Tão longe, tão perto.

Tem chovido muito aqui em casa. Aliás, Brasília tem dois climas: seca total e chuva total.
Sempre que a chuva é grande vejo água acumulando-se na calcadinha que margeia a entrada da cozinha. Fico chateado. Já lutei contra esta água, escavando um túnel, mas ela teima em voltar. Falta caimento, serviço mal feito.
E ela vai entrando pelo solo, temo pelas fundações que sustentam a casa.
Hoje, eu e meu pai discutíamos um novo canal, mais sofisticado e caro, de uns 10 metros até a rua. Coisa para profissional fazer.
Aí saímos de perto de onde juntava água e fomos olhar a estrutura de outra prumada. Até que olhamos para a escada que dá acesso à área de lazer, que fica em nível abaixo da garagem, e é acessada pela área externa.
E se botássemos um cano naquela parede, de modo que quando a água começasse a encharcar a área da garagem ela escoasse por ali, indo para o nível mais baixo da casa.

Um furo no muro da escada externa, e um pequeno buraco, coberto com pedrinhas na área que ela descia para as fundações da casa e estaria resolvido o problema.
Nossos olhos faiscaram com tamanha simplicidade da proposta.
Em todos estes anos esteve ali, ao meu lado, e não vi.
Meu modelo mental só funcionava para conceber a construção de um meio fio de uns 10 metros até a calçada da rua. Tão simples, um furo na escada, um quilo de pedrinhas para fazer um ralo seco, e a água desceria pela escada externa, onde já desce um monte de água e lá embaixo é canalizada para o esgoto fluvial.
Ficamos até envergonhado de nunca termos visto a solução que estava à sempre ali, à nossa frente. Tive que ir tirar uma foto para vocês para vocês verem. A água acumulava-se abaixo da janela da área de serviço, ao lado da garagem. E ia descendo pela terra, atingindo as fundações da casa. Nunca nós tínhamos considerado o muro esterno da escada como uma solução. Era só abrir um buraco nele, botar um pedaço de cano e lá em cima fazer um ralo seco, por onde a água desceria e sairia por ele. Simples assim.

Quantas coisas são como esse problema em nossa vida.

Coisas para as quais precisamos vê-las de outro ângulo, para encontrar outras soluções. Às vezes ali do lado, e desprezadas.

Se não mudar o visto, como alterar o hábito?

Meu hábito em conceber uma única solução algum.

A força dos hábitos molda nossas respostas, pavimenta o terreno de nossa existência.

Aí mora o perigo.

Tem gente que olha a vida pelas lentes do hábito de se considerar sempre certo. Nunca considera de outra prumada a opinião de seu próximo, desapegando-se da sua visão de mundo extremamente arraigada.

Tem gente que olha a vida pelas lentes do hábito da crítica. Tudo é motivo para sua insatisfação, e crítica voraz. Nunca fica satisfeito com nada, e nada o sacia, no reino do regular pra bom. A vida deve-lhe sempre.

Como querer mudanças quando fazemos as coisas exatamente da mesma forma?

Tal qual eu analisava a enchente, e sua única possível solução.

Tão perto, tão longe.

Tao longe, tão perto.

Seu amor pode estar ali ao lado, desprezado e não mais visto.

Sua paz pode está ali ao lado, desprezada por um estilo de vida agressivo e pouco cooperativo.

Sua saúde emocional pode estar ali ao lado, desprezada por um monte de falsas seguranças que compra, pelo preço de migalhas de afeto.

Analisar a vida de outra perspectiva nos amplia a visão de nós mesmos, dos outros e da realidade. Mas pede ação.

Não pede profusão de palavras em preces, ou piedosas intenções.

Pede o sair de seu lugar comum, aquele do conforto das suas prisões emocionais, com direito a banho, roupa lavada e comida quentinha.

Tal qual unidades prisionais.

Mudar pede práticas. Se eu continuasse no mesmo lugar, nunca teria acessado outras possibilidades.

Escuto uma voz dizendo, "é, mas você não passou pelo que passei."

Nada amigo(a), também tive minhas dores, carrego encrustado em minha pele cicatrizes das batalhas que travei, muitas delas perdendo.

Só aprendi a drenar meu líquido podre quando senti que se não fizesse algo, como poderia renovar-me a cada amanhecer?

Aquilo estava apodrecendo minhas fundações existenciais.

Pela vida vamos tendo enchentes que minam nossas fundações. Precisamos drená-las. Identificar o problema e o equacionar com outros saberes, para além da força dos hábitos com os quais lhes estamos encarando.

Todos temos nossos copos de cristais quebrados no interior.

Coisas que ainda machucam quando as reviramos, cortam e vez por outra ainda fazem sangrar o mais cicatrizado dos ferimentos.

Meu segredo é depositar estes fragmentos de vida perdida numa cuba cheia de óleo.

Quando os cacos de vidros de meu existir ali mergulham, tornam-se translúcidos. Não os consigo mais ver. Pode experimentar em casa. Deposite um litro de óleo numa cuba de vidro. E insira em seu interior um copo quebrado. Verás que pela refração ótica não verás o copo. O óleo de minha cuba chama-se esperança.
Você pode dizer e com os copos bons acontece o mesmo, sim. Mas os copos bons não coloco dentro da cuba.

Eu os uso para abençoar as pessoas de minha vida com doses de gratidão, ajuda fraterna, amor e perdão.

Numa solução eu dreno e destilo minha dor, qual o ralo seco que farei amanhã.

Noutra, eu protejo os meus ferimentos até que a carne nova vá irrompendo tecido acima e os fechem.

Cubro minhas feridas, meus cacos de vidro, com o óleo da esperança - aquele que diz: isso também passa, e, amanhã será melhor.

Corramos, amigos e amigas, vamos mudar as perspectivas de como enfrentamos alguns de nossos problemas. Quem sabe a solução não estará ao lado.

Para os de difícil mudança, coloque-os mergulhados no óleo da esperança, enquanto o tempo faz seu trabalho.

Acredite, passará!

Passo a passo em direção à vida! (Quase Ficção)

                                                                                                     
    Para Jucá e Carminda

Passo a passo em direção à vida!   By Ricardim 

                   (Para enamoramentos)

