Um Pouco de Instabilidade Faz Bem

Nem tudo que invade a calçada de nosso ser, e o desestabiliza, são chateações.

Em algumas vezes, nos tirar do equilíbrio pode representar o que estas flores amarelas representam para esta calçada de grama: novas possibilidades contida na beleza de um encontro inusitado.

Sem planejamento prévio, que chegam sem avisar, que acontecem como que por acaso, estas "invasões floridas" em nosso viver, nos impulsionam ao novo.
Nos tiram da rotina, da mesmice, da inércia, do lugar comum e da comodidade de uma vida sem desafios, quase que no piloto-automático.

Estas "florezinhas' arejam nossa jornada, energizam nossas esperanças e nos alimentam em encontros, diálogos, poesias e amores.

Ao nos darmos conta de que elas simplesmente preencheram com sentido nossa vida, às incorporamos cuidando com carinho das mesmas, para que sobrevivam à nossa "calçada de grama".

Estas situações florezinhas-na-calçada-de-grama - raras, mas fecundas, são gratificantes quando nos acontecem e podem vir revestidas do choro de uma criança, de uma belo filme ou música, de um livro cativante, de um amigo inesperado, do cantar de pássaros vadios, no olhar de um desconhecido, das mãos de quem nos socorre, na paz de um entardecer.

Outas vezes vem do ombro de um amigo, do carinho e ternura que recebemos sem esperá-los, e na presença de que nos aconchega e conforta, sem pre meditações - só pela grandiosidade e gratuidade de seres que se reconhecem um ao outro como irmãos.

A boniteza de flores amarelas, nascida ao acaso, não passa em nossas vidas incólume.

De tão belas, inesperadas e vividas elas sacudem nossa apatia existencial e, com sua presença, fortalecem a certeza de outros amanheceres na jornada que atravessamos.

O Papagaio de Inácio Tosse



Quem já teve a oportunidade de conversar com este humilde casal, que há 6 anos enfrenta a AIDS, sabe que eles são a expressão concreta e visível da palavra Esperança.

Inácio e Cida fazem parte da historia do Grupo de Apoio à Vida – GAV ( luta pela defesa de portadores do HIV/AIDs na Paraíba). 

Nós nos conhecemos já nas primeiras reuniões da fundação (Mar/94).

Não deu para não se apaixonar por eles, à primeira vista. Vivemos juntos muitas emoções.

Foram muitos portadores que levamos a sua casinha humilde e chegando lá, sentido-se derrotados e angustiados, saíram como que ressuscitados para a vida. 

Andamos intrigados tentando descobrir de onde vem aquela alegria, paz e esperança que deles emanam. 

Alguns do GAV acreditam que é uma droga misteriosa que ele (Inácio) coloca no café. Ou será o bolo que Cida faz que tem ervas mágicas? O fato é que nenhum de nós visita Inácio e Cida e sai do mesmo jeito. 

Naquela casinha de 20 m2, onde nos sentamos no quintal e tomamos café, fala-se das coisas simples da vida e teima-se em acreditar... 

Naquele quintal obraram-se milagres. 

Então chega a noticia impactante no GAV de que Inácio está com bolhas nas costas e sente umas pontadas. 

Ergo as sobrancelhas. E procuro disfarçar minha preocupação. Bolhas nas costas e pontadas finas?

- É, foi o que vimos e o que ele nos relatou.

Peço que uma equipe de voluntários se dirija a sua residência para tentar sua internação.

"Bolhas nas costas e pontadas finas" pode ser sintomas de "Cobreiro" ou Herpes Zoster. É uma infecção séria que tem de ser tratada com vigor e de forma imediata.

A médica de plantão não o interna. Alega que ele é paciente de Dr. XXXX e que só este pode autorizar a internação. Sabendo da evolução rápida e cruel do "cobreiro", em pacientes imunodeprimidos, ficamos indignados. É o velho drama de ser pobre, com AIDS, e precisar de assistência médica.

Não há leitos disponíveis...

Em 6 anos de GAV é só o que escutamos. Alguns desses, "não há leitos", batem com força no GAV pois atingem portadores-militantes que também, de forma consciente e comprometida, estão na causa Anti-Aids, fazendo aconselhamento e dando forças a outros companheiros. 

É o caso de Inácio.

Sabemos portanto, da repercussão na comunidade de soropositivos, de um leito negado a um Inácio. Não que a outros não repercuta. É que Inácio é um líder natural de muitos companheiros soropositivos. Eles são tidos como que os padrinhos e madrinhas de portadores carentes que com eles se cruzaram nos ambulatórios e corredores de hospital, nesses 6 anos que eles estão com a doença. 

Foi na casa de Inácio e Cida que o Casal M.L e C.L redescobriu a paz, após o diagnóstico da doença.

Foi na casa de Inácio e Cida que S.B , jovem infectada de apenas 19 anos , comendo um bolo gostoso, servido e feito por Cida voltou a sorrir.

Foi na Casa de Inácio e Cida que E.B e sua esposa, quando ambos descobriram-se infectados, foram buscar sustento e esperança para resistir.

Finalmente, vaga um leito e Inácio se interna. Não tenho coragem de visitá-lo. Não agüento vê-lo sofrendo as dores incríveis que o "cobreiro provoca". Acompanho sua saga por outros voluntários.

Tento superar o medo, medo que pensei que estava definitivamente sepultado, porem que com Inácio me deixa mais uma vez prostrado. É medo que imobiliza, que remete a perdas. 

Senti este pânico com Camila (órfã de 3 meses adotada pelo GAV), agora sinto com Inácio.

Inácio é muito mais que um amigo. É um compadre. Em dezembro/94 realizamos um sonho antigo do casal que era casar na igreja. Arranjamos até vestido de noiva para a Cida que estava linda, do alto de seus 48 anos.
Fui o padrinho de Inácio. Lembro o festão que fizemos em sua humilde residência após o casório. Tomamos umas boas cervejas. Conseguimos até que a esposa de M.L deixasse que ele nos acompanhasse numas doses: "um copinho, só por esta noite, não vai estragar o efeito do AZT... "

Dez dias após sua internação, uma equipe do GAV aparece em nossa residência com uma receita.

- Pra quem compraremos estes remédios ?

- Pro Inácio

- Ele já tá em casa?

- Sim , nós estamos voltando de lá...

Quando o pessoal saiu. Entrei no quarto e sozinho não contive as lágrimas.

Inácio estava de novo no seu lar. Naquele local que passamos a freqüentar como um templo - Um templo de resistência e esperança. Fui rapidamente comprar os remédios prescritos. Bato em sua porta. Lá estão eles...

-Padrinho, olha só o que este tal de cobreiro fez em minhas costas.

