A Reinvenção da Velhice

Acabei de conduzir um ciclo de palestras, promovido pela Fundação Sistel de Seguridade Social, juntos aos seus associados da base SP, RJ e MG.
Estiveram presentes aos eventos mais de 1.000 aposentados, da TELESP, CTBC, TELERJ, TELEMIG, entre outras.
Voltei para casa com o coração repleto de alegria, vivenciando em meu ser o que o célebre Guimarães Rosa falou: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende".
E aprendi muito com este grupo de novos velhos, com os quais trabalhei o tema: Felicidade não tem Idade. Sim, eles são "Os Novos Velhos".
Afinal, este pessoal na faixa dos 60 aos 95, presentes às palestras, está reinventando a velhice. Eles fazem parte de um fenômeno mundial da busca de uma longevidade mais plena de sentido, a Envelhescência.
A velhice vem deixando de ser vista como a última parada, na estação da evolução humana, ou como uma espécie de antessala da morte, na qual ficava-se ali sentado, sem mais sentido algum pelo qual viver.
Os novos velhos, os envelhescentes, estão socializando, estudando, engajando-se em projetos pessoais, causas sociais, esportes e cultura. E andam saindo por aí, aventurando-se em busca de seus próprios ideais e autonomia. Que maravilha!

A riqueza do simples (Autor Ricardo de Faria Barros)

