Eu-bem-te-vi



Tempos atrás, em 2010, houve uma doação de mudas aqui onde moro, numa campanha de arborização. Ao buscar a minha muda, na sede do Condomínio, fiquei sabendo que quase todo mundo estava optando por pegar as mudas de ipês, sibipirunas, acácias, e flamboyants.

Aguardando a minha vez de ser atendido, desviei o olhar das mudas-vedetes e vi mais à frente, encostada num tronco de mangueira uma bela muda.

Perguntei ao moço que me atendia se ela houvera sido rejeitada, ou se estava esperando alguém que a reservara.

Ele disse que ninguém a quis, de todos que foram buscar mudas, e resolveu tirá-la do lote.

Gastava um tempão explicando sobre ela, tentando convencer os pretendentes, mas era em vão. Então desistira.

Falou-me que os espinhos no seu tronco afastam os “clientes”, apesar de suas belas flores rosáceas e da sua sombra frondosa. Falou quem em 20 anos aqueles espinhos do tronco caem, e ela pode até ser abraçada que não machucará ninguém. Disse-me ainda que ela alimentasse com suas flores muitas abelhas e pássaros como bem-te-vis e beija-flores.

Tudo a ver com seu nome. Pensei comigo que aquela muda seria minha.

Embora eu nem bem-tivesse-a-visto, já pressentia que um dia beijaria-suas-flores.

Perguntei seu nome e ele disse: paineira-rosa.

Apaixonei mais ainda, que nome doce!

Queria ter uma paineira-rosa na calçada de minha casa. Pode alguém machucar alguém com um nome tão doce, de encher a boca de quem o pronuncia, que ao ser evocado traz a sua presença o pai e a mãe, esta na metáfora da rosa. Lembrei o quão gostoso é ouvir meus filhos chamando-me pai, ou papai.

Decidido peguei a muda, para surpresa e alegria do jardineiro que as doava e ensinava os primeiros tratos. Cheguei em casa, arregacei as mangas e plantei.

Minha esposa quando a viu ficou seriamente preocupada.

“E estes espinhos”? O JG vai se ferir!

Era tarde demais. Aquela rejeitada já pertencia ao meu viver. Cuidaria dela.

Até que caíssem seus espinhos do tronco, uns 20 anos à frente, conforme me ensinara o jardineiro. Nos meus 65 anos estarei à sua sombra brindando este dia. Quem viver verá.

Comentei com ela que os espinhos de seu tronco eram passageiros.

Ela deu de ombros e entrou resignada.

Semana passada peguei a enxada e adubo e cuidar dela. Já está uma arvorezinha linda, agora com uns 2 metros. Mas ainda é criança de três anos. Mais velha poucos meses do que o JG. As paineiras- rosa são árvores centenárias e foram quase extintas de nossas matas nativas.



Todas estas cenas passaram qual flash por minha cabeça, ao chegar à feira de Sobradinho nesta manhã de belo sol e céu.



De longe avistamos uma grande árvore com copa frondosa, estava de parar o trânsito de tão linda.

Virei à direita para acessar a rua da feira e minha esposa comentou, deve ser uma quaresmeira.

Eu sabia quem era. Fiquei calado e sorrindo no interior.

Ela desceu e eu disse que iria andar uma quadra e tirar umas fotos da bela árvore, junto como JG.

Caminhei com o JG a passos largos, mal contendo a emoção de confirmar minha suspeita de que era uma paineira-rosa.

Chego embaixo de seu caule e emociono-me. Era sim. Alguém há uns 20 anos atrás, pelo seu tamanho e pela ausência de espinhos no seu tronco a plantara.



JG corria pela calçada coberta de flores, abaixava-se faceiro para recolher um buquê e eu imaginando que esta cena um dia seria rodada na calçada de nosso lar.

Olhei para sua copa e fraguei um casa de bem-te-vis e lembrei-me do que falara o jardineiro.

Fiquei ali embaixo de sua refrescante e aromada sombra um tempão.

Pensava em como todos nós temos nossa poção interior de paineira-rosa.

Do quanto somos rejeitados quando em algum momento de nosso viver ficamos espinhentos, e do quanto aqueles que continuam acreditando em nós, em nosso potencial, testemunham nosso florescer e a superação do tronco espinhoso.

Tem muita paineira-rosa encostada pela vida afora. Que não consegue participar de nossas rodas de conversa. Que perdeu o brilho interior. Que as dores que viveu e a pouca atenção que despertou foram resignando seu ser, e o cobrindo de espinhos.

Gente que sofreu muito, que não elaborou ou processou os lutos que viveu.

Gente que à primeira vista nos repele, na boniteza do encontro.

Fica em mim a mensagem daquele jardineiro, não desista dela.

Acredite com o tempo estes espinhos cairão, e ela ainda te dará muita alegria.

Quantos de nós estamos sendo vistos assim pelos que nos rodeiam - espinhentos.

