Arcabouços Emocionais



Tem dia que a gente e conosco acontece cada coisa, nestas horas digo: só comigo!
Não é que um monte de lixo caiu de um caminhão de limpeza urbana, e ficou jogado na Avenida do Sol, anteontem, por onde transito todos os dias. Quando vi a presepada, já era tarde, atropelei um dos sacos, o que ficava mesmo no meio, entre as duas rodas e que não deu para desviar. Como fizera dos outros.
Numa fração de segundo torci para só ter coisas flexíveis ali dentro, pois poderia amassar tudo.
Não ouvi um som sequer. Ufa!!!
Olhei no retrovisor, para ver a bagaceira que poderia ter ficado na rua, e nada.
Nada de saco e o seu lixo. Fiquei encasquetado.
Para onde teria ido aquele saco? Voar não voou, pois aparentava certo peso. E que passei por cima, ah eu passei!
Chegando perto de casa, ao reduzir a velocidade, ouvi uma chiadeira vinda de debaixo do carro.
Parei em casa. Avaliei a situação. Ih, o carro estava arrastando o saco, que ficara preso no catalisador do silencioso, por debaixo da parte central do carro.
Contudo, entre matar a fome e me arrastar debaixo do carro para recolher a “vítima”, optei por pelo acúmulo de calorias gastronômicas, ao invés de sua queimá-las com esforço físico.
Disse comigo mesmo, ele vai cair sozinho. Pense numa decisão errada! Só senti o impacto desta decisão, hoje, dois dias depois.
O saco não caia sozinho. Tome chiado. Voltei até o trabalho e por um longo trajeto ainda ouvia o chiado, perto do trabalho silenciou. E fiquei aliviado. Ao descer do carro senti um cheiro forte de borracha queimada. Ajoelhei-me e vi que saia de restos de plásticos que ficaram pregados no cano, relevei. Não era de ser nada.
O importante era que o saco desprendera-se do duto do escapamento.
Saindo do trabalho peguei uma chuva torrencial e voltei para casa, não mais pensando naquele saco. Todas as ruas de Brasília viraram rios, dirigia com cuidado, esquecendo-me completamente das desventuras do saco de lixo.
Hoje pela manhã sigo para o trabalho e nem dirijo uns 10 km, dos 30 que faço no percurso de ida, o mau cheiro invade o carro.
Abro os vidros apressado, JG comenta que tá fedendo. E para piorar, ainda pego engarrafamento na 3ª ponte. Só comigo.
O cheiro de borracha adentrava, com vigor renovado, deve ter sido a chuva do dia anterior.
Fico entristecido, lá sei foi o cheirinho de carro novo. Assalariado é azarado, quando tem direito a sorver aquele cheirinho manjar dos deuses, mesmo que em 48 prestações, é surpreendido com um gás concorrente que anula tudo. Constatei que teria que conviver com este gás tóxico e fétido, emanado da borracha queimada por uns tempos.
Ele ficava ali guardado, pronto para manifestar-se após um calor mais forte nos escapamentos.
Ele chega de mansinho, tirando todo o aroma do interior do carro, empestando o ar, até anulando o efeito dos perfumes pessoais.
Dá uma carona neste carro será uma vergonha. A pessoa chegará toda fedida.
Saquei que precisarei por si só ele não sairá. Demorará muito tempo para ir derretendo e perder sua potência fétida. Precisarei alterar minha rotina de final de semana, sempre corrida, ir numa oficina – sempre cheia, e pedir para que retirem os restos de borrachas ali derretidas, seja com uma talhadeira, seja como uma lixa.
O que aprendi com esta vivência e queria compartilhar com vocês?
Tem coisas que só sai de nossa vida se a gente tirar com talhadeira, ou usarmos outros métodos, a exemplo dos grandes petroleiros e transatlânticos que precisam periodicamente retirar o limo, cracas e mariscos que vão se afixando nos cascos.
Os donos de embarcações, a exemplo do que ocorreu comigo e meu carro, precisam intervir nos “encostos” dos cascos e retirá-los.
Nos estaleiro, usa-se a velha e boa dupla talhadeira-lixa, ou uma corrente elétrica no casco, ou o contato deste com a água doce, ambos dissolvem a cola das cracas e ostras facilitando sua queda.
O fato é que esta borracha pregada no escapamento, que ao ser aquecida, fede e invade o mais vedado dos carros, além das cracas dos barcos, lembram as coisas que vamos permitindo que se afixem em nosso viver, fruto da nossa própria saga, da jornada do Homem.
Tudo que nos paralisa como pessoa, nos sufoca, nos limita, nos diminui, nos elimina, nos oprime acaba agindo nossa psiquê tal como as borrachas derretidas em escapamentos, ou as cracas em cascos de embarcações.
São os lixos emocionais com os quais nos deparamos, os encostos afetivos, familiares, laborais, sociais, de toda natureza, que tiram o encanto de nosso viver, fedem e diminuem a nossa energia vital e motivação em seguir adiante. Tal qual o atrito causada pelas dificultando o deslizar dos cascos pelas águas.
Famílias vampiros-emocionais. Trabalhos vampiros-emocionais. Relacionamentos afetivos vampiros-emocionais.
Roubam toda nossa energia. Ou seja, tem que ter uma a ação para romper o ciclo de dominação.
Se deixar pela própria natureza das coisas não acontecerá a mudança.
Tem situações em nossa vida que teremos que agir para nos desvencilhar.
São situações venenosas que nos imobilizam, nos envergonham, nos entristecem e que muitas das vezes a resolução das mesmas exige de nós uma força hercúlea, maior do que temos para agir naquela situação e tomar uma decisão.
Entendo os fracos, sou fraco. Eles sabem que algo precisa ser feito, só não tem forças.
Estão limitados por razões econômicas, ou familiares, na maioria das vezes.
E aí estes vampiros emocionais apoderam-se de nossa fraqueza, de nossos não-ditos, dos sapos engolidos, e crescem.
Se deixarmos as coisas que nos diminuem, ferem nossa dignidade e nos entristecem como estão - achando que por si só resolverão, nem sempre dá certo. Podemos nos ferir irremediavelmente.
Algumas destas situações-limite ficam em nosso ser impregnadas. Reivindica uma tomada de consciência, uma intervenção, um resgate da autonomia para serem enfrentadas.
Por tabela, uma forte dose de autoestima.
Estas situações são qual o gás venenoso de borracha queimada, pregada no escapamento, empestam o viver.
Quando acontecem ficamos completamente reféns da situação, e elas passam a gerir a nossa vida, a direcionar nossos comportamentos e emoções.
Então, não tem jeito. Não tem jeito. Por mais que tentemos adiar o enfrentamento da situação, chegará a hora que teremos que encontrar um resto de força, de dignidade, de motivação, de esperança e agir diante daquela situação que está nos enclausurando.
Romper os limites desta situação é doloroso. Tal qual uma talhadeira batendo num ferro, ou uma lixa retirando algo ali afixado. Porém, caso não seja feito, toda vez que nosso ser “entrar em funcionamento” a opressão se fará presente.
O problema ali, onipresente, embora encoberto e escondido.
Aparentemente tá tudo bacana. Até fingimos bem para nós mesmos e para os outros.
Tal qual meu carro quando parado e polido. Bonitão reluzente.
Mas que desconfiaria que ele, ao se movimentar, fede em seu interior?
Ninguém desconfia de nada. Assim são as situações e arranjos humanos. Neles cabem de tudo. Não estranho mais nada.
Por fora, lindos. Por dentro, massacrados e com indigestão emocional dos sapos engolidos.
Basta o problema está ali, pairando, a qualquer momento volta a revelar-se por inteiro.