A vida pede assombros complexos, vivenciado na natureza do simples.
Cheguei morto de cansado no Othon BH, o hotel no qual iria palestrar no dia seguinte. Vinha de um circuito de três palestras seguidas, sendo uma em SP e duas no RJ.
No trajeto ao hotel, fui agraciado em pegar um motorista de Uber, um verdadeiro filósofo da vida, que me ensinava, quilômetro a quilômetro, sobre a arte de ser feliz.
Aquilo me fez muito bem, e teve efeito restaurador, ele me contava que quebrou com o comércio de tecidos, há três anos, e que após pagar todas as dívidas, e ficar quase sem anda, resolveu investir na carreira de Uber. Tem dois anos que exerce esta profissão que, segundo ele, devolveu-lhe a vontade de viver. Contou-me que cada chamada que concretiza, cada avaliação positiva que recebe, é como um tijolinho a mais na obra de seu recomeço, após os 50 anos. Uauu!!
Eu reservei o hotel pelo Booking, escolhendo ficar no local do evento porque a diária estava boa, e em promoção. Não me afeiçoou a chiquezas.
Ao entrar no apartamento 1415, nem acreditei, era maior que o meu de Sobradinho. Detive-me uns minutos apreciando a bela vista do Parque Municipal de BH, e de suas montanhas ao longe. No parque casais enamorados remavam em prosaicos barquinhos, no lago central, dando ao final do dia um toque de romantismo. E aquilo me deu uma paz tremenda. Pensei comigo, vou remar ali.
Entrei no banheiro e soltei um Uauuu!!! Tem banheira. Preparei um banho morno e fiquei ali relaxando e feliz. Fiquei pensando em quantas banheiras de hotel, nas minhas viagens como educador do BB, eu não aproveitei? Ligava o chuveiro e tomava banho, sem me permitir àquele prazer. Tudo em mim era correria e ansiedade.
Depois daquele banho delicioso, subi para ver a vista lá do 25 andar, coisa que na minha vida apressada e desatenta, de outrora, eu não fazia, nem me dava ao direto de perceber que havia aquela possibilidade.
A percepção governa a realidade. Sem estar 100% presente, á maravilha de viver, as coisas boas acabam passando despercebidas, ou sem serem devidamente valorizadas.
Do 25 andar, pedi uma deliciosa caipirinha de frutas vermelhas, enquanto mirava o pôr do sol, trás dos morros de MG, um deleite para vistas cansadas.
À noite peguei um Uber para o Bar Aos Inconfidentes, que tinha rodízio de petiscos. No local, hoje funciona uma hamburgueria. Desisti dali e pedi outro Uber, agora para o Boteco da Savassi. A motorista que me pegou perguntou-me se eu estava mesmo indo para Macapá. rsrs
E, desfeito do susto, ela sugeriu que eu ficasse na pracinha da Savassi.
Desanimar jamais, não era noite ainda dia de voltar para hotel.
Ali chegando subi por uma rua que é uma profusão de bares, muitos com música ao vivo. Pedi como tira-gosto num deles umas costelas na lata, coisa boa demais. De comer ajoelhado, agradecendo a Deus.
De outro, uns 30 metros á frente, saia uma música da melhor qualidade, tipo O Grande Encontro, ou bons sambas das antigas.
Chamei o garçom, pedi que ele botasse minhas costelas numa quentinha, fechei a conta, e de quentinha em mão, estacionei à frente do músico, do outro boteco.
E a noite foi de boa música, com direito a comida mexicana, que era o tema do bar. Logo fiz amizade com o músico, aplaudindo-o e pedindo música. Senti no rosto dele a gratidão, pelo prestigio de sua arte, dado que os presentes lhe condenavam ao antônimo do amor, a indiferença, seja pelo papo entre eles, ou por terem ficados cegos de celular, com seus olhos e faces iluminados por aquela luz que desconecta tudo de todos, e todos de tudo, no mundo real.
No dia seguinte, escolhi ficar numa mesa ao ar livre, na varanda do local do café, mirando minha alma na borda infinita das árvores do Parque Municipal. 90% dos demais preferiram o salão fechado e climatizado. Mas, era 8hrs da manhã, e nada melhor do que o sol e ar frescos para nos reinicializar. Senti dós das mais de 8 mesas com guarda-sóis não ocupadas, e dos que se apinhavam no salão fechado, disputando cadeiras em mesas tão cheias de pessoas e tão sós de gente.
