O Ciclo das Flores e da Vida (Autor Ricardo de Faria Barros)

Jovem Espartódea, de perto aqui de casa, Brasília-DF.
Quem anda pelo Plano Piloto de Brasília, nome que damos ao formato do avião da Cidade, deve ter notado que as flores da vez são as vermelhas-alaranjadas e as rosas-brancas.
As primeiras são das Espartódeas, a segunda da Paineira-Rosa.
Por aqui é assim. É só prestar atenção que têm flores todos os meses.
Recentemente, foi a vez era dos Cambuís e das Canafístulas, com suas copas amarelas tão lindas. Existem mais de 800 deles por aqui, tem uma época que tudo vira amarelo-ouro.
Já houve a época das flores violáceas dos Jacarandás e das Quaresmeiras.
E têm as árvores que suas folhas ficam coloridas de um rosa-carmim, são as Sapucaias. Estas, são de babar e parar o carro para fotografá-las, bem comuns no Eixão Norte, e aqui na varanda de meu apartamento também.
Têm as flores delicadas e branquinhas-carmim das Cagaitas. As da cagaita são um mimo só. Considero-as as cerejeiras do cerrado.
Têm os gramados repletos de plumas de painas branca, convidativos para um repousar sobre eles.
Tem o vermelho fogo das flores dos flamboyants.
E, como que a emoldurar isto tudo, têm os ipês branco, rosa e amarelo, que alternadamente começam a florir, pelo meio do ano.
As flores e seus ciclos nos ensinam muito. Já pensou se todos florescessem ao mesmo tempo? E não é assim. Há flores para todas as épocas do ano.
Basta capacitar o olhar para achá-las.
Basta não modelar a mente apenas para procurar os famosos ipês.
E verás flores por todo lugar.

Assim como as estações das flores, nós também temos nossas próprias estações - só que as existenciais.
Estes estados de florescimento e murchamento do ser fazem parte do existir,
O que precisamos tomar cuidado é quando estamos num estado de pouco florescimento.
Tomar cuidado para não generalizar. Mais ou menos assim, esta época do ano Brasília fica sem flores, agora é esperar os ipês.
Cuidado, você não está vendo outras flores, porque teu olhar estava acostumado com as copas amarelas dos Cambuís, e com as floradas estonteantes dos Ipês.
Então, tua vista não percebe mil e uma outas espécies de flores, que passam ao largo de teu viver.
Pois, quando achamos que nosso canteiro de flores murchou, tendemos a olhar apenas para elas, as flores que já se foram.
E aí perdemos capacidade emocional de perceber as outras, que ainda nos restam.
Talvez não tão exuberante, mas, mesmo assim, belas e bênçãos.
Quem mexeu na flor de meu emprego? Cadê aquele buquê tão lindo de minha carreira?
Quem pisou na flor de meu relacionamento? Onde está aquele viço de antes?
São exemplos de flores existenciais que murcharam. Que cumpriram seu papel, seu ciclo vital, e que já não mais exibem a exuberância de antes.
Outros podem dizer, e cadê a flor de minha saúde, antes tão vistosa?
Outros ainda, podem se sentirem incomodados com as marcas da idade, e perguntarem sobre a flor de sua beleza física.

Acolher que algumas flores de nosso viver já não são as mesmas é sinal de inteligência emocional.
E, aprender a olhar as outras flores que brotam noutros canteiros é sinal de sabedoria.

Quando lhes faltarem os ipês, preste atenção nas cagaitas. Quando lhes faltarem as cagaitas, preste atenção nas quaresmeiras.
Quando estamos muito mexidos, pelas aflições e preocupações, é preciso levar nossos pensamentos e emoções para os canteiros floridos da alma.
E, quais são as flores deste canteiro, cujas sementes podemos plantar em nossos pensamentos?
A verdade. A nobreza de caráter. A justiça. A pureza interior, com sua capacidade de continuar a se assombrar com a poesia de cada amanhecer. A amabilidade, ou amorosidade, para com os outros - sem distinção e preconceito. Tudo aquilo que for do reinado do bondoso, do generoso, da solidariedade. E, aquelas coisas pelas coisas nos sentimos gratos por existirem e louvamos a presença delas. bom, e despertar bons sentimentos. e o que seja digno de louvor. (Filipenses 4,8).

Digo-lhe que, por mais arrasados que estejam os canteiros floridos de teu coração, mesmo assim, se prestar atenção direitinho, verá ainda belas flores Maria Sem Vergonha, teimando em florescer à margem de teu viver.
Pode ser presença dos amigos que não te faltaram.
Pode ser um parceiro de jornada.
Pode ser estar empregado.
Pode ser ter conseguido se aposentar.Pode ser o acesso médicos e medicamentos para enfrentar doenças severas.
Pode ser os filhos vivos ainda.
Pode ser os pais vivos.
Pode ser a dor ter passado, o remédio ter funcionado.
Pode ser que o chefe se transferiu.
Pode ser ter um gerente bacana.
Pode ser ter um lugar para voltar.
Pode ser poder dormir a cabeça num lugar pra chamar de seu.
Pode ser poder pagar o aluguel.
Pode ser ter gás pra cozinhar.
Pode ser ter ainda uma sardinha para comer.
Pode ser ver, ouvir, sentir, andar, respirar e estar vivo.
E, por que não?
Há flores mais floridas do que o simples fato de existir?
E, quantas existências de sentido só começam mesmo, após terem perdido muitas flores, de seus canteiros centrais.
Aí, passam a cultivar as flores aonde podem ainda, com as sementes que lhes sobrou, e não é que são mais belas ainda?
Fica a dica, não ponha toda tua esperança, vigor e ânimo apenas num canteiro florido de teu viver.
Uma das receitas do bom viver é diversificar os canteiros.

Um comentário:

  1. Olá Ricardo, estava por aqui tirando uma foto de minhas flores e comecei a pensar na beleza dos ciclos que ela vive e comparar com a minha vida (e de todos nós) e encontrei o seu texto. Obrigada é lindo e me ajudou a refletir mais ainda nos movimentos que faço e acontecem na minha vida.

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