Cadê Seu Jonas? (Autor Ricardo de Faria Barros)


"Cadê Seu Jonas?", perguntou o jovem Lucas de 13 anos. Sua mãe, a Paula, respondeu que não sabia.
Lucas insistiu com a mãe para que ela descobrisse o paradeiro dele, que há um mês não mais tinha ido vender pipocas na calçada da escola.
A mãe, valendo-se de seus contatos como Agente de saúde do bairro da Liberdade, no qual funciona a escola Petrônio Figueiredo, em Campina Grande-PB, acabou localizando o pipoqueiro, sentado numa praça, com olhos perdidos ao horizonte.
Aproximando-se dele, ela descobriu o porquê daquele semblante tristonho. Seu carrinho de pipoca quebrou, após 20 anos de uso, e sempre na calçada daquela escola.
Ele não tinha recursos para comprar um novo. Embora já tivesse batido à porta de muita gente, solicitando ajuda, todo mundo alegava aperto financeiro e negava-lhe qualquer contribuição.
Paula informou ao pequeno Lucas o que ocorrera. A partir daí o Lucas mobilizou toda a escola para fazer uma vaquinha e amealhar R$ 1.000,00 o valor de uma pipoqueira novinha em folha, a qual seria presenteada em festa surpresa para Sr. Jonas.
Pronto, o que se viu a partir daí foi um mutirão de solidariedade que mobilizou crianças dos 10 aos 15 anos, daquele pequeno educandário, a quebraram seus "miaeiros", passarem um sacolinha de coleta junto aos seus pais e comunidade acadêmica, até conseguirem a quantia.
A força da liderança do Lucas era tão grande, que já no primeiro dia, ele e os coleguinhas, amealharam quase 20% da meta.
Depois daquele dia, toda a comunidade escolar embarcou na proposta e fizeram do momento que viviam uma verdadeira aula de inclusão social pelo trabalho, de cidadania, de respeito e apoio, se falar na consideração aos mais simples que nos servem.
Precisamos de mais Lucas, e em todo lugar. Lucas chamou o pipoqueiro pelo nome: Sr. Jonas.
Não era um pipoqueiro, era uma pessoa, tinha identidade própria: Jonas.
Lucas sentiu falta dele, só sente falta de alguém, ou de algo, quem o reconhece - e para além dos olhos opacos da indiferença, tão comuns à rotina de dias ansiosos, agressivos e sem tempo nos quais vivemos.
Para reconhecer a falta de alguém é preciso considerar esta pessoa, valorizá-la, tê-la como importante, e Lucas assim o fez, ao expressar sua angustiante e inquieta pergunta: "Mãe, cadê Sr. Jonas?"
Lucas foi líder. Liderança não é algo atribuído a um cargo, idade ou um dom de poucos. Liderança é fazer acontecer novas realidades, a partir de nosso próprio lugar e agir no mundo e na vida de pessoas.
Sem o grito por Sr. Jonas, que mobilizou sua mãe à sua cata, ainda hoje aquele senhor estaria sentado na pracinha, próximo à escola, tendo como certo o seu destino de parar sua atividade, por não ter renda, nem poupança suficiente, para o investimento necessário ao seu reestabelecimento.
Lucas prestou atenção ao ambiente no qual estava inserido. Notou mudanças. Não gostou do que viu. E foi atrás, buscar realizar o futuro que almejava.
Não se conformou com a informação que recebeu da mãe. E ele poderia.
Não disse que aquilo não era com ele. E ele poderia.
Não reclamou do alto valor que precisaria juntar, para uma criança de dez anos. E ele poderia ter reclamado.
