Os Sete Hábitos para Infelicidade - Aprendiz de Profeta do Apocalipse (7)


"Aqui todos me perseguem." "Estão pensando em restruturar a área, lógico que é o primeiro passo para privatização". "Saio de casa e a minha lixeira está vazia. Chego e tem lixo. Aposto que o é vizinho." "Ouvi um pessoal falando mal de você."
O último hábito da infelicidade é o de ser um profeta do apocalipse: de si mesmo, dos outros e da realidade onde inserido.
É aquele hábito de quem precisa de teorias de conspirações - reais ou imaginárias, para ocupar-lhe o tempo. Não só nutre percepções de que estão tramando contra ele, em algum lugar, em alguma sala fechada, como aprende a semear a intriga e as divisões - "as tramas do submundo do crime".
Nesse hábito de infelicidade, o mundo é um lugar mau.
E, "nada é tão ruim que não possa piorar".
As pessoas são más. Tudo é negativo. Tudo.
E, não basta assim pensar, é preciso externalizar esse sentimento com porta-estandartes de dor: porta-dores.
De tanto pensamento assim que o cérebro processa não há mais lugar para a confiança, a esperança, a bondade, gratidão e compaixão para com o outro. Vive-se sob o império do "cérebro reptiliano" que se enche dos hormônios do estresse: adrenalina e cortisol; capacitando-nos continuamente para a guerra, em comportamentos de ataque, defesa ou fuga.
Como um liquidificador, os pensamentos vão triturando tudo e todos ao redor.
O pior, as pessoas viciadas nesse hábito se aliam formando verdadeira comunidades de sofredores, pessimistas ou vítimas de todo tipo de opressão, ou de vilões.
Ninguém escapa do viciado em dor: filhos, família, amigos, vizinhos, membros da igreja, do grupo de lazer, ninguém lhe escapa. Tem sempre alguém para criticar, ou para colocar-lhe no teatro de uma intriga, ou uma conspiração.
A pessoa acaba por gostar de viver esse papel de vítima. Na cabeça só há espaço para pensamento do tipo.
Passa o dia pensando em coisa ruim, em tudo que não presta.
Doenças, inveja, mágoas encardidas, puxadas de tapete que levou, fechadas no trânsito, fechadas na vida. Ou em armações contra ele, nas tramas e intrigas de "Estado". Todos com os quais convive podem ser suspeitos, traidores, ou não-dignos de confiança e respeito. Só ele presta e é confiável.
Vive no medo, medo da entrega, medo de criar vínculo, medo de ser atacado.
Afinal, para esse hábito de infelicidade, o mundo é um lugar ruim, perigoso, sempre em guerra e que precisa de um estado de alerta permanente, de postura para o ataque.
E, caso não haja guerra aparente, armam-se para uma que ainda virá.
Esse hábito precisa ser estancado.
Esse curso de infelicidade precisa ser alterado.
Um caminho possível, mas não fácil, é o da reeducação postural-atitudinal.
Desenvolvendo outros sentimentos mais positivos sobre si mesmo, sobre a vida e sobre os outros. Investindo em gestos de gratidão, escrevendo um diário com anotações das bênçãos.
Saindo de círculos pessimistas, excessivamente negativos, sejam reais sejam virtuais.
Fazendo crescer outros sentimentos, no jardim do coração.
Reaprendendo a confiar, um confiar sem tanta exigência, sem tanta expectativas, sem tanta cobrança.
Reaprendendo a criar vínculos saudáveis, positivos, com pessoas e grupos que elevem nosso espírito.
Onde mora nosso pensamento, mora nossa ação sobre o mundo. Que ela seja transformadora e positiva, o que não significa que será alienada e boba.
Vive em estado de alerta, de desconfiança e medo rouba a luz - por mais radiante que seja o dia.
Priva o ser de novas experiências, recomeços, "acreditações".
Surrupia-lhe o que tem de melhor, a arte de encantar-se com a maravilha de viver, a arte de assombrar-se com as coisas que só olhos atentos para o mundo, olhos que estão presentes, conseguem perceber.
Nega-lhe o dom de ver o belo, mesmo que muitas das vezes escondido em meio a tanta dor.

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