As chagas ainda estão lá, porém, já estão cicatrizadas.

A conversa segue animada. Ensinamos o casal a utilizar os remédios. Eles nos dizem que estão alimentando um sonho de passarem Natal e Ano Novo com os filhos em São Paulo. Eles dizem que já juntaram o dinheiro de ida e que falta pouco para "inteirar" o da volta.
Então como que num passe de mágica descobrimos o segredo daquele casal.

É que eles sonham juntos.

- Sonharam juntos com a operação no ouvido de Inácio, para debelar uma infecção resistente, e aconteceu.
- Sonharam com a reforma de sua casa de taipa, e aconteceu.
- Sonharam com o casório na Igreja, e aconteceu.
- Sonham agora, com a ida a São Paulo e acontecerá .
- Sonham com um remédio mais forte que o AZT... (sonho realizado 4 anos depois deste texto).
- Sonham, quando da volta de SP, construírem uma “latada” em cima da lavanderia: "para quando a Cida estiver lavando roupa não pegar sol ", e acontecerá. 

Percebemos o porquê de tanta alegria, esperança e paz que reina naquele lar.

É que aquele casal aprendeu a sonhar juntos. E sonho que se sonha junto vira realidade. E sonho é o alimento da vida. Sem sonhos pra que viver? Sem sonhos desistimos!

Cida, então nos faz uma revelação: o que mais a transtornara, nestes 10 dias que ficou sem seu "nêgo", foi o papagaio. A gente não se continha em risos e pedimos que a Cida explicasse melhor. Cida então nos disse que o papagaio de Inácio aprendeu a tossir como o dono.

E que, durante estes dias, foram muitas as madrugadas que ela acordou ouvindo tosse, e pensava que era seu amado que chegara, e aí percebia que era o papagaio e desatava a chorar.

Na verdade, não era Inácio que tossia, era seu papagaio que com a convivência com ele, e sua tosse costumeira nas madrugadas, aprendeu a imitar o dono.

Nas lágrimas de Cida que ao ouvi-lo evocava o seu marido,  e chorava, toda grandiosidade do amor.

Nos sonhos daquele simples casal, que Deus os tenha, toda a esperança de uma vida melhor!

Simplicidade



Um colega de trabalho relatou a cena de sua filha Camila (09)
ao chegar do colégio toda sorridente. 

- Pai, vou participar da peça no colégio 

- É, Camila, que bom! E qual será seu papel? 

- Multidão! 

Não consegui dormi nesta noite. Que simplicidade daquela garota. Que alegria contagiante e imaculada. Camila seria multidão. Seria uma figurante numa cena de poucos minutos.

Na minha lógica maneira de pensar, não cabia a felicidade de Camila ao ser chamada para ser "multidão".

É que adulto pesa, pondera, classifica. Adulto aprende palavras como maior, menor, melhor, pior. Criança, não! Para elas o importante é estar na brincadeira. Elas não atingiram a idade da vaidade. Tudo é festa desde que elas participem. Não importa cargos, status-quo. Tanto faz brincar nas areias da praia, com um garoto dos morros, ou com um burguesinho de classe média. Na hora que elas, as crianças, encontram-se,  impera sob elas o reinado da fantasia. 

E a fantasia destrói muros, constrói pontes e afina o ser para que toque uma canção de conjunto, uma canção de orquestra. 



- “Tio, vou ser multidão!" 

Ah, Camila, como tu me ensinou naquela noite. Vi em teus olhos faiscantes a importância que tu própria atribuías a tua missão. 

Tu eras, então, inacessível a comentários dos outros. Tinha sido linda esta descoberta de teu ser. Não importava o papel na peça, o importante era estar participando, junto com o grupo, do evento. Não precisavas de avaliação de terceiros, sobre se era importante ou não a ponta que fazias para ti era a ponta mais importante do mundo, pois era única. Agente às vezes começa a construir uma imagem nossa pelo que os outros vão nos fornecendo de feedbacks. Chega a tal ponto que agente dipirona (endoida) e perde o nosso próprio referencial. Afinal, agente se acostuma e se condiciona a atribuir nossas tristezas, mazelas e limites aos outros. 

Estamos sempre a implorar afagos, carinhos e atenção. Camila não! 

Ela encontrou-se, na pureza da multidão que ela ajudava a representar. O espelho destrói o sentimento de pertença e de valor que temos. É um espelho produzido pelos ditames da moda, da mídia, do corpo politicamente correto ou do agir. Ele chega a ser cruel. Precisamos evocar a pequena Camila, nestas horas, e lembrar que não existe para minha felicidade algo mais precioso do que o amor que sinto pelas minhas espinhas, pela minha barriga, pela minha barba branca, pelos limites que tenho. De que não existe melhor estado de harmonia do que a compreensão de que sou importante. De que sou, mesmo fazendo pontas muitas das vezes, elo fundamental na manutenção da vida. 

É tão bom quando agente vê alguém que é coerente. Que se assume. Que gosta dele do jeito que é. Que não precisa se fantasiar, de parecido com ou outros, para ser aceito. Como é bom ser original num mundo cada vez mais massificado e cheio de protótipos de pseudo-homens. Como é bom poder ousar um novo mundo. Um novo relacionar-se. É destas coisas simples, desta pureza de espírito que se produzem grandes 

transformações. Do jeito que as coisas estão, chegará o dia em que uma simples declaração de amor será entendido como algo "humanamente inferior". Neste meio idiotizado, televisicondicionante, quem ousar ser diferente será atropelado. E aí já não restará mais sobre a face da terra homens; plenos, criativos, originais. Existirão robôs, ovelhas mansas, alienadas e dóceis. 

Por isso, é urgente aprender com Camila a ser feliz. Feliz como a água que se encontra com o mar. Feliz como aquele que se olha no espelho e diz: “Taí, gostei!" 

A ausência de vaidade em Camila, o sentir-se parte de um processo, sua visão do todo, da peça como um todo é para nós uma grande lição e um grande desafio. 










O Arraiá do VIHIVER.




Estava escrito, aquele São João seria diferente.
De 1994 a 1998 fui fundador e presidente de uma ONG que cuidava de pessoas com HIV-Aids.
Nela, exercia a minha melhor porção, a de voluntário. Junto com ex-mulher e filhos.
Num destes anos, era época de São João, e os voluntários da ONG - Grupo de Apoio à Vida (GAV), estavam cheios de idéias. 
Uma delas fazer o primeiro São João de pessoas vivendo com Aids e seus familiares.
Seria uma noite de folguedos.
Não falaríamos de AZT, nem de retrovírus, nem tão pouco dos inibidores da protease. 

