Por uma Maior Ecologia Humana (Por Ricardo de Faria Barros)

Fui deixar o meu filho na escola, o JG de quase 10 anos, e no caminho aproveitávamos para revisar a matéria da prova de Ciências.
Num determinado momento, após atravessar o Protocolo de Kioto (PDK), ele começou a definir os 5Rs da sustentabilidade, e em voz alta.
Eu intervi, achando que ele se enganara:
- Cinco, não são três? Perguntei espantado.
Não pai, são 5 Rs: Reduzir, Reciclar, Reutilizar, Repensar, Recusar.


Fiz cara de admiração e babei com a novidade. Que legal o repensar e o recusar, adicionados recentemente.
Fiz mestrado no tema sustentabilidade, em 2007, e testemunhar uma criança estudando sobre o PDK, e os 5Rs, é muito prazeroso. Estamos criando uma nova geração que terá mais cuidado com o nosso futuro comum.
Engraçado que redefine minha linha de estudos para a Ecologia Emocional. Assim como o ambiente físico, o ambiente emocional também pode ser poluente.
Podemos largar por aí, nos ambientes em que estamos inseridos, as chuvas ácidas atitudinais, ter a camada de Ozônio do coração perfurada, pelos insensíveis de plantão, ou até sofrermos com o efeito estufa labora, dos ambientes carregados nos quais trabalhamos.


Precisamos urgente de uma campanha pelos 5 Rs para melhorar a convivência social, humanizando ambientes, relações e serviços.


Reduzir - Reduzir a falta de empatia com o outro, que mesmo trabalhando ao lado, se nos passa como invisível. Reduzir a ingestão de ódio, inveja e desrespeito para com os tidos como diferentes. Reduzir a falatória de monólogos narcisistas, todos em busca de palco e poder, para ampliar os espaços da escutatória de pessoas que se doam e acolhem-se mutuamente.
Reduzir a falta de tesão pela vida, falta de disciplina, coragem e foco no que precisa ser feito, para se chegar a algum lugar. Reduzir as terceirizações de culpas e responsabilidades, para uma entidade, ou um alguém qualquer. Reduzir alimentar tudo que nos apequena, aprisiona ou tiram-nos a luz.

Reciclar – Reciclar lembranças e vivências. Ir buscar no fundo da alma aquelas cenas de carinho, de apoio, de superação pelas quais já passamos. Ressignificá-las para delas extrair mais força de viver. Reciclar as emoções que tivemos e que nos fizeram sentir e expressar gratidão. Reciclar sentimentos, pensamentos, oxigenando a alma. Ter a disposição para abrir o baú das memórias e valorizar aquelas que nos tornaram melhores como pessoa. Reciclar algo que aparentemente nos tornou um lixo, em algo de valor, fruto do aprendizado que tivemos. Reciclar os sofreres, extraindo deles a coragem dos sobreviventes.

Reutilizar – Reutilizar tudo aquilo que já utilizamos e deixamos de lado, esquecido num canto qualquer de nossa alma. Reutilizar as manhãs nas quais acordávamos tão esperançosos para a maravilha da vida e do viver. Reutilizar potenciais adormecidos, reutilizar elementos de nossa história de vida, capacidades e competências, atualizando-as para o enfrentamento dos tempos presentes. Reutilizar os valores que sempre nos fizeram tão bem, e que por não recebê-los dos outros, fomos deixando largados, mofados e empoeirados nas estantes de nosso ser, tais como o perdão, o reconhecimento do outro, a ajuda despretensiosa, a vontade de crescer, a esperança de que amanhça será melhor, e de que isto, qualquer isto que doa, também passará.

