Velando o corpo do Mané, olhei para seu semblante sereno e, pensando ver alucinações, o vi sorrindo.
Fechei e abri os olhos várias vezes, e ali estava o mesmo Mané sorridente.
Já fui a muitos enterros, fruto da idade que vai avançando, mas nunca vi defunto sorrir.
Com Mané foi diferente.
Recebeu sorrindo aos que chegavam chorando.
Mané subvertia a ordem reinante, até no rótulo popular de seu nome, que em muitos lugares significa gente besta ou burra.
Mas, quando por nós pronunciados, para o nosso "Mané", significava uma pessoa humilde e sábia.
Voltando ao velório, imaginava se Mané não estava era mangando de mim, pois eu não pudera tirar sarro dele, no cafezinho da segunda dia 12, já que o Flu derrotara o Timão no domingo.
Aquele sorriso era como que ele me dissesse, "Escapei de ti Ricardim".
Entre uma reza e outra, de um padre que "encomendava o corpo", pois a alma já tava no céu, pensei:
será que ele sorrir do que eu vi no banheiro do Cemitério, a poucos minutos. Será que ele, em espírito, viu também?
E também sorri.
É devia ser isso.
Ao entrar no WC, vi uma inscrição de amor na porta do banheiro:
"Pitchula, eu vim te ver, viu?"
Seria um admirador oculto que num último gesto desesperado de amor, quis deixar marcada a sua presença, já que não podia assumir sua dor junto ao caixão de sua amada?
Ergui os olhos e vi que o Padre me viu sorrindo.
Desviei o rosto envergonhado, e voltei-me para sua esposa - a Gorete.
Então, comecei a debulhar uns graozinhos de memórias, lembrando-me do quanto nos ensinara ao falar, nas aulas que deu em alguns cursos Benvindo à Ditec, de sua Gorete.
Todos os participantes do curso esperavam uma aula técnica, cheia de COBOL pra cá, db2 pra lá, etc.
Mané surpreendeu a todos, e falou de amor. Enchemos os olhos de lágrimas quando ele falou de sua Gorete.
Eles eram noivos e moravam em São Paulo, quando Mané foi chamado para tomar posse numa agência bem longe da capital.
O amor por sua Gorete falou mais alto, e ele requereu ir para o final da fila dos convocados, cancelando sua posse.
Iria aguardar um novo chamado, quem sabe para uma agência mais próxima da capital, e de sua amada Gorete.
Veio o outro chamado, mais uma agência distante, e mais uma vez ele pediu para postergar seu chamado para ficar mais próximo da amada.
Desta vez ouviu de um sisudo funci que ele poderia perder o concurso. Mesmo assim arriscou.
Meses depois, O BB precisava alocar muitos funcionários no Cesec SP, e flexibilizou uma última chamada para posse, beneficiando o Mané.
Iniciava ali sua trajetória em tecnologia, no Cesec-SP.
Qual seria o destino da carreira do Mané, se o amor não tivesse dado as cartas, e ele as lido com sensibilidade?
E era sobre isto sua aula, a importância de gostar do que se faz, de amar o que se faz, de encontrar o sentido da vida.
Emocionava a todos.
Não pude deixar de pensar a falta que o Mané fará nas aulas dos trainees de novembro, contando sua vivência de amor, para jovens tão carentes deste conteúdo. Combinara na terça-feira com o Mané a sua participação na semana de formação dos trainees em novembro, o que ele, já sabendo de sua doença tão grave, acordou com uma alegria incontida.
Após a celebração, aproximei-me da Gorete, tomei coragem, e revelei o quanto as aulas do Mané ensinaram-me que amar vale a pena. Ela revelou-me que após aquelas aulas, quando chegava em casa, ele falava que contara a história deles.
Agora eu entendi o porquê de seu sorriso... era amor!
Mané partiu de bem com a vida. Sem mágoas, culpas, invejas, rancores, perdão não concedido ou tranqueiras emocionais que vamos aprisionando em nosso ser.
Ele partiu em paz pois era um apaixonado pela vida. Gostava de trabalhar. Sempre estava pronto a encarar mais um desafio. Um prazo curto, uma demanda atravessada, a falta de pessoal...
Aliás, era muito difícil dizer um não ao Mané, que com aquele jeito meigo e bonachão, a própria gentileza em pessoa, nos seduzia ao ponto de não sabermos dizer-lhe não.
Imagino como deve estar se sentido sua tão amada equipe de cartões, que quando dela falava enchia os olhos e brilhava a alma de satisfação. Como ele sabia cultivar o ambiente de trabalho e o clima organizacional!
Está difícil entrar pela porta das telefonistas no Colegiado, e não ver o Mané sentado na primeira bancada à direita.
EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO
UMA MESA NUM CANTO UMA CASA E UM JARDIM
SE EU SOUBESSE QUANTO DÓI A VIDA
ESSA DOR TÃO DOÍDA NÃO DOÍA ASSIM
AGORA RESTA UMA MESA NA SALA E HOJE NINGUÉM MAIS FALA NO SEU BANDOLIM
NAQUELA MESA TÁ FALTANDO ELE,
E SAUDADE DELE TÁ DOENDO EM MIM
NAQUELA MESA TÁ FALTANDO ELE,
E SAUDADE DELE TÁ DOENDO EM MIM
Ao sair daquele velório, ouvi um sussurro dizendo:
"Só estou indo na frente de vocês, qualquer dias desses a gente se encontra lá por cima."