Simplesmente acreditou que seria possível, retornar o Sr. Jonas ao posto de trabalho.
A partir daí, ativou a força nele o capital psicológico positivo formado pela: esperança, resiliência, otimismo e auto-eficácia, que impulsionou sua liderança positiva em busca daquele sonho.
Lucas esteve presente à maravilha do viver.
Quantos mais sentiram a ausência do Sr. Jonas? Aposto que não muitos.
Mas, Lucas fez a diferença. Ele prestou atenção, e ao notar algo estranho, com a sua liderança alterou destinos, realidades e pessoas.
Uma simples pergunta foi suficiente para ativar a ação que movera o carrossel do destino: "Cadê o Sr. Jonas, o pipoqueiro?"
Eu acredito que em nosso Brasil existam muitos Lucas, pessoas com sentido na vida e propósito, que tornam o mundo um lugar melhor do que achou, só com sua liderança, deixando legados positivos por onde passam. Acredito também nas coisas abaixo:
  • Acredito que para cada dez "Malas Sem Alças do Mal" que existem soltas por aí, acredito que outras cem pessoas boas também operam nesta mesma realidade.
  • Acredito que para cada dez pessoas que pregam o ódio, existem cem Lucas que pregam o amor.
  • Acredito que para dez pessoas que se fecham no egoísmo, existam outras cem que se abrem em doação de tempo e recursos aos mais necessitados.
  • Acredito que para cada dez desavenças e conflitos entre pessoas, existam outros cem pedidos de perdão e recomeço.
  • Acredito que para cada dez pessoa que não lideram nem a si mesmo, existam outras cem pessoas que alteram suas próprias vidas, destinos e transformam vidas de quem a elas se aprochega, e pra melhor. 
  • Acredito que para cada dez gerentes truculentos, existam outros cem gestores formadores, compreensivos e humanos.
  • Acredito que para cada dez pregadores de Deus que não pratica o que falam, existam outros cem que o fazem.
  • Acredito que para cada dez pessoas violentas, existam cem pessoas pacíficas.
  • Acredito que para cada dez pessoas que destroem o ambiente, existam cem pessoas que o protegem.
  • Acredito que para cada dez pessoas preconceituosas, existam cem pessoas que respeitam a diversidade.
  • Acredito que para cada dez profissionais desmotivados na sua vocação de servir, existam outros cem que fazem de seu trabalho serviço.
  • Acredito que para cada dez lágrimas de dor choradas sozinha, existam outras cem amparadas por lenços humanos, ofertados por pessoas mansas e boas que à pessoa sofrida se juntou naquele momento.
  • Acredito que para cada dez pessoas ingratas, existam outras cem gratas.  
  • Acredito que para cada dez pessoas sem ética e injustas, existam outras cem pessoas éticas e justas.
  • Acredito que para cada dez pessoas desumanizadas, existam outras cem humanizadas.
  • Acredito que para cada dez pessoas que não se importam contigo, existam outras cem que se importam.
Sabe por que acredito? Porque existia um Lucas que nem eu nem tu sabia do gesto dele, até alguém encontrar espaço na pauta da mídia, de natureza extremamente ruim e negativa, e divulgá-lo. 
Com certeza muitas outras ações deste tipo por aí. Mas, que recebem o devido destaque nas capas de revistas, sites e jornais.