Repensar – Repensar nosso estilo de vida, cada vez mais consumista, materialista, individualista e ganancioso. Fazer escolhas mais saudáveis mantendo o corpo são. Carregar menos malas dos outros e de nós mesmos, em forma de emoções, culpas, lutos e pensamentos que pesam na alma. Repensar caminhos, permitir-se a escolhas diferentes, que levam a novos lugares. Repensar as peles dos outros encrustadas à nossa, se de fato elas estão nos fazendo bem. Repensar a jornada, os alvos e metas da vida e do viver. Focando no que realmente importa, interessa e faz bem. Repensar se não estamos reproduzindo hábitos nocivos, comportamentos tiranos e emoções doentias, fruto da convivência com pessoas e lugares nocivos ao bem-estar emocional.

Recusar – Recusar tudo que nos fará apequenar a alma. Recusar promessas fáceis de se chegar à janelinha. Recusar a ideologia de que nós merecemos tudo, mesmo sem esforço algum para seu alcance. Recusar viver a vida dos outros, em invejas mórbidas. Recusar acompanhar projetos de vida que não se sustentam em si mesmos. Recusar toda falta de ética, respeito e consideração para com o próximo. Recusar aos preconceitos e aos extremos totalizantes de todas as crenças: religiosas, políticos, regionais... Recusar toda linha de produção que nos quer iguais, sem identidade, objetos do sistema, pessoas sem autonomia e liberdade de refazer caminhos. Recusar fazer parte dos grupos de ódio, de negação de toda forma de vida e de tirania. Recusar caminhos que não são os nossos, pensado e trilhado com nossos próprios pés. Recusar tornar-se coisa, mesmo se coisificado for.

Assim, entendo que a Ecologia Emocional estaria mais preservada e cada um de nós contribuiria em deixar mais saudável ao ecossistema humano no qual habita.

Ao Uzbequistão de Nós Mesmos (Autor Ricardo de Faria Barros)