Aquela deveria ser uma confraternização junina para ficar na história. 
Seria o arraiá da vida . O Arraiá do VHIVER.

Pensamos nos mínimos detalhes: convidar os enfermeiros do HUAC (ala A e B), comprar lenha para fogueira, fazer comida de milho, um marcador para a quadrilha...

Dias antes, como que a testar nossa capacidade de resistência emocional, dão entrada no Hospital Universitário (HUAC) dois membros do GAV.

Nossa mascote - Camila 2 meses, para qual já tínhamos feito um lindo vestido de chita (próprio para a ocasião), internou-se no HUAC com infecção generalizada.  A.M(28) que era o responsável pela confecção do pudim de milho (uma delícia! só de pensar) sentiu-se mal e foi internado às pressas com pneumonia. 
Os dias foram de apreensão. Camila estava no balão de oxigênio, na UTI Pediátrica. 
A. M vinha apresentando melhoras mais ainda sob doses severas de antibióticos.

Aquela sexta nos marcou. 
Vendo os olhos sorridentes, apesar dos tubos, de Camila - totalmente impossibilitada de ter alta , e A. M que nos prometeu um outro pudim de milho ," quem sabe no São Pedro"... tocamos em frente o projeto. 

Será que aqueles tão marcados por esta doença viriam?
E o medo da chuva, com suas conseqüentes infecções? 
Nunca tínhamos conseguir congregar tantos portadores, muitos só tínhamos acesso quando íamos deixar uma cesta básica ou medicamentos. Aquela deveria ser uma ocasião diferente.
Seria um brado e clamor à vida. Para muitos um reencontro depois de tantos meses, e até anos de amargura. Era preciso, concretamente, mostrar que ainda é possível ser feliz , mesmo com o vírus HIV , que é urgente se viver a soropositividade. 
Que é possível dançar um forró, uma quadrilha, soltar uns fogos, tomar uns guaranás.

Aquela seria uma noite na qual muitos poderiam sair com uma dose do que o AZT não produz:
alegria de viver.

Finalmente chega o dia. Logo cedo o local está em polvorosa. São bandeirolas. Lenha para fogueira. Últimos contatos.

Passamos o dia , em mutirão, preparando a festa.

E à noite, fez-se a luz!
Aqueles a quem nossos olhos condenaram aos túmulos estavam todos ali. 
Risonhos, alegres, muitos dançavam. 
A I D S - palavra proibida!
A palavra permitida era alegria e esperança.

Que noite! Noite de encontro, noite de comunhão.

O forró comeu no centro. "Tareco e mariola neles!" .

No fundo d`alma ainda batia uma saudade danada de Camila e A. M .

E como era noite de folguedos de de repente fez a luz. Chega a festa, a Jovem S.M(25) , oriunda da Bahia para onde tinha ido há 6 meses sem nos dá notícias. Um voluntário ao passar em sua rua , para buscar outro portador, percebe um taxi em sua casa. É que ela estava chegando da rodoviária naquele momento. Foi só deixar o taxi e entrar no carro e vim para o Arraiá.

Não acreditávamos no que víamos. Estaríamos já bêbados?

Ficamos como bobos, não sabíamos se riamos ou chorávamos. Nos abraçamos e eram tantas palavras, contidas num soluço ,que mal podíamos nos entender. Compreendemos ,naquele instante mágico ,o abraço do "filho pródigo" - o abraço do reencontro. Ela não sabia a surpresa que lhe aguardava. Seu sonho era conhecer outras jovens , HIV + , de sua idade com quem pudesse partilhar sua experiência. Naquela noite, estavam presentes no Arraiá, mais 4 jovens entre 23 e 26, todas HIV + .

E quanta esperança cada uma depositou na outra quando se conheceram. Era como que dissessem - Puxa, não só foi a mim que este vírus contaminou, vamos juntas enfrentá-lo , então!

Era alegria demais numa só noite.

Estava escrito, resistirão!
íamos.

Olhar que liberta ou que aprisiona!


OLHOS 

TENHO UM NOME

INCRÍVEL, UM NOME?

É...,UM POMPOSO NOME!

TENHO SONHOS...

MEU CORAÇÃO PULSA... PULSA ?

TENHO UMA MÃE

MAMÃE...!

SE JÁ AMEI? O QUE VOCÊ ACHA !

AMEI CADA HOMEM E MULHER COM QUEM DORMI.

AMEI CADA MANHÃ E CADA ENTARDECER QUE VISLUMBREI.

AMEI CADA GOTA DE ORVALHO E CADA LUAR.

AÍ ELE CHEGOU...

CHEGOU DE MANSINHO, SEM FAZER ALARDE.

PRIMEIRO ELE VEIO MOSTRAR-SE EM TEUS OLHOS.

SENTI O QUE ERA O PRECONCEITO

ESTAMPADO EM CADA MENINA DE TEUS OLHOS

LÁ ELE ESTAVA!

TEU OLHAR QUE ACUSA,QUE DISCRIMINA,QUE  ENOJA,
                     QUE REPUDIA,QUE VIOLENTA.


SENTI TEU OLHAR E AO OLHAR-ME

 JÁ NÃO MAIS ME RECONHECI NO ESPELHO.

PERCEBES O DRAMA?

PERCEBES A IMPORTÂNCIA DE TEU OLHAR.

TAMBÉM TENHO MEDO:

MEDO DO ESCURO,MEDO DA MORTE
MEDO DA SOLIDÃO,MEDO DA INDIFERENÇA
MEDO DA DOR.

DE TUDO QUE ME MALTRATA
DE TODOS ESTES OLHARES  APENAS ALGUNS ,
UNS POUCOS, É VERDADE.
RESGATARAM  MINHA IMAGEM PERANTE O ESPELHO.
APENAS UNS POUCOS ,
   É VERDADE!
 VOCÊ NÃO ACREDITA ?
AH! COMO SÃO BONITOS ...
ESTES OLHOS :
             QUANDO TOLERAM, CONVIVEM, APRENDEM A VIVER JUNTOS,
ACOLHEM,  QUANDO  PERDOAM,
                RIEM... E ESTIMULAM.
NÃO PERGUNTAM:
 PORQUE ? COMO ? QUANDO ? COM QUEM ?
SIMPLESMENTE AMAM:
INCONDICIONALMENTE, ESTUPIDAMENTE

BOBAMENTE, 

DESESPERADAMENTE...


Pessoas-Tita

Priscila (com onze anos)

TITA - Um Maluco Beleza

Era um lindo sábado de sol, desses em que levamos as crianças ao parque, praia, ou simplesmente cuidamos do jardim de nossa vida. Eu esperava dentro do carro, os garotos, para passearmos.