O cheiro do tânatos.
E eu não falo de luto. Por que o luto, ou bem ou mal, põe fim à dúvida. Seja pela separação de amantes, pela morte, o desemprego ou a migração da terra natal, ele estabelece um fim.
Ele chega. Estabelece a separação. Como ao arrancar um dente.
A diferença do luto para a convivência com situações esmagadoras, de nossa energia vital, é a que o luto põe uma inscrição em nosso ser dizendo: acabou!
Com isso não quero dizer que o luto é mais fácil de processar.
Já a convivência com relações difíceis, do tipo plástico-fedido-quando-esquenta pode perdurar por anos a fio. Pode ser acomodada na nossa dinâmica do viver.
E a gente vai pagando este preço diariamente. O preço de se envolver com alguém dividido, em sua vida afetiva, sempre nos escamoteando. Ou de se envolver com alguém cujo mundo dos valores não bate com o nosso. E quando a gente põe na balança ainda tem coisas legais, e por conta destas coisas vai ficando, mas vai renunciando muitas outras coisas, às vezes ficando por um fio, por uma pseudo-segurança econômica, pelo status, fé, ou até pelo medo da solidão.
São preços que pagamos pelas nossas escolhas.
Romper com estas situações, no papel, num texto piegas de autoajuda é fácil.
Vai fazê-lo! Vai lá e rompe. Vai lá e passa a talhadeira. Vai lá e leva seu coração para um estaleiro para retirar dele as cracas que foram se afixando. Vai...
Nesta crônica é bonito. Porem, o medo imobiliza.
A pessoa nesta situação se encontra, na maioria das vezes, impotente.
Fica entranha, sente-se estranha, deslocada, qual a letra da canção do The Doors "People Are Strange":
“Pessoas são estranhas quando você é um estranho
Rostos olham feio quando você está sozinho
Mulheres parecem cruéis quando você é indesejado
Ruas são irregulares quando você está pra baixo

Quando você é um estranho, rostos saem da chuva.
Quando você é um estranho, ninguém lembra seu nome...”

Até o salmista passou por momentos de desolação pelas escolhas que fizera:
Trata-se de uma tristeza, melancolia, angustia não é uma depressão.
A pessoa tem consciência que está nas redes desta situação. Tem consciência de sua fraqueza em lidar com isto, ou superar, ou sair dessas redes.
Quem dera tivéssemos nestas ocasiões, nas quais redes nos sufocam um Capitão Magnus por perto para nos ajudar. Magnus Spence é o capitão de um barco que levava turistas para observar as baleias nas ilhas no norte da Escócia. No final do passeio, eles encontraram uma baleia Jubarte, de mais de 12 metros enroscada nas cordas que foram descartadas no mar. A baleia se debatia, mas Spence colocou o equipamento de mergulho, entrou na água e, com uma faca, cortou as cordas. A baleia nadou para longe, aparentemente sem ferimentos.
Nem sempre temos por perto um capital Magnus na nossa vida.
Quando este personagem externo se revela e intervêm, pode nos ajudar, como à baleia, a nos libertar. Às vezes um novo amor, uma viagem, uma experiência mística, um amigo, um novo trabalho, podem ser acontecimentos Magnus.
Às vezes até numa crise de saúde, ou dificuldades financeiras, podem nos empurrar para tomar decisões por séculos adiadas.
A compreensão que estamos presos nesta rede afetiva, familiar, profissional, etc... é o prenuncio da mudança.
Algo não vai bem, não cheira bem, foi retratado fidedignamente pelo salmista:
“Porque meus dias se dissipam como a fumaça. E como um tição consomem-se os meus ossos. Queimado como a erva, meu coração se murcha. Até me esqueço de comer o meu pão. A violência de meus gemidos faz que se me preguem à pele os ossos...” SL 101(Hebr. 102).
Este sentimento de incomodo pode ser a alavanca para a transformação.
Esta é a esperança que tenho.
Uma esperança fruto da convivência e aprendizados com as minhas próprias redes. Quando eu fingia que não as via, seja parando para ter uma conversa franca, com medo do desgaste, Ou por que na balança do trabalho o saldo era positivo, e não valeria a pena enfrentar a situação e lutar por minhas melhorias.
Eu negava a dor. Sublimava a dor. Vivi fases de profunda negação da dor, de resignação, de aceitação-mórbida - estágios da morte e do morrer.
Fui empurrando com a barriga, aceitando-me com baixa-estima. Adaptando-me a agressões cotidianas, puxadas de tapetes, ao pensar pequeno.
Um dia rompi. Hoje acho que demorei muito.
Porém foram as escolhas que fiz naquele momento.

