Saudade, é arrumar o quarto de quem partiu!



Quando terminei a aula a distancia, pelo meio dia, escutei um barulho vindo do quarto de papai e para lá me conduzi.
Vi que minha irmã, mãe, filha e a Guia "derrubaram" o guarda-roupa de papai no chão e estavam selecionando e classificando os seus pertences para doação. 
Montanhas de camisas sociais que ele nunca usou. Papai gostava mesmo era de uma camisa do BB que dei pra ele, e que tinha a expressão ECOA (Equipes de Comunicação e Autodesenvolvimento). 
Calças bonitas, que ainda tinha cheiro de carro zero, pois que ele se afeiçoava com bermudas mais confortáveis. 
Um monte de celulares que ao longo da  vida fomos dando para ele. E que os guardava com carinho, mas sem usá-los. Ele gostava mesmo era de um bem velhinho. Daqueles que se o ladrão roubar de nós, vamos levar um cascudo, porque é muito antigo e não tem câmera, nem outros recursos mais sofisticados. 
Papai era da face, e não do Face.
No maleiro, ele guardava seus tesouros. Era lugar sagrado, só ele mexia.
Em cada um deles, há papai.
Todos as lembranças de nossas conquistas ali estavam guardadas, tal qual relíquias. Aquela caneca da formatura do Rodrigo. Aquelas fotos dos netos. Ou a aquela primeira agenda que Tiago recebeu de onde trabalha, na CEF.
As caixinhas de ferramentas estavam todas lá. Daquelas que damos nos dias dos pais. Estojos multivariados, com um infinidades de chavinhas. Todas ali, guardadas qual joias raras. 
Ferramentas, montadas naqueles estojos, é a cara de papai.
Sapatos quase nenhum. 
Todos se perguntavam onde estavam. E sorríamos, um sorrir de saudades e elevo na alma, pois sabíamos que ele os doava. 
Papai era das sandálias havaianas. Não era homem de guardar sapatos. 
Mais ao fundo do baú, muitos convites pra nossos bons momentos: batizados, formaturas, casamentos.
Que tesouro! Confesso-lhes que muitos de nós não tem mais aquelas memórias, por ele guardadas com tanto esmero.
Meu tesouro foi o relógio de pulso de papai, tão ele. 
Minha irmã pergunta de uma bela mala de ferramentas, daquelas estilosas. Ele a ganhou no dia dos pais, deste ano. Lembro-me dele, ainda consciente, abraçado com ela e saboreando cada uma das mais de cem peças que ali continha. 
E por vários dias. 
A levarei para o meu filho, o Resolvedor de Problemas, o Rodrigo. Ferramentas combinam com ele.  
Aos poucos, as meninas foram organizando as doações, de modo que todos puderam ficar com algo que lembrasse papai. Ou, que ainda tivesse muita serventia.
Até um notebook achamos, e que vai ficar com a Guia. Para ajudar nas tarefas de seu sobrinho, e nas postagens das vitórias da Raposa (Campinense). Time que ela tanto gosta. 
Acho que papai deu boas risadas lá do céu, vendo nossos comentários com as coisas que ele se apegou e guardou em lugar nobre de seu guarda-roupa. Ou, as que nunca usou, por não combinarem com seu etilo de vida, como as rupas sociais e seus adereços.
Aos poucos, uma sensação de vazio foi nos tomando. Como se agora fosse verdade mesmo.
Afinal, quem teria coragem de mexer em suas coisas antes?
Carreguei o carro com três malas e me dirigi pra casa de Tio Naldo.
Ali chegando, nos abraçamos e choramos mais uma vez.
Tio Naldo olhava para cada item com ternura, sem cobiça. Coube a ele receber boa parte das roupas novas.
Mais o que ele gostou mesmo foram dos DVDs e CDs de papai. Guardados numa caixa de papelão.
Verdadeiras relíquias musicais. 
Acho que conheci um pouco mais de meu pai pelo que ele guardou. 
Arrumar o quarto do amado que partiu é entrar no templo da saudade, e ali fazer seus ritos de fechamento de ciclos.
É preciso e necessário passar por este momento. 
Enquanto digito este texto, pelas seis da manhã, escuto mamãe me chamar. Ela tem exames médicos cedinho, quer que eu a leve na clínica. Sendo isto, para ela, mais uma prova de que a vida continua, aos que por aqui pelejam.
No trajeto, ela me mostra a aliança de papai, que dará para minha irmã. Uma aliança com sessenta anos de história.
Na volta da sala dos exames, mamãe me conta que quase não dormiu ontem, embalada por lágrimas.
Respiro fundo e digo que é direito dela, chorar. Para que ela não apresse o rio do sofrer. Ele tem seu próprio fluir e tempo.
Ligo o carro, para voltarmos, e percebo que estacionei ao lado de Craibeira - toda vestida de amarelo, que nos saúda. É uma árvore irmã gêmea do ipê que talvez esteja nos dizendo que após a arrumação do quarto físico, agora chega o tempo de começar a arrumar o quarto interior. Que ficou todo desmantelado. Uma arrumação geral, peça à peça, emocionalmente falando. E, dia à dia.
Sem temer se conectar com a saudade e as boas lembranças, além de espantar esvoaçantes culpas, que vez por outros teimam em querer pousar nos galhos do coração.

