O segredo está no casco e na corrente. (Autor Ricardo de Faria Barros)

Navio FRAM
Tenho acompanhado em vários espaços de meu viver: salas de aula, grupos de discussão temáticos, comunidades virtuais e até no seio da família, relatos sobre as condições atuais do mundo do trabalho, em muitos casos insalubres, do ponto de vista emocional.
Parece que a tal da modernidade, vida, amor e tempos líquidos, descritos como manifestações perversas da contemporaneidade, pelo filósofo polonês Zygmunt Bauman, também ocorrem no mundo do trabalho, e isto não me causa estranheza alguma.
Uma vez que o mundo do trabalho não é uma bolha, apartada da sociedade, e de sua cultura dominante.
Então, digo eu, vivemos também sob a égide do Trabalho Líquido.
Com pouco espaço para vinculação social, com relacionamentos voláteis, fragmentados, sem reconhecimento, criação de identidades e de senso de pertencimento. Relações laborais líquidas.
Então, esta falta de sentido no trabalho e de satisfação para com o mesmo, aumenta os riscos de adoecimento sofrimento mental.
Voltar das férias torna-se uma tortura. E o domingo à noite é carregado de melancolia.
Em alguns casos, escutar o simples tom de voz da chefia já faz aumentar o batimento cardíaco e a pressão sanguínea.
Em todo lugar você testemunha relatos de sofrimento psíquico no trabalho que são os efeitos colaterais de uma cultura de produtividade, eficiência, competitividade e ambição a qualquer preço e custo social. Alguns destes relatos beiram ao assédio moral.
Agrava a situação as incertezas do mercado, as equipes cada vez menores, a política de contenção de custos - na busca frenética por uma maior eficiência operacional - e a qualquer preço, precarizando mais ainda o ambiente laboral. Soma-se a este quadro as metas cada vez maiores, as pressões de todos os lados, inclusive dos reguladores, uma chefia despreparada para liderar pessoas, usando o chicote, no lugar da palavra. E, diga-se de passagem, pessoas não gostam de chicotes, "porque gado a gente tange, mas com gente é diferente". (Música disparada)
Nestas horas, nada melhor de que se inspirar em fatos históricos para criar couraças e sobreviver.
Vou contar para você que porventura está passando por uma situação assim no trabalho dois épicos da navegação mundial.
O primeiro deles foi a conquista do Polo Norte (Mar Ártico), por Fridtjof Nansen, usando para a missão o navio Fram, em 1896.
O segundo navegador fenomenal foi o Shackleton, com o navio Endurance, que tentou a conquista da Antártida (Pólo Sul).
Sobre o segundo navegador muito já se falou. Há livros e até um filme. Ele é descrito como um exímio líder e sua trajetória é épica, culminando com sua chegada e de seu grupo, em 1916, após dois anos de luta na Antártida.
Mas, este texto não é sobre navios. É sobre a capacidade de resistir a pressões e de como isto faz a diferença no sucesso de uma travessia, de uma jornada.

O Navio Fram, do comandante Nansen, foi projetado para boiar sobre o gelo. O casco foi meticulosamente arredondado, as quilhas erguidas e o leme adaptado. De modo que quando as massas de gelo o pressionassem, ele seria erguido sobre elas. Ficando ali, ancorado no gelo, esperando que ele derretesse, e voltasse a navegar. Esta técnica possibilitou que por longos cinco anos o Navio Fram resistisse a todo tipo de investida dos blocos de gelo, e pudesse voltar pra casa, trazendo toda a tripulação.

Já o navio Endurane, do comandante Shackleton, tinha o casco reto. Embora fosse um navio bem mais potente do que o Fram, tando em espessura do casco, como motor e quilhas, ele foi projetado para cortar e navegar pelo gelo solto, com casco reto. E não para ser aprisionado pelo gelo, com casco abaulado.
Então, quando uma grande nevasca empurrou o Endurance como um sanduíche, por entre duas placas de gelo, elas o espremeram, qual esprememos um limão pra caipirinha. E, o casco rompeu, e o Endurance naufragou. Obrigando sua tripulação a sobreviver puxando os botes salva-vidas pelo gelo, numa épica história.
Uma outra coisa também foi fundamental para o Nansen conseguir a proeza da conquista do Pólo Norte.
Ele teve uma sacada quando viu restos de um navio, que chegavam às praias da Groelândia. Era um navio norte-americano chamado de Jeanette. Ora, para aqueles restos estarem ali, ele só poderiam ter vindo ao contrário de onde todos estavam navegando. Ele intuiu que todos estavam navegando contra esta corrente submarina. E que o segredo do sucesso seria se deixar levar por esta corrente.
E ele estava certo. Embora escutou poucas e boas de todos, inclusive que era maluco
De fato, as correntes e ventos, achados por ele em determinada posição do Ártico, foram fundamentais para que pelo ritmo da própria natureza o navio, sem gastar um litro seque de combustível, cumprisse seu objetivo, apenas aproveitando as forças das correntes e ventos.
Então, caros amigos e amigas que enfrentam ambientes de muitas pressões, tensões e coisas chatas do mundo do trabalho, há duas posturas que aumentam a resistência, deste tipo de navegação que enfrenta.
Ambas, retiradas da epopeia do Nansen e de sua embarcação Fram.
A primeira delas, a de trabalhar o casco. A arredondando-o para que ele possa aproveitar as forças do meio, erguendo-se sobre elas, no lugar de ser esmagado, como o Endurance.
Arredondar o casco é cultivar a flexibilidade de pensar, sentir e agir, é buscar convergências, é se adaptar mais rápido e de forma melhor, ás mudanças de situações, contextos e cenários. É cuidar do tecido emocional. Buscar apoio na espiritualidade. Nos esportes, amigos, em algum hobbie, fazer yoga, tai chi, meditação, caminhadas contemplativas, o que seja que possa fortalecer o couro emocional, o casco, arredondando-o.
Cascos retos batem de frente. Cascos redondos desviam a violência do ataque, e com a força do próprio opositor se defendem, como nas milenares artes marciais orientais.