Era noite de sexta, aula de Comunicação, e a Marta conduzia sua sessão de narrativas de vida.
Animada, usava seus 5 minutos, para narrar algo marcante.
Ela contou-nos que no ano passado fora passar 15 dias no Uzbequistão, para fazer a Rota da Seda e conhecer a cidade de Boukhara.
Seus olhos brilhavam ao relatar sobre as bonitas edificações e paisagens que por lá conheceu, e das aventuras dos deslocamentos, entre vários aeroportos, estações ferroviárias e rodoviárias, até chegar aos destinos finais.
E, do quanto aprendeu com a viagem, de como é possível conhecer lugares legais sem levar muitas malas, gastando pouco, e ainda fazendo um monte de amizades pelo caminho, inclusive com pessoas do Brasil que estavam fazendo experiências sabáticas no exterior.
Que consistem em dar uma pausa no trabalho e se permitir a uma viagem em busca de si mesmo, de preferência enfrentando o desconhecido noutro país.
A lição aprendida, que encerrou sua apresentação, foi a de que o segredo da felicidade está na simplicidade de viver: seja no vestir, no conviver, no comer, se hospedar ou se deslocar.
De fato, se é uma coisa que esta geração nos ensina é a de fazer no hoje, e com o possível, algo muito legal.
Eles não têm medo de saírem por aí mochilando, conhecendo lugares únicos, e desafiando seus próprios limites. Desde que valha a pena a jornada, eles irão para lá.
Não se importam com luxo, restaurantes badalados, ou malas abarrotadas de roupas bonitas, daquelas para visitar lugares estilosos. Se tiver alguma coisa legal para conhecerem, está valendo o sacrifício. Eles curtem a experiência da viagem.
Eles não se obrigam a vestir uma roupa que não lhes cabem mais. Show!
Quantas coisas em nossa vida este jeito mochilar de ser nos ensina! Com menos malas, mais leve, mais livre, com mais autonomia e coragem de ser quem se é, não tentando ser o que querem que sejamos.
É preciso fazer a jornada da vida como quem mochila para o Uzbequistão.
É preciso peregrinar em busca de nosso Uzbequistão interior, trilhando a jornada da alma.
Ousar, com a mesma coragem da jovem Marta, acessar áreas desconhecidas de nossa existir, acessar nossos medos, nossas vivências difíceis, extraindo desta viagem ao interior do Ser aprendizados essenciais para uma vida plena, com sentido e feliz.
É preciso conhecer nosso Uzbequistão, para melhor valorizar e aproveitar todo o potencial humano de nossa existência. Deixando de lado, ou pra trás, ou até não mais priorizando ou destacando, aquilo, ou quem, nos faz mal.
Para chegar ao Uzbequistão da alma é preciso coragem de recomeçar, quantas vezes necessários seja. Coragem de se reconectar, reinicializar, quantas vezes preciso for.
Coragem de romper com prisões reais ou imaginárias, saltando no vazio de infinito à frente.
Coragem de dobrar aquela curva, permitindo-se ao mirar de novos horizontes.
Esta coragem exige uma atitude Marta de ser. Daquelas de mente e coração abertos para a novidade de viver, e de assombro com os encantamentos de cada estação, nas paradas da vida.
Atitude receptiva e acolhedora frente a novas culturas e pessoas
Carregando menos tranqueiras emocionais em nossas malas interiores.
Carregando menos problemas das outras pessoas. Carregando menos as próprias outras pessoas em nosso viver.
Deixando de querer ser uma unanimidade.
Deixando para esta viagem de levar as culpas eternas. ou as mágoas encardidas, daquelas que tiram o gosto de tudo, causando desgosto.
A vida anda pedindo um pouco mais de leveza e simplicidade.
Anda pedindo menos tempo-pixel e mais tempo-pele.
Inspirado pela Marta, voltei pra casa lembrando-me uma experiência legal que que vivi, recentemente, e a custo zero.
Outro dia, peguei o carro e fui em direção a uma das raras produtoras de vinho do Cerrado, para as bandas de Cocalzinho de Goiais. O objetivo era conhecer a vinícola Girassol, com sua cachoeira do mesmo nome. A ida a este local exige o estilo Marta-Mochileira. Parte do acesso não é asfaltado. E, ao lá se chegar, será preciso descer uns 200 degraus até acessar a queda d´água, descendo pela escarpa de uma montanha rochosa. Antes de descer, parei no prosaico restaurante rural do local para encomendar um dos três tipos de almoço: galinha, peixe ou vaca. E tudo precisa ser pedido com tempo, para poder ser feito, exclusivamente para você.
É ou não é uma experiência? Trouxe na bagagem, além da bela queda d´água, flores e uma borboleta azul, o papo gostoso com a cozinheira que fez o delicioso pirão de galinha, e o que tive com o marido dela, que explicou as propriedades dos licores que vende: Cagaita, Jenipapo e Uva. Comprei um de cada, afinal de contas, são raríssimos (rsrsrs), e com o selo do vinhedo Girassol.
Este texto não é sobre o Uzbequistão, ou a Girassol, embora falei deles como uma metáfora sobre viagens na jornada de nós mesmos.
É preciso parar para contemplar o presente, ousando enamorar-se com encanto, e novamente, tal qual quando éramos tão jovens, das coisas simples, possíveis e acessíveis em nosso viver, que nem sempre são mais valorizadas, por estarmos envenenados de ansiedades mil, preocupações dois mil, e pensamentos e emoções negativas, três ml.
É preciso tirar das malas tudo que não nos pertence mais e que dificultará nossa caminhada.
Tirar toda forma de orgulho ou arrogância do ser.
Tirar pra fora todo tipo de preconceito e desrespeito no conviver com o outro.
Tirar toda as peles que em nós foram se moldando e que não se constituem a nossa melhor essência, nem dizem respeito ao nosso Eu Maior.
Na intransferível viagem à jornada da alma, vale mais levar na bagagem a humildade, a compaixão, a empatia, a amorosidade, a ternura, a coragem, a tolerância, a simplicidade, o otimismo e a esperança. Do que, o orgulho, a prepotência, o medo, a mesquinhez, a brutalidade, a autossuficiência, o desamor, a desesperança, a apatia, a inveja e a opressão.
É urgente carregar menos malas, em forma de gente, ou de emoções-comportamentos tóxicos, para uma vida de mais autonomia e feliz!