Percebi um tipo sorridente na rua. Alto, desengonçado, calçando um tênis muito maior que seu pé e gesticulando para os transeuntes. Não entendi nada.

Seria um deficiente mental? Seria um pedófilo? Um desses psicopatas de finais de semana? Esperei curioso, enquanto meus filhos entravam no carro.

Quando Priscila entrou, ele disparou um grito:

- Priscilaaaaaa!!!

Ela disse sorrindo:

 - Oi Tita!

Perguntei:

- Tita? Quem é Tita?

Respondeu Priscila:

- Papai, o Tita é meu amigo. Ele endoidou de tanto estudar e vive na rua beijando a testa e as mãos de todos que passam por ele, naquela calçada. Todos aqui na rua o adoram.

Não tive coragem de funcionar o carro. Imóvel eu observava aquela pequena passagem, por aquela calçada. Era uma a páscoa, uma páscoa de beijos. Quem por ali passava não saia do outro lado do mesmo jeito. Todos recebiam o ósculo (beijo na testa) da paz. Eram senhoras, velhinhas, que caminhavam lentamente. De longe já sabiam que seriam beijadas pelo Tita e sorriam. Nenhuma delas desviava o caminho. Era mãe voltando do mercado, adolescente indo ao ginásio, todos faziam questão de passar pelo Tita. Percebi que aqueles eram os moradores mais antigos.

Os que não conheciam a rotina daquela mágica rua, como eu, a princípio se assustavam e apressavam o passo. Os dali paravam e se deixavam beijar e conversavam animadamente com o Tita. Este, sempre sorridente.

Aquela cena marcou-me. Um corredor de beijos. Quando aquelas velhinhas se arrumavam para ir à feira livre, tenho certeza que, colocavam um perfume a mais, ou quando lavavam o cabelo sabiam que, dali a pouco ele seria beijado.

Imaginei então o quanto um afago despretensioso e sem segundas intenções nos faz bem. Aquele corredor e aquele "deficiente mental" deveriam ser elevados à categoria de Patrimônio da Humanidade. Ali havia diariamente troca de afeto. Será que os filhos daquelas senhoras idosas ainda as beijavam na testa? E se o faziam, será que com tanto carinho como o "louco" do Tita?

Fiquei então pensando que, "louco" somos nós. Somos nós, ao anestesiarmos nosso coração, e não nos permitimos mais um abraço gostoso, um beijo na testa, um sorriso efusivo de BOM DIA!

Nós é que somos "deficientes mentais". Somos deficientes em amar. Somos deficientes em perdoar. Somos deficientes em começar de novo. O Tita não! Ao seu modo, ele embelezava e encantava a existência daqueles transeuntes que por ali passavam. Para muitos deles, aquele era o único carinho que receberiam naquele dia.

- Bom dia Tita!

- Não tenha medo de mim. Esta cara carrancuda é máscara. Vem cá, também quero ser beijado. Na verdade eu te imploro: beija minha testa, sorria para mim. “Faz-me perceber que para você faço a diferença, que você se importa comigo, que sou querido e amado”.

Tita é ternura. Ternura que contagia a todos. Ternura sem preço, sem culpa, sem imposição, sem discriminação.

Tita beija a todos: velhos, jovens, crianças, conhecidos ou desconhecidos. Tita gesticula, grita, ri, fala. Nunca agride, corre atrás ou puxa para si. Ele diz:

- Deixa eu te beijar?

E sorrindo diz: "- Bom dia". Beija a testa e fica feliz. Fica feliz ele e nós.

Senti uma vontade danada de descer do carro e passar por aquela páscoa de beijos. Tive vergonha. Agora percebo que, é esta mesma vergonha que me impede de assumir os caminhos do coração. Vergonha, sempre a vergonha, que é irmã do medo, nos aprisiona e imobiliza. Esta minha vergonha tornou meu dia mais pobre. Tive vergonha de trocar, de partilhar, de mergulhar num infinito de possibilidades.

Queria um milhão de “Titas” em cada rua de nosso Brasil. Em cada uma delas teríamos a certeza que durante o dia, pelo menos uma vez, uma pessoa seria beijada: independente de raça, credo, poder aquisitivo, aparência exterior. Seria beijada pelo simples fato de permitir-se usufruir a fonte de amor que brotava despudoradamente do outro.

Na nossa sociedade existem várias pessoas do tipo: Tita.

Cada uma delas, mesmo sem perceber, com suas posturas e atitudes interfere no meio onde vivem, tornando-os melhores.

A elas este texto é dedicado.

Pessoas Algaroba, Pessoas Umbuzeiro.



Algaroba
Umbuzeiro

Árvores Sagradas. Pessoas Sagradas.


Preciosidades nordestinas: a Algaroba e o Umbuzeiro.

Como plantas dão sombra, alimento, morada e renda. 

Quando tudo seca, quando até o feijão e milho guardados como semente são comidos, ou vendidos, eis que 

as algarobas e umbuzeiros florescem e dão fruto.

Os umbus, vendidos nas feiras-livres, são a renda de sobrevivência do nordestino.

As vargens da algaroba alimentam a pouca criação que sobrevive à seca.

Estes benditos frutos, do ventre da mãe natureza, chegam nos sertões trazendo consigo uma lufada de 

esperança.

Atenuando, qual bálsamo, as feridas da seca inclemente.

Lembra destas árvores nas tuas dificuldades.

Lembra que apesar do sol inclemente, da fome, da falta de água, metáforas para tuas dificuldades 

existenciais, aparecerão na tua vida pessoas-algaroba e pessoas-umbuzeiro que te ajudarão a sobreviver.

Saber reconhecê-las é uma arte, mas quando o fizer as preservem. 

Como os nordestinos preservam, qual relicário sagrado, os umbuzeiros e algarobeiras.

És algaroba, todas as vezes que outros alimentam-se de ti.

És umbuzeiro, quando renuncias ao desespero e a desesperança;

És alimento, quando de ti brotam palavras de apoio, compreensão e solidariedade.

És sombra quando outros vem a ti, em busca de um aconchego, de uma palavra amiga;

És esperança quando de ti irrompe um brado por justiça.

Sejamos Algaroba e Umbuzeiros uns para os outros.

Florescer

Assim como as flores das cerejeiras, podemos mudar de cores, de ritmos, de humores, de valores... Só não mudamos em deixar de lutar pelas coisas que nos fazem felizes. Mesmo que de vez em quando nos sintamos frágeis, cansadas, tristes... são só as cores das nossas flores interiores amadurecendo e sobrevivendo às intempéries, logo logo - mais cedo do que o alvorecer para o enamorados, passará, e estaremos novamente revigorados para novos projetos. É só ter paciência com o nosso ser e permitir que não sejamos sempre o que queremos ser.