Como a palestra seria 10h30min fui passear no Parque, hoje habitado por moradores de rua que dele fazem ponto para dormirem. Mas, eles não mexem conosco. Eles não aprontam onde dormem, fique certo disso, e é dado da própria PM.
O local de locação dos barcos só abria 9hrs, e para mim já ficaria tarde. Então, aproveitei para caminhar entre árvores centenárias. No caminho encontrei o Mestre Gercínio, que conduziria ali umas Oficinas de Capoeira. Gercínio é Angoleiro, do grupo do mestre João.
Ele me explicava sobre os sons do berimbau, sobre a sabedoria da capoeira, com tanta amorosidade, que era como se de seu olhar pudesse contemplar um oceano azul de paz. Ele integra um projeto social que já tirou muita gente de vidas vazias, ou que estavam presos às drogas, ao lhes ensinarem a arte de jogar capoeira, e toda a filosofia e sabedoria que existe naquela arte. Deixei-lhe pesaroso, pois a hora da palestra estava próxima. Correndo para o hotel, ainda parei num lambe-lambe, e fiz uma foto. Afinal foto em lambe-lambe é para os poucos. O fotógrafo chama-se sr. Bento, 30 anos de parque, que também queria conversar sobre sua arte, mas meu tempo rugia.
No caminho ao hotel, passei pela pastelaria Pastelândia e vi um anúncio dizendo: Pastel de Arroz, Feijão, Carne, Queijo, Jiló e Couve, por R$ 6,00.
Uauu, pensei. Tenho que comer este pastel.
A palestra foi maravilha, e terminei pelas 13hrs, exausto. Subi ao quarto, pus uma bermuda, desci e segui em direção ao pastel.
E foi uma delícia aquela exótica, mas bote exótica nisso, iguaria em forma de pastel. Num é que estava muito bom!
As garçonetes disseram que foi invenção do dono, e que tem uns 2 anos que aquele pastel virou uma espécie de jantinha, e que é exclusividade da Pastelândia, da Afonso Pena, ao lado do Othon.
Devidamente alimentado, fui para o lago do Parque e paguei mais R$ 6,00 por 30 min de remada.
Senti-me o próprio navegador intrépido, ao remar por aquele belo lago.
Entre um remo e outro, vi ao longe o um construtor de barquinhos, trabalhando à margem do lago.
Ao descer dirigi-me a ele, para reconhece-lo pela qualidade dos barquinhos, sua a estabilidade e boa navegabilidade, pelo visto um dos que ele construíra.
E era.
Descobri que aquele senhor se chamava Ivanilton, que há 40 anos fabricava os barquinhos de remo, usados para locação no lago central do Parque Municipal de BH. Aí, ele me deu uma aula sobre o tipo de madeira, os ângulos necessários ao caldo dos barcos, e o capricho da etapa final de calafetagem e pintura. E de seu encanto ao ver os barquinhos, por ele fabricados, sendo navegado pelos clientes, e em perfeição. Contou-me que têm duas filhas que moram em Sidnei, e que é um apaixonado pela carpintaria naval.
Uauu, que delícia de prosa. O relógio aproximava-se das 14h30, era hora de fecha a conta e partir.
Quantas coisas boas e simples estão acessíveis ao nosso viver e por elas passamos despercebidos?
Quantas pessoas com histórias de vida lindas que por elas passamos em nem nos damos conta, ou a lançamos nossos preconceitos, como para com os jogadores de capoeira, por exemplo.
É preciso reeducar o olhar para apreciar o simples, para curtir o agora, em todo seu potencial de encanto que existe.
A ouvir o inaudível, a ver o invisível, a tocar no intocado, a sentir o silêncio contemplativo e belo da vida, ali presente em cada esquina
É preciso desaprender muita coisa, é preciso se desconectar de muita coisa, para que de fato exista espaço em nosso viver par o que realmente importa, delicia e dá sentido à vida e ao viver. E também é preciso carregar menos tralhas, pesos e pesares, em forma de gente, emoções e pensamentos.