Mas, se estes que nos rodeiam o fazem com o jeito amoroso do jardineiro, que não vê a crueza do estado presente, mas projeta o futuro e olha para nós com olhar de promessa, cresceremos.



Houve jardineiros assim em meu viver. Gente que soube esperar minha florescência.

Gente que acreditou, contra toda descrença.

Gente que viu em mim o que nem eu, com abalada autoestima, efeito colateral das pancadas que a vida vai dando, ainda via – potencial.

Gente que entrou em meu viver e pronunciou pra mim: Ricardim, eu-bem-te-vi!

Quero envelhecer paineira-rosa. A "envelhescência" deveria começar com uma aula sobre esta bela planta.

Tenho medo de ficar ranzinza, resignado, cheio de certezas e verdades sagradas que me tornarão espinhoso e de difícil acesso.

Cada gentileza doada, empatia sentida, escuta compromissada, ajuda gratuita e esperança anunciada são espinhos que vão caindo do tronco de meu viver.

E nunca mais verei os que não me atraem, por considera-los espinhentos, da mesma forma.

Lembrarei que com eles poderei estar fazendo o que fizeram com aquela muda, rejeitando e aumentando ainda mais sua dificuldade de crescer.

Poderei conviver com eles sem perder minha essência, sem embrutecer. E esta convivência, se for sábia qual mãos de jardineiro, poderá contribuir para derrubada dos muros e espinhos de nosso cotidiano e convivência nem sempre harmoniosa.

Creio que nosso Jardineiro-Maior nos vê a todos como se fôssemos bebê-paineira- rosa. Como frutos de uma promessa. E não desiste de nos tornar melhores.

Enquanto tudo isto vinha em meu viver, à sombra daquela paineira, João Gabriel recolhia um buquê de pétalas no chão.

Este seu gesto brindou minha manhã. Ele está certo. É preciso recolher as pétalas caídas e oferece-las para nós mesmos, ou para quem de nós fizer morada.

Não podemos perder a chance de recolher as pétalas caídas e perfumar nossa existência. Ou de trilhar nossa jornada interior como andássemos por sobre uma calçada de pétalas.

São estas pétalas que carinhosamente o JG juntava quem nos dará forças para continuar esperançando a vida, sendo bons quando tudo ao nosso lado fala em violência. Sendo éticos e justos, quando tudo ao nosso redor apela para o “você tem que levar vantagem em tudo”.

Afinal, como diz a canção: fica sempre um pouco de perfume nas mãos de quem oferece rosas.

E quero as minhas bem perfumadas.

E quero ano-a-ano ir perdendo os espinhos e me fazendo mais acessível para os que de meu ser venham a precisar.

Mas, para que tudo isso aconteça peço ao Jardineiro-Maior que me socorra nos momentos de aperreio com jardineiros-sapiens que não se aborrecerão com meus espinhos e continuarão gostando de mim, aceitando-me, estimulando-me a crescer, apesar de toda negação dos tempos presentes.

Gente que vez por outra me abrace e diga que não estou sozinho.

E QUANDO SECAREM AS LÁGRIMAS?





Pela manhã, ao sair para trabalhar segui trilhando pela avenida costumeira, onde vi uma cena expressiva. Um grupo de funcionários, de uma empresa de jardinagem urbana, perfilava-se em frente ao caminhão para uma foto.
Fiquei feliz, ali havia autoestima em dia. Adoro fotos. Sempre que vejo alguém posando para fotos sei que algo de bom acontece. Com certeza, um deles – aquele que sempre conclama a todos para uma “fotinha”, queria registrar o momento e enviar para os seus, postá-lo em redes sociais ou até imprimi-lo para mostrar em casa, todo orgulhoso.
Poderia ser o primeiro dia de trabalho daquela turma, poderia ser tanta coisa que motivara o gesto inesperado e inusitado e não muito comum de vermos no dia-a-dia. Como era perto das oito da manhã, a luz estava boa e aquela foto deve ter ficado bacana.
Após o almoço, pela mesma rota, voltava novamente ao trabalho. Antes de pegar a ponte JK, avistei ao longe umas viaturas da polícia. Reduzo a velocidade e presto atenção redobrada. No canteiro central, um corpo envolto num lençol. De soslaio, vejo cabelos esvoaçantes, teimando em viverem.
Segui perplexo para o trabalho. Passei o dia pensando da frugalidade do viver e morrer. Aqueles cabelos esvoaçantes não saiam de meu pensar.
Como que a me perseguir, com um tema pra mim muito dolorido, tudo ao meu redor, nos últimos meses, começara a falar em perdas, sofreres e o que fazemos com eles.
Seja o excesso de notícias relacionadas à morte que ultimamente circulam em nosso portal corporativo, seja pela morte do avô de uma funcionária, que a deixou triste, seja por posts de amigos que os leio e me fazem refletir. Selecionei três deles, mais recentes, que me tocaram bastante:
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1. “Tardiamente, o saudável estímulo à reciclagem tomou conta dos espaços nas grandes cidades. [...] Na contramão, iniciei lista de coisas que, lamentavelmente, não podemos mais reciclar: carta não escrita, palavra maldita, choro contido, tempo perdido, mágoa enrustida, afeto adiado... Tô aceitando sugestões.”