Cumplicidade



Cumplicidade é como esta cena da foto.



É envolver-se com o outro a ponto de não precisar falar nada a ele,

e o mesmo saber que você está junto naquela dificuldade.

É empatizar a relação, afastando áreas de antipatias.



Cumplicidade é mergulhar no diálogo, e renascer na harmonia de se fazer presença na vida de outro,

ou com o grupo a que pertence e no trabalho que executa.

Cumplicadade não cabe em palavras, mas em cenas... como a desta foto.

Epitáfio do Mané




Velando o corpo do Mané, olhei para seu semblante sereno e, pensando ver alucinações, o vi sorrindo.
Fechei e abri os olhos várias vezes, e ali estava o mesmo Mané sorridente.
Já fui a muitos enterros, fruto da idade que vai avançando, mas nunca vi defunto sorrir.
Com Mané foi diferente.
Recebeu sorrindo aos que chegavam chorando.
Mané subvertia a ordem reinante, até no rótulo popular de seu nome, que em muitos lugares significa gente besta ou burra.
Mas, quando por nós pronunciados, para o nosso "Mané", significava uma pessoa humilde e sábia.
Voltando ao velório, imaginava se Mané não estava era mangando de mim, pois eu não pudera tirar sarro dele, no cafezinho da segunda dia 12, já que o Flu derrotara o Timão no domingo.
Aquele sorriso era como que ele me dissesse, "Escapei de ti Ricardim".
Entre uma reza e outra, de um padre que "encomendava o corpo", pois a alma já tava no céu, pensei:
será que ele sorrir do que eu vi no banheiro do Cemitério, a poucos minutos. Será que ele, em espírito, viu também?
E também sorri.
É devia ser isso.

Ao entrar no WC, vi uma inscrição de amor na porta do banheiro:
"Pitchula, eu vim te ver, viu?"

Seria um admirador oculto que num último gesto desesperado de amor, quis deixar marcada a sua presença, já que não podia assumir sua dor junto ao caixão de sua amada?
Ergui os olhos e vi que o Padre me viu sorrindo.
Desviei o rosto envergonhado, e voltei-me para sua esposa - a Gorete.
Então, comecei a debulhar uns graozinhos de memórias, lembrando-me do quanto nos ensinara ao falar, nas aulas que deu em alguns cursos Benvindo à Ditec, de sua Gorete.
Todos os participantes do curso esperavam uma aula técnica, cheia de COBOL pra cá, db2 pra lá, etc.
Mané surpreendeu a todos, e falou de amor. Enchemos os olhos de lágrimas quando ele falou de sua Gorete.
Eles eram noivos e moravam em São Paulo, quando Mané foi chamado para tomar posse numa agência bem longe da capital.
O amor por sua Gorete falou mais alto, e ele requereu ir para o final da fila dos convocados, cancelando sua posse.
Iria aguardar um novo chamado, quem sabe para uma agência mais próxima da capital, e de sua amada Gorete.
Veio o outro chamado, mais uma agência distante, e mais uma vez ele pediu para postergar seu chamado para ficar mais próximo da amada.
Desta vez ouviu de um sisudo funci que ele poderia perder o concurso. Mesmo assim arriscou.
Meses depois, O BB precisava alocar muitos funcionários no Cesec SP, e flexibilizou uma última chamada para posse, beneficiando o Mané.
Iniciava ali sua trajetória em tecnologia, no Cesec-SP.
Qual seria o destino da carreira do Mané, se o amor não tivesse dado as cartas, e ele as lido com sensibilidade?
E era sobre isto sua aula, a importância de gostar do que se faz, de amar o que se faz, de encontrar o sentido da vida.
Emocionava a todos.
Não pude deixar de pensar a falta que o Mané fará nas aulas dos trainees de novembro, contando sua vivência de amor, para jovens tão carentes deste conteúdo. Combinara na terça-feira com o Mané a sua participação na semana de formação dos trainees em novembro, o que ele, já sabendo de sua doença tão grave, acordou com uma alegria incontida.
Após a celebração, aproximei-me da Gorete, tomei coragem, e revelei o quanto as aulas do Mané ensinaram-me que amar vale a pena. Ela revelou-me que após aquelas aulas, quando chegava em casa, ele falava que contara a história deles.
Agora eu entendi o porquê de seu sorriso... era amor!
Mané partiu de bem com a vida. Sem mágoas, culpas, invejas, rancores, perdão não concedido ou tranqueiras emocionais que vamos aprisionando em nosso ser.
Ele partiu em paz pois era um apaixonado pela vida. Gostava de trabalhar. Sempre estava pronto a encarar mais um desafio. Um prazo curto, uma demanda atravessada, a falta de pessoal...
Aliás, era muito difícil dizer um não ao Mané, que com aquele jeito meigo e bonachão, a própria gentileza em pessoa, nos seduzia ao ponto de não sabermos dizer-lhe não.
Imagino como deve estar se sentido sua tão amada equipe de cartões, que quando dela falava enchia os olhos e brilhava a alma de satisfação. Como ele sabia cultivar o ambiente de trabalho e o clima organizacional!
Está difícil entrar pela porta das telefonistas no Colegiado, e não ver o Mané sentado na primeira bancada à direita.

EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO
UMA MESA NUM CANTO UMA CASA E UM JARDIM
SE EU SOUBESSE QUANTO DÓI A VIDA
ESSA DOR TÃO DOÍDA NÃO DOÍA ASSIM
AGORA RESTA UMA MESA NA SALA E HOJE NINGUÉM MAIS FALA NO SEU BANDOLIM
NAQUELA MESA TÁ FALTANDO ELE,
E SAUDADE DELE TÁ DOENDO EM MIM
NAQUELA MESA TÁ FALTANDO ELE,
E SAUDADE DELE TÁ DOENDO EM MIM

Ao sair daquele velório, ouvi um sussurro dizendo:
"Só estou indo na frente de vocês, qualquer dias desses a gente se encontra lá por cima."
Este é o nosso Mané.
Sempre de bem com a vida, amigo, esperançoso e otimista.
Que deve tá torrando a paciência de São Pedro, balançando no céu aquela bandeira do Timão.
"Ó morte, onde estás, ó morte?
Quem és tu ó morte?
Qual a tua vitória?"

Ricardo de Faria Barros - Ricardim (parceiro do café, das 07:45, com o Mané)
(*) Mané, 56 anos, colega da Ditec, num exame de rotina descobriu ter um câncer e suas metástases. Escondeu de todos, menos de esposa, filho e do Diretor. Não queira ser tratado de forma diferente e deixar de sorver a vida até seu último gole. Trabalhou até a quinta-feira passada, quando se hospitalizou e faleceu no domingo.