A segunda delas, e aproveitar a corrente. Nunca ficar de frente a ela. Aproveitar a corrente significa extrair o que ainda de bom tem na relação com o trabalho, e potencializar o olhar sobre isto.
Aproveitar a corrente é não dar murro em ponta de faca, é não passar recibo, é fazer uma terapia paliativa de convivência com pessoas más, colocando sempre, após o contato com elas, esparadrapos emocionais para não infecionar o ferimento na alma - tão próprio da lida diárias com pessoas pequenas, inclusive chefes tiranos. É saber usar a força da onda para nela surfar.
Aproveitar a corrente é redirecionar a raiva para algo produtivo. Para melhorar a relação com o cliente, e obter dele o sentido do trabalho que anda carente.
Aproveitar a corrente é encontrar o que ainda te seduz, te faz feliz e te inspira, no mundo do trabalho, e dizer pra si mesmo que quanto ao demais: isso também passará e amanhã será melhor.
Enquanto os mares andam bravos e ruins de navegar, que tal cuidarmos de arredondar o casco, e de melhor aproveitar as forças das correntes?

Aposentado sim! Inativo nunca! (Autor Ricardo de Faria Barros)


Você que me dá a honra de parar o que está fazendo para me ler poderia responder a uma pergunta?
Quais seus objetivos para realizar dos 70 aos 100 anos de idade? Podem ser pessoais, familiares, profissionais, culturais, acadêmicos, esportivos, sociais e até espirituais. O que seja. Se eu te fizesse esta pergunta há vinte anos atrás você diria que a pergunta era absurda.
Mas, eu aposto que você conhece alguém que já fez oitenta anos.
Estamos vivendo uma revolução dos modos de ser, fazer e acontecer da velhice. E é um fenômeno mundial. Só a título de exemplificação a PREVI, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, já tem em seus quadros 67 aposentados com mais de 100 anos. (jan. 2019). Tendo inclusive de atualizar suas tabelas atuariais prevendo este aumento da longevidade de sua base.
Este movimento de reinvenção do ser idoso tem sido chamado de Os Novos Velhos. E, da mesma forma que eles puxaram, do alto de seus 20 e pouco anos as revoluções culturais e civis, das décadas de 60-70, agora eles puxam a revolução da negação da inatividade.
Uauuu!!!
Passaram a estudar novamente, praticar esportes e hobbies, passear e produzir. E estão dando um show de longevidade ativa.
Lógico, que nem todos acompanham no mesmo ritmo, é mudança cultural, e ainda têm os que se consideram "aposentados", que desistiram de continuar assombrados e encantados com o viver.
Na mitologia grega tem um conto muito legal, sobre a esfinge de Tebas que costumo usar para ilustras esta revolução. A esfinge era um monstro alado com corpo de mulher e leão que afligia a cidade de Tebas. Ela ficava no portão de entrada da cidade. E apresentava aos viajantes o seguinte enigma: “Que animal anda pela manhã sobre quatro patas, a tarde sobre duas e a noite sobre três?”
Até Édipo, nenhum andarilho conseguiu escapar sobreviver à Esfinge, respondendo corretamente o enigma, e eram por ela estrangulados, daí o nome Esfinge. Édipo, contudo, acertou e foi poupado.
Ele respondeu assim:
É o Homem — que engatinha como bebê (manhã) , anda sobre dois pés na idade adulta (na tarde), e usa uma bengala quando é ancião (noite).
Nos tempos atuais, esta resposta está no mínimo incompleta. A bengala não pode mais ser caracterizada como a fase da velhice. Embora, seja muito útil em muitos casos. O que está ocorrendo é que esta bengala está se transformando num cajado. E, quem porta um cajado, conduz a si mesmo, e aos outros, em busca de um novo amanhã, de novos sonhos, objetivos e realizações a conquistar.
"Os Novos Velhos" estão saindo de uma posição de incapacidade, vítima, de finitude, e de adiamento de projetos de vida, erguendo suas bengalas, tal qual cajados, e partindo em busca de realizar algo, alcançar algo, sonhar com algo. Igual a quem porta um cajado e segue jornada adiante.
Portadores de cajados têm esperança, otimismo, vitalidade, ânimo e não se cansam em voltar a se encantarem com a vida, ao se assombrarem a cada amanhecer. Quem ergue um cajado tem um propósito, tem uma meta, um alvo e uma missão a perseguir. Não deixou-se adormecer.
As pessoas que ingressam hoje nos sessenta anos enguem suas bengalas ao alto. Fazem com elas cajados. 
Acreditam que não é tempo de se considerarem “inativas”, nem tampouco de retornarem aos aposentos para viver a vida “esperando a morte chegar”. Em todo mundo uma energia grisalha está impulsionando novos hábitos, comportamentos e práticas sociais da velhice. E redescobrem a juventude: de emoções, pensamentos e atitudes positivas diante da vida.
Junte-se a nós. Não é hora de se achar encostado. Há conhecimentos ainda a aprender. Pessoas a encontrar. Lugares pra visitar. Coisas pra fazer. Situações a experenciar. Realizações a oferecer. Propósitos pelos quais lutar. Nada de achar que está descendo a ladeira da vida. É o contrário, agora sobe-se ao cume, local onde só os grandes de alma chegarão. E que, lá de cima, tudo faz mais sentido.
Obs: Quem quiser comprar livro sobre o tema, visite meu post dos Escritores da Comunidade.