Dois cajus e um quase tem. (Autor Ricardo de Faria Barros)

Ambulante Edvan
Naquela manhã, acordei com o firme propósito de usar o tempinho que tinha antes de pegar o vôo, João Pessoa - Brasília, para caminhar na calcadinha da praia.
Hospedei-me num hotel na paradisíaca praia de Cabo Branco e dali saí para caminhar na não menos paradisíaca praia de Tambaú. Com máquina a postos segui meu caminho, dando-me ao luxo de parar em cada cantinho tão bonito que mirava. Aí o ambulante passou por mim empurrando uma carrocinha de frutas: era seriguela, uvas, bananas, cajus e acerolas, que formavam uma textura picassiana no tabuleiro do carrinho.
Apressei o passo para não perder aquela foto. Quando estava mirando o foco, de forma discreta e atrás do vendedor, um dos guardadores de carro dele se aproxima e pede um caju.
Ele para, olha para o guardador de carro, pega dois cajus, e entrega para ele.
Eu emparelhei com ele e descobri o sr nome, Sr. Edvan. 
Reconheci o gesto de generosidade dele, e fitei para os cajus, vendo que não tinham muitos. 
Nesta época do ano eles ficam muito caros e são disputados por caipirinhas enamoradas.
Ele me contou que sempre tem alguns alimentos para os outros ambulantes, pois, "um ajuda o outro".
Uauu. Fiquei com o coração elevado com tanta inspiração que vinha da presença de Edvan no mundo.  Tem gente que deixa o mundo melhor quando passa. Edvan, e sua carrocinha de frutas é uma delas. E Edvan foi além do que lhe foi pedido. Ele sabia que um caju só não faz um verão, e deu-lhe dois. Quanta generosidade de ser!
Voltando para o Ambasador Flat, resolvi investir meus 40 minutos finais comendo um caranguejo na barraca do Corsário, em frente a ele. 
Sentei-me numa prosaica área sombreada por castanholas. Pedi cerveja uma estupidamente gelada, e dois caranguejos. 
O garçom olhou para mim com olhos mansos e cheios de ternura, e disse assim:
"Heim heim, quase tinha...".
Toda meu desgosto de não ter caranguejo, que amo, caiu por terra. Soltei uma gargalhada, perguntando-lhe o nome. Ele respondeu: Flávio.
Eu disse assim: "Flávio, nem quero mais o caranguejo, só me explica o porquê do "quase ter"."
Disse morrendo de rir, com dificuldade até de falar. Ele manteve a pose e solenemente declarou: 
- A Maria adoeceu hoje, e mandou sua filha para a cozinha, aí ela não pode fazer o que sempre faz, que é passar na Feira da Torre, e comprar os bichos de dez patas. Nem deu tempo de nós mesmos irmos comprar.  
Adorei a explicação, a empatia, o heim heim, e o "quase tem".
Sabe pessoal, o Flávio sem querer deu a melhor aula sobre considerar a experiência do cliente, no relacionamento negocial, que já tive na vida.
Eu nem cogitei ir para a barraca vizinha. Fui abraçado com uma explicação tão humana, tão empática, que até senti o sofrer dele ao ver que não ia poder me atender com o que eu desejava.
Edvan e Flávio tem em comum uma atitude que anda rareando, a empatia. Em recente visita ao Brasil ,o professor Tal Ben Sahar, do curso das Ciências da Felicidade de Harvard, revelou que recente pesquisa detectou que o nível de empatia dos Norte Americanos caiu 40% em vinte anos.
Este dado científico foi detectado na análise das respostas atreladas a esta afirmação:
“Eu às vezes tento entender meus amigos, melhor imaginando como as coisas são, pela perspectiva deles”.   40% dos respondentes assinalaram itens abaixo da linha de concordância. Há vinte anos atrás eram 20% quem assinalava abaixo da linha de concordância.
Em vinte anos a percepção das necessidade do outro caiu drasticamente. Os estudos de Harvard indicam como um dos fenômenos a criação de mundos essencialmente virtuais, sem mais se investir tempo em relacionamentos reais, presenciais, nos quais se exercita com mais força a empatia, pois se percebe melhor as necessidades do outros, ao caminhar com ele face a face.
Então, o que Edvan e Flávio fizeram deve ser ensinado nas famílias, escolas, igrejas e no mundo do trabalho, cultura e lazer, a perceber as necessidades dos outros, e tentar de alguma forma acolhê-las apreciativamente, nem que seja numa escuta, seguida de um "quase tem".
Mas, para que isso ocorra, é necessário estar presente ao mundo e sua beleza de viver. 
100% presente e dando de seu melhor, surpreendendo, surpreendo-se e mudando realidades com seu jeito diferente, de fazer as coisas iguais.
Edvan podia ter dado outra fruta, ou até nenhuma. Podia alegar que depois passaria, e daria se sobras. Podia alegar que tinha poucos cajus. Etecetera e tal. 
Para quem quer fazer todo do mesmo jeito, para quem quer ser só mais um, sempre haverá um monte de justificativas e explicações, todas plausíveis, para não alterar o carrossel do destino, mudando vidas, negócios e ambientes com sua presença no mundo. 
Flávio poderia ter oferecido outra coisa do cardápio, poderia ter simplesmente dito que naquele dia não tinha, ele não me devia explicações alguma. Mas, ele foi além.  Deixou de ser um garçom, passou a ser "O  Garçon!".  Só pelo respeito ao desejo frustrado de um cliente.  
Empatia, coisa que rareia nos tempos atuais de tantas brigas até por escolhas políticas. 
Por mais Flávios, mais Edvans no mundo!   Que nos inspiremos neste breve fragmento de suas histórias de vida.
Que possamos assinalar, na afirmação abaixo, um item que revele nossa concordância: 
"Eu sou alguém que tenta entender meus amigos, melhor imaginando como as coisas são, pela perspectiva deles."   (X)  Concordo 
Mas, para que isto seja verdade temos que exercitar a empatia nas pequenas coisas, aquelas mesmas que para nós pode ser besteira, mas que para o outro era tão importante que a acolhêssemos em nossa vida, tais como dois cajus e um "quase tem".

