O Grupo de Apoio à Vida - GAV (Autor Ricardo de Faria Barros)

É sexta feira, 22h50min, e estamos encerrando a primeira reunião do Grupo de Apoio à Vida, o GAV. Era março de 1994, e dos mais de 200 convites impressos em A4 e entregues, convidando voluntários para fundarmos aquela ONG (não havia Whats nem Face), apenas duas pessoas aderiram, Lana e Josi, que somados a mim e a Joane, formamos um grupo de quatro idealistas.
Um mês depois, já éramos 12. Pessoas lindas que queriam ajudar a diminuir o preconceito contra portadores do HIV e de alguma forma ajudá-los.
No segndo mês, já tivemos que alugar um lugar maior, éramos agora uns 30 voluntários. As reuniões da sexta foram históricas, e sempre começávamos com Selma Reis: cantando para nós sua obra prima: O Preço de uma Vida.
"Mesmo quando a esperança
Por si só não bastar mais
Só nos valerá se nessa morte em vida
O amor com amor pagar o preço de uma vida
Se não se sonha mais, de que nos valerá"
Cantávamos aquela canção quase em prece.
Durante as históricas reuniões da sexta à noite, traçávamos metas, fazíamos balanços das visitas e necessidadas das pessoas assistidas, abriámos espaços para desabafos, choros e emoções. Mas, sobretudo, nos amávamos!
Esperanças vadias e frágeis ali eram cultivadas, num tempo em que só havia o AZT para deter a evolução da Síndrome.
Após a Selma, nos abraçávamos, dançávamos o Ói-êpo, e prometíamos nos encontrar novamente, na próxima sexta.
Aos mais debilitados, faziámos votos de que não sucumbissem.
Que aguentassem mais um pouco.
Nunca consegui escrever aqui sobre o impacto do GAV em meu viver, sendo o fundador daquela ONG e presidente por duas gestoes.
Mas, hoje recebi de uma amiga a canção O Preço de uma Vida, e lembrei do quanto fomos valentes e ousados naquela época. Essa música é um hino ao amor.
Queria dizer a vocês que se foram, aos que ainda resistem, e a dezenas de voluntários que pelo GAV passaram e ali serviram, que nessa noite fria de sexta, aqui no DF, senti muita saudade de vocês e de nossa causa.
 Fizemos história!
"Ói êpo e tata êpo, Ói êpo e tata êpo, Ói êpo e tata êpo.
E tuqui, e tuqui, e êpo. E tuqui, e tuqui, e êpo."
Olhai por trás dos morros, olhai por trás dos morros, olhai por trás dos morros. E nunca desista, nunca desista.
Só o amor nos torna eternos. E, quem recebe esse toque durante a jornada de sua vida, o toque do amor, deve botar os joelhos no chão e agradecer, por mais dolorido que possa lhe parecer.
E é o que faço agora e convido-lhe a fazer também.
Obrigado GAV!

L O (Autor Ricardo de Faria Barros)

A primeira transmissão da internet está próxima dos cinquenta anos.
A letrinha piscou numa tela de fósforo verde, e era um L.
Um professor, incrédulo, entusiasmado e sem querer acreditar no que acabara de fazer, correu para o telefone e pegou o telefone e ligou para seu colega, há quilômetros de distância em Stanford, perguntando-lhe:
- Chegou algo na tela de seu computador?
O colega respondeu-lhe, quase dando pulos de alegria: Sim, a letra “L”. “E eu não digitei nada aqui!!!”
Cientistas da UCLA abraçaram-se, e teclaram uma nova letra: “E agora?”
- Agora chegou um O.
E a alegria tomou contas das duas Instituições de ensino
Contudo, a próxima letra enviada, nunca chegou, o computador de Stanford deu pau.
Seria, G. Seguida por I e N.
LOGIN!
Uauuu!!!
Bem na hora do Login o sistema caiu.
Mas, eles não desistiram. Tempos depois, nem eles, nem nós, seríamos mais os mesmos após a internet das coisas.
Amo as coisas que tudo que nos remete a conexões.
Lembram daquela cena no filme ET, na qual ele toca com o dedo na testa do menininho.
Não tem como não se emocionar com aquela cena, que considero uma das mais bonitas da dramaturgia. Eles fazem entre si uma conexão de amizade.
Outra cena de conexão, vemos na Capela Sistina, pintada por Michelangelo. É aquele famoso quadro em que Deus toca o seu dedo no dedo do Homem, fazendo uma conexão espiritual.
Temos que “levantar nosso sistema emocional e espiritual” para permitimos que conexões aconteçam. Temos que fazer como os professores fizeram, ao não desistirem até que conseguiram o LOGIN.
Quem tem as chaves de nosso coração? Quem consegue nos fazer sentir bem, cheios de esperança, de vida? Quem ao lado dele(a) não tem tempo ruim que persista?
Quem contamos as horas para rever, ou quando com ele(a) estamos as horas insistem em galoparem?
Se você está se lembrando de pessoas assim, em teu viver, guarde o login delas com muito zelo, com muito cuidado. Elas são bênçãos.
E, sinto dizer-lhe, não temos a mínima ideia do que faz algumas pessoas terem o login de nosso coração, em detrimento de outras.
Tem logins de amizades, de amores, de fraternidade, de solidariedade, de espiritualidade.
E, quem tem esse acesso aos nossos corações, quando digitam suas letrinhas, faz rodar em nosso peito o carrossel do destino: alterando nossas rotas e jeito de ser, e para melhor.
321, o que é para você? Para mim é conexao.
De amor.
Em 3 2 1, sinto que algo de bom vai começar.
321 é o número da casa de meus pais, na rua Antenor Navarro.
O que é 32 pra você?
Para mim a maior mensagem de amor já feita para nós. Que só podemos compreendê-la no mundo espiritual.
O três da Trindade Santa. O dois de eu e tu, conectados a Ela. . "Onde dois ou mais estivrem reunidos, EU (a Trindade de amor) estarei entre eles.
Que conexão maravilhosa, o 32 nos possibilita.
E, não nos esqueçamos jamais. No mundo espiritual, Deus tem a senha para girar nossos corações, para nos fazer sentir amados por Ele. O problema é que colocamos, do lado de cá da porta, uma trave que impede que a chave gire. E Ele opere em nós. Entende?
A trave do egoísmo, da maldade, do ódio, da ganância, do materialismo, do poder, da mágoa e inveja enferrujadas que deixamos oxidar em nosso peito.
Quando dois corações se conectam passam a operar numa mesma frequência, e entre eles imperará uma força transformadora fazendo tudo novo e diferente, embora cotidiano e igual seja. Entende?
Nas escolas deveríamos ter a disciplina Amor. Ensinar a fazer os Logins com o outro.
Ensinar sobre cuidado e respeito humano. Ensinar sobre ternura e apoio.
Ensinar sobre amizade e paz.
Precisamos cultivar conexões. Uma das maiores faltas que o Orkut me fez foi nesse terreno. Ali fiz amigos e amigas de até hoje. Amizades cultivas em comunidade como o “Boteco Mói de Liso”, ou a “Receitas Fáceis”.
Agora as redes sociais tornaram-se agressivas. Até as Comunidades abertas, são tudo, menos Comum + Unidade.
Quem tem logins a digitar, no coração do outro; ou quem se deixa acessar por logins, digitados pelos outros, tem tesouros.
Sem as conexões com os outros não há vida boa, e que por ela valha a pena ser vivida.
O quadro da Sistina, a cena do ET, e as letrinhas LO que não completaram a palavra LOGIN, nos ensinam muito sobre como bem viver.
E, que nunca esqueçamos a senha que um dia permitiu que adentrássemos na vida do outro, fazendo nele um login.
É preciso que a guardemos num pano de guardar confete, como diz a canção.
Pois, nunca saberemos novamente quando login e senha darão certo novamente, seja em que nível de acesso se dê a conexão, nas suas várias formas e expressões de amor de: philos, fraternos, ágape, eros ...
O problema é que hoje estamos com muita falta de conexões verdadeiras, entre os Eus e os Eles(as).
E não venha culpar o tempo, estresse ou coisas do gênero.
É um dos efeitos colaterais e uma sociedade que desaprende a cada dia a ser NÓS.
Que embora superconectada pelos dispositivos móveis, ou nas internets das coisas, cada vez se encontra mais isolada, sozinha.
Solitários high-tech gourmets é em que estamos nos tornando.
Você vai caminhando pela praça, dá um bom dia e o outro lhe ignora.
Você senta-se à frente do atendente, que ao lhe atender, ali não está.
Seu gerente chama a equipe para uma reunião, fala, fala, fala, fala, ali ele não está.
Você leva seu filho ao médico, ali ele também não está.
Você chega do trabalho e conversa com os filhos, ali eles não estão.
Você faz terceiro turno na faculdade. E, na aula que assiste, o professor nela não está.
Você almoça com sua esposa, ali ela não está.
Você vai na missa, culto, ou similar, ali Ele também não está. Embora você insista em encontrá-lo num lugar diferente de seu próprio coração.
Precisamos reaprender como humanidade a criar, cultivar e manter conexões verdadeiras com os outros.
A deixá-lo participar de nossas vidas, e nós das deles.
Reaprender a fazer pontes, no lugar de muros.
Reaprender a tecer laços, no lugar de correntes.
Reaprender a erguer as velas, no lugar de lançar as âncoras.
Reaprender a conviver com o outro. Um outro amigo, confiante, orante, cooperativo e amistoso poderá ser muito terapêutico em nosso viver.
Como percebem, aquele problema de conexão evoluiu, agora atingindo os sistemas de humanização de pessoas e ambientes.
Pensemos nisso!
Agora vou ali, recuperar minhas senhas de conexões com os outros que um dia me tornaram maior, melhor e muito mais feliz do que era antes de conhecê-los.

