Um pé de aves. (Ricardo de Faria Barros)


Saía da Ânimo (www.animodh.com.br) para buscar o JG no colégio quando me deparei com essa árvore, quase sem folha, com tenros brotos, abrigando uma família de avoantes.
De "Rolinhas", como as chamamos na Paraíba.
Aquilo me deu uma paz tremenda.
Árvore e aves em perfeita sintonia, em cumplicidade e trocas de carinho, uma pela outra.
Percebi que os pássaros bicavam os galhos. Como quem a limpá-los de insetos que matavam a tenra vida, em forma de brotos, que teimava em nascer.
Árvore e aves estavam se amando, no sentido maior da expressão amor, no amor de Ágape.
Eu precisava ver aquela cena, horas antes da palestra Florescer, que iria conduzir para meus alunos e um convidado que poderiam levar.
Estava faltando algo, para fechar as analogias de que falaria à noite.
E o algo os pássaros e a árvore me deram, Deus me deu. Agora, as metáforas da palestra estavam completas, vindo-me à razão o que abaixo compartilho.
A psicologia positiva nos ensina que podemos prevenir o adoecimento emocional, ou cuidar melhor dele, cultivando e desenvolvendo três forças: relacionamentos edificantes, ou significativos. As Emoções positivas, aprendendo a acumulá-las, conservá-las e nutri-las. E o sentido da vida, na sua forma de objetivos, metas, sonhos, propósitos e realizações. Ou seja, tendo muitos porquês viver.
Essa pessoas possuem como uma blindagem emocional que funciona como antídotos às infecções da alma. A árvore e seus pássaros nos ensinam isso, vejamos:
Ninguém floresce sozinho. Precisamos nos conectar aos outros. À natureza, à Deus, em qualquer concepção que o tenha. Precisamos nos sentir um nós, tendo alguém para limpar-nos das pragas, insetos, lagartas, que se fixam a nós e roubam-nos vida. Pessoas a nos querer bem, a nos projetar para além de nossos condicionantes mentais, a verem potenciais que nem nós vimos, sobre nós mesmos. Quem tiver essas pessoas em seu viver, tem fonte inesgotável de bem-estar. Cuide delas. Valem uma terapia.
Ninguém floresce em guerra emocional consigo mesmo, com os outros e com a vida. Cheio de um inferno dentro de si, de mágoas, ressentimentos, ódio, inveja e culpa. Precisamos cultivar as emoções positivas, tal como aquela que sentimos - a paz, ao contemplar um entardecer, vendo nele uma árvore que acolhe avoantes, e juntas brindam ao nascer da noite. Cultivar esperança, otimismo, bondade, gentilezas, misericórdia, gratidão, espiritualidades...
Ninguém floresce sem uma causa pela qual viver, sem um objetivo, realização ou sentido. Como aqueles pássaros tinham a ali descansarem e se alimentarem. Ou sua amiga árvore, a irromper mil brotinhos de vida, desafiando os insetos de morte que a ceifava.
Precisamos de alguém para nele pousar, quando cansados. senti que demos pouso, ou sombra, a alguém, é um profundo propósito de vida. Rejuvenesce, restaura e anima corações.
Entendem a comparação?
Esse é o segredo das pessoas de alto nível de bem-estar positivo, que antigamente chamávamos de felicidade, mas que por essa palavra ser confundida com alegria, passamos a adotar o conceito de bem-estar subjetivo, que é maior do que felicidade.
Você pode estar triste, e mesmo assim, sentir-se em profundo bem-estar subjetivo.
Você pode estar triste, por lutar contra o avanço de uma grave doença, pelo que ela lhe privou de algumas coisas na vida. Por outro lado, a luta pela sua vida, deu-lhe um propósito maior, e quem tem um propósito, tem uma fonte inesgotável de bem-estar.
Você pode estar triste, por ter se despedido de seu filho que migrou para outro lugar.
Mas, saber que só nutre por ele desejos bons, que quando se lembra dele só lhe vem à mente emoções positivas como: esperança, otimismo, gratidão e paz. Estas, lhes dão um profundo sentimento de bem-estar subjetivo.
Você pode estar triste, por não ter conseguido passar naquele concurso, mas ter sido chamado pelos amigos para desopilar, lhe deu um profundo sentimento de bem-estar, ao sentir-se querido, protegido e cuidado por eles.
Esses são os três capítulos da palestra Florescer, sobre como podemos cultivar nosso espaço de bem-estar positivo, alimentando as três maiores fontes de energia dele:
1. As emoções positivas, daquelas das boas, das que podemos contar às nossas mães, ou publicá-las abertamente.
2. Relacionamentos Edificantes, com aqueles que seguram nossas mãos e nos levam ao caminho do ser +.
3. Propósito, aquele sentimento de que há algo a ser construído, defendido, destruído ou atacado (no sentido de coisas por fazer, que não podem mais ser procrastinadas) e esse algo precisa de nossa participação.
Em alguns momentos a vida se nos apresenta em jorros de si mesma. E, numa confusão danada de boa, sentimos que estamos tendo acesso aos três vetores do bem-estar, ao mesmo tempo.
Aí ficamos excitados, nos sentimos potentes, somos capazes de escalar uma montanha até a lua.
Vi jovens partirem para uma missão de levar postes de luz para comunidades ribeirinhas no Amazonas. Aquela experiência é um jorro de bem-estar. Eles só pensam coisas boas sobre o servir ao próximo, farão amigos para toda a vida, inclusive com os nativos, e viverão um inestimável sentido de propósito. Eles são voluntários da ONG Litro de Luz, e estão a uma semana em missão.
(Saiba mais aqui: https://www.facebook.com/umlitrodeluzbrasil)
Um casal de namorados, após a palestra, falou-me que dali sairiam para passear sem rumo. Eles gostam de passear de carro À noite, gostam para os limites do DF e verem o céu estrelado, e tocarem nas luzinhas que desafiam a escuridão. Luzes dos astros, relâmpagos, raios, e pirilampos. Percebem neles o jorro? Emoções positivas, relacionamento edificante e propósito.
No café, a Cida falou-me que o casamento no cartório foi marcado. Que o noivo já comprou as alianças. Que vai pedir a "dona patroa" o dia de folga, "afinal tenho que fazer algo especial par ele, não é todo dia que se casa". Percebem o jorro?
Assim é vida boa e plena, que vale a pena ser vivida.
E, lembre-se, o ser humano se tiver apenas uma das fontes de jorro, ainda assim alcançará níveis de bem-estar suficientes para fortalecer o enfrentamento, ou a convivência, com as outras áreas, não tão boas que está vivendo.
Valeu o ensinamento, avoantes e arvorezinha em brotação!
E a melhor notícia, os jorros podem ser aprendidos, numa re-educação emocional positiva, que vai ampliar a inteligência e o capital psicológico positivo (resiliência, esperança, auto-eficácia e otimismo). Podemos aprender a ter mais bem-estar. Que não significa, como num passo de mágica, eliminar as tristezas de nosso viver, alienar-se e ser um bobão. Podemos até estar tristes com o rumo de algumas coisas, mas aprendendo a prestar atenção também, e de forma intencional e seletiva, às áreas de bem-estar, de outros jorros, que ainda estão bacanas em nosso viver. Nesse último parágrafo, um resumo de 20 anos de pesquisas sobre o tema felicidade.

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