A gente tem que fazer escolhas. Até que ponto dá para conviver, por que certo nível de indigestão emocional é natural ao acontecer no mundo.
A gente nunca vai ter todas as situações resolvidas. Sempre vamos estar em débito com a vida. Pagando a conta do viver. O viver tem um custo.
Aliás, a busca frenética da felicidade também é uma doença, é um fardo.
Ou seja, tudo tem seu custo.
A gente precisa ponderar o momento em que isto faz com que fiquemos, ad-eternum, devedores do cheque especial da vida.
Sei que as famílias não são perfeitas. Que a vida a dois nem sempre é um mar de rosas. Que no trabalho nem sempre encontramos satisfação.
Porém, mesmo diante destas situações, se ainda temos pequenos e grandes prazeres, estamos no lucro.
Eles darão créditos para cobrir o cheque especial do viver.
O problema começa a ficar crônico quando vamos perdendo capacidade de reagir, perdendo vitalidade, saúde. Deixando de apresentar resultados no trabalho.
Entrando em parafuso nas finanças pessoais.
Perdendo a capacidade de passear de carro com a minha família com os vidros fechados, na analogia-tema desta crônica.
Percebe?
Ai a gente começa a ficar inadimplente emocionalmente.
E uma ação se faz necessária e urgente. Não podemos terceirizar nossa existência.
Levei muito anos para me ouvir. Para me querer bem. Para me levar para passear.
Para dizer basta. Sempre era refém da religiosidade, dos valores familiares, profissionais, até do status social.
Eu não sei o que acontece na vida de cada um que ler esta crônica.
Só sei, por vivencia pessoal, que mais cedo ou mais tarde, de tanto sorver este gás venenoso, oriundo de plástico de lixo derretido e colado em nosso viver, vamos morrendo em nosso interior.
Se não agirmos enquanto resta forca, a chama da esperança e uma fração de autoestima poderão ser tarde.
Se você não tem esta força, quem sabe se agisse como a baleia Jubarte, presa às redes, que ao bater sua cauda chamou a atenção do Capital Magnus.
Quem sabe não é hora de buscar ajuda.
De espernear.
De encontrar uma pessoa amiga que lhe fortaleça para que possa, por si só, cortar as amarras do seu viver.
Procurar ajuda numa terapia, na fé, em algum grupo religioso ou social, ou até num familiar.
Se você não consegue ir sozinho para a oficina, quem sabe alguém possa te ajudar.
Não banque o forte, se sua conta existencial começou a tender à inadimplência.
Tome as rédeas da situação. Não se envergonhe ou se vitimize. Muitos já passaram por isso que está passando, ou passarão. Faz parte do viver.
Ou seja, se já está pelo talo e limite de sofrer. Se o cheiro ruim, quando desce do carro, já te acompanha. É chegada a hora de agir!
Não será fácil. Pode ter recaídas.
Por pior que venha a ficar a situação, após tua intervenção, ainda assim será menos dolorosa do que a dor que sentes ao anestesiar a sua própria existência.

