E assim se passaram nove meses... (Por Ricardo de Faria Barros)


Recentemente, apliquei uma enquete nas redes sociais pedindo para que as pessoas revelassem o que estão sentindo, após 9 meses de Pandemia, expressando este sentimento em cinco palavras.

Dentre as 660 palavras coletadas, doze delas estão mais presentes nas narrativas expressas nesta enquete, inclusive em seus sinônimos.

Abaixo, a listagem das doze palavras mais citadas que expressam um sentir coletivo, ordenadas por frequência de citação:

1. Esperança

2. Solidão

3. Saudades

4. Cansaço

5. Medo

6. Ansiedade

7. Família

8. Resiliência

9. Gratidão

10. Empatia

11. Saúde

12. Tristeza

Confesso-lhes que não esperava que a Esperança estivesse no topo das narrativas. E foi uma grata surpresa. E isto é muito bom para dar ânimo e condições melhores de enfrentamento das situações estressantes que a Pandemia tem feito. Precisamos de algo a ancorar nas estrelas do amanhã. Movendo-nos no hoje em função disto, que é o que a esperança provoca em nosso ser.

Precisamos de uma data no futuro para algo fazer, algo realizar, algo sonhar, algo acontecer, algo decidir, algo cuidar, algo nascer, e por que não dizer, algo morrer (no sentido de nos livrarmos daquilo que nos faz mal).

A esperança é esta espécie de GPS interior que motiva e mobiliza nossa existência. Então, fiquei muito feliz em ver que ela foi a palavra mais citada. Pois que é muito bom saber que a esperança está no centro de nossa orientação de sentido, neste momento tão difícil pelo qual a humanidade passa.

Uma outra revelação da enquete é a coabitação de sentimentos numa mesma narrativa. É como se em nós estivesse manifestando-se sentimentos que podem até ser contraditórios, mas que fazem parte de nossa melhor essência, nossa parte luz e sombra, outono e primavera.

Percebe-se bem isto ao analisar a natureza das doze palavras mais citadas.

É como se para com cada uma das palavras-sombra, estivesse uma palavra-luz.

Como se em nós carregássemos a morte e a vida. A doença e a cura. Tente reagrupar as doze palavras nesta perspectiva de luz e sombra, agrupando-as em pares. Abaixo meu exercício:

Para momentos de cansaço (4), evoco a resiliência (8).

Para instantes de saudades (3), evoco as lembranças da família (7).

Para situações de medo (5), lanço mão da esperança (1).

Para aqueles dias de tristeza (12), movo-me pela gratidão (9).

Para dias de solidão (2), desenvolvo a empatia (10).

Para crises de ansiedade (6), cuido da saúde (11).

Você que está me lendo também pode ser uma palavra de luz para o outro com o qual convive. Ele pode estar ansioso, amedrontado, cansado, se sentido só e triste. E pode encontrar em você a paz, a confiança, a força, a presença amiga e a felicidade pelo simples fato de existir, sendo grato em tudo e por tudo.

Esta enquete revela também, como um de seus achados, boas posturas diante deste temendo estresse pós-traumático pelo qual a sociedade passa, talvez único na História, pelo tamanho, intensidade e profundidade de seus danos.

Valorização da Família – A família também pode ser um espaço de encontro e de geração de apoio e afetos quentinhos positivos. Nossas famílias e lares foram ressignificados, e em toda a sua complexa teia de sentimentos e relacionamentos. Passamos a sentir falta deles, dos nossos amados, e a falta revelou a preciosidade do que temos e nem sempre estávamos dando o devido valor. Nunca filhos conversaram tanto com seus pais como nesta Pandemia, mesmo que pelos canais digitais.

Cultivar a Empatia – É o colocar-se pelas lentes do outro, procurando captar o mundo pela sua própria perspectiva. Compreender suas necessidades, expectativas e visão de mundo.

A Pandemia nos aproximou de pessoas que sempre estiveram ali, mas que nem sempre eram percebidas em suas necessidades. De vizinhos que não podem se expor em compras nos mercados, ao pessoal da portaria dos prédios, aos anjos profissionais da saúde. Nos fez mais próximos a atuantes a quem perdeu renda, a quem perdeu entes queridos. Nos tornamos Nós! E, aprender a ser Nós, é algo que ajuda a enfrentar situações delicadas.

Sentir e Expressar a Gratidão – A gratidão é um potente imunizante emocional. Quando conseguimos senti-la e expressá-la a vida deixa de ser apenas um local de pelejas e aflições, para transformar-se em espaço de agradecimento, acolhimento e doação. Quando sentimos gratidão por algo, ou alguém, deslocamos nosso “Narciso” da cena e damos espaço para o outros e as situações serem reconhecidas e valorizadas. Como dádivas, oportunidades e bênçãos que a cada instante nos ocorre e que nem sempre as percebemos.

Esperançar a Vida – Que palavra mágica, mística e macia é a Esperança. Ela nos torna combatentes, do bom combate. Nos dar ânimo e vigor, faz-nos caminhar mais um passo, viver mais um dia, e acreditar na luta, mesmo que todos ao nosso redor já tenha desistido.

Promover Resiliência – A pessoa resiliente acolhe, adapta-se, aprende, supera e segue, diante das situações que lhes tiram o sossego. Talvez seja a postura que mais esteja sendo exigida nos nove meses de Pandemia e isolamento social. Desde para os que perderam emprego, ou renda, aos que perderam parentes. Desde aos que estão isolados em casa, ou assoberbados com uma sobrecarga imensa, em grande parte feminina, pelo acúmulo de papéis no lar. Ou até os que enfrentam as sequelas da doença, ou tratam os doentes. A resiliência é aquela vozinha que diz, muitas das vezes, que quando eu não puder mudar uma situação, ainda assim eu poderei mudar a mesmo, diante dela.


Cuidar da Saúde - Gosto muito da definição de saúde da OMS que a coloca como um estado de bem-estar nas dimensões biológica, social e psicológica do Ser Humano. E não simplesmente como uma ausência de doenças. Todos estamos vendo o quanto tem sido necessário cuidar da saúde mental. Encontrar paliativos emocionais para melhor atravessar estes tempos tão duros. Pois, afinal como diz a canção, “tudo é uma questão de manter
a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.” Nossos amigos, grupos e familiares são remédios. Nosso alimentar e exercitar, são remédios. Nossos propósitos de vida, emoções e pensamentos positivos, são remédios. Nossa espiritualidade, seja em que dimensão você a proclame, também pode ser remédio.

Então pessoal, neste turbilhão de emoções que estão vindo à tona, potencializadas pelas do Natal e Ano-Novo, é bom caprichar na dosagem destas seis posturas, ou atitudes perante a vida, muito expressas pelos respondentes da enquete: Esperança; Família; Gratidão; Empatia; Resiliência e Saúde.

Crônicas Anteriores