Cartas ao JG – Expresse Amor (Autor Ricardo de Faria Barros, pai do João Gabriel - JG, quase 8 anos)


Sabe filho, após a costumeira feira do domingo, cheguei em casa e desci para o pomar, com uma caneca de cappuccino. Precisava revisar uma palestra que darei, responder e-mails, preparar-me para um curso que farei, atualizar as sessões da clínica psicológica e de coaching, e escrever um texto para o IBMEC, sobre posturas que causam anemia ao crescimento profissional.
Ao descer, dirigi-me ao canil para soltar os cachorros. Notei que Duquesa se esforçou para chegar perto de mim.
Vi que algo estava estranho com ela.
Não senti seus pulos de alegria, sua costumeira babação, suas maluquices, e senti a tristeza em seu olhar.
Aflito, fiz carinho nela, botei água e comida, mas foi inútil.
Balu, meu cachorro labrador, ficou perto dela, montando guarda.
Comoveu-me a lambida que deu nela.
Mesmo doente, ela ainda se vira para mim, como que a pedir um dengo.
E fico aflito.
Ela deve ter comido algo que ofendeu. Caçadora que é, deve ter pego um animal peçonhento ou um rato. Vou esperar o dia de hoje. Caso não melhore, amanhã levarei no veterinário.
Seu olhar tão doce e triste é de arrebentar meu coração.
E nada mais é prioritário para mim. Aquela palestra que iria revisar. Aquele resto de material de dinâmica. Aquele texto que produziria. Aquela planta que iria adubar.
Tudo fica para depois quando aquela que amamos adoece.
Tudo.
Quando quem amamos sofre, o tempo e as prioridades se enlaçam em outras perspectivas e dimensões de sentido.
Nada mais é urgente ou importante, quando aquele que amamos aparenta estar adoecido.
Essa é a força do amor. Ele subverte razões, altera objetivos, molda o presente para além do antes planejado.
Olho para os olhos negros dela e é como se conversássemos.
Darei remédio para alergia e fígado. E o resto de meu cappuccino.
Não precisamos perder ninguém, por doença, para demostrar amor.
A pior coisa do mundo são os olhos opacos da indiferença, que nos levam a não mais valorizar as pessoas amadas, só porque elas estão ali pertinho, disponíveis, e como diz a canção: “fáceis demais”.
Os afagos dela que chegavam a me aborrecer, hoje fazem uma falta tremenda. A gula dela, roubando a comida de Balu, enquanto ela ainda se alimenta da dela, hoje me fazem uma falta danada. Não precisei ralhar com ela.
As corridas delas pelo gramado, hoje vazias estão.
De igual, só nossa encarada face a face, quase como quem brinca de ver quem pisca primeiro.
Sabe filho, nunca deixe de dizer à quem ama o quanto essa pessoa é importante em teu viver.
Não deixe seu amor criar mofo, fungos, cupim ou ficar envelhecido.
Dê o seu melhor em admiração, cuidado e ternura.
Dê seu melhor cappuccino, para os amados.
A rotina do dia a dia, as preocupações, e até a mesmice do cotidiano podem levá-lo ao piloto automático do amor.
E isso é horrível.
Então, amado filho, nunca deixe de ser criança ao amar. Sem medo de ser bobo, de ser puro, de se permitir, de abraçar, fungar, ninar, beijar, dengar...
E, não só para o amor a dois. Falo de toda forma de amar.
Toda forma de amar vale a pena, como diz a poesia. Amor entre amigos, amor entre pessoas que partilham a mesma causa.
Hoje na feira livre tive duas revelações, que seriam um prenuncio do que escrevo para ti.
Dona Valmira, a matriarca da pastelaria La Deyse, o meu escritório da feira de São Sebastião, quase morre de um acidente de trânsito. Escapou por pouco da batida, que seria em cheio e em alta velocidade. Ela contou-me com olhos marejados. Aí lembrei-me que não tenho foto recente dela, e a fraguei fazendo minha tapioca.
Sr. Darcy, o de barba na foto, teve um rompimento de um vaso no esôfago, e quase parte dessa para melhor, num intenso sangramento que teve.
Somos amigos, e já fui inclusive no sitio dele. Ele ia sair de meu viver sem eu dizer-lhe o quanto ele é legal.
Ela também.
E o quanto Valmira, Darcy, Maria e Francisco são importantes para mim, nas manhãs de feira livre, a cada domingo.
Não deixe de dizer às pessoas, com palavras e gestos, o quanto elas são importantes em teu viver.
Cultive a gratidão, expresse a gratidão.
Não permita ficar adormecer teu amor, não embruteça teu coração. E, nem faça disso um comércio. Só dando se receber. Tu é quem perderá nessa negociação.
Acredite!