Inspiração (Autor Ricardo de Faria Barros)

Uma coisa comum nos tempos atuais são os youtubers.
Youtubers são geradores de conteúdo em mídia digital. Pessoas que possuem canais no Youtube e neles compartilham um monte de coisas.
Tem para todos os gostos.
Eu sigo três deles que me são muito inspiradores. São verdadeiros diamantes.
O objetivo deste texto é mostrar o quanto pessoas podem ser inspiradoras, só com seu jeito de viverem.
E, convenhamos, os tempos andam bicudos de pessoas que nos inspiram ao melhor de nós mesmos, não é verdade?
Eles são Marcelino Colantino, natural de Bom Conselho-PE, o Alexandre Lins, natural de Itamaracá-PE, e a Veridiana Heninguer, natural de Mafra-SC.

Mas, o que eles têm em comum?

Um altíssimo nível de capital psicológico positivo. E, toda vez que eu encontro alguém assim eu louvo a Deus.

Descobri que tenho vocação de colecionar pessoas inspiradoras. Admirá-las em seus belos vôos existenciais. Contemplar suas jornadas, e como reagem nas situações cotidianas, em vidas não editadas. Até hoje eu fazia isto de forma presencial. Mas, o estilo dos vídeos postados pela minha trinca de ouro permitiu eu acompanha-los em seu dia a dia. E, a cada vídeo deles, feito com tanta simplicidade e autenticidade, sem roteiro, armação, ou texto ensaiado e teatralizado, eu ia me inspirando mais e mais.
Você deve conhecer algumas destas pessoas também, não é? Pessoas autênticas e que tem o dom de saber degustar a vida por inteiro.
Sabe aquela pessoa que está sempre de bem com a vida, seja dia cinzento, seja manhã radiante? É uma pessoa inspiradora.
Sabe aquela outra que quando tudo está dando errado é a primeira que chama todo mundo para correr atrás do prejuízo e transformar alguns limões que restaram, numa deliciosa limonada? É uma pessoa inspiradora.
Sabe aquela que perto dela a paz reina. Que nos dias em que se sente mais agitado, ao cruzar o caminho com ela, você volta para casa que nem um monge budista? É uma pessoa inspiradora.
Sabe aquela pessoa que pega uns três ônibus para o trabalho, que ainda deixa filhos na escola, que faz uns bicos para complementar a renda, e que no trabalho é só motivação e qualidade em tudo que faz, e que ainda estuda à noite para subir na vida? É uma pessoa inspiradora.

Observar e se inspirar em pessoas inspiradoras nos faz crescer. Aprendemos muito com elas. Mas, exige de nós uma atitude apreciativa positiva para com o outro. Uma atitude de atenção e admiração do jeito dele ser. Exige que deixemos de lado a inveja, a cobiça, e a atitude de secar a felicidade alheia. Ou não vibrar com as conquistas e jeito exitoso do outro ser.
Exige humildade de querer aprender com ele, só observando-lhe nas situações rotineiras. E, digo-lhe uma coisa do fundo de meu coração. Meus melhores aprendizados na vida não foram nos livros. Foram com estas pessoas.
Quais são minhas novas pessoas inspiradoras? O que elas têm de especial?

Eles se chamam Marcelino Colatino, Veridiana Heninguer Alexandre. No final deste texto colocarei os links de seus canais no youtube. Em todos há uma forte incidência de pelo dois dos componentes do capital psicológico positivo: otimismo, esperança, auto-eficácia e resiliência.
Em comum entre eles, o fato de terem atitudes incomuns, que os diferenciam.

Que tal conhecê-las pelo meu olhar? E com elas se inspirar? Depois de ver mais de cem vídeos dos três, creio que já posso fazer uma descrição melhor do que aprendi com eles, e passar para vocês.

CANAL MARCELINO COLATINO - Auto Eficácia e Resiliência

Marcelino, o agricultor e piscicultor, tem como ponte forte dois elementos do capital psicológico, a auto-eficácia e a resiliência.
Auto-eficácia é aquela crença, ou disposição de ânimo, que nos faz acreditar que somos capazes de com nossas próprias capacidades fazer algo, cumprir uma meta, correr atrás de um objetivo. Esta virtude, a auto-eficácia, nos motiva e mobiliza a ser inovadores, criativos, curiosos e eternos aprendizes da vida e do viver.
A lida do Marcelino é assim. Ele está sempre aprendendo e ensinando algo. Na sua roça é quase um Professor Pardal. De dois carreteis plásticos, daqueles de enrolar fios de energia ou telefone, ele constrói uma moenda de caldo decana. De um resto de máquina de lavar, ele faz as pás de um cata-vento de puxar água para oxigenar os tanques de tilápia. Sim, o cata-vento também foi ele quem fez.
Além de fabricar tudo, o Marcelino é pura paz. Vê-lo é como entrar escola da vida, na disciplina paz e mansidão.
E, não é uma paz passiva, é uma paz que passa segurança em acreditar que as coisas podem mudar, que se pode fazer algo de uma forma melhor.
Marcelino também tem a resiliência como marca pessoal. Ele não desiste. Testa uma vez um invento, testa duas, testa três. Matuta, pensa, observa, conversa com um, com outro, e pimba, acha a solução do invento. Correndo por fora, e nos inspirando muito, tem a relação dele com a Jeane, sua esposa já com 24 anos de casado. A Jeane é inspiradora também. Ela dá uma verdadeira aula de como ser companheira. E acompanha o Marcelino em tudo. Aliás, este casal tem a receita da felicidade a dois: admiração, apoio, interesse e cuidado um para com o outro.
Marcelino não reclama da vida. Ele procura razões para ser feliz, em cada lugar de sua chácara e família e amigos. Se o peixe não está de bom tamanho, por falta de oxigenação, ele fala: “vou fabricar um novo oxigenador, na próxima vez eles crescerão mais”.
Se a safra não foi como esperava, ele fala: “Da próxima vez vou cuidar melhor”. Sua marca é a crença que o amanhã será melhor. Ele não é de desanimar. Se algo quebra, ele pensa uma forma de consertar. Mesmo que não existam as peças. Ele as fabrica. Marcolino, de seu jeito, quando não tem caminho, ele o cria. E de seu jeito.
Quando vejo os vídeos do Marcelino sinto uma paz tremenda. Sua voz é meiga, calma, quase um cantar. E, saio mais forte para também acreditar que com meus próprios recursos posso entregar resultados, é só não desanimar, ousar, inovar e influenciar na rodada do carrossel do destino da vida. Marcelino encontrou um jeito de fazer a diferença ao existir: a mansidão.  Veja um dos vídeos do canal aqui:
Marcelino, em suas invenções.  