O sol batia a casa das 8 da manhã. Um azul anil, com cheiro de praia vadia, inebriava o ar.
Quase nenhum vento, ou ondas, fazia daquele mar um espelho, um espelho de nós mesmos.
Dava para ver, refletido em sua tela, os pescadores que se deslocavam em pé, sobre precárias "embarcações-taxi", para alcançarem à seco, seus não menos precários barcos-pesqueiros.
Os inovadores "taxistas" criaram pequenas chatas que se deslocavam mansamente, ao serem empurradas por uma enorme vara de madeira. Assim, a singela balsa-taxi ia avançando lentamente, quase sem balançar, conduzindo seus passageiros à salvo.
Gosto de observar. Aprendi desde criança, quando ganhei de um primo uma coleção Jovem Cientista. Ali, aprendi que sem observação não se faz ciência. Depois, enveredei pelo hobby de fotografia e, mais depois ainda, pela psicologia. Assim, observar tornou-me tão natural como respirar.
Na beira-mar, crianças brincavam com um colchão inflável, fazendo-o de boia. Que boia bacana!
Ao lado de nós, há uns 100 metros, um mestre de capoeira ensinava seus gingados a jovens aprendizes.
Era de emocionar sua dedicação, ao fazer da praia sua sala de aula. Quantas crianças estariam sendo tiradas do risco social, com a inclusão pelo esporte, naquele treino. A Capoeira ensina o respeito ao semelhante quando todos na roda cantam que ninguém é maior que ninguém, e que se deve esperar o momento certo para adentrar ao seu meio, e passar a compor um balé com o outro, sem agredi-lo, desviando-se para não se ferir e cuidando nos gestos para não machucar o outro. Quanta sabedoria. 
Mais à frente de nossa barraca de praia, um casal 70genário toma sol, acomodados em poltronas plásticas duplas. Cabelinhos brancos, de um deles, e pose formosa de ambos. Era encantador.
Lentamente, ele a levanta e vão seguido em direção ao mar.
Passo a passo. Ambos com dificuldades de locomoção. Andam um pouquinho, param. Sorriem um para o outro. Não sabiam que eu os observava.
No mar, deitam-se na beirinha e ficam como crianças, empapando-se na lama de beira mar, ali no rasinho, local das criança. 
Eles estavam qual elas, brincando de felicidade. Alegres e risonhos, aquilo para eles deveria ser muito especial.
Os observo voltando. A mesma dificuldade.
Passos firmes, resolutos e decididos, mas lentos.
Um apoiando o outro. Ela, com pernas que brigavam com o peso e coxas roliças. Ele, quase se encurvando para protegê-la e a si mesmo.
Voltei minha máquina para captar os meninos no colchão de praia, e vejo umas mãos acenando.
É o senhor gritando: "aqui, aqui...".
Olho pra eles, envergonhado. 
Ele diz, "tá bom, tá bom?" 
E, sorrindo me diz: "Tá bom de sair da sua frente da fotografia".  rsrs  Rimos todos.
Pego minha cadeira e convido a esposa para dividirmos uma sombrinha de praia, com aquele casal afetuoso.
Aproximamo-nos e fizemos nossos cumprimentos.

Agradeci ao contato visual, o da foto. Sem ele não teria tido coragem de me aproximar. 
Aquele humor genuíno criou pontes entre as pessoas,  conexões de sentido.

Aprendi mais essa, alguém tem que tomar a decisão de aproximar.  
Logo estabelecemos um papo gostoso e nos conhecemos melhor.
Ele, diz-me diz que a cada aniversario da esposa a brinda com uma ida à praia. E que dia 22 ela completará mais um ano. É uma celebração que já faz parte da história do casal.
E, que sempre que conseguem chegar até o mar é como se não tivessem mais problemas em suas vidas.  Sentem-se vitoriosos e vivos ainda. Alcançar a praia é um desafio digno de por ele viver, e a cada ano repetem a cena.
Ela, diz-me que teria tudo para ficar numa cadeira de rodas, ou rede, ou até mesmo numa espreguiçadeira. Mas, locomover-se até o mar, dar-lhe a sensação de que ainda pode superar seus próprios limites físicos. E nada como ouvir o som do mar, e sentir suas ondas lavarem seus corpos e almas, preparando-lhes e rejuvenescendo lhes para novos amanhãs.
Fico bastante emocionado.
Que pessoas lindas. Ele, diz-me que chegar até o mar é vencer sua labirintite. E que até teve uma crise recente, com ida ao hospital.
Ele tem 76 anos, ela 74. Estão casados há 53 anos.
São de Cuiabá e vem à João Pessoa, "namorar", uma vez por ano, e já há muito tempo.
E, sempre vão tomar banho de mar. Embora estejam na suíte do Hotel Tambaú, um dos mais requintados da região, com um parque aquático digno de capa de revista, e que compete com o mar em atrações e conforto.
Para eles, nada como aquele contato com a mãe natureza, mesmo que de difícil acesso, para renovarem as esperanças na força de viver.
Passo a passo, em direção à superação de si mesmos e de todas as limitações, seguem confiantes para a beira mar, e dali voltam para suas cadeiras de praia.
Não ouvi uma palavra de mágoa, de culpa, de inveja, de doença, de vitimização, de dialetos oriundos do "gostoso falar do sofrer nosso de cada dia". Aquele que falamos para atrair pena dos outros para conosco mesmos.
No lugar disso, eles alternavam-se contando aventuras vividas. Falavam das boas memórias do passado como se fosse ontem. Aos poucos, eu ia me tornando o mais Cuiabano dos mortais.
De minha parte falava das idas ao MT e MS e do que lá tinha vivido de bom. Eles faziam muitas perguntas, estavam atentos e interessados, aliás nunca tive tanto prazer em falar dos meus recentes estudos de psicologia positiva como àquele casal.
À minha frente estava um daqueles casais dignos de um enredo de cinema, ou um livro de sobre a vida que vale a pena.
Sr. Pedro Jucá e Dona Carminda nos deram uma grande lição do que é o bom viver. De como é significativo aprimorar nossa percepção sobre a vida focando nossa jornada em tudo que é virtuoso, bom e belo.
Precioso demais aquele casal.
De cuidado e atenção um para com o outro.
De pequenos sonhos para o amanhã.
De uma relação com as perdas e frustrações, e até com as expectativas não realizadas, sem carregar nas tintas. Sem terem se tornado prisioneiros de suas desgraças, mas que delas fizeram graça.
Via os olhos brilhantes de Dona Carminda, escutando atentamente seu marido contar-me, talvez pela milésima vez, a sua saga com o Governador.
De quando o recebeu na redação do seu jornal, nos idos do Governo Militar, sendo intimidado; mas sem perder a pose e coragem. 
Sr. Jucá era jornalista e foi testemunha privilegiada da evolução político-social do Estado do Mato Grosso, e até de sua divisão.
Já conversávamos por umas duas horas, e parecia que o tempo parara.
Ela, o ouvia atenta e feliz, como se fosse a primeira vez.
E ele fazia gosto quando a escutava. Seu olhar para ela, contemplando-a quando nos falava, era um olhar de mar aberto. Acolhia cada sílaba, cada expressão.
Ela falava do quanto não se deixa desanimar, e não se deixa sentir-se doente, apesar de...
O sol foi ficando quente e fomos nos banhar.
Ela, de braço com minha esposa. Eu, vigiando Sr. Jucá. Ele, cheio de humor que me diz:: “de braços dados não...o que vão dizer?.” E sorri.
Na beira bar, ficamos proseando sobre a beleza da vida, mesmo que vez por outra ela apronte das suas.
De pessoas, como o Ivanildo (entregador de cadeira de praia) que faz do ofício um sentido maior, conhecendo e conversando com cada hóspede como se da família fosse.
Percebi que o sol levantara muito. Meu check-in seria às 14hrs. Acenei para o vendedor de cerveja, que ao me servir disse-me que têm dez anos que atende no local. O nomeei  meu cronometrista. Eu tinha mais 60 minutos. 
Passados aquele tempo, percebo acenando da praia o ambulante de cerveja. Mais pontual que a Guarda Inglesa. Assumindo uma responsabilidade que muitas das vezes nem os profissionais de grandes hotéis têm.
Coração apertado nos despedimos.
Senti a hora da partida, como quem deixa a presença de anjos de Deus.
Não queria ter saído dali. Existem pessoas-anjos por aí.
Hoje sou um garimpador delas.
Suas joias emocionais estão em todo lugar, mas para vê-las e recolhê-las precisa de tempo, entrega e um estilo de vida que não tema se aproximar dos outros.
Nossa geração face-azul-de-celular desaprende a cada dia a olhar para os lados e contemplar o que ali existe.
Seu foco é na telinha, no momento que lhe é dado. Não cria seus próprios momentos e infinitos particulares.
Aprendi a criar os meus. Aprendi a olhar de lado e ver vida em toda a parte.
Em aulas de capoeira, em crianças pobres divertindo-se numa "boia" de colchão inflável, em taxistas-balsas de mar... Num casal de idosos que se ajuda no trajeto ao mar. 
Em cada cena, tanta coisa boa emanando. 
Pequenos prazeres, os subversivos do cotidiano, ali fervilhavam.
É disto de que o sentido da vida se alimenta: humor, perdão recíproco, acolhimento, cuidado, atenção,  respeito, superação, paz e gratidão foi o que levei daquele casal, e compartilho com vocês.