Olhe para mim! (Autor Ricardo de Faria Barros)

Olhe para mim! (Autor Ricardo de Faria Barros)
Era a melhor hora do dia para observação de movimento de feira livre.
Antes das sete da manhã, de um domingo, na Feira de São Sebastião-DF, eu já me posicionava no escritório de catação de cotidianidades populares, que instalo na única mesa externa da pastelaria La Deyse, para a qual já tenho direito de posse – por fidelidade amorosa.
Deyse logo se achega e me serve com meus quitutes prediletos. Café, recém-passado, seguido de pastel com caldo de cana.
Sorvo o café e refresco a alma!
Abrindo em meu ser as portas para a manhã que antes era a vindoura, prestando atenção ao seu nascimento em meu ser, tal como se presta atenção ao milagre diário de renovação do frescor da vida quando se recebe a rejuvenescedora Brisa Aracati, soprando esperanças em todos que habitam nas proximidades do Rio Jaguaribe, no Ceará.
Fecho os olhos e escuto o barulho de feira livre!.
Aquele tipo de burburinho que tem sabor de vida.
Ao meu lado, a Iêmi prepara sua mesa de hortaliças. Vaidosa, de longos cabelos negros, entre uma alface e outro que dispõe em pilhas verdes-claras, ela se olha no espelhinho de feira-livre, retocando a maquiagem com um pincel. À sua maneira, ela também se abre à manhã vindoura que já acontece no agora, nem sempre percebido.
Uma voz interrompe meu deleite quase espiritual.
“Sr. Ricardo, olha”.
À minha frente, o Francisco.
- Bom dia Francisco! Estou vendo, a feira está bonita, não é?
“Não Sr. Ricardo, olha!”
E aponta para seu crachá, seu “jaleco” bordado, e estufa o peito todo garboso.
Eu então percebo o que ele quer me mostrar e encho meu coração de ternura.
Ele contou-me que participou de uma reunião com o pessoal da “prefeitura”, a turma que administra as feiras livres. E que ouviu que era preciso melhorar a higiene e a qualidade dos produtos; o manuseio e a apresentação dos feirantes, atraindo mais clientes.
 E que seria bom que todos usassem um jaleco personalizado, luvas, toucas e um crachá de produtor rural.
Ele me contou que saiu da reunião e foi logo mandar fazer seu kit, investindo por conta própria uns R$ 100,00 nele.
 E, que nesse domingo, estava muito feliz!
Que até um cliente já tinha elogiado seu novo visual e forma de atender.
Perguntei-lhe: quantos participaram da reunião? Ele me falou que praticamente todos, daquele setor, estiveram presentes. E que tinha sido no final da feira de domingo passado.
Olhei ao redor e só vi a Iêmi com a “farda”. Até onde a vista alcançava, cobrindo com ela uns 30 feirantes, não vi mais ninguém além deles.
Pedi outro café, o dia renderia em observação.
Eu posso estar enganado, mas percebi que ambos estavam mais entusiasmados, e que não paravam de olhar para o crachá.
E que repetiam a história da reunião para todo cliente que chegava, do tipo curioso por coisas de gente, como eu.
Francisco limpava cada garrafa do leite das vacas de sua pequena propriedade. Mas parecia que as polia, de tanto esmero.
Arrumou a toalha da frágil mesa, umas 3 vezes, deixando-a impecável com seu alisamento.
A toalha era nova. Branquinha, branquinha.
Iêmi, dava umas viradas no cabelo, tipo para mostrar o crachá que porventura eles o encobriam.
Fui nela e soltei um: “Iêmi, como seu crachá ficou bonito”.
Aí ela derreteu-se toda de amor, sentindo-se notada por mim, e ofereceu-me para vender uma linda graviola que trouxera. E que escondera para a hora das frutas.
Hora das frutas? Como assim? Ela explicou-me que a feira tem um rito. Pelas 10hrs é a hora que mais se vende frutas. Pois é a hora em que os clientes olham se sobrou algum dinheiro ainda, após comprarem os galináceos, temperos, legumes e hortaliças, e investem o saldo em frutas.
Ahh!!! Sábia Iêmi. Comprei sua graviola , voltei-me a sentar e passei a contemplá-los.
Eu fiquei embevecido com o orgulho com o qual apresentavam os frutos de seu trabalho. Os outros feirantes, eram apenas outros, perto deles.
Quase autômatos, nas suas interações com a clientela.
Eles não.
Eles estufavam o peito, sorriam, seduziam com seu atendimento a todos.
Era como se agora eles tivessem uma identidade maior, aquele vestuário e crachá, mexeu com a autoestima deles, de forma positiva.
Lembrei-me de meu orgulho quando entreguei o meu primeiro cartão corporativo da Ânimo.
Eu queria até abraçar a pessoa que recebeu, tal significado aquele gesto teve para mim.
Para a pessoa, mais um que recebe. Para mim, o primeiro que entreguei. Tenho cartão, logo existo no mundo corporativo. Foi o que pensei. rsrs
Para além do asfalto da realidade, somos seres de dimensões subjetivas e intangíveis, que beiram à poesia e magia em ser, fazer e acontecer.
Tirei foto de Francisco. E não tive coragem de tirar foto da Iêmi, pois percebi que ela não gosta de registros e a respeito.
 Francisco posou todo imponente. Os vizinhos de barracas ficaram tirando onda. Os mesmos que foram para a reunião, ouviram os mesmos ensinamentos, e com eles não alteram o destino de suas vidas.
Ou seja, não lideraram mudanças.
Costumo dizer que líderes são pessoas comuns que fazem coisas incomuns.
Francisco e Iêmi são líderes, de sua categoria. São exemplos, próximo domingo outros podem se sentir inspirados por eles e também adotarem a prática deles.
Mas, o que melhor aprendi foi o valor de se ter um nome para mostrar.
De não ser mais um feirante. Agora eles tinham um nome.
Tinham uma identidade profissional e eram outros.
Como vamos nos perdendo desse gostinho de fazer as coisas comuns se tornarem incomuns.
Outro dia estava aguardando um vôo de JP para Brasília, já no Portão de Embarque.
Profissionais, de empresas diferentes, organizavam as filas de vôos simultâneos que sairiam a pouco.
A da Avianca, chama-se Juliene. Ela lidou com uns 100 passageiros, nas mais diferentes filas: Preferenciais; Poltronas de 16 a 30 e as demais; com uma paz e alegria que eram destaques.
Aos desavisados, ou gente que não entedia direito as orientações e entravam na fila errada, ela sorria, dizia “Eita está com pressa, espere só um bocadinho aqui que já chamo sua fila”. E seguia com os demais.
Uma jovenzinha cadeirante apresentou para ela os documentos. Aí ela fez algo inusitado, e fenomenal, ela disse para menina: “Quer que eu lhe empurre até o avião, eu sei descer essa rampa como um foguete, até tiraram-me dessa função, de tão rápida que eu era. Ou prefere seguir com o Mário?”.
E ambas caíram na gargalhada. Nunca tinha presenciado tanto amor em relação às pessoas com mobilidade reduzida, em forma de um saudável humor.
Não tinha como ficar irado com ela. Impossível.
Aí observei a que operava o mesmo serviço, numa empresa concorrente. Eu não via uma pessoa ali.
Não que ela atendesse mal, longe disso. Mas, não havia chama interior. Não havia relação com seus clientes. Ela repetia, mecanicamente, o mesmo que a outra repetia, sobre a disposição das filas. Mas, faltava alma no procedimento. Os seus clientes tornaram-se um “bilhete de entrada”. Apenas isso.
Nós não. Dava até gosto ver a Juliene conferindo os documentos, sorrindo, quase nos abraçando ao desejar uma boa viagem, sem perder o ritmo em fazer a fila andar.
Iêmi, Juliene e Francisco estão fazendo diferente o que todo mundo faz igual.
Eles encontraram seu jeito de marcarem sua presença entre nós, de tornarem o lugar em que habitam melhor do que acharam, e de deixarem seu legado no trabalho que fazem.
Estão saindo do lugar comum e sem energia de ser apenas mais um dos que fazem a mesma coisa, todos os dias, sem chama alguma.
Eles até fazem as mesmas coisas, todos os dias, contudo botam a eles mesmos nelas e tornam: as coisas, a eles e a nós diferentes do que éramos antes de seu toque de amor, cuidado e atenção. Nos fazem ter uma experiência prazerosa como clientes. E, quem não deseja por isso nos dias atuais, de pessoas e interações tão mecânicas?