2. “Perdido. Eh assim que me sinto. Desde quando [meu filho foi diagnosticado com autismo], há quase 03 anos, vivencio sentimentos de culpa, de impotência, de medo. Coisas simples do dia a dia, as quais estava acostumado, se tornaram grandes desafios. O que ele vai ser quando crescer? Com quem vai casar? Onde irá trabalhar? São questões que me apavoram e me paralisam. Tenho ouvido muito referencias sobre "o presente" que recebi, metáforas espirituais de que "Deus nunca dá uma carga maior do que podemos suportar" mas, infelizmente, não as compreendo. Não agora, mas sei que Ele me ajudara a compreender. É nisso que acredito.”

3. “No consultório, após algumas horas de agonia, recebo a notícia de que só tenho, aproximadamente, um mes de vida. Entre "bem que eu desconfiava" e o "isso não pode ser" levou alguns segundos. Como a medicina não poderia mais fazer nada por mim.... faço eu. Liguei para a minha filha e lhe dei a notícia, na lata, liguei para a minha mãe, para um grande amigo, talvez para uma amiguinha recém conhecida, minha irmã, que só me falta colocar no colo sempre que nos vemos e para o meu irmão, com quem me dou muito bem. Os seguros estão ok, os imóveis regularizados, a filha amadurecendo.
Fui imediatamente ao encontro da minha filha e repeti o que lhe digo às vezes: oi minha grande companheira de viagem" agora nós vamos aproveitar mais ainda! Aceita ficar comigo nesse período? Vamos viajar, comer, parênteses (eu (beber, fumar). Vamos alugar um carro diferente a cada período, vamos pagar tudo à vista, vamos dar mais "ois", vamos dançar mais, se já sorrimos, vamos sorrir mais, vamos rir de quem merece e vamos elogiar quem merece, também?
Quando faltarem uns poucos dias, vamos ficar com seus tios e avó.
Como ela acabou de tirar sua carteira de motorista, ela quem irá dirigindo, é claro, pois eu quero participar disso tudo, afinal tem mão minha nessa escultura de 18 anos.
Podem ter certeza de que um dia estará reservado para eu comer quantas coxinhas de galinha que eu quiser. Sentarei na minha cama, abrirei os pacotes a "atacar!!!!". Pedirei emprestado um carro bem caro e chique para dar uma volta em alguma estrada bem próxima. Ai faltando bem pouco, mas bem pouco, ligarei para algumas pessoas e lhes direi o que sempre quis dizer mas não podia ou até mesmo não devia. Este texto não representa a realidade mas poderia representá-la, mas essa hipótese tem uma grande vantagem: eu saberia quando morreria. As pessoas como o rapaz da 413 [que morreu aqui em Brasília de bala perdida] não teve essa chance.”
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Fiquei conectando as vivências e assombrado com insights que teimavam em vir à mente. Do tipo, será que aquele motoqueiro registrara seus bons momentos, ou reciclara seu ser para um maior desenvolvimento sustentável interior, preservando valores e comportamentos realmente edificantes.

Será que teve tempo ou oportunidade de escrever cartas pendentes, de pronunciar palavras benditas, de chorar choros contidos, de ganhar um tempo perdido, dissolveu mágoas encrustadas, escancarou afetos imediatos? Vai saber. Acho que nem ele nem ninguém. Vamos adiando isso.

Relaxei, afinal somos sempre devedores de afeto na contabilidade da vida. Nunca estaremos com nossas contas em dia no que concerne aos nossos relacionamentos. Só podemos cuidar para este prejuízo emocional, de coisas adiadas ou não ditas, malditas, desditas, aumente.

Costumamos botar muitas tralhas emocionais na dispensa de nosso coração e algumas delas – mágoas antigas, ressentimentos estéreis, vinganças e ciúmes áridos – aumentam nosso débito para com a vida plena.

Perguntei sobre mim mesmo. Levei-me para passear, olhei-me no retrovisor, não gostei da cara amarrada, tensa, cheia de futuros afazeres e preocupações comezinhas.

Percebi o quanto meu ser está precisando de uma reciclagem.

Ontem participei de uma escuta institucional, de algo que ocorrera com um grupo de funcionários, um deles me disse, “eu tentei chorar, mas há muito tempo desaprendi."

Ouvi esta profunda e sensível frase de um colega que vive um luto organizacional. Nada pior do que lágrimas choradas e engolidas. Para estas, não há lenço disponível que as socorra e enxugue os olhos da alma, disfarçando as evidências do sofrer. Dói todo o ser. Solidarizei-me com o colega e este relato pegou-me num momento que também sofro meus lutos organizacionais. Acho que todos os têm.