Como diz um amigo meu, tornei-me um antropólogo de pessoas especiais. Saio à cata delas. E, sempre fico mais rico ao seu encontro. Assim aconteceu na noite anterior, a do casório, quando dividi a mesa com um casal quase octogenários, os Motta.
Mas, isso é outra crônica.  Voltando à praia percebo que 
Jucá e Carminda vivenciam práticas exitosas a uma vida com sentido. Eles descobriram muito mais do que os badalados 50 tons de cinza, os 50 tons de amor:  Abaixo resumo algum deles.

1. Viver Experiências - Eles poderiam ter ficado reféns dos seus destinos e saúde, em cadeiras de balanço monótonas. Esperando da vida uma resposta. Contudo não. Esforçam-se para continuarem ativos. E estimulam suas vidas pessoais, enchendo-as com experiências. Muitas das pesquisas sobre felicidade apontam que muito mais do que dinheiro, saúde, ou os status do poder, físico e/ou posição social, o que fica mesmo em termos de significado são as experiências que vamos nos permitindo viver.
Anualmente, eles se permitem viver uma experiência diferente, e ao assim fazê-lo, renovam-se mutuamente. Permita-se marcar sua vida a dois com experiências. Não precisam ser caras, luxuosas, do tipo Cruzeiro de luxo. Uma farofada de beira mar pode ser uma agradável experiência a dois. Uma fruta colhida das árvores, um banho de chuva, uma ida à feira livre. E, a mais importante, as oriundas das pessoas que vamos conhecendo ao longo do caminho. Elas, as pessoas, são a própria experiência.

2. Nutrir Amizades
Jucá e Carminda são amigos. Talvez a amizade seja o segredo desse casal que já passou das bodas de ouro. Uma amizade expressa em conversações infinitas entre eles. Quem têm amigos tem diálogo. Era perceptível que eles gostavam da presença um do outro. Não havia telinhas azuis de celulares, aparelhos de som, revistas ou outros distraidores entre eles. 
Um olhava para o outro, com um olhar doce, acolhedor, olhar de amigos que se respeitam e entre si nutrem pactos de cumplicidade. 
Eram muito mais que caras metades, eram caras inteiras que se complementam. Falavam de passeios, de sons, de suas histórias com vivacidade, como se nelas descrevessem belos filmes. Seja amigo de quem tu ama.   
Seja inteiro frente a ele(a). 

3. Cuidar do Outro
Sem pudor, ou falsos constrangimentos, um ajudava o outro. Um apoiava o outro. Ela, tomando sol, preocupava-se com a sombra dele. Ele, tomando sombra, preocupava-se com o sol dela. Formavam uma unidade cuidadora e terapêutica.  Observá-los dirigindo-se ao mar era um convite à oração. 
Era presença de Deus. 
Acho que uma vida a dois pede esse tipo de cuidado. Pede sim. Pede preocupação para ver se o outro está coberto, numa noite fria. Pede telefonemas despretensiosos ao longo do dia, para ver se o outro está bem. Pede dica de trânsitos, de quem partiu na frente. Pede atenção, sem asfixiar o outro com superproteção. Pede alternância de cuidados, senão a balança fica desequilibrada. Ou seja, pede reciprocidade. 
Se tu a ama, cuida dela amigo! Cuide, mesmo que possa se sentir até descuidado. Cuide, não para receber algo em troca, mas por não saber agir diferente.

4. Cultivar Emoções Positivas
Em nossos pensamentos mora o divino e o mundano. O caos e a ordem. O mal e o bem. Saber onde conectar nossos pensamentos é arte e mistério, sinal de sabedoria em que assim faz. Pense o bom, belo e virtuoso, como aquele casal, que em três horas de gostosa prosa não ouvimos sair de suas bocas uma palavra sequer de queixa, ofensas, ranzice, mal-humor, pessimismo, falta de esperança.  Tudo que ouvíamos era doçura, bondade e gratidão, para com tudo.  Tem relações que vão ficando doente pelo excesso de negatividade, um vai secando a si mesmo e ao outro. Nada presta, tudo é olhado pela crítica, nada está bom o suficiente que não possa melhorar, tudo está em dívida para com eles.  Ninguém presta o suficiente, ou é bom, idem. Relações do tipo barril de pólvora, que o maior prazer de ambos é falarem mal de todos. Nutra o bom em seus pensamentos. Não dê abrigo a pensamentos ruins, de todos os seus tipos e estilos, por mais lógicos que pareçam. Escute-me quando falo, temos DNAs emocionais que curam e libertam, assim como os que prendem e adoecem. Opte pelo primeiro grupo. 

5. Saber recontar as histórias - Aquele casal revisitava as cenas de suas vidas, até as mais difíceis, trazendo delas aprendizados. Nunca ingratidões ou maldições. Tudo era visto pela prumada da bênção, da tolerância e aceitação de si mesmos, dos outros e das circunstâncias. Eles recontavam suas histórias de vida com 50 tons de rosas. Aprenderam a perceber as bênçãos e a publicá-las em seu viver. Conte suas bênçãos, e todos os dias. Olhe para o lado bom da vida que lhe acontece, para as possibilidades, para os pequenos prazeres e vitórias que tornam a vida uma experiência singular. Perdoe-se dos erros do passado. Das decisões que adiou, ou não tomou, ou se estrepou.  Zere saldos de culpa. Não fique refém de sua história de vida. Liberte-se dela. Conte suas histórias reescrevendo as cenas, com um olhar bondoso sobre si mesmo, o outro e a vida. Assim, vivam suas histórias de vida com menos tintas trágicas, e mais cômicas. Com menos intensidade toxica, e mais intensidade amorosa. 