O convite que Lucas nos faz é para que em cada situação na vida, achemos um sentido e um propósito na mesma. Assim, transformaremos ambientes, negócios, pessoas, e a nós mesmos, e para melhor!

Lucas, sem saber que seria impossível, foi lá e fez. Porque se deixou conduzir pela força do Sentido-Propósito.

E, nos inspira a fazer o mesmo, em várias situações que vivemos no mundo do trabalho, da família e da sociedade como um todo. 

Você pode ver o vídeo da entrega da pipoqueira, clicando nesta matéria abaixo: 

A Sindrome da Intolerância à Gente (Autor Ricardo de Faria Barros)

Faz parte das conquistas do Século XXI a identificação, cada vez mais precoce, de pessoas com problemas de saúde relacionados à intolerância: ao glúten, ou à lactose.
A partir daí, uma série de condutas preventivas surgiu, com impacto nos hábitos alimentares, no consumo, comercialização e na própria indústria de alimentos.
Também faz parte do legado deste século que mal se inicia, a convivência cada vez mais precoce com pessoas adoecidas pela Síndrome da Intolerância à Gente.
Sim meus caros, é uma síndrome, e é das piores, é de intolerância à gente.
Os principais sintomas desta doença social:

1. Agressividade banal e cotidiana;
2. Dificuldade de cultivar empatia e solidariedade social;
3. Incapacidade de sentir e expressar gratidão;
4. Mal estar generalizado junto a pessoas de etnias, fé, sotaques e expressão da sexualidade diferentes;
5. Apatia na harmonização de conflitos;
6. Culto excessivo ao eu, ao consumismo e ao individualismo;
7. Descarte, sem culpa ou pesar, do outro que não mais lhe interessa;
8. Anemia de pensamentos e emoções positivas;
9. Baixa resiliência aos choques relacionais;
10. Aversão à busca de outras verdades e conhecimentos, diferentes daqueles que aceita;
11. Xenofobia atitudinal, culto ao igual;
12. Idolatria para com algumas pessoas ou grupos, vis a vis, satanização de outros grupos e pessoas;
13. Coisificação dos outros que lhes servem, tornando-os invisíveis ao seu convívio;
14. Inabilidade em construir, manter e renovar relacionamentos saudáveis;
15. Alergia a gente humilde.

Se para as inadequações alimentares, à lactose e ao glúten, já encontramos formas de lidar com elas, para com a Síndrome da Intolerância à Gente ainda temos muito o que aprender.

Os ensinamentos para re-humanização da coletividade, e combate à expansão da Síndrome da Intolerância à Gente pede ações concretas, exemplos cotidianos, e práticas sociais em instituições formadoras do caráter como a família e a escola.

Precisamos urgentemente dar nossa parcela de contribuição para restaurar o tecido social da sociedade, tão esgarçado nestes tempos de ódio digital.




Sobre cuidar e admirar. (Autor Ricardo de Faria Barros)


Naquele domingo, a missa das 18hrs, na tricentenária Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, em Recife-PE, estava lotada.
Com esforço achei uma vaga pra mamãe, num dos bancos de madeira.
Papai e JG subiram para o "puleiro" do coro da esquerda, onde tinha duas vagas.
Eu subi para o da direita, e achei uma para mim também.
Do banco à minha frente, saia uma fragrância de amor.
Não, caros amigos e amigas, não era perfume, nem alguma coisa do reino do erótico que à minha frente rolava.
Era amor, somente amor.
Tratava-se de um casal, na faixa dos cinquenta, que prestavam atenção à missa.
Mas, de minha vista privilegiada, atrás do banco deles, eu percebia que ela fazia pequenos carinhos nas costas dele, sobre a qual oceanava o seu braço, enlaçando-a ternamente.
Cada vez que o padre mandava sentar, ela recomeçava a expressar amor por ele.
E ele retribuía.
Timidamente, mas de forma segura, ele apalpava os ombros dela, como que a dizê-la: eu também estou aqui, te amo, conte comigo!

Tem coisa mais bonita que ver um casal expressando amor, um para com o outro?

Tenho sido privilegiado nestes meses por ver isto todos os dias e me inspirar.