Cartas ao JG – Obvia Mentes (Autor Ricardo de Faria Barros, pai do JG - 7 anos)

Cartas ao JG – Obvia Mentes (Autor Ricardo de Faria Barros, pai do JG - 7 anos)
Sabe filho, domingo foi um dia super bacana. Pela primeira vez fomos pedalar nas ciclovias da UNB. Pedalar por ali, no domingo, é um convite à paz e à oração.
São quilômetros de ciclovias desertas, entremeadas por enormes árvores. Uma delícia. Fizemos o trecho da Aneel até o posto de Gasolina, pela L3.
Você aguentou firme, uns bons 4.4 KM de pedalada.
Eu ia te acompanhando, devagarinho, e tirando fotos.
Lembra aquele bambuzal enorme, aquele que parei para fotografá-lo, é que eu gosto muito de bambus. São árvores que nos ensinam bastante.
Você me perguntou o que era uma expressão em inglês, que leu, e disse-lhe que eu era muito burro para as coisas do “ingrêis”.
Você me retrucou, dizendo que eu era sabido para muitas outras coisas. Fiquei tão feliz! Mais tão feliz...,
Que passei a pedalar nas nuvens, tocando nas fronhinhas dos anjinhos.
Costumo dizer que o amor: amar e se sentir amado, nos faz tocar e deitar nas fronhas dos anjos, lá nos seus travesseiros de nuvens.
Quem já se sentiu assim, sabe do que falo.
Foi para lá que fui, ao perceber que vocês estava defendendo seu pai, dele mesmo, quando me chamei de burro. “Mas pai, você é sabido para um monte de outras coisas”.
No celular, tocava Jorge Aragão e eu cantava para ti, e para mim, uma música dele que amo chamada Conselho:
“Deixe de lado esse baixo astral
Erga a cabeça enfrente o mal
Agindo assim será vital para o teu coração
É que em cada experiência se aprende uma lição.”
Que lição de vida!
De vez em quando um pássaro nos fazia companhia, como que a dizer, apressem o passo, a Cristina vai lá na frente.
E nos entreolhávamos, cúmplices, de nosso pouco ritmo pedalístico. E ríamos de nossa canseira, e muito.
Logo depois, fomos almoçar e você nos brindou com fome e rapando o prato. Acho que foi o pedal que abriu teu apetite.
E estava perguntador. Perguntou-me como eu tinha coragem de tomar cerveja, já que era tão ruim e amarga.
Aí, devolvi-lhe a pergunta, encafifado: “Como sabe disso?”
E você soltou sua palavra do momento: obviamente.
“Obviamente que é, já tomei coca-cola. É amarga e ruim”.
Entendi, para você a cerveja era um tipo de refrigerante de adultos. Como Coca-Cola. Ahh...
Eita JG! Quantas tiradas de perder o fôlego.
Chegamos em casa satisfeitos, alegres e falantes. E fomos cochilar. Aquele soninho da meia tarde, pelas três.
À noite não fui com vocês para a igreja. Eu precisava entregar um trabalho, e meu procrastinador adiara sua produção. Então arregacei as mangas para produzi-lo.
Perto das 19h45min, tua mãe ligou dizendo que tinha batido no meu carro, que ela dirigia.
Perguntei como estavam todos, ela me tranquilizou. E pediu que eu fosse ao local, para tomar as providências junto ao outro motorista que bateu na traseira de meu carro.
Cheguei ao local e você estava aflito, chorando.
 Vi que fora apenas um susto, um baita susto, já que o cara bateu com força e vocês só sentiram o impacto.
Resolvida as questões legais, voltamos para casa.
Vocês não quiseram mais ir para a igreja, embora eu tenha dito que agora era que deveriam ir mesmo.
Mas, estavam nervosos e chorosos, sua mãe sentido-se culpada, embora houvera culpa alguma.
Acho que ela pensava, o carro do Ricardo é novinho e logo comigo acontece isso.
Besteira. Só são coisas.
O clima estava pesado em casa. E me arrisquei propondo que assistíssemos um filme.
Procurei um mais leve, quase infantil, de uma poesia maravilhosa, chamado Shaolin do Sertão.
E você sorria de dobrar. Esquecendo-se um pouco do trauma que vivera, seu primeiro acidente de trânsito.
Hoje, pela manhã perguntei de nossa pedalada. Você lembrou novamente do abalroamento.
E eu disse-lhe para ter cuidado com aquela raiz de amargura, pois ela poderia se enraizar e fazê-lo esquecer todas as outras coisas boas que vivera no domingo.
Você fez cara de “obviamente”, e expliquei-lhe melhor, traduzindo conceitos de psicologia para seu mundo infantil.
JG, tem coisas na vida da gente que melam tudo. Que se acontecem após um dia super feliz, podem estragar a percepção de todo o dia. Temos que ter cuidado com elas.
Que são como gotas de “coca-cola”, dentro do leite.
Alteram o sabor e a percepção fica distorcida.
Não é mais leite. Aquele de que tanto gosta. Agora aquelas simples gotinhas amargosas alteram o sabor de tudo.
Assim é com as coisas que nos causam sofrer, traumas, elas alteram nossa percepção, auto-estima e disposição para enfrentá-las.
E, temos que ter controle sobre o quanto vamos deixar que essas coisas chatas que acontecem possam estragar as outras, as legais.
A tendência, se não cuidarmos, é que o que de ruim aconteceu, aos 49 min do segundo tempo, altere toda a percepção do jogo.
Existe uma pesquisa com viajantes que voltam de férias e perdem as malas, que têm suas malas extraviadas e nunca as recuperam.
Esses viajantes, abordados cinco anos depois, quando são perguntados como foram aquelas férias, a primeira frase que emitem é que eles perderam as malas. Que foram muito aborrecidas, as férias, por aquela razão. E esqueceram todos os outros bons momentos vividos.
Entende, filho meu?
Imagine que você esteja namorando. Que passa um dia maravilhoso com sua namorada.
E que, perto das 21hrs, diz a ela que precisa voltar imediatamente para casa, pois o domingo era seu dia de lavar o carro e ainda não o fez.
Age de forma impensada, instintual, com medo de meu sermão.
Ela olha para você entristecida. Dizendo que não esperava isso de você. E coisas do gênero. Você percebe que pisou no tomate e tenta se remediar, pede perdão. Ela não ouve.
Aí, caso a força do amor não impere – na sua expressão maior que é a misericórdia, o que restará desse dia tão lindo que viveu será uma mágoa.
A mágoa apagará todas as lembranças boas.
Por isso o fechamento de ciclos é tão importante em nosso viver.
Não podemos, filho meu, deixar que uma leve batida na traseiro de nosso carro, tire toda nossa capacidade de degustar os bons momentos, vividos antes daquela chateação.
Por isso, se tem uma arte que quero lhe ensinar nessa noite, é a de fechar as janelas do coração, virar as páginas de teu viver, ou segregar numa gavetinha isolada, tudo aquilo que te fizer infeliz – após bons momentos que viveu.
Caso contrário, aquilo vai melar e contaminar tudo.
Nossa estrutura de pensamento foi modelada, ao longo de milhares de anos de existência, para ampliar a caixa de ressonância do negativo – melhorando nossas capacidades de adaptação e sobrevivência. Aí, acionamos as teclas do modo atacar, defender, ou fugir, e esquecemos de desligá-las.
E se não tivermos cuidado, perderemos a capacidade de relaxar, contemplar, degustar, saborear ou gozar o que de bom também nos acontece.
Veja novamente o filme Divertida Mente e verás o quanto as lembranças de tristeza têm o poder de apagarem as de bem-estar.
Então, feche a janela da batida. Passou. Estamos bem. E, volte a se lembrar de nossas gargalhadas, tentando inutilmente emparelhar com tua mãe no pedal.
Evoque os pássaros que viu cantando, ou lembre-se daquela sombra cantante, ao daquele bambuzal que emitia sonaras vibrações musicais, ao ser tocado pela refrescante brisa aracati.
E, as risadas que deu vendo o filme Shaolin do Sertão.
Essas coisas são de que uma vida boa é feita.
Quanto ao resto, conserta-se na lanternagem, ou se aprende a conviver sem se deixar morrer um pouquinho a cada dia.
E, muito obrigado por ter me defendido de mim mesmo, quando declarei que sou burro no inglês.
Fiquei me sentindo um super-pai!