Por fim, esteja atento. Ele percebeu-me fotografando as crianças. Esteja atento e 100% presente no viver. É tudo uma questão de escolhas. Acredite. Escolha desenvolver a visão periférica, holista e ampliada da vida e do viver.  

Jucá e Carminda, eu precisava escrever estes fragmentos de nosso contato, pois estavam explodindo de luzes cintilantes em meu interior. Não seria justo eu ficar só com elas. Tinha que compartilhá-las!

Obrigado por existirem.

Cartas ao JG - Não mate a criança em você.




Como uma bala tu passa correndo, semi-nu, fingindo que atira com o controle remoto: "pá, pá, pei, pum..."
Esconde-se atrás da cadeira, para assustar tua mãe, que sobe arrastando-se pelas escadas, trazendo as tranqueiras da cozinha, entre elas tua mamadeira
Contemplo-o, preparando o bote, e conto-lhe as costelas e assusto-me com a altura, agora tu quase fica na altura da televisão.
Meu filho tá crescendo muito rápido, penso.
Agora curto com sabor da despedida de pequenos rituais que fazemos. Passarão, e em breve. O tempo anda mais rápido após os 50..

Lembro daquela porta se abrindo, madrugada adentro, e tu vindo aninhar-se em nosso quarto. Chego a esperar aquela entrada abrupta, pelas 3 da manhã.
Como quarto filho que tive, aprendi a proibir e limitar, somente o que proibido e limitado já está pela ética.
Aprendi, finalmente, a deixar-lhe livre. Cultivando valores do céu aberto, melhores do que os das gaiolas.
Parei de querer dá satisfação a todo mundo, em tua educação, ou a ficar ansioso esperando um próximo número da Pais e Filhos para ver se eu tava fazendo direitinho.
Não me encuco mais com recomendações de piedosos pediatras, comadres, curiosos, palpiteiros, familiares e colunistas da mídia de educação infantil.
Sigo o caminho do natural, do amor. E, sei que as coisas vão se ajustando na carroça.
Então, tu ainda toma uma mamadeirinha antes de dormir, e não vejo problema.
Adoro vê-lo buscando o sono, ao degustá-la.
Não tenho o menor receio, ou pressa em tirar as coisas de que tu gostas.
Elas cairão naturalmente, como os teus dentes, sempre que vamos fazer poses para fotos.
Ou, as tirarei, quando achar que já deram e está na hora, como fiz com tua chupeta aos dois anos.
Um de nossos pequenos rituais é o teu jantar. Preparar teu prato, cortar bem miudinho a carne, e te dar na boca, colherada por colherada, me acalma.
Tu mãe já te ameaçou. "Aos seis vai ter que jantar sozinho, afinal já almoça no colégio.".
Tu sorri, sei que sabes comer sozinho, só quer receber aquele trato de carinho - de comidinha na boca.
Fico aliviado, cada colherada que desce boca abaixo, pois sei que és difícil pra comer.
Aliás, aprendi a dar teu jantar vendo o amor de tua mãe, que entre o desespero de sua inapetência, e a esperança de um dia você virar um esfomeado à sua frente, investe na segunda. Nunca a vi cansada em lutar contra tua falta de fome, colher à colher. Quase como quem toma remédio.
Tu sempre teve dificuldade em alimentar-se. Se depender de você, vai virar vento.
Uma luta desde pequeno, ao nascer com menos de 1,5kg e só ter alta da UTI Neo-Natal com 2 kgs, após longos 35 dias aguerrida coragem de querer viver, afinal tu nasceu bem antes do prazo.
Outro pequeno ritual, é quando você me chama pra limpar seu bumbum. Sempre digo: Eca JG, e você sorri.
Sem falar que muitas vezes me entrega pra sua mãe dizendo que fiz às pressas e só passei uma vez.
Outro ritual e tentar que converse comigo. Tu é do tipo que ri a tôa, mas só conversa quando tento puxar assunto.
Aí, tu fica com as mãos apoiadas no queixo, esparramado no sofá, vendo TV e me respondendo laconicamente sobre teu dia, na maioria das vezes, dizendo que não se lembra de nada.
E, eu fico forçando. Forçando você a me dizer as coisas bacanas do seu dia.
"JG, o que foi bom no teu dia?"
Treino você a prestar atenção ao belo, bom e virtuoso que lhe ocorre.
Engraçado como você me mostra coisas assim durante nosso trajeto.
Outro dia você me chamou para fotografar um arco-íris.
"Que bonito papai, dá uma foto".
Quando largará a mamadeira da noite? E deixará de dormir conosco? E de comer "ajudado"?
Daqui a pouco. Nem estou aí para isso, como não fiquei de você até os 3 anos usar fraldas e não saber ir sozinho no banheiro.
Agora aprendeu. Crianças têm curvas de aprendizagens diferenciadas, e a pior coisa é compará-las.
Por exemplo, você não gosta de doces e refrigerante. Mas gosta de beterraba, tomate, cenoura e pepino.
Mas se gostasse, só cuidaria da quantidade. Deixei de ser pai fresco.
Não quero matar, antes do tempo, a criança que habita em ti. Deixarei ela crescer forte e ficar contigo até o dia que por si só calará a voz.
Frutos das mutias formas da vida que te enformarão, informarão, formarão.
Verás um dia que a melhor coisa para aguentar os trancos da vida e ir aninhar-se no peito de uma criança, chamada JG, que ainda mora nos recônditos de teu coração.
Busque-a e ela se fará presente. Eu ainda guardo a minha, aliás ela vem ficando mais faceira e vívida. Até no trabalho tem se manifestado, quando solto gostosas gargalhadas de peraltices ou coisas que acontecem.
Digitando, você chega e se aninha, sobe em cima de minhas costas, como gosta de fazer isso!
Finge que vai pular por sobre minha cabeça e notebook.
Eu fico sorrindo em alma.
Aí vai buscar teus bonecos de pano, que também vivem despedidas: o cachorrinho Toby; e o menininho chamado de Amiguinho.
Coloca eles na minha barriga e diz que eles ficarão comigo essa noite.
Sinto a preciosidade de tua oferta. Quase um desprendimento e fiquei honrado de você dividi-los comigo. Emociono-me com a gentileza.
Agora, com teus bonecos de pano em minha barriga, escuto você tomar banho e conversar com tua mãe. A conversa gira em torno da prova que fez hoje.
Você está feliz.
Preciso chegar mais ao teu coração e ouvi-lo falante, como tua mãe consegue.
Mas, mães são mães. Elas têm a chave dos nossos corações.
Estou buscando meu espaço, sem te sufocar ou encher de paparicos que só te farão mal.
Como é doce ouvi-lo contar tuas aventuras. Você é um menino maluquinho, sempre arteiro procurando algo pra fazer.
Ontem ficou sem TV, pois resolver decorar teu escritório com lápis hidrocor, tua mãe ficou uma fera.
Um outro pequeno ritual são os pastéis que compro para quando te pego na escola.
Você já chega perguntando: tem pastel?
Ou diz: "Me dá o celular para eu brincar".
Ao que lhe respondo que está sem bateria. E você emenda um: "de novo".
Volto aos pasteis e te entrego, inventando um monte de países para dizer a procedência deles.
E, você embarca na brincadeira.
"Este pastel da China está melhor do que o dos Estados Unidos da América, de ontem".
É um de meus jeitos de brincar contigo. Acho que brinco pouco.
E, sempre que almoço procuro guardar dois pasteis. Geralmente tem em self-services.
Um dia tudo isso cessará. Viverei contigo outras emoções.
Mas, essas das primeiras conquistas coisas tão simples como se limpar sozinho com lenço umedecido vão passar.
Como quem lendo meus pensamentos tu chega do banho todo cheiroso e pijamado. Agora terá mais 10 minutos, antes que tua mãe irrompa do quarto e soe a sineta para ir dormir.o chamado ao sono cotidiano.
E, você mais uma vez protestará.
Curtindo os 10 minutos finais, você pega seu amiguinho de pano e o fita. Olho pelo rabo dos olhos, e vejo você como quem despedindo-se dele também.
Tentando reconhecer nele os três anos nos quais ficaram tão amigos. Ele, você e o Toby, e o caozinho de pelúcia.
Onde andarão meus amiguinhos e os Tobys que me estruturaram como pessoa, desde minha infância?
Onde andará meu baú de recordações com cheiros, gostos, cores das coisas que vivi tempos atrás.
Fui perdendo. Cartas, momentos ímpares que vivi, bilhetes, pequenas lembranças e apegos que muito me falaram um dia.
Vou guardar teus bonecos de pano, tenha certeza.
Aliás, guardo tua primeira mamadeira de 5 cc, e um monte de peques coisas que quando as vejo te sinto com cheiro de bebê.
Chove mansamente. Estrelas valentes lutam contra nuvens perdidas das correntes de ventos.
Sinto a paz vindo de teu quarto.
Elevo meu coração ao apartamento de meus três outros filhos. Todos casados e morando em Brasília.
Será que dormem bem?
O que aconteceu com eles hoje de bom, belo e virtuoso?
Como estão se virando para crescerem no mercado de trabalho?
Terão chegado bem em casa, após a tempestade que caiu?
Ainda estão mantendo a chama do amor acesa?
Calo meu coração com tantas perguntas. Sinto a presença deles e sei que estão bem, se não estivessem procurariam o pai, como tantas vezes fazem e juntos atravessamos os vales de lágrimas.
Você me tira dos devaneios, solta um pum e corre. Sorrindo diz:: "Mas papai!!!"
Eu, fico dando replay na cena, várias vezes, como que a guardá-la nas retinas do coração. Deliciando-me contigo
Sei que perdi muitas coisas, passado atrás. Instantes mágicos, cenas estonteantes com meus filhos Tiago (29), Priscila (27) e Rodrigo (25) .
Não posso voltar o tempo, mas posso destilar a culpa refazendo minhas trajetórias e revisitando meu papel de pai agora com eles adultos e pouco dependentes.
Sem frescuras, ou cobranças bobas.
Apenas curtindo vê-los ainda em crescimento, não mais competindo em altura com a TV, e sim lutando a cada dia para conquistar seus espaços na vida a dois.
Cada um em um CEP para chamar de seu. Vivendo outros medos, desejos, sofreres e alegrias. Mas, sem perderem-se de seus pais.
Tudo passará: brinquedos de pano, peraltices de infância, pequenos rituais.
Só o que ficará é o amor doado gratuitamente, sem esperar receber nada em troca. Doado como quem não saberia fazer outra coisa.
Doado por pais e mães que descobriram na vocação de servir aos filhos, de amá-lo, um de seus sentidos da vida.
JG, quero que leia essa carta ao gerar uma criança. Aprende com teu pai a educar para a liberdade, autonomia e treine o meu neto para perceber e estar atento as coisas boas de sua vida.
Não deixe ele ficar procurando razões para ser infeliz. Se procurar acha,.
Talvez eu não veja esse dia portanto, digo-lhe para deixar teu filho livre, na melhor prisão e limite que existe, a do amor.