CANAL PAKITA BR15 (Veridiana Heninguer) - Otimismo e Resiliência

Veridiana é caminhoneira. Ela faz longos percursos, levando mercadorias do Sul para o Norte e Nordeste. Ela tem como tem como ponte forte dois elementos do capital psicológico, o Otimismo e a Resiliência.
Mesmo depois de enfrentar 3.000 KM de estrada, dirigindo uma pesado caminhão de Norte a Sul do Brasil, a Veridiana, conhecida no seu canal como a Pakita, não perde o otimismo. E, na Pakita o otimismo tem nome e sobrenome: Sorriso Grátis. Ela está sempre sorrindo e desejando a todos a proteção de Deus.
Não tem tempo ruim, buraco, trânsito, ou demoras nos postos fiscais que a tirem do sorriso.
O ponto alto de seu otimismo é quando no posto onde para tem chuveiro. Engraçado que as pessoas inspiradoras conseguem extrair de coisas simples, do cotidiano, verdadeiros oásis de felicidade. A Pakita é assim. Ela extrai bênçãos e alegria do simples fato de ter um lugar para tomar banho. E fica radiante. Mas, quando não tem, ela não entristece. Ela pensa assim: “no próximo posto credenciado tomarei banho”.
Mesmo que ele esteja a 400 KM de distância.
Aqui, revela-se outra característica nela que é oriunda do capital psicológico positivo, que é a da resiliência. Esta capacidade de não desanimar diante das dificuldades que aparecem no trabalho, e mesmo com elas, ou apesar delas, continuar entregando resultados.
A Veridiana está sempre procurando razões para ser feliz. E sorri abundantemente com elas. Seja nos dias que passa com sua filha, que faz medicina em Buenos Aires, e que só a vê anualmente. Seja ter conseguido achar uma borracharia que trabalhe com os enormes pneus de seu caminhão Scania. Seja indo com amigos caminhoneiros almoçar numa das cidades em que descarregam. Não importa, tudo é motivo de otimismo, traduzido em fartas doses de sorriso sincero. Vê-la fazendo o checklist antes de partir, batendo os pneus, checando as conexões, e parte elétrica é rejuvenescedor para quem trabalha. Pois destes simples gestos exalam o sentido do trabalho e o amor pelo que se faz. Se nos vídeos do Em Marcelino corre o DNA da paz. Em Pakita é a felicidade. De ser quem é, de fazer o que faz, sendo o melhor para o mundo, e não do mundo. Pakita encontrou um jeito de fazer a diferença ao existir: o de sorrir.
E olha que ela é trabalhadora de uma das profissões mais estressantes do mundo, além de perigosa e sujeita a desgastes físicos e longas ausências de casa, e dos seus.
Mas, ela não reclama em nada. Pelo contrário, faz da lida no caminhão um espaço de diversão. Sorri até com ela mesma. Ela acorda e decide, com o seu bom dia, que será um bom dia.
E tudo se transforma em bom, belo e virtuoso, com a força do pensamento e emoções positivas dela.
Veja um dos vídeos do canal aqui:
Veridiana, no caminhão.

CANAL MAMUTE ALEXANDRE LINS – O PESCADOR CANTOR (Esperança e Resiliência)