Sobre Cercadinhos e Pimentas Artesanais


Todos os dias indo deixar o João Gabriel (o JG) na creche, de lá seguindo para o trabalho, observava a cena desta foto.
Era um colírio para meus olhos. Torcia até para o sinal ficar vermelho e poder contemplá-la, com maior tempo na sua profunda singularidade.
O que me chamava atenção, não era o fato de mais um morador de rua ocupar um espaço, relativamente seguro das intempéries, para ali pernoitar.
Drama tão comum em nossas cidades grandes com os seus marginalizados, à margem de qualquer “minha casa minha vida”.
O que chamava atenção, e o que quis registrar na foto que ilustra esta crônica é aquela corrente plástica, amarela e preta, e os adereços vermelhos – nelas pendurados, mais parecidos com aquelas pimentas artesanais, feitas de madeira entalhadas.
Também adorava ver a mesa de passar roupa, decorando a “varanda’ da moita-lar.
Invariavelmente, todos os dias, enchia-me os olhos aquela “decoração”.
Refletia sobre o quanto é humano demarcarmos nosso lugar, nosso ethos, por mais rude e hostil que seja.
Sexta passada entrei em crise, ao passar nas imediações, um pouco abaixo, vi que ali trabalhava uma empresa de jardinagem urbana, podando as árvores.
Como num insight pensei, vão podar a moita que serve de morada àqueles sem-teto.
Chegando ao trabalho me deparei com um jipão estacionado, um fora de estrada. Estava ao lado de onde costumo botar o carro. Meu sonho de consumo. Um 4 x 4 arqueado, possante e pronto para encarar as trilhas mais difíceis. Chegando mais perto vi inscrito, na sua lataria, o nome de seu feliz proprietário: Eteval.
Pensei comigo, assim como aquela moita, esteticamente demarcada em correntes plásticas e pimentas artesanais, este jipão fora demarcado pelo seu proprietário, é parte dele, é sua morada, afirmada na inscrição “Eteval”.
Chegando à minha estação de trabalho, não tive como deixar de contemplar a mesa da Ângela. Aquilo lá é um furdunço. Ela chega mais cedo e tinha saído para o cigarro matinal. Aproximei-me, vi uma coleção de chaveiros, expostas num dos cantos. Vi fotos de seus familiares e filhos. Vi objetos pessoas ali expostos, um sapato embaixo na mesa, ela deve ter ido fumar descalça.
Aquela estação de trabalho, a exemplo do jipão e da moita-lar, também tinha uma marca inconfundível da Ângela, ali era sua toca, seu lócus, seu ethos. Cada chaveiro pendurado tinha vida, tinha história. Ou seja, nada estava ali por acaso, e bagunça só era eu que via. Para ela, tudo estava em perfeita ordem e além e fazer sentido, dava um senso de pertencimento e identidade àquele lugar.
Fiquei imaginando o quanto isto é forte em nós humanos. Todos querem um lugar pra chamar de “nosso”.
Marcamos nosso existir, e não importa se moramos de aluguel, favor, embaixo de ponte, moitas, no nosso carro ou no nosso trabalho.
Aonde viermos a habitar, seja por curta, longa temporada, imprimiremos nossa marca pessoal, nossa identidade e procuraremos personalizar este lugar.
Fiquei embevecido com a cerquinha amarela e preta da foto, e suas pimentas ali penduradas. Pensamos que o senso do belo, da boniteza das coisas, da estética é só para os mais favorecidos. Ledo engano, a sua maneira, qualquer ser humano, independente de sua classe social, procurará dentro de suas condições, embelezar sua existência. Até mesmo com uma foto, de gosto duvidosa e recortada de uma Caras qualquer, pregada no seu único móvel, num quartinho alugado de periferia.
Precisamos de um lugar pra chamar de nosso. Precisamos criar identidade, afirmação, pertencer.
Hoje amanheci com uma pauta enorme de sabadão. Minha esposa houvera trazido, duma viagem para SP, um monte de decorações da 25 de Março.
Presenteou-me com uma coisa que disse que era minha cara: uma espécie de móbile, com chocalhos, pássaros de lata enferrujada e flores artesanais. Fui logo pendurá-lo na entrada da casa. Depois, afastei-me e contemplei aquela estrutura, pensei: é minha cara!
Ao olhar ao lado, na calçada, não pude deixar de rir ao ver o bezerro de fibra que tenho ali, pastando, que também é “minha cara”. Ou seja, personifiquei meu existir aqui também.
Voltando à moita, tomei coragem e chamei a Ângela – sexta passada, para me acompanhar numa visita àquela família e aproveitar o trajeto para discutirmos pendências laborais, “sob o sol da Toscana”, como costumo falar.
Chegando perto me entristeci. Podaram drasticamente a moita, derrubaram todos os objetos com violência, e expulsaram os sem-teto. No chão jazia a corrente e suas pimentas.
Tudo indicara que os “proprietários” saíram às pressas.
Fiquei com o coração apertado.
Voltando ao Trabalho cruzei com o Etaval, o do jipão.
Perguntei o que era aquele jipe pera ele. Ele, surpreso com a pergunta, respirou e falou “o meu prazer”!
Então, acho que no fundo, aquelas pimentas debruçadas sobre a cerquinha de correntes amarela e preta, os chaveiros da Ângela, os nome encravado no jipão do Eteval, no fundo, falam do prazer de existir.
Mandam uma mensagem para todos dizendo, aqui vive uma pessoa!
Uma pessoa com sentimentos, com necessidades, inclusive do belo.
Agradeci, ter conhecido aquela moita, aquela casa com uma mesinha na “varanda”. Aquela família que mesmo diante de todas as mazelas sociais a que está exposta, reivindica para si também, estabelecer-se como presença no mundo, com identidade, e decorar sua existência com a boniteza das coisas.
Pensei o quanto isto é verdadeiro. O quanto o belo e a luz nos atraem, muito mais que o feio e as trevas. O quanto a canção da Isabella Taviani é verdadeira:
“Prometo sempre ser o seu abrigo
Na dor, o sofrimento é dividido
Lhe juro ser fiel ao nosso encontro
Na alegria,a felicidade vem em dobro
Eu comprei uma casinha tão modesta
Eu sei, você não liga pra essas coisas
Te darei toda a riqueza de uma vida
O meu amor”
Na dor o sofrimento é dividido, e é mesmo. A dor ensina-nos a cuidar do que restou, a sobreviver, nem que seja comprando um vaso de flores artificiais e botando na cabeceira da cama, só para que ao acordar saibamos que é possível outro existir.
Agora entendo o porquê de minha vô, adorar se maquiar, botar um batom bonito ao ir lá pra casa num almoço despretensioso domingueiro.
Ou o porquê de conservar sua casa sempre bem limpinha, varrida, e com vasinhos de flores. Mais do que um gosto pessoal, era autoestima. Era o que restara de uma vida pobre, na qual perdera todas as posses, já no final da vida, para custear os gastos de saúde de vovô João.
Bendita Vovó Maria, agora te entendo um pouco mais. Morávamos em casa quase que geminadas, casas de conjunto popular no bairro do Cruzeiro. Bem distante do centro da cidade Campina Grande-PB.
Quando ia pra casa da vovó Maria, ao lado, sentia a paz. Tudo ali era bonito. No quintal tinha uma trepadeira, que agora chamo de bougainville, da qual tirava flores e sai botando arranjos em todos os lugares, decorando sua casa. Mamãe dizia que a Vovó era a mais vaidosa das mulheres que conhecera.
Ahh vovó, como queria que fosse viva para te dizer que agora entendi teus porquês.
Até entendo agora, de onde viera tamanha força a ser a única, de duas grandes famílias matriarcais, a me apoiar na decisão de minha separação. Era pela busca do belo.
Daria tudo para voltar ao teu quintal e comer uma galinha caipira, ou sorrir com tuas risadas ao contar-lhe que mataria os gatos que comiam os pintinhos de teu rústico galinheiro.
Ahhh vovó, como teus vestidos floridos, sempre alegres, e teu batom vermelho, unhas pintadas, cabelos feitos, agora faz sentido.
Naquela decoração da moita, entendi. Ao embelezar teu existir ele se tornava mais palatável.
Mas do que na decoração da casa, era a decoração de tua alma.
A casa da vovó era casa de encontros. Todos ali acorriam em busca de uma palavra amiga, um cafezinho de final e tarde, ou até uma palavra de ânimo, de força, de alegria. Sempre havia uma “mistura” no fogão, pronta a socorrer eu, meu pai, sobrinhos e tios ávidos por um tira-gosto caseiro e fortuito.
Tua casa tão pequena, tão simples, era local de ajuntamentos, um jardim cheios de bem-te-vis para as pessoas que a ti se chegavam.
Que saudades vovó!!!
Penso hoje em decorar meu interior. Levar-me para passear. Botar um cercadinho amarelo e preto, de uma correte de duvidoso gosto, e pendurar umas pimentas vermelhas em meu ser.
Penso em garantir um pouco de belo no meu interior. Em preservar um espaço-altar no qual possa me abastecer. A exemplo do “altarzinho” do Ceará. Ele, célebre lavador de carros e maratonista, me disse que fez na sua casa um “altarzinho”, no qual dispõe suas medalhas, diplomas, fotos e credenciais de corrida. De fronte a ele, prepara-se para os treinos, “zera a fatura do dia-a-dia pesado”, medita e busca energias para perseguir seus sonhos.
Precisamos deste altarzinho interior do Ceará, das flores de bougainville da vovó, do cercadinho com suas pimentas penduradas dos moradores-de-moita, dos chaveiros da Ângela da inscrição “Eteval”, naquele jipão.
Precisamos encantar e personaliza nossa existência. Deixar nossas marcas.
Ter nosso cantinho de paz, nos recônditos de nosso coração, um aprisco, para onde possamos ir nas horas dos aperreios, dificuldades.
Precisamos cuidar de nosso ser interior, levá-lo para uma academia... Queimar as celulites da alma.
Precisamos de estética, do belo, da luz...
Como aquela mãe retirante, numa rodoviária da Paraíba, que após estender o papelão no chão, onde pernoitaria, tira um pente de um saco plástico e penteia os cabelos dos filhos.
Este brado de vida que irrompe do mais profundo do ser, que leva aquela mãe a lembrar-se de pentear os cabelos dos filhos, mesmo diante de toda a miséria da situação onde inserida, é o que torna místico e mágico nosso devir. Este pentear, antes de dormir, foi o que restara de autoestima, de dignidade, num grito interior de quem não quer desistir de viver, de lutar.
Nosso existir precisa das correntes amarelas e pretas que ilustram este texto. Precisam de proteção. Contra os vampiros emocionais, contra os que chegam de mansinho e vão tomando conta de nosso existir, de uma forma tóxica. Gerando a pior dos vícios, o da dependência afetiva, estéril e doentio.
As cercas nos protegem sem nos isolar, são simulacros de proteção, muito mais psicológicas do que propriamente muros.
Mas, resolvem em grande maneira.
Temos que guardar um pouco de privacidade, de intimidade, para nós mesmos. Preservar as entradas de nosso coração, e vigiá-las, para que outros não façam como os jardineiros da limpeza pública, destruindo tudo que nos sustenta.
Algumas relações quem mantemos são assim: kamikazes. Sabemos que vamos nos estrepar. Que vamos perder. E mesmo assim metemos as caras, enfiamos o pé na jaca.
É preciso refazer nossos limites, nossos cercadinhos interiores, nossos valores e essência.
Assim como as cerquinhas de correntes amarelas e pretas, precisamos – em nosso vir-a-ser das pimentas vermelhas nelas penduradas.
Precisamos de fogo, de energia, de aventura, de instinto, de fantasia, de um pouco de loucura.
Precisamos de prazer, mesmo que de pequenos prazeres.
Precisamos de ânima. Pode ser ouvir uma música, ver um filme, sair com amigos, receber em casa, cuidar de alguém, precisamos de emoções. De um circo, parque, noitada, show, vez por outra.
A emoção, representada nas pimentas, assim como a lógica da razão nos cercadinhos, constitui-nos como pessoa.
Como aprendi com aquela família-moita!
Que na sua sabedoria enfeitou seu porvir. Preciso investir mais nisso, decorando meu interior com as flores de outro mundo possível!
Assim como o cercadinho, preciso muito de algumas pimentas vermelhas, daquelas que dão gosto e realçam o sabor de pratos suculentos.
Suculento, que seja o nosso viver!

