O amor nos torna lendários (Autor Ricardo de Faria Barros)

A tarde estava quente, e ainda faltava uma hora para pegar o JG.
Zanzava pela Asa Norte de Brasília, prestando atenção a coisas pelas quais passei apressado e nunca as tinha reparado. Agora as via com um outro olhar, daqueles aternurado.
Na rádio, o bluethooh do celular transmitia a rádio Cultura de Amparo, uma preciosidade disponível em http://radio.garden/live/amparo-sp/radio-cultura/
E tocava uma obra prima de Fagner, que dizia assim:

Canta, coração
Que esta alma necessita de ilusão
Tenho um coração
Dividido entre a esperança e a razão
Tenho um coração
Bem melhor que não tivera

E a paz aqueceu meu coração.
Lembrei-me do aniversário do Gus, e desconectei-me um pouco de tanta beleza harmônica, acessando uma lojinha de presentes.
Gustavo é um jovenzinho muito legal e amigo do JG, que mora em frente ao nosso lar.
Comprei seu presente, e vi que ali tinha o que o JG vive me pedindo: as figuras do Pokémon.
Tinha em caixas metálicas com umas cinquenta em cada uma. E tinha em saquinhos plásticos, com 5 em cada.
Comprei dez saquinhos.
E, todas as segundas e quintas, quando o JG tem o terceiro turno do KUMON, eu paro e compro um sanduba para ele, dentro do sanduba coloco um saquinho de cartas.
A partir daí espero que ele saia do colégio, abra o sanduiche, e opte em primeiro lugar pelas cartas.
Que força é essa que supera a da fome?
Pois é. Primeiro ele abre as cartas e se delicia com elas.
Vai me descrevendo cada um dos personagens que veio nelas. Sua força, seu estilo, sua raridade.
É tanta alegria que ele compartilha, que me sinto abençoado. E vou dirigindo sorrindo.
Que graça teria dar-lhe todas as figuras do álbum, de uma vez?
Fiz diferente, optei por doses homeopáticas de prazer. E está sendo bom demais.
Depois de namorar com suas cinco figuras, descrevê-las à exaustão, ele se lembra da fome e come o sanduba.
Ele está desenvolvendo a fome de poesia, antes da de pão. UAUUU!!!
Que bacana esse dom que temos, nós humanos, de adiar a satisfação de um desejo instintual – a fome, para sentir o toque do prazer espiritual de receber algo de que muito gosta, com sabor de amor.
Quem me ler e já amou, ou está amando, sabe do que falo.
O amor subverte a ordem reinante, ao conceber a natureza das coisas - grávida do seu contrário.
Só o amor, pelas cartinhas do Pokémon, consegue adiar a satisfação da necessidade da fome, diante de um sanduiche suculento e cheiroso.
Só o amor nos faz melhores, maiores, místicos, mágicos e macios.
As cartinhas são um aprendizado emocional positivo para o JG.
Ele está aprendendo a cuidar, colecionar, contemplar e celebrar cada conquista.
Quinta passada, pelas horas de pegá-lo, eu estava de farol muito baixo.
Murchim, murchim... Dia de explosões solares, como os chamo.
Aí o JG abriu as figurinhas. E soltou um “vivaaaa!!!, veio uma carta lendária".
Não tenho a mínima ideia do que venha a ser isso, só sei que a alegria dele era tão grande, que irrigou meu coração.

Logo, estávamos os dois falando daquele personagem lendário, que segundo ele é superdifícil de achar nos saquinhos de figura.
Lembrei da Carta de Paulo aos Romanos, na qual ele nos recomenda: Alegrai-vos com os que se alegram (12:15).
E meu coração fez-se esperança novamente, fez-se luz e paz, contagiado pela felicidade do JG com sua carta lendária.
Um telefonema que você dá para seus pais, pode ser para quem recebe, como a felicidade de se conseguir uma carta lendária.
Um e-mail que você retorna, agradecendo por algo que fizeram para contigo, pode ser para quem recebe, como a felicidade de se conseguir uma carta lendária.
Uma visita a um amigo(a), que se encontra numa situação delicada, pode ser para quem recebe, como a felicidade de se conseguir uma carta lendária.
Uma surpresa que faz para sua amada, pode ser para ela como a felicidade de se conseguir uma carta lendária.
Temos tantas cartas lendárias para sair distribuindo, aos poucos, permitindo pequenos prazeres na vida de quem nos rodeia.
Perdãos, incentivos, apoios, carinhos, ternuras, cuidados...
Coisas simples, sem nenhuma ostentação, ou custo maior.
Tão simples, como mandar um “eu te amo...”.
Tão simples, como proferir um “obrigado”.
Ou um, “me perdoe”.
Ou até um, eu “torço por você”.
Tão simples, e tão raros nos dias de hoje.
“Canta coração, que essa alam necessita de ilusão...”
Vamos lá, esse é o convite.
Vamos fornecer cartas lendárias aos outros que nos rodeiam.
São cartas lendárias emocionais.
Eles, ao recebê-las, não terão como ficar do mesmo jeito, impossível!!! Sentiram-se melhores.
E, se você anda recebendo cartas lendárias, como eu, que tal exercitar a maior das gratidões, que é a de agradecer e retribuir esse amor para com o outros?
Ficamos melhores, mais doces, iluminados e dispostos quando recebemos e damos amor.
Quando amamos, ou nos sentimos amados, ficamos lendários!

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