Alexandre, o pescador-cantor, tem como apelido Mamute. E possui como ponte forte dois elementos do capital psicológico, a esperança e a resiliência.
Acordando todos os dias nas madrugadas, mas madrugadas mesmo, ele e seu inseparável parceiro de pescaria, o Juruba, partem numa jangada bem simples, a Nayhara, para a imensidão do mar sem fim.
Durante horas, impulsionados por um pequeno motor de popa, e uma modesta hélice, eles adentram até alto-mar, para resgatar seus covos.
Covos são uma espécie de caixotes cujo interior tem uma armadilha para peixes. Alexandre é quem fabrica os deles.
Para o Mamute não tem dia ruim. Não tem dia de chuva, de ventania, de sol inclemente, ou até de falta de peixes nos covos.
Para ele, tudo é gratidão em existir.
Mamute exala esperança. Ele nãos e cansa de dizer que pescador vive de esperança. E, naqueles dias em que não pesca nada, solta um refrão impagável: “também não coloquei nenhum...”
Ou seja, tudo é de graça, dado por Deus. É assim que ele pensa.
Sempre que um covo vem vazio, ele acredita que no próximo vai melhorar, e dá para pagar a “lambaca”. Que seria as despesas e algum lucro no dia.
No próprio barco, já cansado e voltando, após mais de 5 horas mar adentro, ele cozinha seu almoço-jantar, num tosco fogão de lenha, improvisado numa lata de tinta, e numa caçarola.
Ali, ele faz o que chama de atoleiro. O atoleiro é uma caldeirada de peixe, depositada sobre uma massa grossa de pirão, feito com seu caldo.
Mamute tem esperança. Esperança de conseguir uma jangada maior e melhor equipada, que chamará de Mina Minha. Esperança de uma vida melhor, e a cada dia ele se alimenta disto.
Usa sempre uma expressão: “Chama na Calanga”. Que, segundo ele mesmo me ensinou, significa: “Fé. Nunca desistir, mesmo nas dificuldades. E, sempre seguir em frente com positividade.” São palavras do próprio Mamute. Para mim, esta frase dita por ele, é a pura expressão da esperança.
E, ele fez isto com sua própria vida. Ele disse para si mesmo: “Chama na Calanga, Mamute”, quando tragicamente perdeu um filho de 21 anos, que se sentiu mal mergulhando e veio a óbito.
Ver os Mamutes pescando é fazer uma amizade com a esperança. Outro dia, percebi também que além da esperança ele tem muita resiliência.
Não sem razão, a resiliência perpassa a história de vida das três pessoas inspiradoras que lhes apresento.
O barco dele quebrou, distando uns dez quilômetros da costa. Aí, ele pulou na água e passou a nadar, em direção à praia, numa cena de impressionante coragem e determinação de vencer aquela dificuldade. Nadou um bocado, até conseguir chegar mais próximo da costa, onde chegou o sinal de celular. O barquinho do Mamute não tem rádio comunicador. Aliás, mal tem um barco ali. rsrs
A pobre da Nayara é muito acanhada, como embarcação.
Mas, Mamute a ama. E a trata com muito respeito. Todos os dias ele carrega 90 quilos, para deixa-la mais bonita e formosa. É o motor e a haste com a hélice que ele tira e bota, todos os dias. E aí Nayara fica turbinada. Mas parecendo uma voadeira.
Outro dia ele ficou sem sua rabeca, a haste que liga o motor à hélice.
Ainda bem que ele ainda conseguiu chegar na costa, mesmo que a hélice sem conseguir muita transmissão com a rabeca, ele veio navegando de volta e chegou.
Na praia, avaliou as avarias e em nenhum momento ele passou desesperança de consertar seu barco.
Pensou que talvez devesse levar a um soldador, ou que conseguiria uma outra, a um preço dividido.
Quem tem esperança age assim. No lugar de ficar chorando o azar, a pessoa esperançosa vai atrás da sorte.
Acho lindo quando ele diz assim: “Mamute não chora, nem choraminga. Mamute é guerreiro...”
É ou não é uma declaração de que “isto também passa”. E o amanhã será melhor?
Mamute também tem esperança de ser um cantor reconhecido. Já gravou um CD, e embalado por suas canções, vamos vendo suas desventuras e aventuras no mar.
Ele tem esperança de estourar numa rádio. E, com as vendas dos CDs conseguir mais alguma melhora para sua família.
São assim os sonhos de vida do Mamute Alexandre Lins – O pescador cantor. Cheios de esperança, mas de uma esperança ativa. Daquelas das boas. Daquela de quem madruga pra fazê-la acontecer!
Gosto de ver também, e me inspira, a gratidão do Mamute com as coisas de Deus.
Com o sol que nasce, com o sol que “vai para o Japão”. Com os peixes que pesca, com os peixes que solta no mar. Com o Juruba. Com os seus expectadores. Nunca esqueci quando ele parou tudo que estava fazendo, e por mais de duas horas puxou uma rede à deriva em alto mar. A rede não lhe pertencia. Mas, ele sabia que ela estava fazendo falta a algum pescador. E que podia devolve-la. A luta dele, sozinho neste dia, para puxar tamanho peso, já cheia de sargaço, foi digna de uma crônica só para isto. E conseguiu. A pobre da Nayara ficou cheia com a rede, que na verdade eram duas.
Dias depois, o proprietário da rede apareceu na casa dele, e resgatou seu bem valioso.
E Mamute faz isso sem pedir nada em troca. Ele é bom por ser bom.
Ele é esperançoso em tudo que faz. Ele me ensina muito, todos os dias quando sai para o mar.
Ensina que a vida é a arte do encontro, embora existam tantos desencontros. Encontro do homem com o mar, com o trabalho, com a disposição de querer ser mais e oferecer algo de melhor a sua família.
Ensina a ter esperança.
E, se for o caso, quando tudo negar ser esperançoso, saber agir para que dias melhores apareçam, nem que seja carregando a esperança pelo dorso, como quem puxa uma jangada de volta pra casa.
Mamute é ou não é uma pessoa inspiradora?
Veja um dos vídeos do canal aqui:

São três brasileiros comuns, com atitudes incomuns. Atitudes de quem aprendeu com o mais importante da vida, o valor do trabalho, o valor de quem se é, o valor do outro, tudo isto embalado com otimismo, esperança e auto-eficácia, tendo a resiliência como disposição e ânimo diária.

São pessoas assim que a vida manda para nos ensinar algo e nos fazer crescer. 

O Ciclo das Flores e da Vida (Autor Ricardo de Faria Barros)

Jovem Espartódea, de perto aqui de casa, Brasília-DF.
Quem anda pelo Plano Piloto de Brasília, nome que damos ao formato do avião da Cidade, deve ter notado que as flores da vez são as vermelhas-alaranjadas e as rosas-brancas.
As primeiras são das Espartódeas, a segunda da Paineira-Rosa.
Por aqui é assim. É só prestar atenção que têm flores todos os meses.
Recentemente, foi a vez era dos Cambuís e das Canafístulas, com suas copas amarelas tão lindas. Existem mais de 800 deles por aqui, tem uma época que tudo vira amarelo-ouro.
Já houve a época das flores violáceas dos Jacarandás e das Quaresmeiras.
E têm as árvores que suas folhas ficam coloridas de um rosa-carmim, são as Sapucaias. Estas, são de babar e parar o carro para fotografá-las, bem comuns no Eixão Norte, e aqui na varanda de meu apartamento também.
Têm as flores delicadas e branquinhas-carmim das Cagaitas. As da cagaita são um mimo só. Considero-as as cerejeiras do cerrado.
Têm os gramados repletos de plumas de painas branca, convidativos para um repousar sobre eles.
Tem o vermelho fogo das flores dos flamboyants.
E, como que a emoldurar isto tudo, têm os ipês branco, rosa e amarelo, que alternadamente começam a florir, pelo meio do ano.
As flores e seus ciclos nos ensinam muito. Já pensou se todos florescessem ao mesmo tempo? E não é assim. Há flores para todas as épocas do ano.
Basta capacitar o olhar para achá-las.
Basta não modelar a mente apenas para procurar os famosos ipês.
E verás flores por todo lugar.