Cartas ao JG - Os cinco pilares do bem-estar (Autor Ricardo de Faria Barros, pai do JG de quase 8 anos).


Sabe filho, têm noites especiais, e a de sábado foi uma delas.
Você aprendeu a ler as legendas dos filmes.
Não gosto de filmes dublados, e você ontem acompanhou comigo um filme, pela primeira vez.
Um daqueles bem legais, no qual uma fisioterapeuta trata um atleta para a volta às quadras de basquete, um famoso jogador da NBA. Você curtiu, gosta de esportes.
E, em alguns momentos, durante o filme, fez cafuné em minha cabeça. 

Depois, antes de dormir, brincou de se esconder comigo. E não lhe achei. Você vibrou, pois perdi. 1 a 0 para tu. Adoro perder para quem amo.
Tu se escondeu num dos cômodos do guarda-roupa. E me pegou direitinho.

Depois, antes de dormirmos, você veio na minha rede e trouxe um de seus amiguinhos para dormir comigo, o “Tobi”, seu cachorro de pelúcia.
E me senti tão amado por ti!

Dormi abraçado com o Tobi, e viajei para bem longe, para um lugar na minha infância no qual eu tinha meu Tobi, que se chamava Preto, um amigo-cão de estimação que era quase gente.
Sabe filho, nessa carta queria te falar para nunca perder essas três coisas que fez ontem: a capacidade de dar afeto, a de brincar e a de doar algo de melhor que tem para o outro. 

Expressos no cafuné, no brincar de se esconder, e no teu Tobi de pelúcia.
Essa é a formula do bem viver. Nunca esqueça. Cultive sempre em ti um ser de ternura, o brincar e doar de teu melhor ao outro.

Andamos pedindo da vida muitas respostas, e não damos para ela, a vida, as respostas. Um perdão pode ser uma resposta. Um gesto de doação, pode ser outra. Uma bondade, sem segundas intenções. Um agradecimento sincero. Um coração que encontra tempo e oportunidades de expressar a gratidão. Tudo isso são respostas. 

Todo mundo anda cheio de direitos, de razões, só querendo receber, só querendo para si o melhor, mesmo que a custas de estratégias nada éticas.
E a infelicidade campeia solta. Somos vítimas de nosso próprio estilo de vida, da dita sociedade pós-moderna.
Imagine filho, que essa semana saiu num dos Jornais daqui que o Distrito Federal já é recordista em prescrição de remédios para ansiedade e controle de estados de humor.
E as doenças mentais já são as que mais afastam no mundo do trabalho, segundo a OMS.
Atacamos as consequências, e fingimos não ver as causas.
As pessoas estão individualistas demais. Estão insensíveis demais. Estão agressivas demais. E o efeito se dá saúde mental.
Então, filho amado, nesses três gestos teus estão o segredo do bem-estar emocional, e da prevenção ao adoecimento psíquico. Cultive-os nos mais diversos formatos, estilos e intensidade.

No primeiro, o do cafuné, estão as emoções positivas e os relacionamentos significativos.
Emoções positivas e relacionamentos significativos estão contidos em quem se propõe a acarinhar alguém. Ninguém faz cafuné no outro pensado em vingança, ódio, mágoa e desamor. Pelo contrário, quem faz um carinho no outro pensa o bem para ele, pensa amor, pensa paz, pensa bondade, pensa gratidão, potentes emoções positivas.

No segundo, o do brincar de se esconder, estão dois outros pilares do bem-estar emocional: o engajamento e a realização. Você se engajou em algo, em se esconder. E após constatar que eu não lhe encontrei, viveu o saboroso momento da realização. Engajar-se com algo, que quando estamos fazendo perdemos a noção de tempo e espaço, de tão bacana que é, que fundimos o cérebro emocional com o cognitivo, num enlace perfeito. A isso chamamos estado de flow, ou de engajamento. E a realização você viveu, na vibração com os resultados que alcançou. No seu trabalho você pode viver estados de engajamento, de flow. No lazer ou Hobbies, e até na produção acadêmica ou cultural. O flow é o estado do ser que mais ativa as endorfinas e ocitocinas – hormônios do prazer.