Um casal de pássaros, da espécie Burguesa (um tipo de pomba), veio me dar a honra de fazer um ninho na jardineira da janela de meu quarto.
Acompanhei tudinho de perto, na vida deste casal que se ama.
Desde a escolha do melhor local para o ninho.
Ao ter que mudá-lo, por ter sido levado pela chuva e vento inclemente.
Bonito foi vê-los chegando com os gravetos, um a um, e irem moldando-o no leito de um vaso de suculentas.
Sentia o esforço deles, o dia da postura estava perto, e eles já tinham perdido outros dois ninhos, feitos em locais mais expostos ao vento.
Aí veio o dia da postura, e a mamãe ficou toda feliz, chocando-o pacientemente.
Uns quinze dias se passaram, e agora um filhotinho depende deles para crescer e voar, tal qual  nosso filhos.
Hoje vi uma cena linda, que está na sequencia de fotos que ilustra esta crônica.
Era pelas 7 da manhã, e o macho chegou para assumir o lugar nos cuidados do pequeno filhote.
UAUU!!!   Que exemplo inspirador para tantos homens que não dividem as responsabilidades pela criação dos filhos.
Ele chegou, ela olhou pra ele como que a dizer, olha como nosso filhote está belo.
Ela estava encharcada da chuva da madrugada, o ninho não é protegido de galhos e folhas, é exposto. Suas penas estavam eriçadas de frio, chovera e ventara muito.
Ela estava exausta. Ele então chega, assume a guarda, e dá o direito ao descanso de sua amada.
Não sem antes olharem-se, como que a despedirem-se. Agora, ela vai procurar local seco para se enxugar, vai comer, e mais tarde volta para o plantão.
Acho que a melhor expressão do amor é a ternura do cuidar e do admirar.
Aquele casal se admira.
Pois, na expressão de tanto carinho, um pelo outro, ali não havia espaço para disputas de egos, egoísmos, para solidão a dois.
As aves sabem expressar cuidado. Compreendem o limite do outro, assumem de forma compartilhada a missão de criar e educar para os vôos.
Creio que andamos precisando reaprender a cuidar do outro que amamos. Deixar de ficar só na postura de quem espera receber, para aí sim doar. Isto não é amar, isto é comercializar.
Quem ama o faz sem pré-condições, sem listas de avaliação de desempenho, ou testes de perfis psicológicos - como quem procede a um processos seletivo. Simplesmente ama.
Quem ama cuida e, admira. E, é capaz de renovar isto tudo, todas as vezes que ventaval levou o ninho, não se perdendo deles mesmos, a cada tremor de cotidianos que possa abalar a esperança.

Gire seu Dial e Sintonize-se nas Estações da Vida (Autor Ricardo de Faria Barros)

Acordo pensando na tarde anterior, na qual nossa família que chegou à Recife, para o casamento d e meu filho Tiago com a Carol, curtiu um fim de tarde daqueles “pés na areia”, bem rejuvenescedor, registrado numa das fotos desta crônica.
Como é bom cultivar famílias.
Precisamos aproveitar outros ajuntamentos familiares, ou criá-los, para além dos enterros.
Chamo a isto de celebrar o nada. Como o fato de todos terem chegado bem à Recife, no dia anterior ao casório.
Degusto estas lembranças enquanto pego uma barraca de praia: guarda-sol gigante, cadeiras, mesinha, papai e JG, e paz, muita paz.
O trecho da praia de Boa Viagem já está apinhado de banhistas, que querem aproveitar o feriado ao máximo. Certo eles.
À minha frente, passa uma senhora com uma panela de caranguejos na cabeça, vendidos na beira-mar, numa espécie de delivery tupiniquim. Alguns estão com as patas de fora, gerando desejos salivantes nos banhistas, entre eles eu.
A fisionomia da vendedora está cansada, não é mole caminhar com algo na cabeça, sob sol escaldante e areia fofa.
Comprei-lhes alguns, para deliciar-me deles com o JG, mesmo sem prato e martelinho, nós comemos foi com os dentes mesmo, numa arte milenar de quebrar ossos para deles tirar a sustança do viver. E essa carninha de caranguejo é uma das maravilhas de Deus.
A senhora segue mais feliz, e até sorriu com as presepadas do JG, pegando receoso os caranguejos com medo de estarem vivos.