Tornei-me gerente, e agora? (Ricardo de Faria Barros)


No mundo corporativo, essa pergunta é mais comum do que se pensa. Infelizmente, na maioria das vezes, galga-se da carreira técnica para a gerencial sem um capital humano, de competências gerenciais, previamente desenvolvido.
Compartilho algumas das possíveis respostas à essa pergunta, sem pretensão de esgotar um tema tão rico e complexo:
1. Lidere pelo exemplo. Você pode até não perceber, mas todos os dias é observado e gera influência sobre seu grupo. Que sejam influências positivas! Chego a dizer que após um certo tempo de gestão, nossas equipes têm muito de nosso estilo. Se você prega a necessidade de fazer parcerias internas, e ao primeiro estresse com um gestor de outra área, perde as estribeiras (o controle emocional), que tipo de postura vai querer de sua equipe, quando ela lidar com situações similares?
2. Busque ajuda. Sua formação não terminou com a ascensão a um cargo gerencial. Aliás, a boa notícia é que ela não termina nunca. Escolha gestores mais experientes para com eles fazer uma espécie de orientação de carreira. Aliado a isso, estude. Existem excelentes treinamentos e literatura no mercado, invista neles.
3. Cuidado com a palavra escrita. Ela não tem rosto. Pense muitas vezes antes de escrever algo. No limite, caso aborrecido, deixe para fazer no outro dia. Isso vale para WhatsApp também.
4. Forme sua equipe, eles não estão prontos, embora possam ter muita experiência em alguns processos. Estamos sempre construção, inacabados. Você é o principal responsável pelo desenvolvimento de competências de seu time. Não terceirize essa função para o pessoal do RH.
5. Decida. Não confunda fazer gestão com assédio moral. Cobrar desempenho, resultados, disciplina e postura não é assédio moral. É gestão. Contudo, dependendo da forma como faça, será! Cuide da forma. Nunca atente contra a dignidade e honra de seus liderados, achando que com isso irá “corrigi-los”, ou motivá-los.
6. Oriente. Utilize-se de uma boa comunicação para orientar o time. E, quando as coisas estiverem saindo dos eixos, use o feedback do tipo “bota bom ar”, coletivamente ou individualmente. Chamo a isso de feedback qualificador. Imagine que você tem um funcionário que está constantemente disperso com assuntos pessoais.
- No feedback “tira mau cheiro”, você diz assim: “Você vive trazendo problemas pessoais para o trabalho, disperso e teclando nesse seu celular, e o serviço está atrasado.”
- No feedback “bota bom ar”, você diz assim: “Preciso de você mais focado no trabalho, mais concentrado e atento, entregando os trabalhos no prazo.
O primeiro enfatiza o que está errado. O segundo, o que precisa acontecer. Entendeu?
7. Reconheça. Não pense que o seu pessoal já sabe que você gostou de determinado desafio, entregue com excelência. Eles não têm o dom da telepatia. Então, não se envergonhe de dizer-lhes o quanto foi legal o que fizeram. Se expresse, fale, abrace e registre. E, não espere que um Programa de Reconhecimento faça isso por você.
8. Celebre. Não esqueça de comemorar as pequenas, ou grandes, vitórias. Leve uma “Sidra”, chame o pessoal para um brinde. Toque até uma campainha de bicicleta, mas nunca se esqueça de comemorar o gol que fizeram, ou que defenderam. E existem os quase gols também. Que valem um viva!! Mesmo sem a bola ter entrado.
9. Integre. Não descuide da socialização de seu time. Promova festinhas de aniversário, cafés da manhã. Não faça gestão colocando uns contra os outros. Uma das maiores dificuldades da adaptação ao trabalho é a integração social.
10. Compartilhe a Gestão. Todo mundo gosta de participar, de se envolver com a discussão de melhorias para o negócio ou processos. Cultive espaços do pensar e agir coletivos.
A lista de dicas práticas não para por aí. Mas, agora é contigo! Continue a escrevê-las!
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(*) O autor é professor do IBMEC, aposentado do BB, proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito; Psicólogo (UEPB), Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB, Especialista em Gestão de Pessoas (USP) e membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva. E autor de blog de desenvolvimento pessoal e profissional em: https://bodecomfarinha.blogspot.com.br .