Por último, na doação de teu amigo de pelúcia para dormir comigo, tu viveu o pilar do sentido, ou propósito. Houve uma intencionalidade, você queria me proporcionar algo não tangível, de uma dimensão subjetiva, algo do campo da visão, do estado mais puro de doação de si mesmo, que fazemos quando somos orientados por um propósito maior de viver. Você tinha um propósito, proporcionar companhia para mim, na noite que dormi na rede, e você espertamente tomou meu lugar na cama de casal. Era como se quisesse que o Tobe me fizesse companhia.

Que lindo!

Então grave bem: Emoções Positivas, Relacionamentos Significativos, Engajamento, Realização e Sentido são as cinco dimensões do florescimento, nome que nós chamamos o estado de bem-estar psicológico. E, se tiver uma delas bem ativa, ela se encarrega de nutrir as outras. Não é legal isso?
Continue assim, em tudo que fizer, e mesmo que esteja enfrentando situações difíceis, e até triste, assim agindo a tristeza não criará raízes no teu coração. Ela passará, você passarinho.

Numa trilha, um manifesto à vida. (Autor Ricardo de Faria Barros)


Não era um sábado qualquer.
Afinal, iríamos sair para conhecer um lugar diferente, para nos reabastecer com a poética da natureza.
Os meninos, Tiago, Priscila e Rodrigo estavam em alegre efervescência.
Quem deu a ideia do passeio foi a Poliana.
Ela tinha ido com seu namorado, o Polion, fazendo por lá uma trilha de jeep.
Mas, segundo ela, qualquer carro passaria pelos caminhos por onde foi.
E que valeria muito a pena.
Nossa ONG estava com o emocional aos farrapos. Tínhamos perdidos vários companheiros naquele mês, vítimas do HIV/Aids.
Precisávamos daquela aventura.
Partimos de Campina Grande-PB, em comboio, e seguimos pela BR 104, no prumo de Caruaru-PE.
Após passarmos pela cidade de Queimadas-PB, e bem próximo ao distrito de Barra de Santana, saímos na pista asfaltada e nos embrenhamos pelo sertão catingueiro.
Eu sorria à tôa. Agora seria com muita emoção!
Eu amo a Caatinga! Leia com dois “As”, por favor. rsrs
Aquelas árvores me falam, e até sinto o aroma das flores de Jurema.
A trilha se esgueirava tortuosa. Aqui e acolá, precisávamos parar para abrir restos de porteiras, que a pobreza do lugar não permitia concertá-las.
Chegamos numa casa, no final da trilha.
Descemos, cumprimentamos os moradores. Pedimos licença para adentrar nas terras deles e ver os Cayons do Rio Paraíba.
Liberamos uns sacos de bolacha para a filharada dos nativos que corria solta, e partimos agora a pé.
Os meus filhos seguiam à frente, como desbravadores.
Poliana estava feliz da vida, havíamos conseguido chegar no local por ela indicado.
À medida em que nos aproximávamos do abismo, formado pelos paredões rochosos, um silêncio respeitoso ia tomando conta de todos.
Descobrimos uma trilha que descia pelo precipício, daquelas bem íngremes, de fortes emoções, e fomos lentamente descendo por ela.
Ansiosos para nos refrescarmos no filete de água que ainda escorria do Rio Paraíba, a uns 300 metros abaixo de nós.
A descida foi boa. Mas, alguns de nós ficaram pensativos... “e a subida?”
O local era estonteante. Daqueles de cinema. Com grutas formadas pela erosão da água sobre as rochas, com lajedos em forma de piscinas, com o rio mansinho e convidativo nos chamando ao seu regaço.
Descobrimos que estávamos nas ruínas da represa de Curimatã, uma obra iniciada pelo exército na década nos anos 70 e nunca terminada, não sabemos porquê.
Par aonde olhávamos era beleza pra todo lado que saltava á nossa frente.
Flores diferentes, cactos ousados, pássaros que ali vinham para beber.
E um uivo do vento que passava sobre o cayon emoldurava tudo com uma trilha musical que falava-nos de eternidade.
O som do Eterno que habita em nós reverberou, em cada coração ali presente, e agrademos aquele momento mágico, com tanta comunhão entre nós e a mãe Terra.
As noivas ainda não descobriram aquele local, mas que ali daria um casamento lindo daria!
Desde então adotei aquele lugar como meu, meu infinito particular.
Tem uns 20 anos que lá não vou.
Mas, já coloquei na pauta. Não posso partir dessa para a melhor sem antes ter voltado em Curimatã.
É impressionante a força da água sobre as rochas. Que mesmo correndo em filetes minguados, ainda assim, conseguem esculpir nelas sua presença.