Na barraca ao lado vai chegando família grande.
Eles estão com roupas sociais, todos becados, parecem que vão a algum evento. São em dez: Três crianças (um menino e duas mocinhas), 5 jovens (dois rapazes e três jovens) e o patriarca e a matriarca, presumo.
Contemplo-lhes olhando o mar. As crianças correm até perto das ondas e voltam assustadas e risonhas. Para logo em seguida retornarem à farra das idas e vindas das ondas que chegam e voltam.
O menino molha a bermuda e leva um cocorote. Mas, logo pai amoroso volta atrás, tira-lhe a bermuda e o deixa tomar banho de cuequinha.
Uma das senhoras enche uma garrafinha de água mineral com a água do mar e um pouco da areia.  Vai levar de recordação, com certeza!
Ela terá um tesouro em casa. Que ainda não tenho. Uauu! Meus olhos acostumaram-se com aquilo. Os dela não, ainda sao virgens ao assombro do acontecer.
Próxima vez trarei uma.
Os outros da família miram o mar, sem tempo para selfs.
Estão boquiabertos, com expressão de admiração. Depois fiquei sabendo, pelo patriarca, que só os mais velhos conheciam o mar.
JG aproxima-se deles para brincar.
Crianças são brincantes, e logo fazem amizade, não têm as tralhas emocionais e traumas dos adultos, cheios de reservas e desconfiança social.
Vendo a alegria deles, rolando na areia molhada, pensei em como é bom brincar.
As meninas, duas irmãs, vestidas com longos vestidos verdes, olhavam desejosas. Mas, de calcinha num pode. Diz as convenções.
Elas vestem vestidos da mesma cor e modelagem, e não estão nem aí. Daqueles de metro de tecido que aproveitamos, nas coisas simples da vida do interior, e com ele vestimos toda a família.
O chefe do clã tenta tirar uma self, mas num cabe todos, afinal são dez e a areia está muito fofa para pose melhor.
Vejo o aperreio dele e me ofereço para documentá-los, mandando as fotos em seguida pelo zap.
Fiz amizade com ele, chama-se Gelson. Descobri que vieram a um encontro de pastores e que moram no interior, do interior, do interior, do Maranhão, em São Domingos do Maranhão, 430 km de São Luís. Fiquei uma boa hora admirando aquela alegria genuína do clã do Gelson, inclusive a dele. Alegria dos simples, com as coisas boas da vida, cujo olha ainda permite vê-las.
As mulheres brigam com o vento nos cabelos, e riem com gosto, lá se foi o penteado, mas não se importam, não querem perder o momento único.
Então é hora deles partirem. E, cada um deles, como á moda antiga, passa pela nossa barraca, cumprimentam-nos e seguem, deixando-nos melhores naquela manhã.

Cem metros ao meu lado, observo movimentação estranha na praia de Boa Viagem, e não é tubarão chegando. (SIC!)
São grandes cadeiras amarelas que descem em direção ao mar, alegremente pilotadas por voluntários com camisa da mesma cor.
Aproximo-me e vejo uma das cenas mais lindas de minha vida. São cadeirantes que nela estão sentados, que são levados pelos voluntários da UNINASSAU, um projeto social em parceria com o Estado e a Prefeitura, para tomarem um belo banho, e em total segurança, protegidos pelos arrecifes, dos tubarões. E, por dispostos voluntários, segurando suas cadeiras, de algumas ondas mais rebeldes.
A alegria do grupo é contagiante. São umas seis cadeiras que estão na água. Cada um tem muitas histórias de superação pra contar, e sinto que estarem ali é algo muito especial naquele dia.
Sr. Josué é um deles. E só alegria e paz. JG pede pra ajudar a segurar a cadeira dele, numa das alças. Aí é só festa, babei com o gesto do pequeno JG.
Sr. Josué perdeu os movimentos das pernas após um severo AVC que teve, e, desde a criação do projeto, há seis anos, é um dos usuários mais entusiasmados do banho de mar aos finais de semana.