Artesãos do Impossível

Domingo passado, antes de viajar para uma missão em São Paulo conheci este notório vendedor de cocos secos [que ilustra esta crônica], na feira de São Sebastião-DF. Fiquei paralisado vendo sua arte, sua técnica de descascar as cascas duras dos cocos e vendê-los, já oferecidos em sua polpa branca, aos seus clientes. Não cobrava nenhum adicional por esta gentileza, apenas sentia-se bem em assim faze-lo, numa arte que adquirira tempos atrás.

Ele destacava-se dos demais, ele estava subvertendo uma ordem reinante, uma ordem de vender cocos secos. Ordem secular.

Ele achara uma oportunidade de encantar seus clientes sem desqualificar seu processo. Dissera-me que reserva uns tantos no modo tradicional, pois “tem cliente que tem medo de que eles se danifiquem expostos ao tempo.”

Maravilha de ser humano. Sábio e instintivo. Sapiens-demens.

Chegando a São Paulo, após um dia cansativo de missão tomei um relaxante banho de banheira, prazer que só desfruto em hotéis, aqui em casa não fiz este mimo.

Já relaxado, decidi ir tomar um chope no shopping à frente. Peguei a chave do hotel, uns 50 reais, e cruzei a rua em direção ao prazer etílico.

Chegando à boca do caixa, já babando de desejo, a mocinha pediu a minha identidade.