Quem esculpiu em mim e em você a presença dele(a)?
Quem foi essa água que nos moldou, que amansou nossas arestas, que nos tornou mais redondos, menos pontiagudos?
Menos lanças agressivas, menos quinas que machucam pernas?
Quem foi? Quem é?
Volto-me para o rio e quase escuto o diálogo das rochas com as águas. Ora uma cede, ora a outra, e dessa comunhão nasce a esperança de que elas vão atravessar as maiores dificuldades.
Às vezes, Via um filetinho rompendo a barreira de uma rocha, e por ali escorrendo a vida.
E ficava impressionado com a força daquele resistir.
Encontramos lugar para estender as tolhas e pikniquear.
Era uma espécie de gruta, que nos fazia sentir como os Homens das Cavernas.
Dali, naquele ninho, nos confortamos mutuamente. Um ou outro chorou, lembrando os falecidos que naquele local não puderam chegar.
Mas, foi choro breve.
A hora era de se alegrar, e em profunda interação com a vida, recuperar a esperança.
Pelas 16hrs, despedimo-nos do local, preparando-nos para a subida.
Agora sim, agora é que seria o teste final.
Um a um íamos nos ajudando. Não tínhamos pressa.
Só avançávamos mais um metro, quando todos estavam em segurança.
Metro a metro, fomos subindo, não temendo mais o amanhã.
Nossos olhos viram a paz.
Chegando no topo, olhamos para aquele oceano de imensidão azul, num contraste de céu de fim de tarde no Nordeste, com o azul da águas refletidos nas rochas, qual espelho.
Aquele Oceano Azul nos restaurou a força em nós mesmos, e no valor do outro a nos segurar pelas mãos.
Sim, tenho e tive muitas águas de vida que moldam o melhor de mim em meu ser.
Que não se cansam de lapidar minha pedra bruta.
Que esculpem minhas imperfeições, que aplainam meus desatinos, que me orientam e estimulam.
Abençoadas águas. Misteriosas águas.
Voltamos para casa cantando o Ói-Êpo, nossa canção da resistência.
Abraçados, despedi-me de meus afilhados: Maio, Reginaldo, Poli, Lana, Maria, Moisés, Fabrício, Paizinha, Nalva e Josi.
Entrei em casa, não me sentia exausto, embora estivesse.
Sentia-me como quem tocara nas vestes de Deus. Como quem se aninhara nos travesseiros dos anjinhos.
 Olhei para meus filhos e senti que eles também entenderam algo precioso para a vida.
A vida acontece é no caminho dos pés, enquanto eles se dirigem para as águas.
A vida se renova no subir de pedras íngremes, quando passamos a dar valor àquela mão que nos guia, àquela mão que cuida de nós, àquela mão que nos sustenta e apoia nossa subida.
A vida se perpetua, em cada traço de nós que com delicadeza deixamos esculpidos no outro, ou que com singela amorosidade, deixamos que ele talhe em nosso coração.

Farinha de Andiroba, de Manaquiri-AM do Renan (Autor Ricardo de Faria Barros)

Aproximava-se o horário de atender a um de meus clientes e o whats apita, com mensagem nova, e é justamente a dele.
Imagino que não conseguirá chegar a tempo. Coisas do tipo.
A mensagem era enigmática: “Acesse seu email e leia minha mensagem, antes de nossa consulta!”
Estremeci...
O que será que aconteceu? Pensei comigo...

Abri o email dele, relaxei, soltei um sorriso lua cheia, e me deliciei com uma crônica que fez para mim.
É que incentivo meus pacientes (“clientes”) a escreverem narrativas positivas de suas vidas e trazerem para as sessões.
E essa fez-me encher os olhos, desde o primeiro parágrafo:

“Nas minhas viagens procuro reservar um tempinho para conhecer algumas pessoas que possam me ensinar um pouco sobre a realidade local. São conversas informais, normalmente são momentos extremamente divertidos e, por vezes, inusitados. Mas, sempre são aprendizagens maravilhosas. Meu aprendizado foi na feira livre de Manaquiri-AM”

Quem começa um texto assim, promete quem vem coisa boa. E ele continua:

“Às 6h em ponto, a feira é aberta, já com todos os produtos expostos e todos os produtores devidamente identificados com seus coletes verdes (o que rendeu o apelido de periquitos). A participação da população não deixa a desejar e, já nas primeiras horas, a procura por alguns itens é grande, fazendo-os esgotar rapidamente. Foi o aconteceu comigo. Esgotou-se a melhor farinha de puba da comunidade de Andiroba, a do Renan.”