Revigorar


Como são belas estas nuvens de chuva que renovam 

esperanças, de raízes cansadas de resistirem, e acordam para 

a vida as sementes adormecidas.

A Hora da Verdade

Tem hora de pensar, tem hora de agir. Porém, nossos pais ensinaram-nos a fazê-los conjuntamente. Na foto, meu mano o Guga, de camisa azul e abafador em cena, apagando incêndio.

Aprendessência.



A 30 km de São Sebastião, sentido Formosa. Estrada que liga a BR 020 Formosa - à Cristalina por dentro - sem passar por Brasília.
Uma comida caseira e deliciosa. Do tipo slow-food.
3 macacos no pequizeiro.
Um casal de velhinhos - ermitões, atendendo.
Ela na cozinha, e ele no bar.
Uma tragédia na vida deles.
Um jeito manso e sábio de viver.
Um papagaio que imita o choro de recém-nascido e inunda a vida do casal com os sons de suas crianças que se foram tão jovens.
Um luto de 47 anos da única filha falecida aos 3.
Outros lutos de 5 gravidezes que não vingaram muitas chegando ao nono mês.
Um casal com incompatibilidade sanguínea, vítima da falta de tecnologia a 50 anos atrás.
Um casal com compatibilidade amorosa, nos seus 50 de casados.
Uma parede de "restaurante" com uma planta nascendo de um chifre de um touro.
Um restaurante sem TV ou som ligada cuja sinfonia são dos pássaros e aves domésticas.
5 cachorros e um 1 papagaio tidos como filhos.
Um dono de bar que senta, olha ao horizonte, fala de sua vida simples, fuma e bebe vagarosamente sua cerveja.
Uma galinha solista.
Um cheiro de paz.
Uma senhora tão linda quanto Teresa de Calcutá, com suas mesmas rugas e sorriso terno contando como botou pra correr dois molecotes ladrões que rendiam seu marido para roubar-lhe R$ 12,00 e um maço de cigarros.
Um doação linda de um banho no chuveiro no filho que trocava fradas.
Uma pose com minha família para uma foto.
Uma lição de vida que me marcou profundamente.
Só um ao outro para cuidarem-se e se protegerem...

Foco Vital

Tudo é uma questão do grau de importância e foco que damos às coisas. Às vezes a boniteza está bem próxima de nós, mas teimamos em focar nossa vida em coisas que nos afastam dela, como os tijolos desta foto, na qual a boniteza, desfocada, é um beija-flor alado.

Aprendizados Poliana



Re-Leitura de Contexto






Cena 1
  1. O Flu perder. 
  2. JG acordar 5hrs. 
  3. Pedreiro me dá um cano. 
  4. Carro de manhã cedo não pega. 
  5. Senha de acesso à internet bloqueada novamente. 
  6. IRPF tudo indica que na malha 
  7. Duas multas Detran-DF. 
  8. Acordar com o praguejar da mulher porque os cachorros comeram seu sutião e sapatos.
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Cena 2
  1. O Flu poder jogar no Brasileirão - Série A. 
  2. Ouvir JG gritando "papaaaaiiiiiii!" às 5:00 horas e sentir-se importante. 
  3. Perceber que a falta do pedreiro lhe poupou um erro no projeto hidráulico. 
  4. Ter a pane do carro na garagem, consertada pelo mecânico da seguradora, em 60 min. 
  5. Ter um amigo para quem ligar e ele desbloquear a senha sem precisar ir na agência. 
  6. Ter retificado o IRPF por uma besteira, e poder justificar caso na esteja mesmo Malha Fina. 
  7. Só ser multado por ausência de cinto, e velocidade de até 20% acima do limite. 
  8. Ter uma mulher crica que me aporrinha vez por outra, mas faz sentir-me vivo. 
Tudo é uma questão de perceber outras possibilidades e vivências, que mesmo uma situação desagradável,
possa conter. O foco que damos aos problemas, com sua maior ou menor intensidade, muitas das vezes nos afasta de ver que apesar deles, a vida segue seu ritmo, e que poderia ter sido muito pior o que nos acontecera..

Problema mesmo, é quando perdemos quem amamos.

Envelhescência.



Ouvir minha doce mãe, pela 47 vez, dizer que perdeu um prêmio pois, não nasci no dia 12/10/1964, quando Campina Grande-PB fez 100, e a prefeitura estava dando um mimo para as mães. Não tem preço!!! Morro de rir com ela. Como é bom ouvir a mãe e o pai do outro lado da linha.

Tudo acalma e todo é só esperança ao ouvi-los.
Ao lado do fogão à lenha. Assando umas chuletas na chapa. Uma noite íntima com parte da minha família - JG e Cris. Naquela mesa faltam 3 e a saudade deles dói:Tiago Barros, Priscila Magalhães e Rodrigo Barros. 4.7 especial, quase de coração novo, "em dez trocando mais duas pilhas" aí sim, 100%. Clima de montanha friozinho. No DVD, Diogo Nogueira. Tomando uma Ypioca-Ouro de leve. E morrendo de rir, relembrando as doidices que vivi. Em cada lenha que crepita, conto minhas bênçãos e agradeço. Em cada chama que levanta, louvo os amigos(as) que tive a honra de fazê-los(as). Em cada fumaça que se esvanece, uma ponta de melancolia, da luta que travo contra esta amnésia que dificulta o lembrar de rostos e cenas que vivi. Por isso bato tanta foto. Ao vê-las lembro-me. Às vezes.
A tantos que enviaram saudações, de amigos virtuais e presenciais, emocionei-me com cada uma delas. Muito obrigado pelo carinho. Só aumenta a responsabilidade de de não me afastar da trilha que leva ao amor, paz, justiça, bondade, gentileza e perdão.

Ensinando e Aprendendo

Ser educador é portar as sementes da utopia, as folhas da esperança, e as flores da boniteza. Mesmo caminhando sobre as rochas da realidade.

Fruta Madura

Gosto de fruta madura. Cheiro de chuva na terra. Assim é a vida que renasce, fecunda tal qual a coragem de sobreviventes do arriscoso processo de acordar.

Mil Lágrimas



Aos dias bons!


Só quem já chorou as mil lágrimas entende a beleza de um arco-íris que prenuncia tempos melhores.

A Urgência da Vida



As flores amarelas deram lugar às folhas verdes, em 7 dias. O ciclo da vida.

Por isso, temos que viver com felicidade, gratidão e doação, os momentos de flores em nossa vida.

Por isso, temos que viver com dignidade, esperança e otimismo, os momentos-folha em nosso viver.

Pare e reflita!