O valor de uma ida ao salão (Por Ricardo de Faria Barros)

Voltando da caminhada, arfando que nem cachorro criado em casa de açougueiro, dei-me conta de que não levara a chave da portaria.
Dirijo-me então à recepção, e, ao dela me aproximar, vejo conversando com o porteiro Antonio uma vistosa senhorinha, de uns 1,85 de altura, cabelos bem branquinhos, toda elegante e altiva.
Ela fala em voz alta, e toda sorridente, que não vai esperar ficar boa da saúde para ir ao salão, cortar o cabelo, e que aguarda o Uber.
Abestalhado com o que escutei, a cumprimento emocionado, e peço para Antonio abrir a portaria.
Despeço-me deles com um leve sabor de vida impregnado até os confins de meu ser.

Você já cruzou com alguém e saiu com a alma perfumada?
Aquela senhorinha aromatizou meu viver.

Horas depois, perguntei ao Antônio quem era ela. Ele disse-me que se trata e Dona Terezinha, 92 anos, moradora do ap 401.
Fiquei mais admirado ainda, e, porque não dizer, perfumado.
92 anos e com aquela jovialidade!
Dona Terezinha disse que não tinha tempo para aguardar ficar boa, e botou sua melhor roupa, fez maquiagem, estampou um sorriso no rosto, e foi renovar sua auto-estima.
Que atitude bonita dela, diante dos limites da vida.

Lembrei-me de Luzia, aquela da marchinha de carnaval de João de Barros (Braguinha):
"Anda, Luzia, pega o pandeiro e cai no carnaval.
Anda, Luzia, essa tristeza lhe faz muito mal.
Apronta a tua fantasia, alegra o teu olhar profundo,
A vida só dura um dia, Luzia.
E não se leva nada deste mundo..."

Foi como se eu visse a Terezinha com o seu pandeiro na mão, enfeitiçando as horas da vida, ao transformá-las em vidas das horas.
Lembro de mamãe, Dona Denise, 80 anos, que também anda tocando o seu pandeiro e não deixa de participar ativamente das pastorais da Igreja do Rosário.
Lembro de papai, Sr. Evandy, que prestes a chegar aos 82 anos ainda se alegra com tudo, e transmite muita paz, mesmo que esteja chupando dindin (sacolé), e de água.
Creio que estes "novos velhos" têm muito a ensinar aos velhos jovens de hoje em dia, em qualquer idade que estejam.

Ensinar a persistir, quando tudo ao lado já desistiu.
Ensinar a gratidar a vida. Verbo que criei para conceituar a capacidade ativa de sentir e expressar gratidão.
Ensinar a ter foco e disciplina, para correr atrás dos objetivos.
Ensinar a não desanimar, diante dos inevitáveis aperreios da vida, e continuar respirando, mais um dia, mais um dia, mais um dia...
Ensinar a dar valor às pequenas alegrias, reconhecendo-as como verdadeiras dádivas restauradoras da esperança de viver.

Precisamos urgente de muitos pandeiros na humanidade, de muitas Luzias, Denises, Evandys e Terezinhas.
Precisamos inspirar pessoas a enfrentarem seus monstros, a superar seus muros, reais ou imaginários, a expressarem o seu melhor potencial humano, dentro dos limites e possibilidades que a vida lhes impõe.