Que Mundo do Trabalho Queremos para Nós? (Por Ricardo de Faria Barros)


Recentemente a Ânimo Desenvolvimento Humano, na pessoa de seu proprietário, o Ricardo de Faria Barros, procedeu à uma sondagem, frente a um significativo grupo de trabalhadores ligados à gestão pública e privada sobre um conjunto de situações que geram um desgaste emocional para a saúde do trabalhador quais sejam:
1. Conviver num ambiente com o clima pesado, pessoas tóxicas.
2. Passar por situações que beiravam o assédio moral, ou sexual.
3. Viver relações conflituosas, tensas e sem soluções negociais a curto prazo.
4. Perceber que não foi reconhecido, ou valorizado, no trabalho.
5. Ser objeto e vítima de mentiras, fofocas ou boatos.
6. Sentir-se desconsiderado nas propostas que apresentou.
7. Sentir-se invisível, ou perceber a indiferença de alguém para tuas necessidades.
8. Não receber cooperação dos colegas, ou capacitação adequada para o trabalho.
9. Desrespeito com a jornada. Sensação de exaustão permanente.
10. Sentir preconceito, desrespeito, ou falta de empatia.
11. Trabalhar com pessoas com comunicação confusa, ou violenta.
12. Trabalhar com líderes com pouca inteligência emocional.
Esta lista de situações poderia ser diferente, a partir do referencial teórico das relações socioprofissionais, ou do modelo estrutural de qualidade de vida no trabalho escolhido.
Nesta enquete, e na construção dos itens acima, optou-se pela categorização de relatos de estranhamento laboral, desconforto, ou sofrimento, coletados em Comunidades de Trabalhadores, ancoradas em Redes Sociais, em apanhados em Fóruns de Gestão de Pessoas, e na escuta ativa do pesquisador, no âmbito de sua carreira profissional.
Deliberadamente, corremos algum risco de indução na construção dos itens (presente em qualquer tipo de enquete), ou de exclusão de elementos importantes, sendo de qualquer forma um olhar instigante sobre temas importantes para encaminhamento nas ações de desenvolvimento humano e profissional.
Na primeira enquete, conforme a figura que ilustra esta reflexão, o foco foi na vivência da situação. Ancorado na afirmação imperativa: “Já passei”. Os mais votados foram:
Conviver num ambiente com o clima pesado, pessoas tóxicas
Impacto na Dinâmica Laboral – Degradação do Ambiente Laboral
De fato, quem já trabalhou num ambiente de clima pesado sabe o quanto vamos adoecendo, dia a dia. E não dá a mínima vontade de ir trabalhar. Cai a inovação, cai a produtividade e as relações ficam pautadas num clima de desconfiança e pouca colaboração social. É o famoso “Em rio que tem jacaré, peixe nada de costas...” É, mas nadar de costas por um longo tempo, não só cansa, como cega qualquer perspectiva de horizonte.
Cuidar do clima repercute na saúde ocupacional, na excelência do atendimento e na geração de valor pelas entregas de resultados.
Salta aos olhos ser, das doze situações, a mais comum nos ambientes de trabalho. Não sek razão, muitas pessoas sofrem da Neurose do Domingo, pelas 22h, ao lembrarem-se que no outro dia irão trabalhar naquele inferno.