Assim como as estações das flores, nós também temos nossas próprias estações - só que as existenciais.
Estes estados de florescimento e murchamento do ser fazem parte do existir,
O que precisamos tomar cuidado é quando estamos num estado de pouco florescimento.
Tomar cuidado para não generalizar. Mais ou menos assim, esta época do ano Brasília fica sem flores, agora é esperar os ipês.
Cuidado, você não está vendo outras flores, porque teu olhar estava acostumado com as copas amarelas dos Cambuís, e com as floradas estonteantes dos Ipês.
Então, tua vista não percebe mil e uma outas espécies de flores, que passam ao largo de teu viver.
Pois, quando achamos que nosso canteiro de flores murchou, tendemos a olhar apenas para elas, as flores que já se foram.
E aí perdemos capacidade emocional de perceber as outras, que ainda nos restam.
Talvez não tão exuberante, mas, mesmo assim, belas e bênçãos.
Quem mexeu na flor de meu emprego? Cadê aquele buquê tão lindo de minha carreira?
Quem pisou na flor de meu relacionamento? Onde está aquele viço de antes?
São exemplos de flores existenciais que murcharam. Que cumpriram seu papel, seu ciclo vital, e que já não mais exibem a exuberância de antes.
Outros podem dizer, e cadê a flor de minha saúde, antes tão vistosa?
Outros ainda, podem se sentirem incomodados com as marcas da idade, e perguntarem sobre a flor de sua beleza física.

Acolher que algumas flores de nosso viver já não são as mesmas é sinal de inteligência emocional.
E, aprender a olhar as outras flores que brotam noutros canteiros é sinal de sabedoria.

Quando lhes faltarem os ipês, preste atenção nas cagaitas. Quando lhes faltarem as cagaitas, preste atenção nas quaresmeiras.
Quando estamos muito mexidos, pelas aflições e preocupações, é preciso levar nossos pensamentos e emoções para os canteiros floridos da alma.
E, quais são as flores deste canteiro, cujas sementes podemos plantar em nossos pensamentos?
A verdade. A nobreza de caráter. A justiça. A pureza interior, com sua capacidade de continuar a se assombrar com a poesia de cada amanhecer. A amabilidade, ou amorosidade, para com os outros - sem distinção e preconceito. Tudo aquilo que for do reinado do bondoso, do generoso, da solidariedade. E, aquelas coisas pelas coisas nos sentimos gratos por existirem e louvamos a presença delas. bom, e despertar bons sentimentos. e o que seja digno de louvor. (Filipenses 4,8).

Digo-lhe que, por mais arrasados que estejam os canteiros floridos de teu coração, mesmo assim, se prestar atenção direitinho, verá ainda belas flores Maria Sem Vergonha, teimando em florescer à margem de teu viver.
Pode ser presença dos amigos que não te faltaram.
Pode ser um parceiro de jornada.
Pode ser estar empregado.
Pode ser ter conseguido se aposentar.Pode ser o acesso médicos e medicamentos para enfrentar doenças severas.
Pode ser os filhos vivos ainda.
Pode ser os pais vivos.
Pode ser a dor ter passado, o remédio ter funcionado.
Pode ser que o chefe se transferiu.
Pode ser ter um gerente bacana.
Pode ser ter um lugar para voltar.
Pode ser poder dormir a cabeça num lugar pra chamar de seu.
Pode ser poder pagar o aluguel.
Pode ser ter gás pra cozinhar.
Pode ser ter ainda uma sardinha para comer.
Pode ser ver, ouvir, sentir, andar, respirar e estar vivo.
E, por que não?
Há flores mais floridas do que o simples fato de existir?
E, quantas existências de sentido só começam mesmo, após terem perdido muitas flores, de seus canteiros centrais.
Aí, passam a cultivar as flores aonde podem ainda, com as sementes que lhes sobrou, e não é que são mais belas ainda?
Fica a dica, não ponha toda tua esperança, vigor e ânimo apenas num canteiro florido de teu viver.
Uma das receitas do bom viver é diversificar os canteiros.

Dias de lama! (autor Ricardo de Faria Barros)

Todo mundo tem aquele dia que na primeira hora da manhã tudo ocorre de errado. Aquele dia em que nos sentimos encalhados numa praia, tal qual este veleiro da foto.

Quem não teve um dia destes que pare de ler este texto.

É a filha que amanhece doente, é a diarista que falta, é a mãe do outro lado da linha que acorda rabugenta e resolve te ligar para rabujar. É o teu celular que insiste em mandar mensagens de help, para teu amado, e ele não abre as mensagens, como se estivesse lhe evitando.

É o carro com o tanque na reserva, precisando abastecer, e recebe um zap do chefe, convocando a equipe para uma reunião logo cedo. E, pra complicar mais ainda, na pauta consta o "status-report" daquele teu projeto que não está andando, por razões maiores do que você mesmo, mas que para o chefe, isto é problema teu.

Então, nestas horas o rio dos pensamentos negativos descem com fúria, pelos vales da mente e coração, e tudo fica enlameado. Tal qual um tsunami de lama, leia sobre a tragédia de Brumadinho (Brasil), a onda de coisas ruins que ocorrem ao mesmo tempo é asfixiante, paralisante e tira o ânimo.