Em tempo: também te deixo brincar de polícia e ladrão, pegando tudo que ver pela frente como arma de brinquedo: controle remoto, pedra, pau e cabo de vassouras. Não. Você não ficará uma criança violenta com esta fantasia. É só o brincar. E, rompi com o politicamente correto. Atiro o pau no gato. e conto estórias de bruxas más. E, amanhã vou fazer uma arma de galho de seriguela e correr atrás de tu. Ahh se vou!

Cartas ao JG - As primeiras provas



















Nessa sexta tu fará as primeiras provas da vida, no I Ano Fundamental.
Provas de Português, Matemática e Geografia.
Testemunhei teu esforço todas as noites para aprender.
Testemunhei teu desespero de não repetir uma sequencia dos BA BE BI BO BU BÃO correta.
Testemunhei a paciência de tua mãe ao repetir contigo milhares de vezes.
Testemunhei os segundos de ansiedade entre as perguntas que ela te fazia, e o delay de tua resposta.
Após os quais eu torcia para ouvi-la expressar alegria: "acertou, viva"!".
Ou solidarizava-me contigo quando errava: "Tenha paciência com você mesmo filho, ninguém aprende de primeira". 

Ontem enchi os olhos de emoção quando te ouvi perguntar a tua mãe qual nota seria boa de tirar.

Se 10, 9 ..., 6.

Ela foi muito sábia na resposta. 

"A nota que tirará não importa JG, importa o esforço que fez para alcançá-la."

Você ficou mais aliviado, e continuou naquela repetição incansável de sílabas que já aprendeu: BO-LA; GA-TO; BO-TA e como as escreve.

Hoje, 10/04/2015 você começou a ser provado, avaliado e testado. Vida afora será sempre assim.

Poderia ser diferente, mas não é. Na realidade, estamos sempre em avaliação.

No trabalho de papai são as metas, por exemplo.

Como ser avaliado faz parte do pacote do viver, será necessário você desenvolver a "casca grossa" para lidar com o estresse e até sair de situações difíceis.

Chamamos a isso de resiliência.

Resiliência é a capacidade de aguentar o tranco da vida, sem perder a mansidão e amorosidade em viver, sem perder-se de si mesmo, sem embrutecer.

Por exemplo, você pode se ferrar na prova. Contudo, mantenha a mente sã e a espinha ereta. E prepare-se melhor para outras oportunidades. Assim será com um monte de coisas em teu viver. 

No final da tarde de sexta, fui te buscar no colégio, como pais quando vão buscar filhos saindo da porta de onde fizeram concursos.

Coração na mão, ansiedade mil.

Tu chegou alegre, aparentemente aliviado.

Perguntei-lhe se a prova foi boa, tu me disse que sim.

Perguntei o que caiu.

Disse-me que não se lembrava de muita coisa, só que tinha algo com borboleta.

Uma história de uma borboleta.

Disse-me que gostou da história e que ia preenchendo os quadrinhos em branco.

Lembrei-me que era prova de português.