O amor nos torna lendários (Autor Ricardo de Faria Barros)

A tarde estava quente, e ainda faltava uma hora para pegar o JG.
Zanzava pela Asa Norte de Brasília, prestando atenção a coisas pelas quais passei apressado e nunca as tinha reparado. Agora as via com um outro olhar, daqueles aternurado.
Na rádio, o bluethooh do celular transmitia a rádio Cultura de Amparo, uma preciosidade disponível em http://radio.garden/live/amparo-sp/radio-cultura/
E tocava uma obra prima de Fagner, que dizia assim:

Canta, coração
Que esta alma necessita de ilusão
Tenho um coração
Dividido entre a esperança e a razão
Tenho um coração
Bem melhor que não tivera

E a paz aqueceu meu coração.
Lembrei-me do aniversário do Gus, e desconectei-me um pouco de tanta beleza harmônica, acessando uma lojinha de presentes.
Gustavo é um jovenzinho muito legal e amigo do JG, que mora em frente ao nosso lar.
Comprei seu presente, e vi que ali tinha o que o JG vive me pedindo: as figuras do Pokémon.
Tinha em caixas metálicas com umas cinquenta em cada uma. E tinha em saquinhos plásticos, com 5 em cada.
Comprei dez saquinhos.
E, todas as segundas e quintas, quando o JG tem o terceiro turno do KUMON, eu paro e compro um sanduba para ele, dentro do sanduba coloco um saquinho de cartas.
A partir daí espero que ele saia do colégio, abra o sanduiche, e opte em primeiro lugar pelas cartas.
Que força é essa que supera a da fome?
Pois é. Primeiro ele abre as cartas e se delicia com elas.
Vai me descrevendo cada um dos personagens que veio nelas. Sua força, seu estilo, sua raridade.
É tanta alegria que ele compartilha, que me sinto abençoado. E vou dirigindo sorrindo.
Que graça teria dar-lhe todas as figuras do álbum, de uma vez?
Fiz diferente, optei por doses homeopáticas de prazer. E está sendo bom demais.
Depois de namorar com suas cinco figuras, descrevê-las à exaustão, ele se lembra da fome e come o sanduba.
Ele está desenvolvendo a fome de poesia, antes da de pão. UAUUU!!!
Que bacana esse dom que temos, nós humanos, de adiar a satisfação de um desejo instintual – a fome, para sentir o toque do prazer espiritual de receber algo de que muito gosta, com sabor de amor.
Quem me ler e já amou, ou está amando, sabe do que falo.
O amor subverte a ordem reinante, ao conceber a natureza das coisas - grávida do seu contrário.
Só o amor, pelas cartinhas do Pokémon, consegue adiar a satisfação da necessidade da fome, diante de um sanduiche suculento e cheiroso.
Só o amor nos faz melhores, maiores, místicos, mágicos e macios.
As cartinhas são um aprendizado emocional positivo para o JG.
Ele está aprendendo a cuidar, colecionar, contemplar e celebrar cada conquista.
Quinta passada, pelas horas de pegá-lo, eu estava de farol muito baixo.
Murchim, murchim... Dia de explosões solares, como os chamo.
Aí o JG abriu as figurinhas. E soltou um “vivaaaa!!!, veio uma carta lendária".
Não tenho a mínima ideia do que venha a ser isso, só sei que a alegria dele era tão grande, que irrigou meu coração.

Logo, estávamos os dois falando daquele personagem lendário, que segundo ele é superdifícil de achar nos saquinhos de figura.
Lembrei da Carta de Paulo aos Romanos, na qual ele nos recomenda: Alegrai-vos com os que se alegram (12:15).
E meu coração fez-se esperança novamente, fez-se luz e paz, contagiado pela felicidade do JG com sua carta lendária.
Um telefonema que você dá para seus pais, pode ser para quem recebe, como a felicidade de se conseguir uma carta lendária.
Um e-mail que você retorna, agradecendo por algo que fizeram para contigo, pode ser para quem recebe, como a felicidade de se conseguir uma carta lendária.
Uma visita a um amigo(a), que se encontra numa situação delicada, pode ser para quem recebe, como a felicidade de se conseguir uma carta lendária.
Uma surpresa que faz para sua amada, pode ser para ela como a felicidade de se conseguir uma carta lendária.
Temos tantas cartas lendárias para sair distribuindo, aos poucos, permitindo pequenos prazeres na vida de quem nos rodeia.
Perdãos, incentivos, apoios, carinhos, ternuras, cuidados...
Coisas simples, sem nenhuma ostentação, ou custo maior.
Tão simples, como mandar um “eu te amo...”.
Tão simples, como proferir um “obrigado”.
Ou um, “me perdoe”.
Ou até um, eu “torço por você”.
Tão simples, e tão raros nos dias de hoje.
“Canta coração, que essa alam necessita de ilusão...”
Vamos lá, esse é o convite.
Vamos fornecer cartas lendárias aos outros que nos rodeiam.
São cartas lendárias emocionais.
Eles, ao recebê-las, não terão como ficar do mesmo jeito, impossível!!! Sentiram-se melhores.
E, se você anda recebendo cartas lendárias, como eu, que tal exercitar a maior das gratidões, que é a de agradecer e retribuir esse amor para com o outros?
Ficamos melhores, mais doces, iluminados e dispostos quando recebemos e damos amor.
Quando amamos, ou nos sentimos amados, ficamos lendários!

Gotas Amorosas (Autor Ricardo de Faria Barros)


Não era a melhor hora do dia para acontecer aquilo. É que meu filho ligou pedindo que eu revirasse fotos antigas, para tentar encontrar algumas de que ele precisava. E naquela manhã eu já amanhecera muito saudoso. Na vitrola escutava uma canção Geraldo Azevedo, cantando Tanto Querer, e comecei a revirar fragmentos de minha vida, alguns já bem amarelados, mas não menos significativos. E a canção Tanto Querer açoitava meu coração em notas de uma humanidade impressionante. 

"Quando a gente se encontra, cresce no peito um gosto de vida, um sorriso, tanto querer. "

 Aí, fui encarar as fotos,e revisitar fragmentos de minha vida. Em cada foto que revirava, havia amor, e a ele regressava um pouco, ao recordar o contexto delas. Confesso que vivi. E foi, e está sendo muto bom. Uma ponta de melancolia veio ao meu coração. Quantos outros momentos eu deixei de registrar? E que agora me faria tão bem deles lembrar? Segue Geraldinho, agora com: 

Você Se Lembra.
"Na realidade onde está você?
Em que cidade você mora?
Em que paisagem em que país?
Me diz em que lugar, cadê você?"
Absorto entre minhas memórias, tomo um susto quando Cida - minha empregada do lar, irrompe no quarto, com seu jeito destrambelhado de ser, e me diz que a torneira do jardim está vazando.
Das lembranças de minha história de vida, à realidade do aguaceiro, meu pensamento galopou numa fração de segundos. Pense numa volta ao mundo do "agora" ligeira.

De pronto, desliguei o Geraldo e botei o crachá de faz tudo, com a inscrição em itálico: Já Que (Já que está casa mesmo, faz isso,compra aquilo, conserta ali...)
Pensei comigo, puto da vida, até tu Cida?
Mas, a conta de água anda salgada, então relevei e lhe agradeci.
Chegando ao jardim percebi que o vazamento era na rosca da torneira, naquele lugar em que ela se encontra com o cano de água.
Então, desliguei o registro geral. Peguei uma chave inglesa, uma fita veda rosca, e tentei eu mesmo fazer o trabalho.
Depois de feito o reparo, liguei novamente o registro e fui me chegando devagarinho, sem querer acreditar que tinha conseguido resolver. Seria um 10 para mim, que não sou o melhor nesse tipo de serviço.
E não é que funcionou! Pelo menos até agora. rsrs
Orgulhoso, preparei um cappuccino e sentei-me numa cadeira de jardim, bem próximo da torneira, só para contemplar o meu sucesso. Queria propagar aquela sensação mais um pouco.