Se soubéssemos a importância de vez por outra parar, refletir, descansar, meditar, contemplar, acalmar, e olhar à frente para projetos de vida que nos elevam o coração. Este beija-flor nos ensina que é possível superar as forças da gravidade, da inercia, e mirar no alvo da vida. Em que estamos mirando nosso movimento frenético do dia-a-dia?

Amizade

Amiga dos finais de tarde, esta é a fêmea. Sempre vem me saudar encarando a lente da câmera. Fica uns dois segundos me olhando. E eu louco tentando achar o foco da foto. O macho, verde e azul, nunca vem. Um dia ainda consigo esta foto dela me olhando. Acho que ela se lembra que em março a salvei, quando ficou presa dentro de casa e, de tanto bater nos vidros, ficou desfalecida num canto. A peguei com cuidado a reanimei soprando um ventinho e a soltei na varanda.

Simbiose virtuosa



Embeveci, endoidei, retornei, subi o meio fio, e atravessei a rua, e documentei esta simbiose linda - entre uma trepadeira amarela e um jequitibá, num orgasmo de beleza da mãe natureza.

Nesta relação há uma solidariedade, uma empatia, uma cooperação. O jequitibá apoia, a trepadeira floresce. De modo que não se sabe onde é Jequitibá, onde é trepadeira.

Ambas as árvores, embelezam suas vidas. Assim devia ser no encontro entre pessoas humanas. Deveríamos deixar os outros que passam em nossa vida, procurando apoio, melhores do que chegaram. A isto chamo de amor.

Um pote de ouro pertinho de você.

O pote de ouro está lá. Ele é um monte de amigos, comida gostosa, uma Stela Artois geladinha, um abrigo para se chamar de lar, um carrinho pra lavar, risadas gostosas, um vitória do time sobre seu arqui-rival, um trabalho bacana, vez em quando levar-se para passear, um balançar de rede sem nada pra fazer, um amor carnal, filhos pra aconchegar, pais para aconchegar-se nos aperreios da vida, irmãos para compartilhar, uma ou outra luta pelo que acredita... e um pouco de dinheiro para se viver com dignidade.

Lance suas sementes. A Humanidade agradece.

É só lançar as sementes... a vida faz acontecer. Mas, lance boas sementes: paz, bondade, amor, perdão, alegria, esperança, fraternidade, gratidão, solidariedade, ética, justiça, amizade, afeto, ternura. Tudo semente boa!

Gentileza já!


Cansado de tanta violência entre os Homens. Da frieza, da mesquinharia, da mentira, da ganância.
Cansado de mágoas eternas, de culpas aterrorizantes, de invejas sutis, de maldades destiladas, do sorver do medo do encontro com o outro que pisoteia.
Cansei de jogar este jogo.
Cansei de correr para o pódio derrubando todos ao meu redor.
Cansei de querer que meus filhos sejam os primeiros.
Miro neste beija-flor e medito em que me tornei, nesta meio louco em que sobrevivo. Preciso beber mais do cálice de mim mesmo, que um dia encantava-se e assombrava-se com o som das ondas, dos ventos, da chuva caindo e do crepitar das chamas. Errei, na minha luta diária para sobreviver, ao perder-se do vivente que havia em mim. Resta romper com o lugar tenente e subverter a ordem reinante, perseguindo novos e tão velhos valores: amizade, ternura, gratidão e afeto.

Cuidar para crescer.



Te peguei tão nova, de um local que viria a ser ceifada pela enxada inclemente do progresso, nas mãos calejadas de um pedreiro, e plantei-te no meu jardim.

Só para cuidar de ti e chamá-la sempre de minha amiga sobrevivente - e ver em ti minha história, em todas as manhãs vindouras. O teu nome? Esperança!

Benditas hastes que nos ajudam a sobreviver!


Quem não tem estaca se vira com uma haste de cebolinha.

Belo exemplo deste pé de pepino.

Pode até não resolver a sua situação - como os pepinos que enfrentamos, mas a frágil haste de cebolinha na qual ele se agarra, dará tempo a um jardineiro atento fincar uma estaca em sua base.
Assim é em nosso viver. Muitas vezes nos agarramos a "hastes de cebolinha" para crescer.
Podem até não nos sustentar permanentemente, mas naquele momento foram imprescindíveis para nos ajudar a aguentar o tranco, dando-nos tempo para outras soluções.
Amigos são assim, hastes de cebolinha.
Nos ajudam a reerguer e restaurar nossas forças, neste "arriscoso" processo de crescer.
Tive tantas "hastes de cebolinha", nas quais pude prender-me momentaneamente, e encontrar conforto e segurança.

Benditas hastes.

Só temos que lembrar que elas não nos sustentarão para sempre, e se assim o fizerem vão morrerem, elas e a nós mesmos, pelos efeitos colaterais da co-dependência afetiva doentia.
A nossa carga do caminhar, o nosso próprio peso de existir, tem nas hastes refrigérios momentâneos, mas esta saga é nossa.
Encontrar quais as estacas que dão sentido e propósito ao nosso ser, é um dos segredos do sentido da vida.
Não desprezar as hastes de cebolinha, após este encontro, é o desafio.

Nunca sabemos quando poderemos nos sentir tão frágeis que nossas estacas não suportarão sozinhas o nosso peso existencial, por mais forte que sejam. Nestas ocasiões, precisaremos recorrer as hastes para nos ajudarem a nos equilibrar novamente. Quem já viveu momento de intenso luto sabe do que estou falando.

Portanto, sejamos gratos a reconheçamos as hastes que habitam nosso viver.

Pode ser um amigo, a casa dos pais, a família, uma sombra de uma árvore, um animal de estimação, um livro, um filme, uma música, um telefonema, uma comida gostosa, uma viagem, uma prece, um abraço, um travesseiro para repousar nossas dores, ou um lenço para enxugar as mil lágrimas... não importa.

Existem muitas formas das hastes agirem sobre nossos pepinos e nos ajudarem a suportar os trancos do viver.
Então, quando estiver sobrevivendo pelas hastes que te apoiam, valorize-as e saiba que sem elas tudo seria ainda mais difícil.

Arrisque-se!

Todos, mais cedo ou mais tarde, temos que nos soltar de galhos que nos dão segurança e apoio, mas que nos prendem e limitam. Qual o galho que no momento de te impede de transcender? De libertar-se de tudo que te apequena?

Perenes como colmeias ao vento!



Existem instituições tão fortes, em sua fragilidade, que nada as derrotará.

Elas lembram-me estas abelhas que constroem sua colmeia sobre uma frágil folha de bananeira, não temendo enfrentar as intempéries da natureza, numa base tão frágil e fugaz. Elas sabem que se não der certo procurarão um outro lugar para tocar um novo projeto. Elas tem a coragem de sobreviventes.