Gente - O Elixir da Longevidade (Autor Ricardo de Faria Barros)

Têm mensagens que pingam em nosso viver que são como bálsamos, verdadeiras fontes de água viva. E que nos ensinam muito.
Esta foto retrata o momento exato em que uma delas adentrou meu coração.
Quem mandou foi o Luís Cabrelli. Ele é um dos 1.000 colegas que ao logo de cinco anos, migraram de carreiras das agências para a área de Tecnologia de Informação do BB, ao serem selecionados para o Programa de Ingresso na Diretoria de Tecnologia (PROGRID).
A turma dele se autointitulou os Persas, e ele naquela noite dividia comigo a sua alegria em completar cinco anos na carreira de TI: Persas, Ano V. E, como Luís bem falou, rumo ao X.
Nestes dias, muita coisa encheu meu coração, e não foram só as magníficas flores do Cerrado que aparecem quando começamos a cansar do ano que se peleja, pelos meses de agosto-setembro, como a nos dizer: coragem, falta pouco para o natal.
Pelas bandas do Planalto Central elas se fazem presentes: Cagaitas, Ipês, Cambuís, Jacarandás e Paineiras Rosas, que nos convidam a deitar em seu regaço, nos tapetes de painas brancas que formam, estão em festa.
E é sobre festa que o Luís me falava. Imagino aquele grupo de mais de cem colegas se articulando para se reencontrarem, e celebrarem suas jornadas - mais que profissionais, jornadas de vida e entre amigos, ao se associarem numa placa: A Turma dos Persas.
Flores lembram-nos do valor da celebração. Mesmo sendo flores colocadas perto de quem se foi, ainda assim, queremos com elas desejar vida plena aos que ficam, e novas e melhores dimensões aos que se vão.
Gosto muito das flores, de qualquer tipo, elas nos ensinam o valor da poesia, aquela mesma que areja a realidade, fecunda a esperança, e revigora o ânimo e a coragem de se teimar em continuar, mesmo quando muitos já de desistiram. As flores são a celebração da natureza.
Precisamos celebrar. Neste mês tive a satisfação de participar mais de festas de aniversários do que de enterros. Estou aberto a convites deste tipo: aniversários, batizados, formaturas, casamentos, chá de bebê, entrega de TCC, comissionamento, descobrir que está grávido, receber as chaves do imóvel, comprar o primeiro carro zero, aprender a andar de bicicleta, o que seja. Foi pra celebrar algo, manda o convite.
Sr. Valdeci celebrou seus 75 anos, unindo o clã aqui do DF. Uma das melhores celebrações à vida que participei. Daquelas que não se contratou empresa pra organizar, nem precisava de pratos, copos e talheres estilosos, nem com buffets cheios de guloseimas espalhados aos 4 cantos. Era festa do abraço, da alegria genuína, de pessoas que iam vê-lo apenas para dizer: feliz aniversário meu amigo.
Mamãe fez 80 anos também por estes dias. Reunimos a parentada e fizemos uma festa bem legal para ela, com espaço para podermos conversar entre nós, sem música alta, sem distraidores pra entreter os presentes, sem nada que tirasse o foco, que era ela. Quem foi vê-la queria ficar perto dela, conversar, acarinhar, ouvi-la no seu discurso de agradecimento pela vida, ensaiado à exaustão aqui em casa.

Os Persas estabeleceram um rito de encontros anuais. Que bacana!