Ele me conta que o mercado do produtor só tem 4 meses. Antes dele, os atravessadores dominavam o comércio de farinha, sujeitando os Renans da vida à exploração ao comprarem por preços irrisórios o fruto de seu trabalho.
Agora não. A prefeitura investiu na capacitação dos produtores, preparou um ginásio para receber a feira, e forneceu até a gasolina para que os mesmos subissem por longas horas as estradas de rio e pudessem chegar com suas mercadorias à “cidade grande”.
Me diz que não conseguiu comprar a farinha do Renan.
"Acabou logo".
E que ficou com sentimentos contraditórios: frustração e felicidade. “Frustração por não encontrar a farinha e felicidade por saber que, se há pouco tempo atrás aquele monte de produtores não tinha para quem vender sua produção, a iniciativa da prefeitura estava trazendo ganhos concretos para eles.”

Aí a mística se fez. Quando ele estava vindo embora para Brasília, sem a farinha do Renan, eis que ele aparece no hotel e o presenteia com 12 litros de farinha. E, ao entregar-lhe a farinha não deixou que ele pagasse: “
Leve minha farinha para Brasília. Diga que é a Farinha de Andiroba”, do Manaquiri-AM! A melhor farinha que eles vão comer! E, que um dia venham aqui conhecer a nossa feira do produtor.”
Eu estava ainda muito emocionado, quando meu cliente adentra a sala, com um pacote.
E me presenteia com a farinha do Renan, a do distrito de Andiroba, do Manaquiri-AM.
Aí, um filete de lágrimas escorreu e nos abraçamos. Nós sabemos o que aquela farinha representa. Aliás, todos que já sobrevivemos a situações difíceis saberemos.
Hoje, nessa noite chuvosa, comi mais um pouco dessa farinha e me senti tão bem.
Não é qualquer farinha.
É a farinha de quem saiu das mãos da opressão e que agora consegue um pouco de luz, no seu lugar ao sol da Nação Brasileira, tão desigual.
Não é qualquer farinha, é a farinha comercializada num espaço de líderes na gestão pública que reinventaram um modelo de negócios, possibilitando uma maior inclusão social, com geração e emprego e renda, contrapondo-se aos tubarões do capital.
Aqueles mesmos que financiam tantos políticos para manterem-se no poder.
É farinha revolucionária de um Brasil que pode dá certo.
Ela tem gosto da esperança!
Renan, não te conheço mas queria te dizer que está deliciosa. Que combinou bem com o peixe.
Sua perseverança, em não desistir de procurar suas melhoras, em romper com um modelo de escravidão e acreditar na força do coletivo, nos inspira. Nem todos subiram o rio para o mercado do produtor. Acomodaram-se a ganhar pouco, “mas na porta de casa”.
Você não. Você teve a ambição de ser mais, de procurar seu espaço, e o pagamento justo pelos frutos de seu trabalho. Você e seus amigos da Feira do Produtor nos motivam. A todos nós que porventura um dia nos sintamos vendidos, comprados, amordaçados, na mão de quem nos domina, seja economicamente, seja emocionalmente.

Precisamos subir nossos rios também, em busca de outros potenciais adormecidos, sempre que nos sentirmos pequenos diante de tanta dominação a que somos sujeitos, indo até a “ Feira do Produtor”, na qual com outros também peregrinos, poderemos nos juntar e nos sentirmos mais valorizados, reconhecidos e apreciados.
Não é qualquer farinha, é a farinha de quem com ela renasceu para a vida!
Sim, nós podemos também sair das garras de quem nos faz mal, humilha e nos desvaloriza!
Subamos os rios de nosso viver!
A gasolina não é a prefeitura quem pagará, quem pagará será nossa coragem, amor, determinação, disciplina, objetivos, sonhos, otimismo, esperança e valores!
Eita combustíveis potentes!