A movimentação da psiquê fica difícil. Qual um animal, atolado no lamaçal, a pessoa que recebe uma sobrecarga de notícias não consegue se mover, e entra em colapso emocional, em parafuso.

Por isso precisamos compreender o funcionamento de nosso aparelho mental para nos ler melhor e saber acolher estes momentos, sem atolar mais ainda o corpo na lama, ao tentar sair dela de qualquer jeito.

Têm dias em que é melhor acolher o sofrer que vem em cenas fartas e de naturezas variadas.

Acolher é uma estratégia sábia. Não significa se acomodar à dor. Não significa ser passivo, subserviente com o que te causa tristeza.

Significa que não temos controle de tudo.  E que em alguns dias de nossa existência, a barragem pode ceder, e vamos ser pegos por uma onda de coisinhas chatas, sob as quais não temos muito o que fazer, a não ser esperar que elas passem.

E passarão.

Logo virão dias melhores que vão dissolvendo esta lama negativa e vamos saindo de dentro dela.

Um abraço que recebemos de alguém especial, dissolve parte da lama.
Uma pessoa que nos oferece uma oração de intercessão, dissolve parte da lama.
Uma música edificadora que ouvimos, dissolve parte da lama.
Uma ajuda fraterna que prestamo, mesmo ainda presos na lama, ajudará também a dissolvê-la.
Um dia após o outro, deixando-nos guiar pelo Compositor do Tempo, e sua partitura da canção de  um Amanhã Melhor, dissolve parte da lama.

Em dias de prisão emocional apenas respire. Mantenha-se vivo. Acolha o que lhe ocorre como espaço de aprendizado, como mais um conjunto de lições da escola da vida.  Não se desespere, não desanime, não pare de acreditar que passará e que amanhã será melhor.

Verás que devagarinho, no tempo das coisas e dos "gnomos",  tudo vai se encaixando novamente. Ou, alguns desencaixes são para ficar desencaixados mesmo.
E, nos adaptamos a isto - a este desequilíbrio, com flexibilidade de pensamentos e comportamentos.

Contudo, existem quatro posturas que ajudam muito a velejar sobre o mar de lama de dias não tão bons. 

A esperança ativa - Que é aquela emoção de que "nada está tão ruim que não possa melhorar". E que é preciso continuar lançando as sementes, mesmo que o berço da terra esteja desconfortável para elas. É acreditar que amanhã pode chover, e as sementes vingarão. Mas, é a esperança ativa, tem que continuar lançando as sementes. Sementes de paz, de bondade, de doação ao próximo, de justiça, de amor e perdão. Um dias elas germinarão, e vão contribuir para sair do atoleiro existencial . Na metáfora com um veleiro, a esperança é o leme. Ela nos dá um Norte, um sentido. El nos guia, definindo e orientando novos rumos e cursos de ação.

O otimismo realista - Ser otimista não é ser bobo, nem alienado. Nem uma pessoa que não expressa dor, choro, raiva e desânimo. Daquelas que vivem sorrindo pra todos, e que sempre diz que tudo está bem. Isto não é ser otimista. Isto é ser sem noção. Otimismo e esperança são valores, ou emoções positivas, de espécie similar, mas de resultados diferentes. O otimismo é uma lente pela qual a vida vai sendo filtrada.   Ele nos ajuda a sempre buscar o lado bom das situações, ou o que nos sobra, apesar dela. Ele é um substantivo quase verbo. Um otimista move o destino a seu favor. Numa analogia com um veleiro, o otimismo são as velas. As velas da alma. O otimista aproveita as forças do vento, seja em que direção sopre, alterando suas perspectivas de pensar e atuar, para aproveitar melhor de onde sopra o vento. 


A resiliência  - Este sentimento nos faz mais fortes, diante das dificuldades. É como se nosso ferro existencial estivesse sendo malhado. A resiliência é expressa na coragem, a coragem dos sobreviventes. Coragem de continuar, no lugar em que todos já desistiram. Coragem de acreditar, no lugar em que todos desconfiam. Coragem de investir, no lugar em que todos já sacaram suas reservas emocionais. Coragem de ser tudo, no lugar em habitado por seres-nada.  A coragem de acolher os dias ruins, mantendo-se vivo e confiante. A coragem de encarar aquela reunião, no qual vai ser avaliado de forma negativa.  A coragem de superar distanciamentos dos conflitos e indiferença e conflito, usando as pontes das ternas palavras e os gestos de amorosidade proximal. A resiliência se desenvolve nos embates da vida. Aprendendo com eles, resistindo a eles, sobrevivendo a eles, se adaptando a eles, mudando com eles ou transformando-lhes.  Num barco à vela, a resiliência é o contra-peso que fazemos, para tensionar melhor as velas, aproveitando toda a força do vento. Este contra-peso pode ser feito com o próprio corpo humano, com cordas que puxam as velas. Ou, nas  jangadas mais simples, lançando água sobre as velas para torná-las menos permeáveis ao vento, aumento sua eficácia. 

Auto-eficácia - É o quarto componente do capital psicológico positivo. Sabe aquela sensação de que com nossas próprias capacidades podemos entregar algum resultado? Isto se chama autoeficácia. É aquela vozinha interior que nos diz que somos capazes. "Ser saber que era impossível, ele foi lá e fez". É bem isso. É aquela autoestima que nos coloca pra cima, pra frente. Que nos dá uma sensação de potência, de vigor, de que podemos conquistar aquele objetivo, ou realizar aquele sonho.  A auto-eficácia nos faz ver a nós mesmos com compaixão. Faz-nos julgar nossa vida com menos severidade e perfeccionismo.  Faz-nos nos acetar naquilo que, sob as condições em que estamos inseridos, ainda assim podemos entregar de melhor. Então, na analogia do barco, a auto-eficácia seriam os remos. E, quando lhes faltarem os ventos, remem! Esta era a filosofia dos maiores navegadores de todos os tempos, os Vikings. Seus barcos tinham velas e remos. Os remos representam bem a auto-eficácia. Quem rema, acredita que chegará em algum lugar, e com seu próprio esforço. Melhor analogia com a auto-eficácia impossível.