Até que uma borboleta começou a dar rasantes pela torneira.
Eu amo borboletas.
Tirei o celular do bolso para registrar, não sem uma ponta de dúvida. O que queria aquela borboleta numa torneira de jardim, nada parecida com uma flor?
Sim minhas amigas e amigos, é o que está pensando mesmo.
E senti por ela. Como senti.
Aquele pequeno "corrimento" na torneira era suficiente para gerar gotinhas de água limpinhas, fresquinhas, que matavam a sede daquela borboleta, nas tardes de baixa umidade e calorentas do Cerrado, como a que fez hoje.
Senti muito por ela. Não havia mais nenhum filete de água escorrendo dali, embora ela ainda fuçasse com suas antenas.
Juro que ouvi a borboleta cantando para as gotinhas de água que se foram: "Na realidade onde está você? Em que cidade você mora? Em que paisagem em que país? Me diz em que lugar, cadê você?"
Saí dali me sentindo culpado. Culpado de ter fechado as gotinhas de esperança daquele serzinho tão bacana, que não se cansa em polinizar as flores com as quais se encontra.

Quando fico assim, meu coração gosta de matutar. Então, preparei uma dose de Druyrs e lembrei de muitas pessoas que passaram por minha vida, dando-me gotinhas delas mesmas, do melhor delas, em forma de amor.
Lembro de Dona Joaninha, uma senhorinha octogenária - que participava das celebrações da palavra que eu conduzia na Capela de São Sebastião, em Campina Grande, quando dos 15 aos 17 anos quis ser padre.
Dona Joaninha sempre chamava para um café com bolo, em sua casa tão humilde, após a liturgia da palavra dos sábados à noite. E como eu me sentia amado, ali naquela casinha por aquele anjo em foram de gente. Um dia ela partiu, senti como minha borboleta de hoje, não havia mais o pingo de amor, após as celebrações litúrgicas.
Temos um monte de pessoas-pingo-de-água-amorosa em nosso viver.
Um monte!!!
Mas, não podemos esperar para dizer isso a elas, quando Ele, nosso Pai, "consertar o cano" e rodar o carrossel do destino de nossas vidas.
Ter consciência dessas pessoas pingo de amor em nosso viver exige que cultivemos a gratidão.
E como gostaria agora de poder voltar as fitas de minha vida e agradecê-las.
Como gostaria de poder reviver momentos tão bons, vividos de forma tão ansiosa ou apressada, sem pausas para contemplar.
Mais preocupado em pagar o jardineiro, do que acariciar as sementes em brotação. Entende?
Também podemos estar sendo essas gotinhas de amor para pessoas que talvez nem as conheçamos presencialmente.
Talvez pessoas estejam se alimentando de nosso exemplo, valores e jeito de ser.
Não podemos então renunciar aos nosso pingos, à nossa essência.
As pessoas andam tão sozinhas, apressadas, ansiosas, e agressivas, que um simples gotejar de amor, exalado de nosso ser, pode fazer toda a diferença no dia delas.

Como aquelas gotinhas lacrimejantes, de um pequeno vazamento de jardim, fazia na vida daquela borboleta.
Lembro de como me sinto orvalhado pelo amor de Cida, todo início da manhã, quando ela me serve o café, prepara meu Kefir, um copo com água e me traz o remédio de pressão. Quando levanto da mesa, ela checa se tomei. Caso contrário me alerta.
Cida é uma das minhas gotinhas de água.
E, a pouco, antes de começar a escrever essa crônica, ela fez verter umas gotinhas, agora de lágrimas.
Ela postou para mim a foto de sua aliança com a seguinte mensagem:
"Olhe as alianças de meu casamento. O Martinho comprou. Obrigado".


Ser depositário da confiança de tal preciosidade, é ou não é um oásis de bons sentimentos?
Esse é o apelo que faço. Mesmo sendo gotinhas de amor, não podemos negar aos corações sequiosos que bebam delas, e por um instante, sintam que suas vidas estão melhor.
Toda vez que você abraça um(a) amigo(a), toda vez que você estimula um(a) amigo(a), toda vez que você acolhe o desabafo dele(a), só escutando-o(a) de forma plena, empática e atenciosa, gotas de amor jorram de teu coração.

Aposentadoria - Não se Aposente da Vida - Autor Ricardo de Faria Barros (*)


Nos últimos meses, o número de pessoas ingressando na aposentadoria tem aumentando em nosso país. Essa expansão dos aposentados está sendo alavancada pelo medo da mudança nas regras da previdência oficial, estimulando as pessoas que já tinham esse direito à anteciparem sua decisão; Além dos programas de incentivo à aposentadoria, recém-lançados por grandes corporações nacionais, em busca de uma maior eficiência operacional, para sobreviverem a um ambiente de negócios com viés de baixa.
Esse tema me seduz, desde que concluí minha formação de psicólogo, no século passado.
Eu era recém-formado, trabalhava no Banco do Brasil, e naqueles anos de 1995-96 o BB lançou seu maior programa de Demissão Voluntária, com quase 30.000 pessoas "aderindo" a ele.
Aí vi e ouvi de tudo, já com a percepção seletiva de psicólogo. Tantos relatos bons, como relatos não tão bons, em sua grande maioria, de pessoas com dificuldade de adaptação à vida no outro lado da margem de si mesmo, agora a do CPF, no lugar do CNPJ.
Naquela década, também vivi em casa esse fenômeno. Vendo como meu pai e mãe se adaptavam, após longas carreiras no Senai-PB, 45 e 40 anos, respectivamente.
Recolhendo esse material vivencial e estudando sobre o assunto, passei a escrever sobre o tema e ministrar palestras nos éticos e bem-vindos Programas de Preparação à Aposentadoria.
 Costumo iniciar a palestra com o enigma da Esfinge de Tebas. Até brinco com os participantes, dizendo que quem acertá-lo terá uma maior qualidade de vida no pós-carreira.
Após o frisson das "férias" de uns 90 dias, a poeira baixará e o aposentado precisará "entrar em Tebas", atravessando um portal vigiado pela monstruosa Esfinge. Só passa pelo Portal do bem-estar quem acerta ao enigma que ela propõe. Caso contrário, ela comerá o peregrino.
O enigma era esse:
“Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?
Na mitologia, foi Édipo quem resolveu a charada:
"O Homem — engatinha como bebê, anda sobre dois pés na idade adulta, e usa um arrimo (bengala) quando é ancião."
Nas palestras que conduzo costumo dizer que Édipo errou a resposta, em se tratando de uma pós-carreira e aposentadoria de qualidade.
E que no lugar da bengala, a resposta certa é um cajado.
Trocar a bengala por um cajado fará toda a diferença na aposentadoria. Entenda a metáfora, não estou criticando quem usa bengala, por amor de Deus!
O cajado aponta caminhos, conduz sonhos, abre veredas, afasta temores. Quem segue com um cajado, segue à frente de seu tempo.
Aposentados-Cajado entendem que há muita vida a ser vivida ainda, pelo menos uns bons 20 anos. Muito conhecimento a ser conhecido, muitas aventuras, muitos sonhos a serem sonhados, ou tirado das nuvens, muitas sementes a plantar, muitas pessoas a cuidar e outas a vir a conhecer.
Ontem almocei com um desses aposentados-cajado. Descobriu uns sites de treinamentos pela WEB e já fez curso de fotografia à culinária.
Esse é o segredo de uma maior qualidade de vida na aposentadoria: não parar de se movimentar. Tanto biologicamente, como socialmente e psicologicamente falando.
Não entender que a vida chegou a fim, como fruto do processo de luto e morte social que está vivendo, é determinante para erguer o cajado e caminhar.
Esse processo de luto, e quase morte social, é universal. Inúmeros autores registram esse momento como um dos lutos mais significativos da vida humana, com consequente erosão nos relacionamentos sociais, que acontece na margem de lá, a do CNPJ.
Então, a dica é não se aposentar de si mesmo.
Deixo-vos com algumas coisas que falo na clínica e palestra e têm dado resultados.
a. Compre uma agenda, usando o capital-tempo a seu favor. Nela, preencha as páginas em branco com coisinhas legais para fazer a si mesmo, ao outro e na realidade onde mora. Tipo visitar um parque que nunca foi.
b. Continue a participar da vida, seja em ocupações remuneradas, seja noutras voluntárias. Até em rodadas de dominós vale participar.
 c. Se vincule a outros grupos sociais. Gente cura gente.
d. Cuide da saúde nos seus aspectos bio-psico-sócio e espiritual.
e. Esteja sempre fazendo algo, nem que seja arando o jardim da praça. Ou escrevendo a biografia da família.
O segredo para o bem-estar no pós-carreira é não vestir pijamas.
Um amigo, o médico Leandro Minozzo produziu um livro exatamente com esse título: Não se aposente, e disponibiliza a versão digital gratuitamente, nesse link:
http://www.leandrominozzo.com.br/presente-especial-dia-do-…/
Também deixo leitura complementar, como fruto de minha prática terapêutica junto ao grupo de aposentados, parte integrante de um livro que escrevo. São os capítulos das “síndromes” emocionais negativas que precisamos aprender a superá-las.
A do ninho vazio: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/aposentavel-decifra…
A de abstinência à vida corporativa: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/2014/05/savc.html
A da alienação fantástica:
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/livro-aposentavel-d…
E a do tempo elástico, que recomendo e insisto que comece lendo ela.
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/aposentado-ou-quase…
Vamos lá, erga seu cajado e siga corajoso. Há trabalho na empresa vida, esperando por você.
Em tempo: Em breve montaremos Grupos de Apoio para facilitação do processo de adaptação à aposentadoria, aqui em Brasília.
(*) O autor é professor do IBMEC-DF, psicólogo (CRP 01/7844), proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito, Membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva, Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB) e Especialista em Gestão de Pessoas (USP).
Contatos com o autor: ricardodefariabarros@gmail.com
Na foto, o dia de minha aposentadoria.