Esvaziando Armários (Autor r Ricardo de Faria Barros)





































































Você já teve naqueles dias em que pensa em tirar tudo do guarda-roupa, da dispensa, do quarto de tranqueiras, estante, ou algo similar,  e se motiva a arrumá-los?
Na nossa vida interior também é assim. Precisamos desses dias de arrumação de nossas coisas internas, que foram se amontoando. 
Colocar no lixo as mágoas, ódios, invejas e ressentimentos que guardamos... já deu! Não é hora de levá-los mais conosco!  Ou aquele sapato da culpa que jã não lhe cabe mais.
E até as coisas que já não lhes servem mais, modelos fora de época, pequenos ou grandes, do tipo de quem fica sempre se justificando para os outros, implorando ser reconhecido, ou suplicando por migalhas de afeto! 
Aproveite para lavar, ou lustrar, as coisas boas que estavam esquecidas, e que um dia já te fez feliz. Dê a elas novos significados.  Valorize-as novamente, para que não fique esquecidas nos escuros mofados da indiferença.  
Veja aquele vestido ou terno de baile, e se sinta novamente tão linda e belo, agradecendo por tudo que passou e continuou na batalha. 
Areje os cômodos interiores de teu existir, abrindo espaço para cultivar neles a tua auto-estima. 
E, faça novo leiaute nas emoções que guardará, na hora de arrumá-las novamente, privilegiando as de foco positivo.  
Então, caro amigo e amiga, aproveite esse dia de arrumação para crescer como pessoa. 

Assim como na foto, portas se abrirão para uma nova caminhada, só com esse revisitar em teu coração.  Acredite, e periodicamente encare essa jornada da alma, em busca de si mesmo!

Aviso aos Novos Empreendedores! (Por Ricardo de Faria Barros)