Perceber que não foi reconhecido, ou valorizado, no trabalho.
Impacto na Dinâmica Laboral – Desvalorização Profissional
Temos necessidades de sermos reconhecidos. Isto nos legitima, cria pertencimento e, como efeito colateral, nos mobiliza-engaja para novos desafios. Mas, vive-se tempos muito pobres de reconhecimento. Como os líderes não são reconhecidos, pelos seus segmentos superiores, acaba-se por reproduzirem este comportamento com seus liderados. Criando um jogo de soma zero, no qual todos perdem. Várias pesquisas apontam que das emoções positivas a que menos vem se expressando é a gratidão. Na Sociedade do Cansaço, na Sociedade do Eu Que Mereço, e Na Sociedade Narcisista que vivemos, parar e prestar atenção a quem nos ajuda, a quem nos abre portas, a quem se doa é quase uma utopia. Ainda escuto gestores dizendo, mas ele é pago para isso. Sim, minha diarista é paga para limpar o apartamento. Mas, quando entro na cozinha e percebo que ela deixou aquilo lá um brinco, eu sinto e expresso gratidão por ela ter vindo, e ter feito um excelente serviço. Eu a reconheço. Inclusive, por arrumar melhor e de forma mais funcional os objetos da cozinha, indo além de só colocar nos lugares que achou, por mim colocados.

Conviver com pessoas com comunicação confusa, ou violenta.
Impacto na Dinâmica Laboral – Redes de Conversas Incapacitantes
Têm muitas pessoas que praticam um diálogo do tipo Tênis de Mesa, no lugar de jogar Frescobol. Nada contra o Tênis de Mesa. Entendam a metáfora. É que a pessoa não quer arredondar a bola das palavras, gestos e linguagem para o outro. Não quer se esforçar para manter a bola no ar e circulando, a bola da comunicação. São diálogos frios, confusos, ambíguos, e sem o calor, clareza e objetividade, que o mundo do trabalho exige.
Tem gente que quando conversa quer sempre ter a razão. São pessoas que cultivam uma visão de mundo muito fechada, com extremismos de verdades, quase que sagradas. É uma conversa truculenta, arrogante, que adora se colocar como melhor e maior.
Conviver com pessoas assim faz um mal danado. E o pior é que não podemos ir morar numa ilha; e o pior ainda é quando esta pessoa é teu gestor. Aí o bicho pega.
Se não podemos mudar esta situação, podemos mudar a nós mesmos, criando couraças para não adoecer, por tantos torpedos de palavras que recebe. Tenta olhar a situação com ironia, ou humor-sarcástico, tirar o personalismo dela, afinal não é só contigo que a pessoa é bruta, podem ser válvulas de escape para sobreviver a esta pessoa de comunicação violenta. Mas, não é nada fácil. E isto consome muita energia emocional. Ao final do dia a pessoa está exausta, de tanta patada que levou. Perde o negócio, perdem os clientes, perde o sentido do trabalho e perde-se em saúde, deixar ocorrer este tipo de dinâmica laboral.