Carreira Profissional – Uma conversa sobre malas, ânimos e molas.


Uma das experiências mais ricas que tive, em minha carreira profissional, foi a de ser gerente de Capital Humano, na Diretoria de Tecnologia do Banco do Brasil, com seus 4.000 funcionários.
Durante minha estada à frente daquela Área, pude acompanhar de perto a carreira de mais de 1.000 funcis, que nela ingressaram pelo Programa de Ingresso na Ditec, o Progrid, no período de 2011-2016.
Muitos procuravam-me pedindo dicas de ascensão profissional, orientação no trabalho, ou, para um simples desabafo da adaptação.
Para todos, eu tinha alguns “conselhos”. Até brincava com eles que caso não fizessem sentido, desconsiderassem, pois se fossem bons mesmos eu iria cobrar por eles. Aí estão:
Desfaça as malas emocionais - Diga para si mesmo: “Eu vim para ficar. Aqui é o meu melhor lugar, no momento, para eu estar.” Essa postura faz toda a diferença. Não ficar de malas feitas é deixar de viver na provisoriedade de uma partida iminente, viver suspirando pela carreira do outro, pela empresa do outro, pela vida do outro. Desfazer as malas emocionais é permitir-se gostar dos novos amigos, da cidade, da empresa e sua cultura organizacional que nela ingressou. E, porque não dizer, gostar de onde já chegou, fruto do esforço que empregou. É prestar atenção de como está sentindo o trabalho, no lugar de ficar esperando que numa lâmpada mágica apareça o sentido do trabalho. Pensar sobre o pensado, prestar atenção ao que de legal faz e do impacto do seu feito sobre o todo, mesmo que seja o carimbar de uma pilha de papeis, faz toda a diferença para um bom desfazer das malas.
Cultive o ânimo - O segundo conselho é até bíblico: “Tende bom ânimo”. Ora, se até Jesus disse que no mundo teríamos aflições, mas que era preciso coragem e ânimo para enfrentá-los. Como achar que a vida corporativa será uma valsa? Nada disso. É pedreira. É dormir tarde e acordar cedo. É suor. Aliás, aliás, se as vidas não editadas pudessem testemunhar a razão de seu sucesso diriam que foi por terem tido 90% transpiração e 10% inspiração, nas coisas em que se meteram a fazer. Na vida, não há almoço grátis. Tem que ralar, suar, acordar cedo, esforçar-se. Superar-se e para isso precisa-se da chama do ânimo, e todo o dia. E de um ânimo alimentado por nós mesmos. Não se pode terceirizar nosso ânimo. Para o gestor, para a política da empresa, para o colega de estação de trabalho. Nem tampouco para o próprio trabalho. Ânimo é determinação, chama interior para o +, coragem, vontade de ser e fazer melhor, ânimo é pulsão de vida. Mais sabemos dele pelo seu antônimo, o desânimo. Esse é fácil e perceber no outro e em nós mesmos. Etimologicamente, a palavra “ânimo” deriva do latim: animus, que significa “alma”, “coragem” ou “mente”. Que tem sua raiz em ANE, que significa respirar. Então, no limite, ter ânimo é continuar respirando, mesmo quando todos ao seu lado já desistiram, e estão desanimados. Contudo, o ânimo é um estado de espírito muito frágil, precisa ser bem cultivado, protegido e estimulado. Entende? Tem muita gente ao seu redor que vai roubar-lhe o ânimo, cuidado para não se infecionar pelo desânimo deles. Use os anticorpos emocionais da esperança, otimismo, misericórdia e compaixão para lidar com eles, sem excluí-los de teu redor, querendo viver numa bolha. Mas, sem deixar que eles retirem de ti seu fulgor. Cuidar de teu ânimo é uma tarefa tua, não a delegue. Justificar o desânimo pelo impacto dos outros em nós mesmos, é só uma forma de dizer que estamos nos tornando como eles. E saindo do jogo antes do minuto final.
Desenvolva Molas Comportamentais – Gosto de ver as molas em ação, na suspensão de um veículo, por exemplo. Quanto mais tranco elas levam, melhor desempenham seu papel. E, quando cessa o estresse, elas voltam à sua posição de origem. Criaram uma palavra metida para isso, chamada de resiliência. Prefiro chamá-la de molas comportamentais. Que nos dão ginga, flexibilidade, que nos fazem contorcionistas para sair de situações difíceis. Que nos fazem surfar na onda da mudança. E ver nas incertezas, possibilidades. E nos limites, paciência para equacioná-los, ou para racionalmente lidar com eles. Fazer meditação, cultivar momentos de paz e oração, cantar, dançar, pedalar, caminhar, celebrar, desenvolver senso de gratidão, nutrir amizades, valorizar a família, ter hobbies, praticar esportes, participar de algum grupo social para se doar, são espaços de renovação de nossas molas comportamentais. São lugares que atuam nelas como o malho atua sobre o ferro em brasa, dando-lhe mais fortaleza. Paradoxalmente, o segredo de manter as molas funcionando direito passa por algum, ou mais de algum dos itens acima, muito mais do que pelo nosso próprio esforço.
Muitos desses trainees ainda se comunicam comigo. E, em nossas conversas, eles me dizem que ainda usam as três dicas: de desfazer as malas emocionais, de zelar com responsabilidade pelo ânimo deles e de cuidar em renovar as molas para que não se enrijeçam com o dia a dia. E que essas dicas de carreira ainda fazem toda a diferença nas suas vidas profissionais e até pessoais.
Que bom!