Já vivenciei muitos lutos. De morte de entes queridos, de puxadas de tapete no trabalho, de problemas de saúde, com os filhos, família, de perda do afeto, etc...

Todos vivenciamos lutos. Na maioria das vezes sobrevivemos. Nossa força interior se mobiliza e nos ajudar a superar.

Um dia me perguntaram o que digo, como psicólogo, a quem sofre. Não digo nada. Só lhe abraço, toco, digo que estou presente para ouvi-lo e ampará-lo no seu sofrer. Dá um trava língua e não consigo dizer nada.

Certa vez ouvi de uma amiga que, ao ir a um velório ou perceber que o outro está enlutado, faz “mãozinha que tira terra do ombro”.

Acho que é uma excelente técnica.

O luto pede seu tempo.
Há um tempo de amadurecimento do luto. E quem já viveu sabe que é um “cálice que temos de tomar”.

Ele tem recaídas, qual uma virose. Lembra quando o doutor diz ás nossas crianças, com febre e tossindo, que o quadro precisa evoluir? É assim mesmo com o luto. Um dia estamos melhor, noutro pioramos, e o processo se arrasta.

Ele é uma virose na alma e precisa evoluir.

E evolui no tempo de cada um.

O que dizer ao pai da criança-autista? O que dizer à minha funcionária que se despediu do avô querido?

O que dizer ao senhor que não tem mais lágrimas, de tantas puxadas no tapete que recebeu no ambiente de trabalho?

O que dizer a uma jovem mulher que fez uma cirurgia e não pode mais engravidar?

O que dizer quando o amor acaba, não é correspondido, ou se frustram expectativas de um dos amantes, o enlutado?

O que dizer? O que dizer?

Não sou bom em textos de autoajuda, embora sem querer me ofender, um colega classificou um deles neste estilo medonho.

Então não tenho palavras doces para o luto.

Luto dói. Tira o brilho e as cores da manhã. Luto prostra. Luto adoece. Luto rouba energias interiores e tira o humor e prazer em viver.

Quem vive momentos de luto, vive sua virose interior, tal qual uma infeção emocional.

Então como proceder junto a alguém que vive este adoecer emocional?

Só se faça presente. Só o escute.

Coloque-se numa postura de compaixão. Mas nunca, nunca mesmo, relativize o luto de quem o sente. Ou compare-o a lutos, por você vivenciados, como maiores.

Seu amigo enlutado só quer desabafar contigo. Não quer explicações que não explicam.
Só quer um espaço para dizer-lhe o quanto sofre.
Muitas das vezes só o fato de te ver por perto já o conforta.

O problema é que ficamos tão mexidos com a dor do amigo que num processo de verbalização extrema deitamos a dar-lhe conselhos ou a falar de coisas que naquele momento pouco sentido farão.

Só ouça. Só aconchegue. Só nine. Só se faça presente. Só diga que se quiser estará disponível para um conversa.

Só o pegue para passear, vez por outra.

Só leve um filme pra assistir com ele.

Só se ofereça para pequenos afazeres domésticos.

Só escute e, vez por outra, diga o quanto seu amigo é forte e o quanto tem certeza de que ele conseguirá superar aquela situação.

Quem vive profundos estados de luto desorganiza sua rotina. Coisas, antes simples, são feitas com dificuldade.

Tudo pode ferir ou machucá-lo, pois o enlutado fica supersensível aos acontecimentos que vive, pois olha o seu viver pelas lentes da emoção. Vê as cenas de seu viver com as lentes da emoção e está ferido no seu interior.


Pouco resolverá.


O processamento deste sofrer existencial é individual e só faz sentido para o que sofre.
Não adianta prescrever velhas fórmulas, mesmo que para você já tenham feito sentido.
E é de sentido que falo.
O luto pode ser visto também como uma busca de sentido. Uma resposta de nosso ser a um processo de infecção emocional.

Às vezes a pessoa enlutada precisará de ajuda profissional para melhor lidar com o luto.

Mas, na maioria das vezes, a própria vida vai elaborar o luto.

Viver é terapêutico.

Só precisa ter forças para continuar respirando.

Mas cedo ou mais tarde, as cores vão surgindo novamente, pequenos prazeres vão se fazendo presente na nossa agenda cotidiana.

Mas nunca, nunca mesmo, engula lágrimas.

Não banque o forte, não racionalize o sofrer.

Procure livros, vídeos, grupos, pessoas que vivem a mesma situação e os apresente ao seu amigo. Trocar experiências com quem sofre de dores da mesma natureza ameniza a sensação de estar só na dor.

Para quem vivencia estados de luto, participar de atos religiosos, fazer voluntariado, escrever sobre a vivência em blogs ou redes sociais, fazer algum tipo de terapia-ocupacional, pode ajudar.

Para o amigo do enlutado, talvez a postura do “Pitchula” seja uma boa.