Trabalhar com líderes com pouca inteligência emocional.
Impacto na Dinâmica Laboral – Analfabetismo Emocional Gerencial
Sim pessoal, as emoções são como um alfabeto que tem seus dialetos, suas linguagens, seus afetos escondidos e suas dimensões intangíveis, e subjetivas. Fazer uma gestão das emoções de maneira mais eficaz, e produtiva, causa um bem enorme a todo ecossistema laboral. Mas, poucos investem nisso. Pois que exige criar um espaço de escuta do grupo, de autoconhecimento, de busca por outras disciplinas para evolução pessoal e profissional, além das técnicas. E, como são as técnicas que muitas vezes o promovem, a pessoa acha que as socioemocionais não são necessárias. E, botam o grupo a perder. Líderes analfabetos, emocionalmente falando, inviabilizam o crescimento da equipe, e não conseguem gerir times de alto-desempenho, para os quais exige-se sensibilidade, a humanização do cuidar, a criação de vínculos e a coragem de mudar. Um líder sem inteligência emocional não vai saber conduzir o grupo pelos mares tão caóticos, complexos, velozes, incertos e perigosos do mundo do trabalho e dos negócios a ele afeto.

Na segunda enquete, conforme a figura que ilustra esta reflexão, o foco foi projetivo, ancorado na afirmação imperativa: “Não Gostaria de Passar!”
Tendo sido os mais votados os itens:
 Conviver num ambiente com o clima pesado, pessoas tóxicas.
 Passar por situações que beiravam o assédio moral, ou sexual.
 Sentir preconceito, desrespeito, ou falta de empatia.
 Trabalhar com líderes com pouca inteligência emocional.
Farei o destaque dos mais votados, diferentes da enquete anterior, e que já foram explorados.

Passar por situações que beiravam o assédio moral, ou sexual.
Desdobramentos nas Relações de Poder - Assédio
Engraçado que para o assediador ele nunca está assediando. Já perceberam este discurso? Para ele, é o jeito dele, é a forma que ele é... Ou, é mentira/besteira do outro. Alguns até dizem que é assim mesmo, que se usar o “chicote” o grupo não produz. Tolinhos, sabem nada sobre equipes de alto-desempenho!
Quem já se sentiu assediado sabe o quanto isto destrói a pessoa. Assediadores precisam de ações coercitivas consistentes e eficazes. Não podem ser ignorados. E, suas vítimas, não podem ser desconsideradas, ou tidas como não-resilientes. Não se deve romantizar quem passa anos sendo assediado e sobrevive. O custo desta sobrevivência pode gerar sequelas pela vida afora.

Sentir preconceito, desrespeito, ou falta de empatia.
Desdobramentos nas Relações Sociais – Preconceito
Se existe algo fora de moda é o preconceito. Contudo, nos parece que é mais comum do que se divulga. E ele ocorre de todas as maneiras. Desde a orientação sexual, à idade, ou sotaque, credo religioso ou cor de pele. Não importa. Aos olhos de muitos, a vítima de preconceito está com mimimi. Aos olhos desta pessoa, ela sabe muito bem o que sente com a situação que viveu, e como ela é ultrajante. Toda forma de preconceito é aniquiladora, e inibe o desenvolvimento do potencial humano, criando barreiras à evolução da condição humana e civilidade.
Vamos combinar uma coisa, o lugar da fala de quem se sente vítima de desrespeito, preconceito é desta pessoa. A partir da construção de seus símbolos culturais e de sua percepção. Não é frescura uma mulher dizer que num processo seletivo sentiu que foi tolhida, quando respondeu que por ter filhos nem sempre pode extrapolar a jornada. Isto é uma forma de tirar as mulheres da jogada, com perguntas enviesadas, que desconhecem a realidade da sobrecarga feminina. E que estão fora do contexto. Então, se um dia você escutar esta mulher, é do ponto de vista dela que deve avaliar como ela se sente, tá combinado?
Este é o pior viés do preconceito, e é um viés de luta de classes. A história é escrita pelos vencedores. E, eles distorcem os fatos e as falas dos vencidos, de modo a desqualificá-las. Todo preconceito tem em sim mesmo uma verdade sagrada, ou crença limitante, para a pessoa que o pratica. Que molda sua percepção sobre o outro, e que vai buscar nele exatamente o que precisa para justificar o que sobre ele tem como tese. Ou seja, todo preconceito e falta de respeito à diversidade é uma janela que se fecha para o outro, é uma redução de multiplicidade de facetas do mundo, a uma só paleta de cores. A que o preconceituoso usa. O que é de uma pobreza de espírito e falta de respeito sem limites.