Dona Terezinha está certa. Não há tempo disponível para esperar ficar curada. Melhor, enquanto isto não chega, ir cuidar do cabelo.
A humanidade vive hoje uma epidemia de vazio existencial. Há falta de Terezinhas no "mercado".
Isto deriva tanto de uma educação infantil que não fixa limites, e não responsabiliza o jovem para ele mesmo correr atrás de seus próprios progressos.
Como do aumento da individualidade, consumismo e narcisismo digital, like-me please!
As pessoas estão virando produtos de consumo, coisas, e os relacionamentos ficando mais voláteis. E, sem o outro, um outro para confiar, nós murchamos como coletividade.
Assim, germinam-se em todo lugar pessoas que não estão sendo devidamente educadas para o enfrentamento da vida. Que acham que existe almoço grátis, ou que podem chegar nas janelinhas em esforço algum, só porque merecem.
Os brotos humanos que germinam deste ambiente, de baixíssima resiliência, são frágeis para aguentar os trancos e sopapos da vida.
Resiliência não se aprende em cursos e livros. Se aprende com a própria experiência humana. Então, se estamos criando pessoas super-protegidas, ou não estamos cortando os cordões umbilicais deles, estamos sabotando as suas próprias vivencias de frustração, medo, angústia, triunfo e realização
E, quando algo sai errado, este imenso grupamento humano - frágil e carente de sentido na vida, aprende a colecionar suas dores, viram colecionaDORES. Não basta ter uma dor, é preciso que ela seja compartilhada, distribuída, valorizada, como figurinhas premiadas de um álbum.
Pessoas que não processam suas dores, não a dissolvem, destilam, ou delas se livram. tornam-se escravos de suas coleções de dores, numa postura de vítima sufocante.

E, vamos enchendo as narrativas de nossas vidas com cenas dolorosas passadas, para justificar ainda não termos desabrochado, no presente.

Outra categoria muito comum, na atualidade, são os PortaDORES. Pessoas que quando chegamos perto delas saímos doentes de sua presença. Porque elas só falam coisas pesadas, ruins, sofrimentos, aperreios e aflições. Elas têm uma atração por divulgarem isto em suas redes sociais e para todos que delas se aproximam. Precisam despertar afago, atenção e cuidado, revelando o quão suas dores são grandes e vistosas. Como em porta-estandartes.

Por último, têm os ativaDores. Pessoas que possuem um prazer sarcástico de não se alegrar com quem se alegra, de nutrir inveja má, de machucar pessoas que pensam, ou agem, diferentes delas. Este tipo anda muito presente nas redes sociais. A pessoa não se basta em discordar de algo, ela precisa se sentir humilhando o outro, vencendo-o ao sobre elas jorrar um monte de palavras-armas, no qual qualquer espécie de diálogo cai por terra, cambaleante.

Terezinha nos deu uma tremenda lição. Com autonomia, com coragem e ânimo ela foi buscar o seu pedaço de bem-estar emocional positivo, conceito bem maior do que o da própria felicidade. Não ficando à mercê das circunstâncias, nem numa asfixiante postura de vítima.

Anda, Luzia, pegue o pandeiro e vem pro carnaval!

Não é sobre a Praia de Cumbuco-CE (Autor Ricardo de Faria Barros)

Li estarrecido que uma determinada ponte, em Natal-RN, tem sido usada para prática de suicídio. Com o aumento dos casos, voluntários passaram a se revezar naquele local, na tentativa de estabelecerem um diálogo com estas pessoas, demovendo-as desta decisão, tão trágica e sem retorno.

Para compreender melhor este fenômeno, não só do suicídio, mas também o aumento de episódios de automutilação, ansiedade, depressão e Síndrome de Burnout (exaustão emocional no trabalho) recorro a dois documentos, bem atuais.
No primeiro, o World Hapiness Report-2019, relatório publicado pela ONU, registrou o aumento de emoções negativas no mundo. Um dos indicadores deste estudo é a pesquisa sobre a propensão para a generosidade que caiu drasticamente.
No segundo, o Global Policy Report, também deste ano, recomenda-se aos governos que desenvolvam políticas para enfrentamento da depressão, além de investimentos em atividades que promovam uma educação emocional positiva.
Uma das causas-raiz, revelada nos estudos, é um aumento de episódios de adição e compulsão, inclusive em idades mais jovens, criando as condições ideais para uma epidemia de vazio existencial, que são:

- Adição: álcool, drogas e alimentos não-saudáveis.
- Compulsão: games, sexo volátil, trabalho, consumo e tecnologia.