Volto pra minha barraca, e papai aponta para um pai enchendo a piscina do filho, baldinho a baldinho. Certamente não pode alugar aquelas que passam oferecendo, a 20,00 reais o dia, e cheia.
Mas, baldinho a baldinho, ele faz a sua, e demonstra tanto amor por aquele filhote, que ver aquela cena restaura vidas cansadas.
Perto de nós, um cheiro de frango assado invade os olfatos, aguçando nossa fome. Uma quentinha está sendo servida, e a garotada faz a festa com direito a boca melada de farinha.
Na praia, perto do mar, o Gordo da Salada arenga com o Zé da Geladinha, adivinhem o que discutiam?
Vou salvar o dia deles, encomendando algo pra o JG que ele nunca comera. E a discussão deles se encerra, então despedem-se, não sem antes alguns descontraídos xingamentos do 13 x 17.
E lá vai o Gordo da Salada seguindo o caminho. Adorei o marketing da camiseta dele.
Agora, o Severino do Gelada prepara duas pra nós, uma de coco para mim e uma de morango, para o JG, delícia.
Ao nosso lado, um jovenzinho brinca de cambalhotar na areia, um verdadeiro às olímpico.
JG quer imitá-lo, mas é admoestado para priorizar a gelada. Foco JG!
Terminando a gelada, ele corre pra bater bola com os meninos próximos.
Um deles, filho do dono do guarda-sol, é um amor de criança. Tadinho, após a lida de ajudar seu pai com as cadeiras e guarda-sóis, agora quer brincar. Criança é pra brincar.
Passa picolé, e ofereço uma rodada a todos.
De longe, observo que ele deixa o dele cair na areia. Mas, ele não é de desanimar. Pega o que restou, corre pra banhar com água, e senta-se para terminá-lo, junto aos demais meninos, que sorriem numa algazarra das boas.
Telefone toca e é a amada. Quer saber das novidades, interessa-se, mostra admiração, cuidado com meus filhos, e em especial com o JG (olhe o filtro solar, não deixe ele ir fundo, têm tubarões, dê água pra ele, cuidado pra ele não se perder...” Coisas que diz só quem ama)
Então, devagarinho, faço-lhe o relato acima, que não seria justo deixar só com ela.
Afinal, em tempos que se prega e se vende tanto ódio, de tudo e de todos, poder ver o que vi faz uma renovação toda especial nos tecidos da alma.
Há tanta coisa boa na Humanidade. E, para cada 10 razões para nela não mais acreditar, ainda existirão outras 1.000 que nos provarão, todos os dias, o contrário.
É só ajustar o dial do Ser para se sintonizar nas boas estações da vida e do viver.
Pense nisso!
Cure-se a si mesmo, nestes tempos de tanta pequenez social.

Cartas ao JG – Não Renegue teus Outonos (Autor Ricardo de Faria Barros)


Nesta tarde, após te pegar no colégio, você vinha eufórico para casa de teu pai. Acabara de fazer as provas de Ciências e História, que estavam reservadas para aquela quarta feira.
Você me diz que gosta destas disciplinas. Falou-me que uma das perguntas era sobre as quatro estações do ano: Outono, Verão, Inverno e Primavera.
Disse-me que aprendeu que o Outono é a mais “triste” das estações. E que ele, o Outono, deixa tudo sem cores, sem folhas, fazendo um monte de sujeira nas cidades.
Engoli em seco, olhei-te com olhos de compaixão, de misericórdia, e agora vou te ensinar o que é o Outono. Quando tiveres idade para entender esta carta compreenderá.
Sabe filho, eu sinto pelo preconceito que tiveram sobre o Outono. De fato, ele não tem as flores da primavera, nem os frutos do verão, nem os tentos brotinhos que nascem no inverno.
Mas, sem ele não haveria crescimento algum das plantinhas. A natureza precisa do Outono, como nós humanos precisamos de momentos de recolhimento, de reflexão e busca de um maior autoconhecimento.
No outono as árvores entram no modo esperança. Neste modo, elas largam fora tudo aquilo que está sugando sua essência, pois a pouca água que ainda existe no solo, deverá ser priorizada para mantê-la viva, por dentro do tronco e galhos, em fletes de seiva salvadores.
Então elas se despedem das folhas, dos frutos, das flores, para poder sobreviver.
Se ela não fizer isto, já no outono, preparando-se antecipadamente, quando chegar a próxima estação, ela não aguentará passar por ele.
Ela precisa perder para poder crescer. E, filho meu, crescer além de ser muito arriscoso, dói.
Quantas das vezes em teu viver tu terás que abrir mão de coisas, para manter tua essência viva?
Quantas tralhas tu vais carregando, sugando teu melhor existir, que em algum momento tu vai ter que tomar a coragem de delas se livrar. Para poder cuidar de ti, e atravessar dias mais áridos.