Num banheiro de um cemitério aqui do DF, inscrito na parede, dentro de um coração desenhado li a frase: “Pitchula, só queria te dizer que eu vim te ver, viu?”.

Acho que eles viviam um romance às escondidas, fiquei emocionado ao ler tal brado último de amor. O autor desta frase sem querem ensinou-me muito.

É só se fazer presente na vida dos enlutados, “só vim te ver”...

Ao escrever esta crônica senti uma vontade danada de voltar a posar para fotos, de recomeçar, de lançar pontes - em muros da discórdia que recentemente ajudei a levantar. Quem sabe...

Pessoas comuns, atitudes incomuns.



Acordei cedinho para ir ao trabalho, entrei no carro novo, tirando da loja no dia anterior, e sorvi aquele cheirinho maravilhoso, que quem o inventar ficará milionário, comentando com João Gabriel (o JG): cheira filho, é “cherim de carro novo”. JG imitava-me aspirando o ar, e ambos caímos na risada.

Ao chegar ao trabalho vejo o Ceará, lavador de carros das antigas, considerados por seus clientes quase um patrimônio imaterial de nossa empresa.

Peço ao Ceará que dê um trato no carrinho, pois a lavagem que a concessionária fez ficou um tanto precária.

Como de costume, deixo o pagamento no banco e vou trabalhar. No trajeto tenho uma estranha sensação de já me sentir mais limpo. Tenho isto comigo, quando o carro tá limpinho sinto-me assim também.

Perto de meio dia pego o carro para ir buscar o JG na creche. Aspiro aquele cheirinho novamente, e alegro-me com a limpeza dos vidros, tapetes, pneus, lataria – um capricho só.

Percebo que no retrovisor tem um bilhete afixado: “Ligue para mim, Ceará”.

Penso comigo, será que pegaram o dinheiro do Ceará – aquele que costumo deixar sobre o banco para remunerar seus serviços, e ele ficou no prejuízo?

Ou será que ele majorou o valor da lavagem?

Vou dando ré e o guardinha, personagem impoluta do hall de entrada de alguns prédios, dirige-me a palavra: “O Ceará precisa falar com o senhor.”

Penso comigo, vixe Maria, agora estou passando recibo de “veiaco” até para o pessoal da vigilância.

Dou a volta no prédio e dirijo-me para o portão de saída, no trajeto escuto gritos, “Seu Ricardo, seu Ricardo...”, olho pelo retrovisor e vejo o Ceará acenando em minha direção.

Não sem uma ponta de aborrecimento, encosto o carro na primeira brecha que encontro para ver o que ocorre.

Enquanto ele caminha em minha direção olho para o relógio que galopa e penso no JG esperando-me ansioso. Quando ele chega, fulmino um olhar e metralho algumas palavras:

“Que é que tá pegando Ceará, te dei calote foi?”

Ele olha pra mim, com um olhar manso e risonho, e diz que não é nada disso. Pergunta-me então se eu vira ao pegar, ontem o carro na loja, uma mancha branca na porta do passageiro.

Uma profusão de sentimentos brota naquele momento: espanto, assombro, vergonha e surpresa de tal cuidado com o cliente que acabo de receber.

Naquele momento, Cronos foi iludido por Eros, e tive o todo o tempo do mundo – e fui com o Ceará verificar a maldita mancha.

Agradeci penhoradamente sua ajuda e alerta e sai para buscar o JG.

No caminho, saboreei a sensação de ter sido percebido, por aquele que me presta um serviço, de uma forma diferente, para além da relação econômica que se estabelece, mas com um jeito especial de tocar-me e de me fazer sentir que sou estimado e importante na relação que se estabelece entre nós.

Nos meus 13 anos de Brasília, testemunho que esta atitude rareia aqui no atendimento do Distrito Federal. As relações de atendimento por aqui são muito secas e frias.
São atendimentos robotizados, limpinhos, mas sem gosto de gente. Insípidos.

Agradeci penhoradamente a ele, peguei o JG na creche e dirigi-me para a concessionária, com muitas pontas de preocupações no cenho franzido.

Lá chegando, procurei o nome que constava num cartão, grampeado no manual do carro, que era o do chefe da Oficina, aquele que agendaria as revisões periódicas.

Relatei o problema e a minha preocupação com o fato.

Fui logo dizendo, meu lavador de carros, o Ceará, disse que até cera passou e a mancha não saiu.

Deve ser erro de pintura.

Estava furioso.

Ele olhou o problema e agiu comigo tal qual Provérbios 15:1 - “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.”

Com calma, passava a mão na mancha e ia analisando-a.

Não me retrucou, teve empatia, e falou que não era erro de pintura, que daria um jeito ali mesmo.

Ele, surpreendeu-me também. Não abriu ordem de serviço, não me encaminhou a ninguém, ele próprio disse que iria resolver a situação naquele momento.

Pediu um tempinho e foi no subsolo buscar algo para resolver.