Que legal, na tua primeira prova que fez na vida você ter respondido a uma de suas questões com o tema da borboleta.

Para mim, elas, as borboletas, são metáforas da esperança. Da transformação de seres rastejantes em seres esvoaçantes, que se apaixonam pelo belo, mesmo vestidos com frágeis asas que mais parecem papel de seda.

Podemos ser como as borboletas em nossa jornada. Ir perdendo a pele, metamorfoseando-se, livrando-se de coisas pelo caminho, despindo-nos de nós mesmos, de coisas que não fazem mais sentido, de muita tralha que nos empanturramos, de vômitos do outros em nossa alma, limpando-nos e tirando a roupa velha, aquela que pede o novo, mas novamente velho, fortalecido por tudo aquilo que já vivemos.
.

Como observar uma borboleta, polinizando uma jovem flor, e não se emocionar?

Você, perguntou-me, será de preencher também?

Sim meu filho, mas com a vida e não com a decoreba.

Agora foi você que sorriu, afinal de vida sabe tudo! Quanto á Bor-bo-le-ta, ainda a soletra e aprende a escrevê-la.

Vai perdendo filho, tudo que dificultará teu vôo. Não temas. 

Outra pele nascerá, de  dentro pra fora.

Como aquela larva que um dia perdeu o casulo, e pernas rastejantes, transformando-se em asas de ziguezagueantes e coloridas.

Aprenda a deixar de lado o que te faz infeliz, após aprender com o ocorrido. Liberte as pessoas de teu viver. Liberte quem tu ama, e não te ama mais. Liberte-se de quem tu não ama e te ama muito mais. Mas, antes de tudo, lute por todos teus amores. Não os tornem descartáveis. Ficar junto de tudo que vale a pena e estar livre com quem ama é a maior das liberdades.

Esse é um apredizado-borboleta que queria te ensinar, não como decoreba. Como um bem que tu praticarás e que me deixará muito feliz.

Pessoas vão te machucar. Aprenda a deixá-las em paz, de lado de teu viver. Não as carregue em sua mágoa em teu coração, em teu desejo de vingança, inveja ou ira. Deixe-as partir.

Poderás ser amado, e no outro dia desamado. Aprenda a renascer a cada manhã.

Poderás sentir um aperto no coração lembrando de teus familiares, alguns que já partiram, aprenda a voar para eles com as asas dos sentimentos. Que tua saudade seja doce lembranças. 

[uma borboleta chega perto de mim no local que digito, na mesa grande da área de lazer, saúda-me e voa pra longe]

Lembra que na tua prova você preenchendo os vazios de letras no texto que tinha tema da borboleta. Assim será em teu viver.

Caberá a ti preencher os vazios. Não delegue aos outros sua felicidade.

Essa é uma palavra que você precisará preencher em teu coração: F E L I C I _ _ _ _.

As quatro letrinhas que faltam são:

D oação;  A mor; D eterminação e E sperança.

Essa é a fórmula da felicidade. 

Gratidão. Seja grato a tudo que lhe acontecer, estando atento a vida que ocorre na periferia de teus problemas e preocupações, ampliando o foco de si mesmo, dos outros e do cotidiano pelas lentes da sabedoria, mansidão e bondade. Seja bom. Agradeça, agradeça, agradeça. Deixe dos degraus intactos por onde subir. aprenda a elogiar, a reconhecer e perceber que não se basta sozinho. que sem os outros sua vida seira bem mais difícil. Faça cartas a quem ama e diga-lhes o quanto são preciosos.  

Amor. Ame sempre e de montão. Mesmo que dê com os burros n´água. Mesmo que venha a sofrer, se decepcione. Ame. Vista-se com a armadura do amor e enfrente a vida. Ame revolucionariamente, subversivamente o de sempre, o feio, o tosco, o restolho da colheita, o não visto e sentido. Amar a si mesmo, com tudo que vem no pacote. Amar ao outro, compreendendo que ele é -como tu, imperfeito. Amar a vida, a cada nascer do sol, a cada anoitecer. Nunca passar por um canteiro florido sem contemplá-lo e agradecer ao Pai sua beleza. Nunca passar por uma pessoa sem esforçar-se para deixá-la melhor.

Determinação. Na vida não tem almoço grátis. Agora mesmo, quando tirei essa foto, tu estás estudando para a prova de matemática de segunda. Comendo pipoca e estudando. É isso mesmo. Trabalhando e divertindo-se, tendo tempo para tudo, mas com garra e coragem. Não seja frouxo. Daqueles que à menor queda desistem pelo caminho. Sê determinado em tudo que fizeres. Acorde cedo pra tecer os fios de teu viver. Não se canse em perseguir teus ideais e projetos. Sem "pegar buzão pela vida afora" nunca vi alguém conquistar seu lugar ao sol. Estude,estude e estude. Trabalhe, trabalhe e trabalhe. Mas, comendo pipoca ao lado. Entende

Emoções Positivas. Pense o bom, o belo, o virtuoso. Não bote em seus pensamentos inveja, mágoa, ciúmes, ou outas coisas que não fazem germinar a vida. Nutra emoções boas: fé, alegria, paz, justiça, bondade, meiguice, solidariedade, esperança, empatia, amizade. Repreenda pensamentos ruins. Aqueles que ficam remoendo na tua mente, sobre algo que deu errado e que não gostou. Troque a frequência, troque a sintonia de seu radio interior que só tá pegando ondas ruins, ruídos e chiados. Ou mude-se deles - dos pensamentos negativos. Ou mude eles. Ou mude-se a si mesmo, diante deles, não permitindo que eles tirem teu sossego. As emoções positivas são as asas da felicidade. É o que nos torna fortes, mesmo na fraqueza. Nos torna imbatíveis, mesmo derrotados. Nos torna imortais, mesmo que nos sintamos mortos.
São as chamas que nos impulsionam ao nosso melhor, que nos fazem "resiliar' a vida, tornando-nos mais fortes a cada decepção, frustração, pressão e luto que o viver pode trazer. Então, tome prumo quando se sentir desesperançado. Seja otimista, isso que está sentindo também passará! O amanhã será melhor. Nada é tão ruim que não poderá melhorar. Não apresse a dor, ela seguirá o seu curso e se olhar pra vida com uma visão positiva ela vai passando aos poucos.

Agregado as letrinhas da felicidade existe a arte de saber perder, saber o que tá na hora de perder, saber deixa pra trás coisas que aprisionam teu vôo.

Precisa pintar a palavra felicidade. Para pintá-la bem tem que aprender a arte de perder. 
Perder vaidades, orgulhos, apegos doentios. Perder-se de pessoas más, de relações toxicas, de fixações mórbidas. Perder-se de tudo que fica procurando para se sentir infeliz. 

Tire a pele da doentia ambição, de querer tudo ao mesmo tempo e sem esforço.
De achar que merece sempre a janelinha. 
Tire a névoa da indiferença de teu olhar frente às belezuras da vida, que por se acostumar em vê-las sempre vai adoecendo o olhar, desenvolvendo cataratas na alma, ao ser para elas indiferente em teu viver. 