Estas organizações, de todos tipos, são sobreviventes. E, mesmo com suas imperfeições e mazelas, apresentam a cada momento um renascer pleno de jovialidade e ousadia.
Trabalhar nestes locais dá orgulho e sentido em viver.
É como se soubéssemos que se tentarem destruir nossa organização, mais uma vez, quer pelas forças do mercado, quer por outras forças de qualquer natureza, novamente nos juntaremos e com um só propósito, nos "metamoforsearemos" para nos adaptar e resistir.
Como estas abelhas, e seu frágil ninho, sabem que estando juntas nada as derrotará, enquanto acreditarem num ideal.
Nem o vento, nem a chuva, nem a própria folha de bananeira com sua vida breve, destruirá um grupo que se percebe um time!

A falta de sentido de vidas tico-tico e chupins.



A natureza nos ensina muito com os pássaros. O Chupim (ou Godero), como este filhote preto da foto. E a sua mãe esta Tico-Tico.

Certo dia, no jardim aqui de casa, uma fêmea chupim, com preguiça de fazer ninho, invadiu o ninho de uma fêmea Tico-Tico, que saíra para as compras, e depositou seus ovos nele.
Quando ela voltou das compras, passou a chocar aqueles ovos e, agora aflita, tenta alimentar este grandalhão irado com fome. 

Temos pessoas chupins, que não assumem suas próprias responsabilidades e atos diante da vida. Sempre botando "seus ovos" no colo de outros para serem chocados.
Não assumem nada, o problema nunca é deles, e adoram terceirizar culpas, ou demandas a eles endereçados.
Temos muitos funcionários-chupins nas organizações, de qualquer tipo.
Gostam mesmo é de, uma vez crescido seu filhote, aparecerem com ele na foto de "formatura". Ralar, carregar piano, perder noites de sono, negociar, ensinar, levar bronca, sofrer, se esforçar e se comprometer nada. Mas adoram a foto!

Atitude-chupim é aquela que não se coloca como protagonista de seu viver e vive a vida sem envolver-se de fato com nada.
Vida vazia.

Outros são como esta mãe Tico-tico.

Não questionam nada. Não melhoram o processo. São tarefeiros ao extremo. Dizem de forma compungida e vitimizada: "Minha sina é construir ninhos, chocar ovos e alimentar filhotes, independente de serem meus..."

Vão tocando tudo com subserviência. Não reclamam, não apelam melhores condições, não questionam o status-quo, não modificam o ambiente onde inseridos. Temos muitos funcionários-pardais.
Atitude Tico-tico só repete o ditado, o enredo, a saga, o dito, sem modificar nada no ambiente ou influenciar mudanças.
Uma atitude irresponsável, a outra alienada. Ambas presentes em expectadores do do carrossel do seu viver.
Deixaram de cultivar a autonomia e o discernimento de saber a hora de mudar hábitos arraigados, ou de chutar o balde, ou de dizer não gostei!
Deixaram de ser atores de sua vida e o medo os imobilizou.
Medo de fazer seu próprio ninho e chocar suas crias, medo de não chocar os ovos que não lhe pertencem.
Escondem-se sob as normas, procedimentos, leis, regulamentos para não fazerem acontecer o novo!
Repetem: Lei é lei. Ordem e progresso. Ame-o ou deixe-o. Coisas deste tipo, de quem apenas reproduz o ambiente onde inserido, ou acomoda-se totalmente ao mesmo.
Sem questioná-lo, transcendê-lo e, no limite, transformar-se ou transformá-lo.
Nunca centram na dignidade da pessoa humano que o procura, condenando-lhe a pequenas mortes, desde que estejam no regulamento.
Nunca exprimem sua indignação com um: "E por que não?" Ou propõe novos decretos.
Estas posturas chupim e tico-tico fazem mal a todos, mas quando presentes em quem tem que decidir - potencializa seus danos, ao desconsiderar numa determinada ação as dimensões esquecidas da gestão - as humanas.
Já fui tico-tico, e algumas vezes chupim. Hoje menos.
Sinto-me mais gavião ou urubu.

Gavião por não perder a força de lutar pelo que acredita, com foco, energia e velocidade. E vez por outra parar para arrancar as próprias unhas, para que elas renasçam com esperança, e habilite-me a novos embates.

Urubu, por não ter medo de revirar-me nas impurezas humanas, sem perder de vista que preciso purificar-me nas camadas mais altas da atmosfera, com o ozônio (Deus), para que me sinta revigorado na luta contra todo tipo de podridão emocional, inclusive as minhas próprias.

Em tempo:
Na natureza os pardais e tico-tico sobrevivem, mesmo de maneira atabalhoada e expostos ao dawinismo natural.

Na sociedade, Humanos Tico-Ticos e Humanos Chupins morrem em vida, ou delegam a outros o seu viver.

Polenizando Vida



Precisamos de "polenizadores" humanos. Pessoas que levem aos outros otimismo. Que carreguem, nas suas "patinhas", a coragem de lutar e a força da esperança e solidariedade.

Que façam fecundar frutos ao influenciar positivamente o ambiente na qual inseridas.

Por isso, curto tanto as borboletas e abelhas, elas conseguem transmitir a vida.
Nem sempre polenizei meu ambiente. Às vezes, ao contrário, deixei-o tóxico - insalubre, com minha crítica excessiva e com meu pessimismo imanente.

Vez por outra, fui salvo pelo pólen de um amigo que mostrava outras facetas da vida.
Mostrando-me contextos, pretextos, cenários que não percebia.
Uma vez uma amigo-irmão me disse: "Rico, pare de arengar com a vida...!"

Este meu amigo-irmão - o Catão, polenizou meu viver. Aquele seu feedback mostrou o quanto estava sendo chato, e vitimizando-me para angariar migalhas de atenção e comoção humanas.
Uma lástima.

Polenizar é portar a dor da humanidade mas, paradoxalmente, levar a todos o anuncio das possibilidades que restam, depositar em cada coração, polens da perseverança.
Continuar respirando, por maior que seja a crise.
Resistir, sobreviver um dia de cada vez, sabendo que aquele polén fará, no momento oportuno, desabrochar a vida em todo seu esplendor.

Amigos-polenizadores, colegas de trabalho-polenizadores, portadores da fé, a eles um brinde.
Pois, em cada porção de pólen que carregam, nos ensinam que é preciso, contra toda desesperança, ter "fé na vida, fé nos homens, fé no que virá..."!

Mas, nem todos nascem pra abelhas e borboletas, então sejamos gratos quando cruzarmos com pessoas desta espécie, elas estão nos ajudando a frutificar.
Benditos (as) homens e mulheres borboletas e abelhas.

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