Velas, leme, contra-peso e remos tornam a navegação - mesmo em mares bravios, ou em calmarias sufocantes, muito mais eficaz.  Mas, tem que saber esperar a maré virar novamente. A maré subir e o teu barco flutuar. Teu barco desencalhar do banco de areia, ou atoleiro em que se meteu.  Enquanto isto, faça cuidados paliativos emocionais. Medite, ore, caminhe, cace flores com a retina.

Então, para você que acordou num dia ruim, acredite na força das marés. Logo, você entrará no veleiro existencial e usando da esperança, do otimismo, da resiliência e da auto-eficácia recomeçará de novo, sem ser novamente.

E, saindo velejando pela vida afora, verá que vai cortar a lama que lhe rodeia, e até navegará sobre ela mesma.

Tempos de Descartáveis {Autor Ricardo de Faria Barros}

Acessando os portais de notícias li que um casamento foi desfeito em minutos, após terem assinado o contrato nupcial. O fato ocorreu na Ásia, no Kuwait, no início deste mês.
O motivo foi que ao descerem as escadas do cartório, já casados, o marido a chamou de estúpida, por ela ter tropeçado e caído no chão.
Aí, ela ficou brava, retornou pelas escadas de onde acabara de descer, e pediu ao juiz a anulação do casamento, por ter se sentido injuriada. Ao que ele procedeu; três minutos após o casamento ter sido oficializado.
Talvez seja o recorde de temo de casamento desfeito. Não vou defender de maneira alguma a atitude do cara que a classificou de estúpida. Classificar quem leva um tombo de estúpida é ser, no mínimo, um bruto de um insensível. Mas, o que me chama a atenção é o pouco limite para deixar as coisas se acalmarem, para contar até dez antes de tomar uma decisão importante.
Como julgar uma pessoa, para a qual se entregará uma jornada de vida futura, por uma cena apenas?
Mesmo que seja uma cena que tenha tirado o outro do sério, machucado e feito infeliz?
Como se julga algo de ruim em um relacionamento por uma cena?
E não pelo filme do conjunto da obra entre eles?

Se fosse filha minha eu perguntaria assim:

Filha, ele é sempre assim? Violento e sem noção?
Filha, ele está com algum problema?
Filha, ele te pediu desculpas, assumindo a pisada na bola que fez?
Filha, você o ama?
Filha, desde que conheceu este cara, até a decisão de casar com ele, você se sentiu respeitada, cuidada, admirada?
Tirando este infeliz xingamento, ele te admira, demonstra interesse por tuas coisas, tu sente que ele te faz especial, e a mais feliz das mulheres, quando ao lado dele está?

Da avaliação das respostas às questões acima é que eu diria para ela decidir, mas não na hora.
Tem um filósofo polonês, falecido em 2017, chamado Zygmunt Bauman que escreveu um livro chamado Amor Líquido.
Neste livro, Bauman nos alerta para a banalização dos relacionamentos, que viraram objeto de consumo, e como tal podem ser comprados e descartados, na velocidade de um clique, ou de uma subida das escadarias para anular um casamento, recém-homologado.
A banalização das relações acompanha o mesmo ritmo da internet das coisas, transformando tudo numa velocidade imensa, em supérfluo, desnecessário, tão logo apareçam novas demandas, expectativas e necessidades, muitas das vezes idealizadas.
Perde-se capital psicológico positivo, no seu componente da resiliência, otimismo e esperança, e na ausência deste capital, nada compensa o esforço e investimento para o seu aprimoramento.
Melhor jogar fora, e comprar outro.
Correndo por fora das relações de consumo, que adentram perigosamente nos relacionamentos sociais, está o aumento da individualidade e egoismo.
E este excessivo culto ao EU, muitas das vezes reforçado em postagens sedentas de desejosas de likes acaba por criar um ambiente de pouca tolerância e empatia, e até uma certa dose de flexibilidade, ao outro EU, que também está inflado.


E, dois EUs inflados, quando se juntam, explodem.
Como um coração inflado de si mesmo acomodará parte do outro dentro de si?
Como uma pessoa que aprende que pode tudo, que compra tudo, que todas as suas necessidades-expectativas precisam ser atendidas, com exclusividade e prioridade, pode ser generosa ao outro, doando-se a ele?

Então, vivemos sob o império de um tripé: consumismo, individualismo e egoísmo.
E, neste tripé, falar em perdoar, aceitar o outro, ou acolher o que ocorreu quando as coisas lhe entristeceram, soa tão distante.
Tudo mundo cheio de razões e armado. Pronto ao menor deslize que o outro cometa a sacar-lhe as armas das palavras.
Aí, antes de dormir, a pessoa ainda entra nas redes sociais, posta o ocorrido, e encontra um monte de apoiadores, "likedores", e incendiadores. Gente que vai dar-lhe razão, mimá-la, enchê-la com um monte de conselhos, do tipo, "você está mais que certa em largar este cara".
E aí vamos ficando craques em cobiçar os gramados dos vizinhos, mas não sabemos o quanto de esforço eles levam para mantê-lo daquele jeito.
O quanto de sujeira eles precisam processar. O quanto de esperança, na força das sementes, eles precisam cultivar. E o quanto de otimismo eles precisam ter para com aquele gramado, infestado de tiriricas e caracóis, de que com o uso das ferramentas e cuidados certos, logo ele estará bonito novamente.

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