Fiquei constrangido, pensara que era um trote. Sorri e disse “você tá brincando né?”. Tinha deixado a carteira no quarto do hotel. Com medo de ladrões. Coisa de matuto na cidade grande. Mal sabia que numa batida policial seria preso por falta de documentos.

Ela, visivelmente aborrecida, falou que não. Era lei em São Paulo. Sem identidade, não se toma bebida alcóolica, independente da idade.

Retruquei qualquer coisa, paguei o prato de gostos-tira e sai para comê-lo cabisbaixo. Depois disso, ensimesmado, resolvi ir falar com o gerente.

Argumentei que a lei poderia ter uma parcela de bom-senso, uma flexibilização para aparências corporais que denunciassem a idade, e coisa e tal. Ele olhou-me friamente, e disse-me, “eu cumpro as leis.”

Sai dali, entrei noutro restaurante, pedi a mesma cerveja e fui atendido.

Fiquei matutando sobre leis, normas, decretos, portarias.

Por melhor que sejam elaboradas, não dão conta da riqueza, complexidade e diversidades das situações humanas.

Precisam de um descumpridor de leis de plantão, que tenha o peito de assumir os riscos de sua decisão e reverter cursos de ação que seu cumprimento tácito causaria.

Ainda sorvendo meu chope, com um gostinho de vingança na boca, vejo nos telejornais paulista que uma grávida de nove meses fora presa por não ter pago a pensão ao marido. Fiquei duplamente assombrado, pelo fato de uma grávida de nove meses ser presa e pelo fato de mulher também pagar pensão.

Mais uma vez me perguntei, nãos seria o caso daquele oficial de justiça se fingir de cego e não achar sua “meliante”.

Tem a moral, mas a ética lhe supera. Nem sempre a moral, com seu código de leis e padronizações normatizadas, dá conta de lidar com os princípios éticos que lhes aparecem, até para situações nunca pensadas, que apela para um novo código que privilegie a ética da vida, dos direitos fundamentais e da dignidade.

Um iminente sociólogo, considerado o pai da sociologia - Emile Durkheim, caracterizava o não cumprimento de padrões sociais como uma doença, uma anomia, perigosa, pois poderá quebra a coesão social.

Até concordo, mas há uma brecha de proporções infinitesimais que pode agir o ser humano. Lembro-me quando era caixa e chegava aquele velhinho, carcomido com o tempo, com os documentos num saquinho plástico, que ao desembarace-los dali contatara que esquecera a identidade só estando com o carne da aposentadoria do INSS, antigamente chamado de APB.

Olhava para ele e dizia este risco eu posso correr. Vou pagar ao senhor. Pagava ao velhinho.

O problema das leis e normas é que ela diz o que deve ser feito em dada situação, mas não diz o que deve ser feito em outra situação.

Ou legisla sobre procedimentos que uma vez feitos, não excluem outros também serem feitos.

Dia seguinte recebi um telefonema de um candidato, da mesma missão que estava desempenhando, só que a de Brasília. Ele alegara que “tomaram o cartão respostas” da prova que fizera, sem permiti-lo que terminassem de preenchê-lo, após tempo regulamentar da prova de duas horas.

Ele soluçava.

Lembrei a ele que o regulamento do certame dizia que teríamos que avisar aos 30 minutos do término.

Ele perguntou se custava nada terem dito que faltavam 5 minutos.

Realmente, não custava. Mas não estava no regulamento.

Entende onde quero chegar?

Regulamentos são pobres por natureza, pois excluem um outro olhar sobre o que acontece. Tudo tem que caber ali, estar contido ali, e nem sempre eles dão conta.

Por exemplo, não havia nada no regulamento que impedisse os fiscais do Certame de avisarem aos 5 minutos. Havia uma recomendação de avisar aos 30min.

Mas, a tensão de conduzir processos normatizados é tão grande que tememos sair da norma, ou criar algo não previsto, mesmo que não ferisse o regulamentado, e expor a todos.

Por isso gostei do descascador de cocos. Ele entendeu que podemos, nas brechas do impossível tocar no infinito.

Lembro-me da enfermeira da UTI Neo-Natal, na qual nosso filho ficou por 30 dias, e que só podíamos visita-lo as 09hrs e 15hrs, e por 60 min. Um dia perguntei se não poderia trazer minha esposa para beijar nosso filho, à noite, já que estava internada no mesmo hospital no qual nosso JG lutava pela vida, com seus 1370kg, nascido de 31 semanas de vida. Ela curava-se de uma pré-eclâmpsia, com a as incomum hipertensão pós-parto. Ela olhou com “candura’ nos nossos olhos e falou. “O regulamento só permite duas visitas.”

Não sabia aquela senhora que uma visita extra, na boca da noite, faria mais efeito do que qualquer dose de hipertensivo que ela tomaria.

Mas tudo é visto pelo excesso quando é descumpirod. Ela deve ter pensado, “já pensou o furdunço que será isto aqui se os país poderem vir a qualquer hora.”

Assim pensa a cabeça dos que não flexibilizam nada, dentro das rais do possível.

Sai e minha esposa comentou debilitada: “paciência, ordens, são ordens.” Pensei, odeio esta frase.

Passei a lembrar das vezes que pude flexibilizar algo, sem perder a ética ou feri-la e por em risco o normativo ali estabelecido.

Nas vezes que usei e abusei da ousadia de arriscar, mesmo diante de todos os riscos que poderiam advir.

No dia seguinte barrei um candidato da prova que fui aplicam em SP que chegou 20 minutos após o início, embora ninguém ainda houvesse seguido.

Cumpri o rito. Mas, que rito bobo!

Poderia ter sido escrito assim: “Se nenhum candidato entregou a prova, mesmo com tempo de duração menor, será permitido aos candidatos atrasados entrarem na sala, e fazerem a prova, sem instrução de abertura alguma”. Por conta e risco dos mesmos.

Outra candidata errara o lugar da prova, e não autorizei que ali fizesse, embora sobrassem provas de candidatos faltosos. Fiquei com o coração na mão. Mas uma regra boba, que poderia ser contornada, sem ferir o processo ou quebrar a isonomia.