Filho, sabe qual é o sentido em Latim da palavra Outono?
- Aumento ou crescimento;
- Acrescentar ou fortalecer

Não é bacana? Então filho meu, inspire-se no Outono para crescer e para se fortalecer.
As folhas de teu viver que deixará cair, por já estarem secas, sem flores e frutos, já cumpriram seu papel em tua vida, e hora de deixá-las partir.
Tem gente que quer carregar tudo pela vida, e a mala existencial fica pesada. Carrega pessoas que lhes fazem mal, carrega emoções negativas: inveja, mágoa, ressentimentos e ódio. Carrega a falta de perdão, de recomeços, carrega o pessimismo de si mesma, do outro e da vida.
Carrega um monte de “Se” que são as culpas encardidas: Se eu tivesse feito Isto..., Ou Aquilo
Ou carrega um outro monte de “Quando”: Quando acontecer Isto...ou Aquilo...
Têm pessoas que queimam as Estações do Viver. Não querem passar pelo Outono. Não querem se esvaziar de suas certezas e dogmas sagrados, de seu estilo de vida sufocante, de sua postura escravizante sobre os outros. Ou de vidas de aparências, ou manipuladas pelos outros.
É desafiador ser Outono.
No Outono não temos nada que chame a atenção e que nos faça receber migalhas de afeto ou reconhecimento.
Nunca vi pessoas encherem suas redes sociais com fotos de árvores sem flores, folhas ou frutos.
O Outono não desperta a estética do olhar.
Todo mundo só quer ser Verão, com seus dias brilhantes. Ou Primavera, com seu florescer vibrante. Ou Inverno, com a abundância da natureza em doação: em sementes, frutos e legumes.
E Outono, aos olhos pouco avisados, só é estação de Perda. Perda das flores e folhas.
Mas, sem ele não haverá crescimento, nem fortalecimento.
Sabe filho, as vidas editadas das redes sociais não mostram seus Outonos.
Então, ficamos pensando que só se vive sorrindo, viajando, sendo promovido, em lua de mel, ou naquele show ou local digno de um cartão postal.
Mas, muitas dessas pessoas só estão usufruindo de uma vida que realmente faça-lhes sentido porque passaram pela etapa da muda.
Aceitaram e acolheram a dor da perda, deixaram ir o que não lhes fazia mais sentido.
E, despedidas de si mesmas, sem nada que causasse aração: beleza exterior, fama, poder, dinheiro, elas descobriram-se a si mesmas, e quem de fato gosta delas, em sua essência.
Quem já passou por períodos de luto, por crises na saúde, por aperreios sabe do que falo.
Eu amo as árvores de galhos e troncos desnudos, amo o Outono com suas folhas secas.
Aqui no Cerrado, do Distrito Federal do Brasil, elas são aulas vivas de esperança.
Os desavisados pensam que estão mortas. Tolinhos
Elas estão vivinhas por dentro. Só estão recolhidas, aprendendo com a natureza dos dias, buscando forças para manter a seiva interior, até que um tempo melhor lhes apareçam.
Pois, são nos Outonos, nos desertos dos Outonos, que podemos ter o privilégio de nos ouvir a nós mesmos, como em nenhuma outra estação existencial do Ser.
Filho meu, não tema perder suas folhas secas. Não tema períodos de reflexão, de introversão, períodos de silêncio e sofrimento existencial, daqueles que angustiam o peito.
Nesta sociedade consumista e narcisista, além de extremamente individualista, só aparece na mídia as pessoas realizadas, alegres, bonitas e de sucesso. E, e em selfs de cenas variadas de si mesma.
Então, por isso o Outono incomoda.
Pois parece que passar dias mais triste é uma doença. Não é filho meu!
Você precisará de dias assim para crescer, para amadurecer, para se fortalecer e fazer escolhas. E, não há escolhas sem renúncias. E, para cada renúncia uma folha seca que deixa que ela siga o caminho.
Só não ache que será para sempre. Um belo dia, de teus troncos secos, dos galhos sem vida, um brotinho nascerá, e um novo ciclo começará.
Aí tu se sentirás mais forte, mais belo, mais humano e valoroso, pois enfrentou a angústia de si mesmo, em noites de insônia e vazio.
Lembre-se sempre:
“É no Outono que a gente descobre que tem muita vida dentro da gente”, como diz a Brisa Azul.