Voltou com uma massa na mão. Perguntei-lhe o que era. Ele me disse que se tratava de massa de vidraceiro, o segredo de ouro dos lanterneiros.

Passou a friccionar a massa na lataria e qual mágica a mancha ia dissipando-se e dando lugar à cor do resto do carro.

Com calma ele me disse que achava que aquilo era resto de cola, algo que eu devia ter pisado com a roda e tinha espirrado na lataria.

Nem precisa dizer o quanto fui para casa surpreso com as atitudes daqueles profissionais.

Um que me encantou por ter ido muito além da relação de trabalho contratada, colocando-se empaticamente na situação de quem está nas mãos com um prejuízo iminente.

O outro, por não ter transferido a culpa, para o próprio cliente, e agiu na hora com o que tinha, simplesmente fazendo o que de melhor podia fazer naquela situação e resolvendo a crise.

Um poderia simplesmente ter lavado o carro, pouco se preocupando com manchas, até porquê manchas que não largam são comuns ao negócio dele. Mas, ele foi além.

Juntou a informação da compra recente do carro, àquela estranha mancha e intuiu que algo de muito grave podia ter acontecido na etapa de pintura da lataria.

Juntou informação X com a Y, gerando conhecimento e aplicando-o no negócio que opera.

Ele errou, mas tudo indicara que acertaria. Só em ter me alertado para o fato, fidelizou minha relação com os serviços que presta.

O outro podia muito bem ter se escondido nos processos de entrega do veículo, ter conferido o check-list que fizeram na minha presença e ter me dito que tudo fora entregue em perfeito estado. Mostraria até o meu ciente nos itens, um dos quais a pintura metálica.

No limite, recomendaria que eu acionasse o seguro para pintar a porta numa oficina autorizada.

Não fez nada disso, tentou ajudar sem colocar-se numa postura reativa ou de embate. Não se escondeu no processo de trabalho dele para não atender.

Olhei no crachá dele e estava escrito “Anderson – Chefe de Oficina”. Pensei, este cara educa pelo exemplo, e entendi melhor o porquê que a minha esposa incentivou-me comprar naquela revenda, usando como exemplo a forma pela qual ela era tratada nas revisões que fazia do seu carro, do mesmo fabricante.

Dias depois encontrei o Ceará e disse-lhe o quanto ficara feliz com sua atitude. Ele contou-me um pouco de sua vida.

Oriundo de Sobral-CE, migrou para Brasília em 1992, Mora em Planaltina (distante 40 km de onde trabalha), e se orgulha de sua família feliz, de sua esposa e de seu casal de filhos com 10 e 6 anos.

Disse-me que a jornada cansa que lavar carro exige esforço físico e concentração, mas que ama o que faz. Lava uma média de 12 carros-dia, e no final do dia fica muito cansado.

Mas não desanima, veste um traje de corrida e vai treinar corrida de rua, pra competir nas provas do Distrito Federal, e até em maratonas – país afora, de que participa.

Fiquei estupefato. Ali, a minha frente, um guerreiro e desbravador de novos sonhos.

Ele falou que são seus clientes quem o patrocina, sempre que precisa de uma ajuda para manter-se no esporte, e até competir fora. Falou que uma cliente arranjou até nutricionista que o atende de graça.

Em cada palavra proferida, eu sentia o quão grande era aquele ser que ali debulhava suas pequenas vitórias, conquistas e sonhos.

Mostrou-me todo orgulhoso a camisa da corrida de São Silvestre (veja na foto).

Fiquei impressionado com o que escutava. Estava ali a minha frente, não somente um excepcional profissional, mas também um ser humano belo, com seus sonhos futuros para a baixa dos tempos nas corridas, e porque não de vencê-las.

Aprendi, na pratica, com a história do Ceará o que Gandhi quis dizer ao falar que “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.”.

À tardinha fui celebrar a vinda de minha filha, para passar a semana santa comigo, no Outback.

Era quinta-feira, véspera de feriado, e aquilo lá fervia.

Comentava com os filhos e namorada (o) como são legais atitudes profissionais Ceará-Anderson.

Pedi aquela suculenta costela, com aquele molho que só existe no Outback a “Ribs on the barbie”. Para acompanhar um chope.

Brindes feitos tomei uns goles e comentei: estupidamente gelado, que coisa boa.

Eis que se aproxima uma garçonete e me diz, senhor preciso trocar seu chope por outro por conta da casa.

Olhei para o copo já na metade, e entre alegre e surpreso, perguntei o porquê.

Ela falou que estava servindo as mesas por falta de garçons naquele dia e que era a bartender da casa. O mesmo que barman, porém do sexo feminino. E que só de olhar um chope sabia se tinha sido tirado errado. Aquele, segundo era, só tinha gás e revelava que o botijão estava secando. E que não tinha o gosto deum verdadeiro chope.

