candura: "Isso aqui é normal, hoje demorou...".

Pedi a conta, e até chegar ainda ouvi uns três batidões de estilo psicodélico. 


Voltamos pela praia até nossa pousada Sargimar escutando o som, agora graças a Deus ficando cada vez mais distante. 

O que levou aqueles rapazes a se portarem como donos daquele local?

Ou a acharem que também queríamos escutar a música deles?

Quem privatizou a praia para os mesmos, a ponto de nem conseguirmos mais ouvir o doce barulho das ondas com tanto som?

Será que por um breve momento eles pensaram que poderia estarem incomodando crianças que dormiam embaixo de mesas, ou casais de namorado que contemplava o mar e curtiam a paz do local?

Será que um rasgo de consciência ainda existia naqueles quatro rapazes, de pelo menos por uma fração de segundo perceberem que poderiam baixar o som, e, mesmo assim, curtirem ainda sua música?

Não filho meu, nenhuma pergunta de teu pai é respondida com um sim. Todas não.

Será querer demais que pessoas educadas para o poder, ter e prazer pensem nos outros.
São narcisistas sociais. 

Simples assim. 

Para fechar a série, comento contigo sobre uma cena que vimos juntos na televisão. Você até deu umas gargalhas, de tão ridícula que era a cena. Trata-se do Certame do Miss Amazonas 2015. Não é que a segunda colocada,  Sheislane Hayalla,  arrancou a coroa da vencedora Carol Toledo!

O que mais me envergonhou foram os aplausos de muitos à cena, inclusive pela cobertura da mídia.

Não vou entrar nos méritos da justificativa que a mesma deu. Mas, saber perder é preciso.

Requer uma das mais raras preciosidades nos tempos atuais: inteligência emocional.

Fiquei imaginando o prejuízo à educação de crianças e jovens, e até adultos, que viram aquela cena e passaram a char normal a reação da moça: "que se sentiu lesada pela coordenação do certame por uma suspeita de tapetão nos resultados do Certame.

Todo o destaque dos jornais televisivos tentavam vender uma imagem e que  a moça foi tomada por uma ira ""quase santa", ao re "revoltar contra a coordenação do concurso".

De vilã virou santa na telas globais de norte a sul. Nenhuma reprovação, culpa, "faria tudo outra vez...".

Filho meu, não seja assim. Não fique procurando culpados, revoltas ou subversões que justifiquem teu fracasso. 

Perdeu, acolha o golpe e continue esperançando tua vida. 

Perdeu, aprenda e busque outras possibilidades e alternativas que ainda te restam.

Não fique cego pelo primeiro lugar no pódio. Ambição demais pode arruinar tua carreira e vida pessoal.

Há muita felicidade nos degraus inferiores. Então, deixe a corôa de quem te passar à frente intacta.
Não faça como ela.

Respire, recolha e retorne mais forte.  Saber perder é vital numa sociedade que educa somente para a vitória, para o sucesso e a prosperidade.  Em tempos de pais inseguros e ansiosos que só ensinam os filhos a quererem ser sempre os primeiros. Uma pena. 

Encontre seu jeito de ser diferente: justo, fraterno e amoroso.  Com certeza sua vida será mais feliz. 
Esse pessoal dos exemplos que teu pai falou são ocos por dentro. Precisam de muita música alta para calar a voz infeliz de seus corações. De muita sombra para suas almas sequiosas. De muitas mesas, para sua psiquê espaçosa. De muitas corôas de flores para se sentirem com a autoestima bacana.
E, a cada uma dessas conquistas: sombra, mesa, títulos (flores), som potente, precisarão de mais e mais, para viverem rasgos instantes de felicidade - tão volúveis como sorvetes ao sol. 

Crônicas Anteriores