Este é o nosso Mané.
Sempre de bem com a vida, amigo, esperançoso e otimista.
Que deve tá torrando a paciência de São Pedro, balançando no céu aquela bandeira do Timão.
"Ó morte, onde estás, ó morte?
Quem és tu ó morte?
Qual a tua vitória?"
Ricardo de Faria Barros - Ricardim (parceiro do café, das 07:45, com o Mané)
Ergui os olhos e vi que o Padre me viu sorrindo.
Desviei o rosto envergonhado, e voltei-me para sua esposa - a Gorete.
Então, comecei a debulhar uns graozinhos de memórias, lembrando-me do quanto nos ensinara ao falar, nas aulas que deu em alguns cursos Benvindo à Ditec, de sua Gorete.
Todos os participantes do curso esperavam uma aula técnica, cheia de COBOL pra cá, db2 pra lá, etc.
Mané surpreendeu a todos, e falou de amor. Enchemos os olhos de lágrimas quando ele falou de sua Gorete.
Eles eram noivos e moravam em São Paulo, quando Mané foi chamado para tomar posse numa agência bem longe da capital.
O amor por sua Gorete falou mais alto, e ele requereu ir para o final da fila dos convocados, cancelando sua posse.
Iria aguardar um novo chamado, quem sabe para uma agência mais próxima da capital, e de sua amada Gorete.
Veio o outro chamado, mais uma agência distante, e mais uma vez ele pediu para postergar seu chamado para ficar mais próximo da amada.
Desta vez ouviu de um sisudo funci que ele poderia perder o concurso. Mesmo assim arriscou.
Meses depois, O BB precisava alocar muitos funcionários no Cesec SP, e flexibilizou uma última chamada para posse, beneficiando o Mané.
Iniciava ali sua trajetória em tecnologia, no Cesec-SP.
Qual seria o destino da carreira do Mané, se o amor não tivesse dado as cartas, e ele as lido com sensibilidade?
E era sobre isto sua aula, a importância de gostar do que se faz, de amar o que se faz, de encontrar o sentido da vida.
Emocionava a todos.
Não pude deixar de pensar a falta que o Mané fará nas aulas dos trainees de novembro, contando sua vivência de amor, para jovens tão carentes deste conteúdo. Combinara na terça-feira com o Mané a sua participação na semana de formação dos trainees em novembro, o que ele, já sabendo de sua doença tão grave, acordou com uma alegria incontida.
Após a celebração, aproximei-me da Gorete, tomei coragem, e revelei o quanto as aulas do Mané ensinaram-me que amar vale a pena. Ela revelou-me que após aquelas aulas, quando chegava em casa, ele falava que contara a história deles.
Agora eu entendi o porquê de seu sorriso... era amor!
Mané partiu de bem com a vida. Sem mágoas, culpas, invejas, rancores, perdão não concedido ou tranqueiras emocionais que vamos aprisionando em nosso ser.
Ele partiu em paz pois era um apaixonado pela vida. Gostava de trabalhar. Sempre estava pronto a encarar mais um desafio. Um prazo curto, uma demanda atravessada, a falta de pessoal...
Aliás, era muito difícil dizer um não ao Mané, que com aquele jeito meigo e bonachão, a própria gentileza em pessoa, nos seduzia ao ponto de não sabermos dizer-lhe não.
Imagino como deve estar se sentido sua tão amada equipe de cartões, que quando dela falava enchia os olhos e brilhava a alma de satisfação. Como ele sabia cultivar o ambiente de trabalho e o clima organizacional!
Está difícil entrar pela porta das telefonistas no Colegiado, e não ver o Mané sentado na primeira bancada à direita.
EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO
UMA MESA NUM CANTO UMA CASA E UM JARDIM
SE EU SOUBESSE QUANTO DÓI A VIDA
ESSA DOR TÃO DOÍDA NÃO DOÍA ASSIM
AGORA RESTA UMA MESA NA SALA E HOJE NINGUÉM MAIS FALA NO SEU BANDOLIM
NAQUELA MESA TÁ FALTANDO ELE,
E SAUDADE DELE TÁ DOENDO EM MIM
NAQUELA MESA TÁ FALTANDO ELE,
E SAUDADE DELE TÁ DOENDO EM MIM
Ao sair daquele velório, ouvi um sussurro dizendo:
"Só estou indo na frente de vocês, qualquer dias desses a gente se encontra lá por cima."
Este é o nosso Mané.
Sempre de bem com a vida, amigo, esperançoso e otimista.
Que deve tá torrando a paciência de São Pedro, balançando no céu aquela bandeira do Timão.
"Ó morte, onde estás, ó morte?
Quem és tu ó morte?
Qual a tua vitória?"
Ricardo de Faria Barros - Ricardim (parceiro do café, das 07:45, com o Mané)
(*) Mané, 56 anos, colega da Ditec, num exame de rotina descobriu ter um câncer e suas metástases. Escondeu de todos, menos de esposa, filho e do Diretor. Não queira ser tratado de forma diferente e deixar de sorver a vida até seu último gole. Trabalhou até a quinta-feira passada, quando se hospitalizou e faleceu no domingo.
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