Minutos depois volta com outro que reluzia ouro em cevada, esperou que eu provasse e disse: agora sim o sr. está tomando um chope de qualidade.

Quando ela saiu, nos entreolhamos e pensamos, agora seriam três os profissionais de destaque: Ceará, lavador de carro, o Anderson – chefe de oficina mecânica, e a Fernanda, bartender.

Em comum a estes profissionais o propósito e o sentido do trabalho.

Eles eram presença e liderança marcante no seu agir no mundo. Transformavam realidades ao seu redor e faziam de seu espaço laboral um lugar de serviço.

Fiquei pensando o quanto seria bom se alguns profissionais desmotivados e que tratam os clientes com rispidez, estagiassem uns dias ao lado destas pessoas comuns que no dia-a-dia fazem coisas incomuns... o quanto seria bom para o crescimento delas, entre as quais eu me incluo - nos dias em que acordo com a pá virada pra lua.

Este trio de profissionais, de autoestima e profissionalismo 10, muito ensinariam com suas próprias vidas.
Profissionais que sabem encontrar prazer nas pequenas coisas, na sua vocação profissional, e sabem batalhar o ganha-pão diário, sem perder a alegria, motivação e a entrega de resultados.

Eles e tantos outros, espalhados país afora, constroem um destino possível, mesmo sob condições adversas da conjuntura onde inseridos.

Eles procuram ser o melhor para a humanidade e não o melhor da humanidade. Eles não veem o cliente como peso, estorvo, mas como aquele que dá sentido ao seu próprio trabalho.

Eles contrariam muitos trabalhadores que alegam, aos quatro cantos, com risos sarcásticos, que "o trabalho seria melhor se não fosse pelos clientes."

Para terminar, fiquei sabendo que outro dia roubaram a moto do Ceará.

Ela não tinha seguro. Pensam que ele desanimou, um dia sequer?

Veio trabalhar de buzão, lata na mão e estopa e cera na outra. Ao chegar, comentou com um colega o ocorrido. Comentou sem querer nada em troca. Comentou como comentamos com os amigos as intempéries de nosso viver. Este amigo, após ouvi-lo mobilizou a clientela do Ceará, numa espécie de rifa, que conseguiu apurar o suficiente para o presentearem com uma nova moto.

Estas coisas me levam a crer num outro mundo possível, um mundo no qual os valores da gentileza, do cuidado, da escuta, da empatia, da solidariedade, da justiça, da ética sejam tão comuns, no seio de nossa sociedade, como o trânsito em nossas cidades.

Ceará, Anderson e Fernanda, em posições sociais tão diferentes, contudo numa coisa iguais, a forma pela qual encaram sua liderança – como a de uma liderança servidora.

Não temem subverter a ordem reinante e reinventar um modo de ser.

Infelizmente são exceções. Nossas organizações, econômicas, públicas, ou sociais, estão cheias de gente mal-resolvida, com raiva de cliente, que vagam nestes locais qual zumbis, sem alma. Estão sempre no piloto automático e os clientes lhes são peso.

Sem um propósito pelo qual viverem, sem entender o sentido de seu trabalho, e até de correr atrás de outros sonhos, pós-jornada, como as maratonas do Ceará.

Obrigado Anderson, Ceará e Fernanda por terem me feito sentir o quanto fui especial para vocês.

Obrigado pelo toque de humanidade, carinho e afeto que deram nos relacionamentos que travaram comigo.

Vocês foram terapêuticos e tornaram meu viver mais feliz.
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 O Ceará foi o campeão da volta do lago, 55km, neste último final de semana, 17,06. Seu nome tá lá estampado no Correio Braziliense de hoje, caderno esportes Nosso orgulho, lição de vida.

Todos estamos presos.



Um belo dia pela manhã, ao alimentar os pássaros, percebi que João Gabriel deixara a porta da gaiola erguida e libertara o casal de Agapornis. Ele adorava brincar com aquela porta e, numa dessas brincadeiras, a portinhola travou e ficou erguida. Estes pássaros são da família dos periquitos, araras e papagaios. Não fiquei nem um pouco triste, no interior, vibrei com o acontecido. Dias depois, notei que eles fizeram sua morada no pé de cajá-manga e que olhavam para a área onde estava a gaiola.

Não sei se olhavam por medo ou por fome, arrisquei a segunda opção, e botei comida ali perto. Fiquei observando de longe e eles vieram, numa serelepe algazarra, ali se alimentarem.

Estimulado com a alegria da liberdade, resolvi também abrir a gaiola dos periquitos, decretando a abolição dos pássaros na casa dos Tapiocas. Mas estes não foram embora.

Passei a observá-los diariamente, bem como ao casal de agarpornis do pé de cajá-manga.

Todos os dias acompanhava a saga daquele casal que reaprendia a ser livre, o que não era fácil. Aliás, não é fácil pra ninguém que mora em gaiolas – sejam físicas, sejam emocionais.

A verdade é que quem aprende a viver em gaiolas, tem dificuldades em sair delas.