Desembarquei em Brasília com aquelas cenas da cabeça: a grávida de nove meses presa, com cesárea marcada para o dia seguinte. O chope para maiores com identidade. O jovem com seu cartão de respostas recolhido. A jovem que errou de endereço e foi para o outro polo de aplicação de provas. E o outro que chegou 20 minutos atrasado, pois seu ônibus quebrara.

Segui para casa reflexivo e recebo a ligação de Maurício. Ele coordenara o Certame nacionalmente. Solidário com meu relato resolvera conferir a prova do jovem do cartão recolhido. Caso ele tivesse acertado todas as questões que não tinha tido tempo de marcá-las, ainda assim não seria aprovado.

Fiquei profundamente sensibilizado com a atitude do Mauricio. Ele foi subversivo. Rompeu também os limites do estabelecido e fez algo não previsto, mas não desautorizado, no Certame. Re-conferiu uma prova, sob outro olhar.

Agradeci ao Mauricio seu belo gesto e liguei para o jovem.

Ele ficou emocionado.

Acho que seu coração sossegou.

E vim pra casa pensado no quanto de brechas tem em nossos normativos, leis, procedimentos que podemos agir, sem coloca-los em prejuízo, assumindo os riscos da situação.

Queria então declarar para meu viver ser como um descascador de cocos para meus clientes. Alguém que facilite a vida para o outro. Que encontre as brechas para aprovar, e não fique procurando o rigor da lei para eliminar.

Queria poder ser uma comissão superior de recursos para onde fossem encaminhadas as queixas de vítimas de leis, procedimentos e normas.

Queria ter o poder de ali mesmo, sem consultar ninguém, deferir ou indeferir.

Reguladores de plantão ficarão atônitos com minha crônica, “mas como, será uma desordem”!

Mas quem falou que a vida cabe na ordem? Como diria o poeta, navegar é preciso (no sentido de precisão dos procedimentos), viver não é preciso. Viver é caótico. E os caminhos do coração, vixe Maria, estes nem é bom falar.

Na minha vida houve pessoas lindas que descumpriram normas. Não tinha direito a folgas para ir buscar a família na Paraíba, para vir para o interior da Bahia, onde tomei posse. Um cara chamado Alcione disse: Vai Paraíba, agente dá um jeito. Tu trabalhas uns dias fora do expediente e compensa. Não havia banco de horas nos idos de 1986, ele antevia com sua humanidade esta necessidade.

Outro destes seres iluminados fez o admissional de minha esposa numa empresa do setor aeroviário. Pegou seu exame neurológico e disse, esta tua disritmia que apareceu aqui não vai te bombar. Embora conste como desclassificatório. Se você fosse pilotar avião estava certo, mas para ser assistente social, é demais. Vou usar o bom-senso. Hoje ela é uma profissional realizada e nunca, nunca mesmo, em seus 14 anos de empresa, teve um acesso de disritmia que pode causas desmaios involuntários.

São estas pessoas que fazem a diferença nas Organizações e que fazem, inclusive, que os códigos internos, leis, regulamentos e normas, sejam atualizados contemplando as novas demandas sociais.



A elas quero fazer um tributo, uma homenagem. Obrigado por existirem. Obrigador por terem interpretado e legislado a favor da ética, mesmo se expondo.



Por melhor que seja o procedimento, por m ais rico e abrangente, nunca dará conta do fenômeno humano, e, nestes casos, um ser humano de plantão fará toda a diferença.

É como a mocinha da do check-in que poderia cobrar uns 100 dólares por mala extra no embarque internacional, EUA-Brasil, e que ao abrir a mala, a pedido do passageiro, e constatando que a mesma estava cheia de adereços para uma festa infantil: balões, bichinhos, decoração, solidarizou-se e só cobrou a metade. Este amigo trouxe adereços para a festa dos 3 anos do JG, com o tema George o Curioso (ver Discovery Kids). Tome macaco naquela mala.

Ela descumpriu uma regra interna e cumpriu outra, de ordem muito maior, a da empatia e solidariedade. Lógico que dentro dos limites e margem de ação a si conferidas.

Então decidi. Quero ser abridor de cocos para os que me rodearem. Encontrar formas de atendê-los nas suas necessidades, sem me sujeitar a dominações ou limitações de direitos, dentro do limite do razoável e do eticamente-sustentável.

O humano sempre em primeiro lugar. E gente é assim mesmo, cheia de direitos. E que bom.

Digo aos que trabalham comigo, se não gostar de gente e de seus humores e mal humores, tá no lugar errado.

Quanto ao quem redigiu a lei fechada em si mesma, como aquela do chope, ahhh...ele não precisa saber, bota um copinho num copo descatável que saio tomando este divino líquido e não te exponho. (risos)

Mas, isto é assunto de fórum íntimo! Quero mais é ser descascador de cocos secos para os outros. E, como diria o Marcos, aquele da feira do início deste texto, só pelo prazer de servir.

Fico a pensar se os excessivamente moralistas, zelosos cumpridores de regulamentos, normativos e leis, quando estão do outro lado do balcão, e são as vítimas, apelam para customizações. Se quando saem de férias, se é que saem, pedem que seu excesso de bagagem seja flexibilizado pelos atendentes das empresas aéreas.

Quanto a mim sou um usurpador, um subversivo, um marginal de leis e regulamentos indecentes, que não contemplam aspirações e situações das mais diversas de nossa humanidade. E que venham os riscos. Aliás, “e que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor E a outra metade também,” conforme poesia abaixo:



Metade

Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro de ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

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Fragmentos Inspiradores deste Texto:

12,05,2012 Davidson Ferreira
Foi realmente muito gratificante participar da aplicação da prova no CCBB. Infelizmente ou felizmente a comissão teve que atuar de forma contundente para fazer valer a regra do horário de 2 horas de prova.