Um pé de aves. (Ricardo de Faria Barros)


Saía da Ânimo (www.animodh.com.br) para buscar o JG no colégio quando me deparei com essa árvore, quase sem folha, com tenros brotos, abrigando uma família de avoantes.
De "Rolinhas", como as chamamos na Paraíba.
Aquilo me deu uma paz tremenda.
Árvore e aves em perfeita sintonia, em cumplicidade e trocas de carinho, uma pela outra.
Percebi que os pássaros bicavam os galhos. Como quem a limpá-los de insetos que matavam a tenra vida, em forma de brotos, que teimava em nascer.
Árvore e aves estavam se amando, no sentido maior da expressão amor, no amor de Ágape.
Eu precisava ver aquela cena, horas antes da palestra Florescer, que iria conduzir para meus alunos e um convidado que poderiam levar.
Estava faltando algo, para fechar as analogias de que falaria à noite.
E o algo os pássaros e a árvore me deram, Deus me deu. Agora, as metáforas da palestra estavam completas, vindo-me à razão o que abaixo compartilho.
A psicologia positiva nos ensina que podemos prevenir o adoecimento emocional, ou cuidar melhor dele, cultivando e desenvolvendo três forças: relacionamentos edificantes, ou significativos. As Emoções positivas, aprendendo a acumulá-las, conservá-las e nutri-las. E o sentido da vida, na sua forma de objetivos, metas, sonhos, propósitos e realizações. Ou seja, tendo muitos porquês viver.
Essa pessoas possuem como uma blindagem emocional que funciona como antídotos às infecções da alma. A árvore e seus pássaros nos ensinam isso, vejamos:
Ninguém floresce sozinho. Precisamos nos conectar aos outros. À natureza, à Deus, em qualquer concepção que o tenha. Precisamos nos sentir um nós, tendo alguém para limpar-nos das pragas, insetos, lagartas, que se fixam a nós e roubam-nos vida. Pessoas a nos querer bem, a nos projetar para além de nossos condicionantes mentais, a verem potenciais que nem nós vimos, sobre nós mesmos. Quem tiver essas pessoas em seu viver, tem fonte inesgotável de bem-estar. Cuide delas. Valem uma terapia.
Ninguém floresce em guerra emocional consigo mesmo, com os outros e com a vida. Cheio de um inferno dentro de si, de mágoas, ressentimentos, ódio, inveja e culpa. Precisamos cultivar as emoções positivas, tal como aquela que sentimos - a paz, ao contemplar um entardecer, vendo nele uma árvore que acolhe avoantes, e juntas brindam ao nascer da noite. Cultivar esperança, otimismo, bondade, gentilezas, misericórdia, gratidão, espiritualidades...
Ninguém floresce sem uma causa pela qual viver, sem um objetivo, realização ou sentido. Como aqueles pássaros tinham a ali descansarem e se alimentarem. Ou sua amiga árvore, a irromper mil brotinhos de vida, desafiando os insetos de morte que a ceifava.
Precisamos de alguém para nele pousar, quando cansados. senti que demos pouso, ou sombra, a alguém, é um profundo propósito de vida. Rejuvenesce, restaura e anima corações.
Entendem a comparação?
Esse é o segredo das pessoas de alto nível de bem-estar positivo, que antigamente chamávamos de felicidade, mas que por essa palavra ser confundida com alegria, passamos a adotar o conceito de bem-estar subjetivo, que é maior do que felicidade.
Você pode estar triste, e mesmo assim, sentir-se em profundo bem-estar subjetivo.
Você pode estar triste, por lutar contra o avanço de uma grave doença, pelo que ela lhe privou de algumas coisas na vida. Por outro lado, a luta pela sua vida, deu-lhe um propósito maior, e quem tem um propósito, tem uma fonte inesgotável de bem-estar.
Você pode estar triste, por ter se despedido de seu filho que migrou para outro lugar.
Mas, saber que só nutre por ele desejos bons, que quando se lembra dele só lhe vem à mente emoções positivas como: esperança, otimismo, gratidão e paz. Estas, lhes dão um profundo sentimento de bem-estar subjetivo.
Você pode estar triste, por não ter conseguido passar naquele concurso, mas ter sido chamado pelos amigos para desopilar, lhe deu um profundo sentimento de bem-estar, ao sentir-se querido, protegido e cuidado por eles.
Esses são os três capítulos da palestra Florescer, sobre como podemos cultivar nosso espaço de bem-estar positivo, alimentando as três maiores fontes de energia dele:
1. As emoções positivas, daquelas das boas, das que podemos contar às nossas mães, ou publicá-las abertamente.
2. Relacionamentos Edificantes, com aqueles que seguram nossas mãos e nos levam ao caminho do ser +.
3. Propósito, aquele sentimento de que há algo a ser construído, defendido, destruído ou atacado (no sentido de coisas por fazer, que não podem mais ser procrastinadas) e esse algo precisa de nossa participação.
Em alguns momentos a vida se nos apresenta em jorros de si mesma. E, numa confusão danada de boa, sentimos que estamos tendo acesso aos três vetores do bem-estar, ao mesmo tempo.
Aí ficamos excitados, nos sentimos potentes, somos capazes de escalar uma montanha até a lua.
Vi jovens partirem para uma missão de levar postes de luz para comunidades ribeirinhas no Amazonas. Aquela experiência é um jorro de bem-estar. Eles só pensam coisas boas sobre o servir ao próximo, farão amigos para toda a vida, inclusive com os nativos, e viverão um inestimável sentido de propósito. Eles são voluntários da ONG Litro de Luz, e estão a uma semana em missão.
(Saiba mais aqui: https://www.facebook.com/umlitrodeluzbrasil)
Um casal de namorados, após a palestra, falou-me que dali sairiam para passear sem rumo. Eles gostam de passear de carro À noite, gostam para os limites do DF e verem o céu estrelado, e tocarem nas luzinhas que desafiam a escuridão. Luzes dos astros, relâmpagos, raios, e pirilampos. Percebem neles o jorro? Emoções positivas, relacionamento edificante e propósito.
No café, a Cida falou-me que o casamento no cartório foi marcado. Que o noivo já comprou as alianças. Que vai pedir a "dona patroa" o dia de folga, "afinal tenho que fazer algo especial par ele, não é todo dia que se casa". Percebem o jorro?
Assim é vida boa e plena, que vale a pena ser vivida.
E, lembre-se, o ser humano se tiver apenas uma das fontes de jorro, ainda assim alcançará níveis de bem-estar suficientes para fortalecer o enfrentamento, ou a convivência, com as outras áreas, não tão boas que está vivendo.
Valeu o ensinamento, avoantes e arvorezinha em brotação!
E a melhor notícia, os jorros podem ser aprendidos, numa re-educação emocional positiva, que vai ampliar a inteligência e o capital psicológico positivo (resiliência, esperança, auto-eficácia e otimismo). Podemos aprender a ter mais bem-estar. Que não significa, como num passo de mágica, eliminar as tristezas de nosso viver, alienar-se e ser um bobão. Podemos até estar tristes com o rumo de algumas coisas, mas aprendendo a prestar atenção também, e de forma intencional e seletiva, às áreas de bem-estar, de outros jorros, que ainda estão bacanas em nosso viver. Nesse último parágrafo, um resumo de 20 anos de pesquisas sobre o tema felicidade.

Saber roer o osso.



Há uma diferença entre roer um osso de uma bisteca e o de uma chuletta. 
No segundo, o maior, a carne colada no osso é de primeira, um contra-filé. 
Apesar do osso ser o mesmo, uma costela. 
Assim é com tudo aquilo que temos que passar, sofrer, renunciar e se esforçar para conseguir. 
Melhor roer esse "osso" como quem se delicia com uma chuletta. 
Encarando as dificuldades como se fossem alavancas para superação de si mesmo. 
Com fé, determinação, esperança, coragem e otimismo. 
Esses valores são o contra-filé de nossa chuleta existencial. 
Agregam sabor ao nosso vir a ser +.

Vagalumes


Às vezes, é preciso o escuro de um blackout de energia, para perceber as luzinhas de Vagalumes errantes. 
Como que anunciassem que um simples e cotidiano gesto de amor é suficiente para iluminar coracões enTrevados.
Não podemos deixar que nosso lúmen, fluxo de luz, vague perdido, ao léu.
Apagado e sem um porquê. 
Ele precisará de outros corações para se acender, e acendê-los. 
Esse é o paradoxo de nossa luz interior.
Diferente da luz do Vagalume, a nossa só irradia quando amamos e servimos ao próximo.

Crônicas Anteriores