Cadê Seu Jonas? (Autor Ricardo de Faria Barros)


"Cadê Seu Jonas?", perguntou o jovem Lucas de 13 anos. Sua mãe, a Paula, respondeu que não sabia.
Lucas insistiu com a mãe para que ela descobrisse o paradeiro dele, que há um mês não mais tinha ido vender pipocas na calçada da escola.
A mãe, valendo-se de seus contatos como Agente de saúde do bairro da Liberdade, no qual funciona a escola Petrônio Figueiredo, em Campina Grande-PB, acabou localizando o pipoqueiro, sentado numa praça, com olhos perdidos ao horizonte.
Aproximando-se dele, ela descobriu o porquê daquele semblante tristonho. Seu carrinho de pipoca quebrou, após 20 anos de uso, e sempre na calçada daquela escola.
Ele não tinha recursos para comprar um novo. Embora já tivesse batido à porta de muita gente, solicitando ajuda, todo mundo alegava aperto financeiro e negava-lhe qualquer contribuição.
Paula informou ao pequeno Lucas o que ocorrera. A partir daí o Lucas mobilizou toda a escola para fazer uma vaquinha e amealhar R$ 1.000,00 o valor de uma pipoqueira novinha em folha, a qual seria presenteada em festa surpresa para Sr. Jonas.
Pronto, o que se viu a partir daí foi um mutirão de solidariedade que mobilizou crianças dos 10 aos 15 anos, daquele pequeno educandário, a quebraram seus "miaeiros", passarem um sacolinha de coleta junto aos seus pais e comunidade acadêmica, até conseguirem a quantia.
A força da liderança do Lucas era tão grande, que já no primeiro dia, ele e os coleguinhas, amealharam quase 20% da meta.
Depois daquele dia, toda a comunidade escolar embarcou na proposta e fizeram do momento que viviam uma verdadeira aula de inclusão social pelo trabalho, de cidadania, de respeito e apoio, se falar na consideração aos mais simples que nos servem.
Precisamos de mais Lucas, e em todo lugar. Lucas chamou o pipoqueiro pelo nome: Sr. Jonas.
Não era um pipoqueiro, era uma pessoa, tinha identidade própria: Jonas.
Lucas sentiu falta dele, só sente falta de alguém, ou de algo, quem o reconhece - e para além dos olhos opacos da indiferença, tão comuns à rotina de dias ansiosos, agressivos e sem tempo nos quais vivemos.
Para reconhecer a falta de alguém é preciso considerar esta pessoa, valorizá-la, tê-la como importante, e Lucas assim o fez, ao expressar sua angustiante e inquieta pergunta: "Mãe, cadê Sr. Jonas?"
Lucas foi líder. Liderança não é algo atribuído a um cargo, idade ou um dom de poucos. Liderança é fazer acontecer novas realidades, a partir de nosso próprio lugar e agir no mundo e na vida de pessoas.
Sem o grito por Sr. Jonas, que mobilizou sua mãe à sua cata, ainda hoje aquele senhor estaria sentado na pracinha, próximo à escola, tendo como certo o seu destino de parar sua atividade, por não ter renda, nem poupança suficiente, para o investimento necessário ao seu reestabelecimento.
Lucas prestou atenção ao ambiente no qual estava inserido. Notou mudanças. Não gostou do que viu. E foi atrás, buscar realizar o futuro que almejava.
Não se conformou com a informação que recebeu da mãe. E ele poderia.
Não disse que aquilo não era com ele. E ele poderia.
Não reclamou do alto valor que precisaria juntar, para uma criança de dez anos. E ele poderia ter reclamado.
Simplesmente acreditou que seria possível, retornar o Sr. Jonas ao posto de trabalho.
A partir daí, ativou a força nele o capital psicológico positivo formado pela: esperança, resiliência, otimismo e auto-eficácia, que impulsionou sua liderança positiva em busca daquele sonho.
Lucas esteve presente à maravilha do viver.
Quantos mais sentiram a ausência do Sr. Jonas? Aposto que não muitos.
Mas, Lucas fez a diferença. Ele prestou atenção, e ao notar algo estranho, com a sua liderança alterou destinos, realidades e pessoas.
Uma simples pergunta foi suficiente para ativar a ação que movera o carrossel do destino: "Cadê o Sr. Jonas, o pipoqueiro?"
Eu acredito que em nosso Brasil existam muitos Lucas, pessoas com sentido na vida e propósito, que tornam o mundo um lugar melhor do que achou, só com sua liderança, deixando legados positivos por onde passam. Acredito também nas coisas abaixo:
  • Acredito que para cada dez "Malas Sem Alças do Mal" que existem soltas por aí, acredito que outras cem pessoas boas também operam nesta mesma realidade.
  • Acredito que para cada dez pessoas que pregam o ódio, existem cem Lucas que pregam o amor.
  • Acredito que para dez pessoas que se fecham no egoísmo, existam outras cem que se abrem em doação de tempo e recursos aos mais necessitados.
  • Acredito que para cada dez desavenças e conflitos entre pessoas, existam outros cem pedidos de perdão e recomeço.
  • Acredito que para cada dez pessoa que não lideram nem a si mesmo, existam outras cem pessoas que alteram suas próprias vidas, destinos e transformam vidas de quem a elas se aprochega, e pra melhor. 
  • Acredito que para cada dez gerentes truculentos, existam outros cem gestores formadores, compreensivos e humanos.
  • Acredito que para cada dez pregadores de Deus que não pratica o que falam, existam outros cem que o fazem.
  • Acredito que para cada dez pessoas violentas, existam cem pessoas pacíficas.
  • Acredito que para cada dez pessoas que destroem o ambiente, existam cem pessoas que o protegem.
  • Acredito que para cada dez pessoas preconceituosas, existam cem pessoas que respeitam a diversidade.
  • Acredito que para cada dez profissionais desmotivados na sua vocação de servir, existam outros cem que fazem de seu trabalho serviço.
  • Acredito que para cada dez lágrimas de dor choradas sozinha, existam outras cem amparadas por lenços humanos, ofertados por pessoas mansas e boas que à pessoa sofrida se juntou naquele momento.
  • Acredito que para cada dez pessoas ingratas, existam outras cem gratas.  
  • Acredito que para cada dez pessoas sem ética e injustas, existam outras cem pessoas éticas e justas.
  • Acredito que para cada dez pessoas desumanizadas, existam outras cem humanizadas.
  • Acredito que para cada dez pessoas que não se importam contigo, existam outras cem que se importam.
Sabe por que acredito? Porque existia um Lucas que nem eu nem tu sabia do gesto dele, até alguém encontrar espaço na pauta da mídia, de natureza extremamente ruim e negativa, e divulgá-lo. 
Com certeza muitas outras ações deste tipo por aí. Mas, que recebem o devido destaque nas capas de revistas, sites e jornais.

O convite que Lucas nos faz é para que em cada situação na vida, achemos um sentido e um propósito na mesma. Assim, transformaremos ambientes, negócios, pessoas, e a nós mesmos, e para melhor!

Lucas, sem saber que seria impossível, foi lá e fez. Porque se deixou conduzir pela força do Sentido-Propósito.

E, nos inspira a fazer o mesmo, em várias situações que vivemos no mundo do trabalho, da família e da sociedade como um todo. 

Você pode ver o vídeo da entrega da pipoqueira, clicando nesta matéria abaixo: 

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