Competências Essenciais ao Mundo do Trabalho do Séc XXI (Autor Ricardo de Faria Barros)

Recentemente fui convidado para falar sobre as competências essenciais às carreiras profissionais, em ambiente de incerteza e intensa mudança do mundo do trabalho. As descrevo abaixo:

1. Solucionar problemas locais. Visão de dono no processo em que atua. 

2. Aromatizar de ambientes. Postura de catalizador de emoções positivas no ambiente de trabalho, cada vez mais tenso, estressante e insalubre, emocionalmente falando.

3. Navegar no waze corporativo. Orientar pessoas, processos e serviços em função da navegação pelo mapa estratégico. Contudo, tendo capacidade de alterar rotas, redefinir prioridades, cursos e canais de ação, quando mudarem-se cenários, ou contextos de atuação.

4. Operar e fuçar nas tecnologias digitais. Saber aproveitar as potencialidades da tecnologia da informação e comunicação. 

5. Disseminar Conhecimentos Gourmets.  (Ser promotor de processos de ensino e aprendizagem saborosos, significativos, feitos com o melhor de si mesmo, o melhor que consiga de recursos, com muito zelo e cuidado, e com foco no aprendente)

6. Engajar pensamento e ação com foco na experiencia do cliente. Estar sensível, aberto e com as lentes perceptivas aguçadas para melhorar a experiência do cliente.

7. Inovar para fora da caixa da tradição. E porque não?


8. Pensar global, agir local. Pensar local, agir global.

9. Desenvolver capital psicológico positivo: esperança, otimismo, resiliência e auto-eficácia.

10. Cultivar parcerias: internas e externas.

Não Desanime! (Autor Ricardo de Faria Barros)


Seja debaixo de sol inclemente,
do medo quando infelizmente preciso abrir a janela para molhar sequiosas plantinhas, ou dar água aos beija flores, seja no vento forte, como o que ontem virou o jarro de orquídea,
ou no frio que assolou esta madrugada, esta mãe-ave não desiste de gerar uma vida.

Acordar todos os dias ao lado desta lição da natureza tem elevado e inspirado meu viver.

Andamos precisando deste otimismo, resiliência e esperança no manejo de nossos sonhos, projetos, metas e objetivos mais nobres.

Não podemos desistir de nós mesmos, dos outros e de parir tempos melhores, com nossa presença e atuação na realidade na qual vivemos.

Tem muito potencial humano, em forma de pessoas, esperando pela nossa ação e liderança para se desenvolverem e eclodirem no seu melhor existir.

Obrigado Pomba Burguesa, pela lição de tenacidade ativa.

Crônicas Anteriores