Naquela sexta, tua primeira sexta de avaliação, saímos à tardinha de teu colégio  fomos esperar tua mãe no IBMEC, onde daria aula de gestão de pessoas.

No meio da aula, uma aluna me pergunta como será a avaliação da disciplina, na  próxima semana.
Vi você nela. 
Lembrei-me de teu esforço, de tua paz falando de borboletas e sorri para ela.
Tua avaliação será um prazer querida. Acredite. Traga os livros, anotações, coração e mente e entregue-se à degustação dela, na próxima sexta. 

Valerá teu esforço em querer expressar nela tudo que aprendeu ao longo dessas semanas.
Não pense em nota. Sinta-se já aprovada com tudo que foi se dedicando ao longo dessas 8 semanas. 
Não reduza o aprendizado na nota. Quero que abra a avaliação e escreva com prazer tudo que aprendeu.
A vida é mais que notas. 
Você, ao meu lado sorria.Com cara de orgulho. 
Você entendeu nada, ela não sei, nosso modelo de ensino é focado em notas, infelizmente.
"Professor, e o que cairá?"
Será sobre borboletas, beija-flores e bem-te-vis anunciando que poderemos fazer uma gestão de pessoas bem mais humana, sem perder de vista a produtividade.

Falaremos de uma gestão para qual viver valerá a pena, liderada por pessoas-borboletas, bem-te-vis e beija-flores, 
Notei que ela ficou aliviada. 
Não entendeu nada, mas sorriu um sorriso de lua cheia.
E, olhando-me com delicadeza, disse-me em sentimento: obrigado professor!

Escuto você me perguntando: "Será de preencher também?"

Sim meu filho, mas com as quatro letrinhas da vida que te ensinei, pintadas com arte de saber despir-se de tudo que te diminui ao longo dela.

Um conto sem Páscoa


Aproveitando aquela manhã de sábado, fomos às compras de material de construção, contando com a inestimável ajuda de minha irmã e pai para encontrar coisas boas, sem acabarem nosso orçamento $, por isso o nome acabamento desta etapa da obra.
Para completar a felicidade, sabia mais tarde os filhos estariam lá em casa, preparando o almoço que nos receberia das compras, um delicioso ensopado de caranguejo.
O almoço foi só festa, com direito às, nem sempre saudadas fotos de família: ”lá vem papai com a máquina.”
Precisa melhorar?  Na cozinha, minha esposa preparava, de véspera, a bacalhoada da páscoa domingueira. Estava cheirosa e na prova tirou 10. Ela toda feliz, pois acertara na mão.
No domingo seria só gratiná-la.
Para finalizar a noite, pedimos umas pizzas e jantamos à moda antiga – afinal, para quem tem muitos filhos nada como uma boa rodada de pizza.
Vê-los dialogando sobre seus projetos pessoais e profissionais, seis jovens tão cheios de esperança e determinação em construírem suas histórias de vida me alegra. Fico embevecido vendo-lhes falantes, tal qual ficamos ao passear num bosque e observar aquela algazarra de pássaros livres, cantando em belas árvores. Assim sinto quando os filhos conversam entre si. Perto das 21h30min, todos voltaram para suas casas afinal, no dia seguinte, seria o grande almoço de páscoa.
No outro dia acordamos cedo, tinha culto da páscoa às 8hrs da manhã. Sou católico (viu mamãe!), mas achei na pequeníssima comunidade que minha esposa frequenta, a Metodista do Jardim Botânico, um lugar de amor e fé que me reabastece a cada domingo.
A partir do acordar, um turbilhão de emoções correu no leito negativo.
Faltou-me inteligência positiva para detê-lo, reprocessa-lo e conduzi-lo a um outro curso do rio dos pensamentos.
Deixa eu te explicar, uma grande autora da Psicologia Positiva  (Barbara  Fredrickson) , no seu livro Positividade (Ed. Sinais de Fogo – Portugal). ensina que para a positividade fluir é necessário que alteremos o curso do rio de nossos pensamentos, que se acostumaram a correr por um leito de emoções negativas, e à flor da pele, daquelas que nos invade com pensamentos ruins, rabugentos, murmurantes, vazios de sentido e limitados pelas restrições da vida.

E que é muito difícil alterar o curso dos pensamentos infelizes apreendidos nas posições de ataque, defesa e fuga: diante de nós mesmos, dos outros ou da realidade.
Exige mais que piedosas intenções: exige práticas positivas, fruto do autoconhecimento e de muita, muita força de vontade para mudar, ao que chamamos de sabedoria – ou Inteligência positiva.
Há de se cuidar com as ”negatividades gratuitas”, aquelas que vão se acumulando e alterando a percepção de tudo. Coisas bestas, pequenas, bobas, triviais que podem ser superadas facilmente.

Ou seja, alterar o curso do rio dos pensamentos que focam apenas no problema: ampliando-o, destacando-o e até valorizando-o demais, como quem recebe um troféu de sofrência.
Cultivando uma perigosa satisfação em se sentir certo – e eles errados, e em se justificar perante o ocorrido, buscando razões justificadoras do ficar nervoso, e das explosões de ânimo.

Você está entendendo?  Não?

