Cartas ao JG - De volta ao Recomeço - Autor, Ricardo de Faria Barros, pai do João Gabriel (JG - 7 anos)


Sabe filho, desde que me aposentei foi a primeira vez que voltei lá no trabalho, após 5 meses.
Eu fui buscar uns discos que uma amiga me doou, lá da Diretoria de Tecnologia do BB.
Recebi de coração comovido, tratam-se de preciosidades que pertenceram ao pai dela e que guardarei com zelo e ternura.
Na recepção, a copeira me viu e acorreu até mim com um abraço gostoso. Disse-me que faço falta.
A minha amiga, a dos discos, estava numa reunião. Fui esperar o término lá no carro.
Uma outra amiga, de mesmo nome, foi abordada pela copeira, dizendo-lhe que eu estava na recepção esperando-a. Ela disse para a copeira que seu sobrenome era diferente. Mas, que mesmo assim valeria a pena ir lá, me dar um abraço.
Chegando na recepção não me achou.
E saiu me procurando pelo estacionamento externo, até me achar e me enlaçar num abraço fraternos de amigos.
Daqueles dos bons.
Mesmo sabendo do engano, ela queria me ver. Refeito de tanta ternura, segui para o encontro com a Patricia Midom Di Napoli, dos discos. Cujo gesto de doação elevou meu ser em preces de gratidão.
Aí fui buscá-los no estacionamento interno, no subsolo. Um amigo me viu no carro do elevador. E entrou nele, dizendo-me que não perderia a oportunidade de trocar uns dedos de prosa comigo.
Subi com os discos, e a telefonista me sorriu dizendo: “foi bom te ver, volte mais vezes...!”
Saí de lá nas nuvens, e voando com dois tesouros, um material: os discos; e o outro no coração, o calor do afeto do reencontro com pessoas tão queridas.
Eu precisava de um abraço, para conter em mim tanta emoção. Fui num restaurante de uma vovó querida. Sua filha estava lá, e me deu aquele araço.
Sabe filho amado, você pode fazer passeios maravilhosos, pela vida afora, mas o que de melhor acontecerá neles serão os amigos que fará, ou com quem dividirá as aventuras.
Veja essa foto, filho meu. Foi um final de semana na Chapada dos Veadeiros-GO, perto de Colinas do Sul.
Em cada foto um amigo que você fez. Tem o Gabriel, “o filho da Fernandinha”. Com ele você aprendeu a escorregar nas pedras das cachoeiras, até um banho gostoso.
Tem o Francisco, com ele você jogou Futevôlei, e dividiu a mesa do almoço.
Veja a expressão dele te abraçando. É ou não é de amor?
Tem a Maitree, com ela você virou um guerreiro valente. Ensinando-lhe sobre canhões, piratas e como defender o forte dos malfeitores. Forte que construíram às margens do encontro dos rios São Miguel e Tocantinzinho-GO.
Filho meu, ame!
Ame de montão e sem temer causar vexame.
Esqueça esse negócio que homem não pode ser amigo de mulher, sem ser apenas em conotações eróticas.
Engano. Pode sim! Tenho muitas.
Faça amigos, independente do gênero. Cultive o encontro, a arte do encontro.
Há pessoas maravilhosas em todos os lugares.
Mas, tem que perder o medo delas. Se aproximar, criar pontes.
Algumas vezes, perdemos a viagem. Elas não estão querendo pontes. Aprenderam a ser muros intransponíveis. Tal qual os do forte que construíra.
Bom é poder voltar de onde partimos, de coração leve, terno e agradecido.
Bom é abraçar, poder congregar e celebrar a vida perto de quem nos fornece sombra, sustento, apoio e esperança. Isto só os amigos que nos proporcionam.
Eles estarão em todo lugar. Um balconista de farmácia que lhe atende, pode se tornar uma pessoa. Um copeiro, um garçom, um taxista, um jardineiro, uma Cida, um colega que divide a área de trabalho, um estudante que contigo peleja, um professor, um vizinho, uma pessoa com a qual faz as preces. Todos!
Todos poderão se tornar especiais, ao serem reconhecidos por ti, como únicos.
E passarem a ser nutridos em teu coração, qual sementes valorosas.
Não embruteça teu coração ao outro. Mesmo que conviva com brutos.
Não adormeça teu afeto pelo outro. Mesmo que conviva com pessoas sem ternas atitudes.
Não seja bom, manso, justo e amigo só pela expectativa do que quer que o outro seja para ti.
Nivelando seu sentir e agir ao que recebe do outro.
Não vá por aí.
Apenas seja, por não querer ir se despedaçando de você mesmo, perdendo-se de tua essência.
Apenas sendo você!
Levei muito tempo para aprender isso. E quase me perco de mim mesmo.
Por isso, nesse dia, lhe ensino mais esta lição!
Sabe filho, “as pessoas andam muito sozinhas”, e estão desaprendendo a construir laços entre elas.
Tudo muito mecânico, veloz e superficial. Como se pudéssemos tornar o outro descartável, ou mudar de fase, resetá-lo, ou deletá-lo, com a simplicidade de um comando no mundo digital.
Ah! Meu filho! A vida cobrará seu preço por tanta coisificação do outro, tornando banal o ser mal.
Como diz o poeta, “a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”.
Seja você parte do encontro que deseja!
E, um dia quando voltares ao lugar em que trabalhou, quero, lá do alto, ver um monte de gente te cumprimentando, ficando feliz em revê-lo.
Eu ficarei muito feliz, saberei que o mal não te venceu, e tu não se tornou mais uma rocha, fria, árida, sem luz e alma como muitos com os quais cruzamos por aí.

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