Também faz parte destes estudos algo no mínimo interessante, uma associação do tempo dedicado ao mundo digital: games e redes sociais, com o aumento da depressão, prejuízo das interações sociais presenciais e a baixa qualidade do sono.
Diante deste cenário, o que podemos fazer?
Que respostas precisamos dar à vida, para não sermos tolhidos pelo quarteto fantástico do descontentamento:
Suicídio-automutilação; depressão; ansiedade e Burnout.
Como podemos ajudar aos nossos familiares, amigos e colegas de trabalho, ou de estudos?
Creio que qualquer que seja a resposta ela passará por uma melhor percepção seletiva positiva de nós mesmos, dos outros e da realidade.
E, precisamos resgatar a generosidade, empatia e amorosidade para com estes três entes relacionais: O Eu – O Tu – E a Vida.
Parar de correr atrás de um sentido da vida, e procurar os sentidos na vida. Em tudo que se faz, vendo-se a si mesmo, e onde está inserido, como parte de um coletivo maior.
Não podemos terceirizar a educação emocional positiva para a escola.
É urgente ampliar as fronteiras dos pensamentos e emoções, para além do caudaloso rio da negatividade no qual estamos nos afogando.
É preciso desenvolver uma maior força de vontade para com a vida e o viver. Desenvolver camadas de resiliência.
Não podemos aceitar impassíveis que todos os dias alguém se dirija à uma ponte, almejando pular para a morte.
Este assunto é nosso. Meu, teu e deles.
E é preciso reeducar as lentes do pensamento e das emoções desde a mais tenra idade.

Não esqueço o comentário de uma mocinha, proferido pra sua mãe, ao tomar um café da manhã num hotel em Fortaleza.
Eu estava na mesa ao lado, bem próximo, aguardando a hora de ministrar uma palestra, sobre longevidade feliz, e não tive como não a escutar.
A mocinha, de uns 13 anos, dizia que achou a visita do dia anterior, à praia de Cumbuco, horrorosa. E que uma amiga dela, que indicou o local, estava errada. Não havia nada de bonito ali.
E, passou uns bons minutos enumerando tudo de ruim que por lá viu.
Animada, disse a sua mãe que no dia anterior já tinha saído do hotel querendo mostrar que a amiga estava errada. E que conseguiu. (Pasmem!)
E a mãe tudo ouvia sorrindo, e até de certo modo apoiando as observações da mocinha.
Nada, nada e exclusivamente nada de bom podia se extrair daquela narrativa.
Depois de Cumbuco, animada, a jovenzinha passou a discorrer sobre o quanto Fortaleza a tinha decepcionado. A calçadinha, a chuva, o povo e até a comida do café da manhã do hotel.

Corta a cena e voltemos para nossa análise.

O que você encontrará na vida se saiu de casa querendo achar somente coisas ruins nela?
Que tipo de educação emocional aquela mamãe está passando para sua filhota? A de não ser grato. De não ser generoso na forma de olhar a vida, aos outros, e até a si mesma.
A de procurar defeitos em tudo, e de sair colecionando razões para ser infeliz: Coleciona Dores.
Pois bem, na idade adulta esta jovenzinha vai estar exposta a um monte de outas situações, até no mundo do trabalho, na qual ela precisará enfrentar.
E, se em cada uma delas, ela olhar para a vida como olhou para a praia de Cumbuco, e assemelhados, ela não vai achar sentido na vida.
E, vidas que se percebem como sem sentido são mais fáceis de serem atraídas pelo desejo de por um fim em tudo.
Então, precisamos reeducar o olhar sobre a vida e o viver. Aprender a lidar melhor com as frustrações, as perdas e os limites. Aprender que não ganharemos todas. Aprender que o mundo não gira em torno de nosso umbigo, e que ninguém na calçada vai prestar atenção quando você passar.
Excitar a doação, a mansidão, a gratidão e o perdão: portais de acesso ao sentido na vida.
Fomentando em nós um senso de pertencimento a um coletivo maior, do qual fazemos parte, e no qual podemos fazer a diferença.
Não concebendo o outro como deletável e descartável, ou apto a ser colocado na caixa de spam da indiferença.

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