Recentemente, participei de um treinamento para me tornar certificado na prestação de serviços de personal coaching, apoiando meus clientes nas suas metas para com a vida. 
No último dia do curso, proporcionado pela SLAC, muitos compartilharam esperanças, ambições, ansiedades e até um certo frisson, para se lançarem nesse mercado, e logo faturarem salários cobiçados, daqueles de concursos público.
Eu entendi perfeitamente aquele movimento.
Pois, para alguns será uma oportunidade de abrir seu próprio negócio, outros de recolocação profissional, ou até de ser uma fonte complementar de renda.
Eu vibrava com a vibração deles.
Era contagiante o clima de: “Sim, nós podemos!”.
Revivi meus momentos de empreendedor, quando cheguei em Brasília em 1999, e estava ávido por montar meu consultório de psicologia.
Até comecei, lembro-me que foi numa sala que a Fran cedeu, lá onde funcionava a primeira escola do IBMEC, perto do Gilberto Salomão.
Engraçado que dez anos depois, daquele fatídico 1999, eu viria a ser um dos professores do IBMEC, num feliz reencontro.
Mas, caros amigos e amigas, eu me estrepei profissionalmente falando. Tinha um cliente, que mal dava para pagar a gasolina. Embora fiquei muito feliz quando recebi aquele dinheiro, ele tornou-se o único.
E saí do mercado de microempreendedor, frustrado e sem pique para ousar novos voos.
Aquilo incomodou-me bastante.
Nas revistas de psicologia, no PowerPoint, no relato de alguns colegas, tudo era tão fácil, o mercado era “comprador”, então o que eu estava fazendo de errado?
Vou contar-lhes.
Eu não sabia caminhar na maré baixa, e, enquanto se caminha, colher conchinhas, mariscos, e iscas para pescar.
Eu só estava preparado para a maré boa, aquela maré alta que possibilita elevar os barcos, fundeados na praia, por falta de condições de atravessarem os bancos de areia e arrebentações à sua frente.
Aquela minha ambição de alçar altos voos, influenciado pelo que eu lia, pelas vidas editadas, pelo relato de professores da clínica, e pelos textos que eu lia com as narrações de colegas psicólogos, cujo teor era repleto de vitórias e vencedores, estava me matando.
Aliás, me matou.
A enorme expectativa de resultados a curto prazo, somando-se com uma ambição desmedida e com a observação seletiva e distorcida da grama do vizinho, contribuíram com meu afastamento da clínica, só retomando agora.
Eu desisti, por não ter feito a coisa certa, por ter acreditado que seria fácil, por não ter pego as conchinhas na maré baixa, e com elas me saciado, na minha fome de um lugar ao sol.
A pressa em chegar no topo, quando se depara com a dureza da realidade, vai erodindo a esperança e tornando tudo mais difícil.
É na maré baixa que conseguimos criar capacidades para aproveitar a cheia, quando ela chegar.
É na maré baixa que conseguimos limpar os cascos de nosso barco interior. Tirando deles as cracas, mexilhões, lodo e todo tipo de sujeira que atravanca nosso deslizar, em busca do alvo.
É na maré baixa que damos valor ao pouco que ainda temos.
É na maré baixa que aprendemos a sobreviver, cuidando da chama da esperança, com zelo e atenção, para que ela não se apague. E, quando chegarem os tempos melhores, já termos desistidos de nós mesmos.
Ao lançar minha empresa no mercado, eu lembrei muito daqueles dias. E, não tenho mais essa ambição e ansiedade desmedidas.
Nada é fácil. E é literalmente de grão em grão.
Mas, tenho que estar capacitado para pegar a boa maré. Meu barco tem que estar lixado, limpo, pronto.
Tenho que ter um monte de conchinhas, que mostram por onde andei e o que já passei e ainda estou aqui, forte e firme!
Tenho que continuar me exercitando, não perder os tônus, para aproveitar melhor as oportunidades que virão.
Não acredite em topo de carreira fácil.
Um palestrante bom pode cobrar acima de RS 30.000,00 por palestra.
Mas, se você conseguir uma por R$ 2.000, agarre essa oportunidade.
E, se eles não puderem pagar, faça assim mesmo.
Você está sendo visto, e no dia em que eles poderem pagar, lembrar-se-ão de você.
Uma consulta com um psicólogo tarimbado pode se igualar ao preço de um pediatra.
Mas, se seu cliente só pode lhe pagar 1/4 disso, avalie a possibilidade de atendê-lo.
Você estará treinando, ajudando a uma pessoa e ainda tendo mais um para distribuir seus cartões, de coração penhoradamente agradecido.
Assim também é para o mercado de sessões de coaching.
O que mais vejo são depoimentos de coachs que estão comprando suas Ferraris. Entendeu?
Tipo aquelas igrejas da prosperidade, ou correntes de marketing de multinível.
Vá para qualquer sessão dessas empresas e os vídeos mostrarão os caras. Os top, os vencedores!
E você sai anestesiado, nas alturas, em êxtase. Quer ser como eles, o que é legítimo.
O problema é que esses vídeos são de vidas editadas.
Não mostra as marés baixas que eles enfrentaram.
Faça treinamentos de empreendedorismo. Ajuda.
Mas, uma coisa é o curso, outra o mundo real.
Neles, tudo parece tão fácil: São cases e mais cases. “é só fazer um plano de mercado”, “faça um plano de negócio”, “elabore o projeto de marketing”, “defina sua estratégia de posicionamento”, “divulgue-se nas mídias digitais”, etc. etc. etc...
E pronto, os negócios aparecerão, como o orvalho da manhã.
Se não apareceu é que tu é fraco mesmo.
Não acredite. Isso é mentira.
Mas, não pare só porquê não chegou naquela tela do PowerPoint ainda.
Não desista. Mas, aprenda a ir devagar e em frente, sempre.
Sem grandes ansiedades, modulando sua ambição à realidade do país, e não pense que o sucesso está na próxima esquina.
Não está! Só para alguns que geram matérias para revistas e programas televisivos, pode até estar. Mas, são poucos.
No geral, tem que ralar, ralar, ralar, ralar e muiiitooo!!!
E leva tempo.
Mas, não faça como fiz em 1999. Quando não ficava feliz em ter apenas um cliente na clínica. E parei.
Não pare.
Não desista de seus sonhos, pois, quase 20 anos depois, ficou bem mais difícil para mim.
Já pensou se eu tivesse me contentado com um cliente novo por mês? Hoje estaria abarrotado de clientes.
Mas não! Ouvi pessoas erradas, li material errado, deixei-me influencia pelas vozes da negatividade que me apontava o dedo em riste, mostrando os vitoriosos à minha frente.
Então, fica a dica: É na maré baixa, naquela que ninguém procura seu negócio, naquela que você está prestes a desistir, naquela que está quase quebrado, que você deverá limpar os cascos do barco de seu sonhar, e poetizar sua vida – cultivando a esperança, aquela que nos faz colher bela conchas, só visíveis porque a água baixou.

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