Dia no Campo - Autor Ricardo de Faria Barros

Tacho para fazer farinha
Edinho late para o carro, e não entende que carro mata. Edinho é atropelado. Levanta-se, mancando de uma das pernas. Os outros cachorros percebem sua dor, se achegam numa solidariedade comovente.
Cuidador zeloso e amoroso aplica-lhe injeção para dor.
A vaca pare no campo, seu mugido é ouvido ao longe. Suas amigas saem em disparada, fazendo um círculo ao seu redor. Como que a protegê-la.
Na cozinha, a vida acontece. Cozinha é lugar de vida em acontecenças mil.
É salada, é vinagrete, é tempero de todo tipo, é chá, é café, é Seleta.
É vozerio de povo simples, sem eira nem beira de segurança, mas tendo o principal como sua cobertura, a alma bela e de boa sombra.
O churrasco crepita, meninos jogam bola, disputando o gramado com um porquinho ferido, que peão amigo alimenta na boca, deitado na relva.
Um cocoricó denuncia, tem ovo novo acontecendo.
Corre menino livre, agora pra pegar resto de carne em prato.
Um a um vão se assentando, é no chão, em tocos, tijolos, sacos de ração.
Não há luxo algum. Só o melhor de todos, o da simplicidade de entre-iguais.
O pé coça, denunciando feridas sarnentas.
Amigo se achega com unguento poderoso.
Escuto os sons da alegria de um domingo no campo.
Todos ali agora são de uma única família, a que já chamamos de humanidade.
Agora chega a carne macia, de bezerro gordo recém-abatido.
Servida com uma pompa e respeito, de quem o viu crescer.
Um vozerio se aproxima, é a salada e o arroz que vem chegando.
Arroz frito no alho, de estalar a boca de gostoso.
Salada daquelas de legumes cozidos: batata, beterraba e cenoura, misturados a ovos e maionese. Daquelas de comer com pão, de tão boa.
Mais tarde haverá farinhada.
O tacho é preparado. Serão duas latas.
Mimosa olha para nós, entre uma tirada de leite e outra, lá na ordenha que fica ao lado da festança.
Ela sabe que o ambiente é de amor. Ela relaxa e entrega mais um quilo de leite, do que normalmente faz.
Mimosa está feliz.
Agora os meninos disputam qual corre mais rápido do que os cachorros.
E, ambos misturam-se, meninos e cachorros, numa combinação milenar.
Confesso que eu vi.
Confesso que vivi!

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