Ao anunciarmos o final da prova restavam 3 (três) candidatos no auditório. Dois deles entregaram a prova e a folha de respostas e o terceiro não deu ouvidos a mim e a Sheila e não entregava o material. Tive de agir com a autoridade a mim conferida e informar: "se você marcar mais uma questão na folha de respostas a sua prova não será corrigida"... foi duro ser duro... mas regra é regra e vale para todo o Brasil e, assim, o candidato entregou a prova, a folha de respostas e saiu xingando e chutando tudo que via pela frente.

O problema não parou por aí...

Quando Sheila e eu juntávamos o material na caixa "jacaré", eis que o candidato retorna e começa a nos perseguir pelos corredores do CCBB, em "prantos" - prantos sem aspas pressuporia lágrimas e não era esse o caso - insistindo que queria terminar de preencher a folha de respostas... fiquei realmente receoso pela Sheila nos seus quase 9 meses de gravidez. Imaginem a cena... Sheila e eu descendo escadas e andando por quase todo o CCBB, para nos vermos livres de um candidato, que insistia, simplesmente, em descumprirmos com as normas do certame. Mas foi em vão e jamais permitiríamos tal situação e, assim, o candidato sumiu.

Quero aproveitar para dizer que fiquem tranquilos, a seriedade impera no Progrid.

Aos que serão entrevistados boa sorte, aos que passarem na entrevista nos vemos em breve na Ditec e, finalmente, aos que não lograram êxito... persistam... não abram mão dos seus sonhos e objetivos.
 ·  ·  · há 4 horas próximo a Brasília
    • Vinícius Alberione Deus é amor, mas é justiça tb...
      há 4 horas · 
    • Ricardo De Faria Barros 
      Esta história continua comigo... ele ligou pra mim às 13:00, muito emocionado. O consolei, falei da importância de se seguir o padrão, até para não dá margem a recursos. Liguei para meu gerente de equipe, gestor do Certame, e relatei a dor do colega. Inclusive propondo no Certame de 2013 inserir o aviso de 5min finais. voltei para Brasília pensando na dor daquele candidato. ao desembarcar recebi um telefone de meu gestor. Ele, compadecido coma história, resolvera apurar a prova do colega em separado. E me rlatou que mesmo se ele tivesse acertado todas as questões qeu não marcar, 15 delas, não atingiria 24 acertos. Como tinha o telefone do candidato no meu celular, liguei para ele e o consolei. Ele chorou emocionado e agradecido pelo retorno. Nem sempre cumprir regras é fácil. Mas, se não assim o fizermos, o processo pode deixar de ser isonômico.
      há 4 horas ·  ·  4
    • Rodrigo F Buller Sem derrotas, não existiriam vitórias...que esse seja mais um degrau pro colega alcançar o objetivo dele!
      há 2 horas · 
    • Vinícius Alberione Admiração total a este programa e a esta grande empresa chamada BB!
      há ± 1 hora · 
    • Jadson Talles Para qm estar Aprovado eh mais facíl comentar, pelo menos eu axo! Qro dizer aos q não passaram q n desistam, Deus é PAI. Tudo acontece no momento certo e na hora certa, vamos lá gente 2013 está aí! Força, Foco e Fé! Abraços
      há 3 minutos via celular ·  ·  1
      • Tiago Francisco 
        Ricardo De Faria Barros , Confeço a você que estou impressionado com sua postura. Quando conto a minha esposa, ( Que também trabalha no bb, Gerente de Relacionamento), e pra colegas da agência onde estou, que tem um Gerente de Divisão da DITEC compartinhado suas experiências e que nos ajuda com dúvidas em relativas ao PROGRID, eles me olham meio que desconfiados, acho que não acreditam. Seu eu contar então do que acabo de ler, onde vc demonstra a pessoa, o ser humano diferenciado que vc é, com certeza ela diriam que estou ficando doido. rsrsrsr.... Ninguém na rede imagina um Gerente de Divisão da Diretoria, com esse nível de companheirismo com colegas que estão em situação diferente. Pra vocé e os colegas que estiveram em Goiânia-GO, aplicando a prova, pessoas também muito atenciosas e receptivas meus parabéns por esta SELEÇÂO. Pra mim não deu dessa vez, mas me echeu de vontade de participar do próximo, pois terei mais tempo pra me dedicar ao processo. Um grande abraço!!! e muito sucesso pra vc. Um grande ser humanho !!!!!!
        há ± 1 hora ·  ·  1
      • Rodrigo F Buller Sem bom senso seriamos máquinas...não teriamos graça, não teriamos vida.
        O sonho do ser humano é fazer a máquina criar bom senso, quando ele mesmo as vezes deixa isso de lado...
        Acima de tudo somos humanos, temos nossos valores e de alguma forma, mesmo que medida, temos sim que agir de bom senso, mesmo que as vezes possamos ser instruídos a fazer diferente.
        há ± 1 hora · 
      • Ricardo De Faria Barros Tiago Francisco, só sofri muito no BB e fui acumulando energias para um dia, quando chegasse na boléia, não fazer igual. Somos todos concursados. Pra que tanto arroto de poder. Pra que tanto endeusamento das hierarquias. Gerente tem que ter uma liderança servidora. Mas não sou perfeito. Tenho falhas, crises de consciência, pisadas de bola. Não é fácil ser gerente e procurar compreender os aspectos subjetivos da gestão. Tem vezes que precisamos ter conversas difíceis. Mas necessárias. Só me permito mudar e aprender com estas cagadas. Estou pouco me linchando para auto-imagem. Sou o que sou... e sempre apresentei resultados. Adorei teu post.
        há 15 minutos · 
      • Ricardo De Faria Barros Rodrigo F Buller, nunca tinha parado para pensar no que falou, você teve uma sacada genial. Valeu mesmo.
        há 14 minutos · 
         ·  1

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