Mas o azul e a imensidão do céu, o farfalhar das folhagens e o vento suave do outono foram um convite para liberdade. E ali estava o casal de agapornis a sobrevoar o pomar e a visitar todas as árvores. Uma festa só.

Contudo, a reação dos periquitos foi diferente. A gaiola ficou aberta por uma semana e nada deles saírem. Acostumaram-se de tal modo à prisão que a liberdade chegou tarde demais, não fazia mais sentido.

Solidário a sua sina, botei pra tocar para eles uma bela canção de Renato Teixeira, Olhos Profundos, que numa de suas estrofes retratava bem o assombro e medo que aqueles periquitos viviam:

“O velho barco toda vez que vê o mar

Fica confuso, com vontade de zarpar

E ver o mar às vezes bem que é preciso

Pra ter certeza de ainda estar-se vivo

Mesmo que o casco esteja velho e corroído.”

Passei então a ser observador de comportamentos de periquitos e agapornis, sempre torcendo, ao chegar do trabalho, que os periquitos ali não estivessem mais.

Notei que um dos agapornis desaparecera. Passei a sofrer com o que ficara só.

Era perceptível a dor que vivenciara, estes pássaros tem por principal característica o apego ao seu parceiro. Não sabia o que houvera.

Na região tem gaviões e corujas que podiam ter comido aquele pequeno pássaro, ainda tão frágil nos conhecimentos das forças da natureza, na qual passara a habitar.

Todos os dias chegava do trabalho e a rotina era olhar para o pé de cajá-manga, ver um dos agapornis ali empoleirado, e dirigir-me para o quintal da casa para ver se os periquitos voaram.

Neste final de semana algo de inusitado aconteceu. Acho que o agapornis ficou tão triste, mas tão triste com a solidão, que entrou na gaiola dos periquitos para puxar conversa.

De longe via a cena e não acreditava. A foto que ilustra esta crônica registra este momento.

À tardinha ele voltava para sua árvore. Fez isto no sábado e hoje. E os periquitos não o acompanharam, preferiram ficar, na segurança daqueles aramados.

Estes pássaros muito me falaram.

Lembrei o quanto temos dificuldade em romper nossas estruturas internas e padrões de comportamento e mudar.

Acostumamos a morar em gaiolas. Gaiolas que nos sufocam nos limitam, nos oprimem... porém nos alimentam e nos protegem das incertezas do ambiente.

Gaiolas afetivas, laborais, emocionais, sociais, materiais, ou seja, de todas os matizes.

Acho que todos as temos. Em maior ou menor grau. Todos de certa forma somos presos.

Ficar preso a algo que nos dá prazer é uma escolha válida, acho que é esta a escolha dos periquitos. Eles têm opção de voarem, mas fizeram a escolha de ficar, enquanto causar prazer. Se eu encher muito a paciência deles, ou for relapso no seu cuidado, partirão.

Admira-me a força do agapornis que mesmo de luto e entristecido, ainda opta por voltar para a imensidão do céu azul, após uma aprazível e solidária conversa com os periquitos, a ter que morar em gaiolas novamente.

Ele nos ensina muito ao agir como velho barco da canção, que vez em quando precisa ver o mar para sentir-se vivo: “O velho barco toda vez que vê o mar fica confuso, com vontade de zarpar. E ver o mar às vezes bem que é preciso, pra ter certeza de ainda estar-se vivo. Mesmo que o casco esteja velho e corroído.”

Torço para que ele reencontre seu parceiro, ou parceira, contudo sei que ele sobreviverá sozinho.

Torço para que eu nunca me acomode às gaiolas de meu viver, em troca de uma pretensa segurança e migalhas afetivas ou materiais. Quero ver o mar, vez por outra, e sempre poder fazer a opção certa, saber a hora de partir, de deixar para trás hábitos arraigados, de recomeçar a morar existencialmente no cajá-manga. De tocar novos projetos e de ousar tocar no infinito. Ao casal de periquitos, torço para que amanhã eles não estejam mais na gaiola e sim na copa do pé de manga. Aos casais de periquitos-humanos torço para que se libertem o quanto antes desta relação a dois doentia, que sufoca a ambos. Ou desta relação pareada, com qualquer prisão doentia seja no trabalho, vida social, amorosa, familiar. Relações de amor e ódio, no qual um alimenta-se da dor do outro. Estes, quando perceberem o quanto esta relação do tipo vampiro-emocional suga o melhor deles, poderá ser tarde demais. Eu e você que lemos este texto, convido a ser agapornis. Vamos em busca de nossos sonhos, mesmo que aves de rapinas possam nos amedrontar e nos fazer sofrer. Vamos viver no nosso cajá-manga, e vez por outra nos permitir entrar em gaiolas. Mesmo que no cajá-manga tenham aves de rapina, ainda assim, será preferível o embate com elas do que viver, no piloto automático, uma medíocre existência para o sempre.

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