Então, deixa eu te contar meu Domingo de Páscoa que passei banhando-me no curso, ou leito do rio dos pensamentos negativos. Veja as cenas de meu domingo:
“Acordei cedo para ir ao culto de Páscoa. Cumprimentei minha esposa costumeiramente, e esperei que ela me saudasse pela Páscoa, ela não o fez. Também não fiz.
Fiquei ansioso esperando que ela terminasse a produção, bendito cabelo. Sempre saio atrasado. Dessa vez o pastor frisara que precisaríamos chegar pontualmente às 8hrs, e sou eu quem faz as fotos.
No caminho, perguntei se ela sabia o endereço. Afinal o culto seria numa casa num Condomínio a 15 KM de distância. Ela me disse que não sabia. Fiquei irado, “a Igreja é dela e nem se preocupa com o endereço”.  Dirigindo, liguei para uma das irmãs, telefone na caixa. Tentei a outra, ocupado. Na terceira vez consegui e peguei o endereço da quadra, rua e casa.
Chegando próximo de lá, descobri que tem o I e o II. Então perguntei para minha esposa qual seria. Ela me responde que eu deveria saber, já que fui eu quem ligou. Fiquei puto, resmunguei qualquer coisa brava e liguei novamente.
Culto bacana, voltei pra casa mais aliviado e menos rabugento. Acelerei, pois tinha combinado com os filhos para eles chegarem cedo, e fazerem companhia ao meu pai que ficara só. Chegamos 10h45min, notei que filho algum tinha chegado.Comecei a pegar pressão novamente.
Fui logo para a churrasqueira, preparar um salmão e carneiro grelhado.
O fogo brigava comigo. Papai tentava ajudar, botando tudo que achava pelo chão e acreditava ser inflamável. Até uma piola de cigarro. Ao vê-la, ralhei com ele. Dizendo que o fogo ia ficar fedendo.
Ele recuou e relevou, como sempre faz – um sábio.
Fogo acesso, carnes no bafo, comecei a chamar o JG e a esposa para descerem. E nada.
Escutava a TV ligada, era perto da 11h30min e estava me sentido só – eu e meu pai.
Os filhos também não chegavam.
Às 12hrs liguei para mamãe para desejá-la uma feliz Páscoa. Nem terminei de desejar e ela esbravejou com o fato de eu não ter ido a nenhuma cerimônia na Igreja Católica, e ter privilegiado uma na igreja Metodista. Passei o telefone imediatamente para papai, não sem antes soltar uma malcriação: “Tá certo mamãe, seu filho agora é crente... pronto...”.
Perto das 12h30min, tirei um pedaço do peixe para comermos de tira-gosto. Papai jogou a pele e algumas espinhas para o cachorro. Fiquei irado e ralhei novamente com ele.
Às 12h45min, finalmente a esposa e o JG desceram, e comemos a bacalhoada. Eu estava chateado.
Cobrando em pensamento uma maior companhia no Domingo de Páscoa.
Inquietava-me também o atraso dos filhos, noras e genro.  Mandei logo um  UOTZAP dizendo:
"Da próxima vez forem atrasar, avisem-me antes, para que eu faça outro programa."
Digitei com um bico de 10 cm.
Como chutei o balde, subi para dormir, perto das 13h30min.
Nem bem entrei no quarto, vi que a luz da casa da árvore estava ligada e fui desligá-la. Encontrei-me com os filhos, noras e genro descendo a escada em direção à área de lazer, era umas 13hrs40min. Sem me dirigir a eles, e à distância mesmo, falei que a comida estava no forno, desejei-lhes uma feliz páscoa protocolar, e subi para dormir.
“Eu estava certo” (SIC!).
Acordei pelas 16hrs, encharcado de emoções negativas. Uma forte chuva caiu, com direito a raio explodindo no quintal.
A esposa desceu correndo com o JG, e eu esbravejei a que a sua reação seria ruim para o filhote, ele poderia pegar uma fobia. O raio derrubou o sinal da NET, e queimou um de seus receptores.
Após a chuva passar, fui olhar os estragos lá fora e descobrir que na garagem estava pingando água da laje. Ou seja, a impermeabilização estava falhando.
Mais dor de cabeça.
Após um jantar rápido, subimos para ver um filme no DVD, já que não havia sinal de NET.
Descobri que ele também sofrera avarias, é que desligava sozinho, ao passar o filme, e o filme era bom.
Depois de religá-lo umas quatro vezes, desistimos. Ficamos com o gostinho do filme e impotentes frente à tecnologia que sofrera também com o raio.
Perto das 21hrs, fomos todos dormir.
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Pronto, acabou um domingo no curso do rio dos pensamentos e emoções negativos.

Eu poderia reescrevê-lo totalmente, dando tons positivos aos acontecimentos que destaquei.
A realidade seria a mesma, a forma que eu olharia para ela é que seria diferiria.

Veja em resumo.
1. Saudação de Páscoa -  Acordei, dei um belo abraço na esposa e disse-lhe: Feliz Páscoa.
2. Atraso -  Ainda bem que é perto para onde vamos, e que sempre tem umas canções antes da cerimônia propriamente dita. E que ela capricha no visual. Quem cuida de si e se embeleza, tá com autoestima boa.
3. Endereço – Ainda bem que tenho os celulares do pessoal e que um deles atendeu.
4. Endereço 2 – Minha esposa está com razão, na hora que peguei o endereço deveria ter pego por inteiro. Ela está nervosa, percebe que chegaremos atrasados.
5. Ausência filho e esposa. "Papai, vamos subir e ver o que eles estão fazendo? Quem sabe ajudá-los para que possam descer também, afinal ainda vai levar uns 30 minutos para cozinhar o carneiro."
6. Telefone da Mamãe – "Mamãe, não fui a nada da Igreja Católica porquê tive uma agenda bem cheia".  &*%$###@. "Tá certo mamãe, próxima páscoa eu irei prestigiar as celebrações de minha igreja, também.
7. Piola – Como é bom ter um pai que ajuda a fazer um fogo pegar. Um pai amigo.
8. Atraso dos filhos – Poderia ter ligado e perguntado qual o status do atraso. “Filhos, qual a previsão do pouso? Para que eu possa me programar e a carne não esturricar. "
9 - Bacalhoada - que legal o prato está, ele foi fruto do esforço de minha esposa ontem à noite. Sou grato a ela pelo que fez. [na cena original nem senti o gosto, a raiva tira o sabor da vida].
10. Raio – Eu poderia ter acolhido o medo deles. "Venham, desçam e fiquem ao meu lado, eu os protegerei. O estrondo foi muito alto mesmo, natural o medo."Que bom que não aconteceu nada a vocês."
11. Bens materiais estragados – Ainda bem que o disjuntor funcionou, desligando o quadro de luz. Poderia ter perdido tudo, foi só um receptor da NET e um DVD velho.
12. Dormir às 21hr. “Acho que poderemos aproveitar que o JG arriou,que não tem TV e NET-WEB,  e namorar um pouquinho. É tão raro irmos dormir a essa hora, e, mais raro ainda o JG ter capotado cedo."

Percebem como eu mesmo estraguei meu domingo de Páscoa, deixando minhas emoções e pensamentos fluírem pelo curso do rio negativo?

Como minha rabugice, murmuração e pensamentos poderiam ter desviado para outro curso mais positivo; afinal era muita negatividade gratuita. Pra coisa besta, coisa pouca...
Assim acontece com muitas coisas em nosso viver, para as quais poderemos desviar a força negativa, flexibilizarmo-nos frente à ela, ou aceitá-la, ou renunciar, ou acolhê-las, ou até usar do diálogo para melhor compreendê-las.
Saindo da posição de vítima infeliz, fazendo com elas uma nova realidade, sendo a mesma.
Olhá-la com um outro olhar. Um olhar periférico, para além do foco da dor; saindo do turbilhão de pensamentos confusos, fruto da ansiedade, preocupações e rabugice que nos diz que nós somos os CERTOS.
Conhecer melhor a si mesmo, aos outros e à realidade – concebendo-a no regaço de um coração amoroso e fitando-a com olhos de mansidão, bondade e esperança é possível, mas exige treino.
Práticas da inteligência sócio emocional que consiste em melhor se conhecer e aos outros. "Você toma consciência dos motivos e sentimentos alheios, e responde bem a eles. É a capacidade de reparar nas diferenças, em especial com respeito ao estado de espírito, temperamento, motivações e intenções, agindo então com base nessas distinções. Consiste em sintonizar precisamente o acesso aos próprios sentimentos e na capacidade de utilizar essa sintonia para compreender e orientar o comportamento adotado que se quer.” Martin Seligman – Considerado o fundador da Psi. Positiva

Em tempo: Já pedi perdão a todos. Mas, o domingo já passou. Game over. Este está perdido.
Seria tudo tão fácil se com o perdão, de forma mágica,  voltassem as fitas de nosso viver. Mas, não é assim. Portanto, ficarei mais atento para não entornar o caldo novamente. A vida não tem edição.

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