O Grupo de Apoio à Vida - GAV (Autor Ricardo de Faria Barros)

É sexta feira, 22h50min, e estamos encerrando a primeira reunião do Grupo de Apoio à Vida, o GAV. Era março de 1994, e dos mais de 200 convites impressos em A4 e entregues, convidando voluntários para fundarmos aquela ONG (não havia Whats nem Face), apenas duas pessoas aderiram, Lana e Josi, que somados a mim e a Joane, formamos um grupo de quatro idealistas.
Um mês depois, já éramos 12. Pessoas lindas que queriam ajudar a diminuir o preconceito contra portadores do HIV e de alguma forma ajudá-los.
No segndo mês, já tivemos que alugar um lugar maior, éramos agora uns 30 voluntários. As reuniões da sexta foram históricas, e sempre começávamos com Selma Reis: cantando para nós sua obra prima: O Preço de uma Vida.
"Mesmo quando a esperança
Por si só não bastar mais
Só nos valerá se nessa morte em vida
O amor com amor pagar o preço de uma vida
Se não se sonha mais, de que nos valerá"
Cantávamos aquela canção quase em prece.
Durante as históricas reuniões da sexta à noite, traçávamos metas, fazíamos balanços das visitas e necessidadas das pessoas assistidas, abriámos espaços para desabafos, choros e emoções. Mas, sobretudo, nos amávamos!
Esperanças vadias e frágeis ali eram cultivadas, num tempo em que só havia o AZT para deter a evolução da Síndrome.
Após a Selma, nos abraçávamos, dançávamos o Ói-êpo, e prometíamos nos encontrar novamente, na próxima sexta.
Aos mais debilitados, faziámos votos de que não sucumbissem.
Que aguentassem mais um pouco.
Nunca consegui escrever aqui sobre o impacto do GAV em meu viver, sendo o fundador daquela ONG e presidente por duas gestoes.
Mas, hoje recebi de uma amiga a canção O Preço de uma Vida, e lembrei do quanto fomos valentes e ousados naquela época. Essa música é um hino ao amor.
Queria dizer a vocês que se foram, aos que ainda resistem, e a dezenas de voluntários que pelo GAV passaram e ali serviram, que nessa noite fria de sexta, aqui no DF, senti muita saudade de vocês e de nossa causa.
 Fizemos história!
"Ói êpo e tata êpo, Ói êpo e tata êpo, Ói êpo e tata êpo.
E tuqui, e tuqui, e êpo. E tuqui, e tuqui, e êpo."
Olhai por trás dos morros, olhai por trás dos morros, olhai por trás dos morros. E nunca desista, nunca desista.
Só o amor nos torna eternos. E, quem recebe esse toque durante a jornada de sua vida, o toque do amor, deve botar os joelhos no chão e agradecer, por mais dolorido que possa lhe parecer.
E é o que faço agora e convido-lhe a fazer também.
Obrigado GAV!

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