Todos os estudos sobre bem-estar emocional (florescimento/felicidade) e aqueles acerca da longevidade (enveslhescência), remetem à um mesmo achado científico: a importância da integração, sociabilização e senso de pertencimento que as pessoas nutrem ao participarem de encontros sociais com seus grupos de relacionamento.
Estudos como o The Men of the Harvard Grant Study (Harvard) que por mais de 75 anos acompanhou os ingressos naquela Universidade, ou o de Oklahoma, no Japão, sobre os centenários. Ou o de Roseto, nos EUA, sobre a ausência de mortes por alguns tipos de doença, chegam a mesma conclusão.
Quando periodicamente nos reunimos com amigos, seja para um dominó, um carteado, uma aventura em grupo, um evento religioso, esportivo, ou cultural, ou um passeio e até numa festa, estamos desenvolvendo os quatro hormônios da longevidade: endorfinas, serotoninas, dopaminas e oxitocinas.
Todo evento que junta pessoas que se gostam, que entre elas possuem algum tipo de afiliação, ou reconhecimento mútuo de valores compartilhados, é preventivo e até curativo de certas patologias da alma, originárias por palavras sozinhas, e em má digestão, loucas para serem expelidas para alguém, mas que não encontram quem as escutem, acolham, e as coloquem noutras perspectivas vivenciais.
Então, trate de organizar encontros entre seus amigos, aprender a celebrar o nada. Não falte mais a batizados, formaturas, eventos que celebrem algo importante para alguém de seu grupo social.
E Luís, junto com os demais Persas, comecem já organizar o VI Encontro, festa boa começa na véspera. E é de boas vésperas de que se faz uma vida plena!

E, caso tenha uma pessoa para deixá-lo(a) todas as noites com um: "Boa noite, dorme com Deus"; ou acordá-lo com um: "Bom dia, lindo dia". E que, ao lado dela(e), tu repete a mesma história, e ela(e) te ouve como se fosse a primeira vez, saiba que ela(e) te cura todos os dias. É como se ela(e) reinicializasse teu sistema, te tornando mais novo, animado e corajoso, sempre que sai de dentro do abraço dela(e). Então, valorize esta pessoa como se fosse um sacrário vivo.
Quem tem uma pessoa para esperar, uma pessoa para cuidar, uma pessoa para admirar, uma pessoa para com ela olhar o mesmo horizonte, tem uma brisa aracati ao seu lado, que o deixa melhor a cada pousar de seu olhar sobre nosso coração.
E, não é todo mundo que tem o dom de nos tornar melhores, só ao olhar para nós. Então, não deixe que este tesouro seja vítima do estresse, descuido, rotina e indiferença, tão comuns ao "amor em tempos líquidos" (Zygmunt Bauman).

Celebre agora mesmo, com um bom copo de água e um brinde, ao ler este texto, a presença desta pessoa em teu viver.
E, deguste também a presença em teu viver de todos os amigos e grupos, e de qualquer vocação positiva e ética, que ainda te convidam para com eles se congregar, para além dos inevitáveis e solidários enterros.
Costumamos fixar nossa atenção para coisas quando as perdemos, veja o Museu Nacional no RJ.
Então, não deixe que pegue fogo e se vá em cinzas, as coisas tão legais que moldaram tua história, entre elas as pessoas que te constituíram ser quem és.
Não se perca de seus grupos sociais. Persas, não se percam uns dos outros. E aprendam a cultivar novos grupos, em outras instituições de que fazem parte.
Não se chega a felicidade sozinho.

A felicidade é um efeito colateral da construção coletiva, e saudável, de toda cadeia de relacionamentos que ao longo da vida vamos estabelecendo e construindo.

Todos que saíram da festa de Sr. Valdecir, da de mamãe e da do Luís, saíram melhores.
Mas, não precisa ser aniversários, ou festas mais de logística mais trabalhada, como encontro de turmas.
Participe da vida comunitária. Proponha momentos para juntar pessoas e até ajudar pessoas.
Pode ser a quermesse da igreja, a festa de São João de seu prédio. Um encontro com pais dos amigos de seu filho. Um mutirão para uma causa social. Um torneio de frescobol. Uma caminhada em noite de lua. Uma seresta entre amigos.
Não importa. Teve gente de luz reunida, com propósitos edificantes, ali há muitas fontes de geração do quarteto do bem-estar emocional positivo: dopamina, oxitocina, endorfina e serotoninas.
E, valerão algumas idas ao terapeuta, ou podem atuar preventivamente ao processo de decisão pelo final da vida, por aquela pessoa ter encontrado quem a ouvisse, em seu momento de profunda comoção e confusão rácio-emocional.

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