A conclusão que ambas as sondagens remetem é a necessidade de abrir este tipo de temática na educação corporativa, e na forma de reconhecimento em processos seletivos, reforçando condutas, atitudes e práticas que mitiguem os riscos destas seis situações de agravo à saúde mental, qualidade de vida e sentido do trabalho, com severos impactos nos negócios, resultados e gestão de processos e pessoas.

Lágrimas Pauliettes (Autor Ricardo de Faria Barros)




Nessa manhã, boa parte do Brasileiros acordou com olheiras, após chorarem as mil lágrimas.
Foram lágrimas de mel e de fel. Lágrimas Juliette e lágrimas Paulo Gustavo.

Lágrimas Pauliettes.

Paulo Gustavo, faleceu ontem, ele e a nossa querida personagem a Dona Hermínia, tão bem interpretada por ele.
Já a Juliette, ontem também chegou à final do BBB21, talvez o de maior audiência da história, dado que virou passatempo dos insones-quarentênicos dias. As lágrimas foram pela vitória da Juliette, que cativou o Brasil com seu jeito de ser, e obteve índices inimagináveis de engajamento.
Paulo e Juliette fizeram-nos chorar. E, para um povo que estava banalizando a morte, e mediocrizando a vida, estas mil lágrimas fizeram muito bem ao brasileiro.
Acho que andávamos precisando chorar, nos conectar às emoções mais profundas, seja da dor da perda, seja da alegria da conquista.

O Brasil chorou, e isto é bom.

Juliette e Paulo Gustavo representam o melhor do brasileiro. E, por isso, suas imagens são tão admiradas.
Juliette não se curvou ao preconceito, não deixou de ser quem é, só para agradar e ser aceita. Também não pisou em ninguém, mesmo quando tinha que votar em eliminações, pelas regras do jogo.

Soube acolher os mais fracos, e conviver de igual para igual com os mais fortes. Sem tinha um tempo para uma palavra amiga, para se colocar, e sem ser piegas, nem pregar o que não viveu, ou crer, somente para aparecer bacana nas filmagens.

A pessoa pode até conseguir fazer isto às vezes. Mas, por cem dias, e sob intensa pressão, e 24 horas filmado..., se a pessoa está fingindo ser quem não é, em algum momento vai se denunciar. E, a Juliette não se denunciou. Ela é aquela ali mesma. A casa não a transformou.

Ela é aquela filha amorosa, aquela irmã cuidadosa, aquela amiga pra o que der e vier. E aquela cidadã que tem consciência do outro e de seus direitos.

Ela é aquela que ajuda, sem tirar a autonomia. Que acolhe, sem querer algo em troca. Que consegue ser feliz, criando um mundo interior rico e fecundo, mesmo isolada e sofrendo perseguições.

Ela é aquela que consegue sorrir de si mesma, e que consegue chorar com o outro. De sonhos simples, não nega seu existir a ninguém. E sabe ser luz, sem ser arrogante.

Creio que na Juliette cada um de nós se espelha um pouco. Desde aqueles que precisam fazer virações para sobreviver, aos que o projeto maior é ajudar aos seus familiares.

Paulo Gustavo é daqueles caras que queremos ter ao nosso lado. Um pai exemplar, um marido idem. Uma pessoa do bem, ligada em causas maiores, e que enfrentou o luto da perda dos primeiros filhos, ainda na barriga de aluguel – eles eram gêmeos, com uma coragem e resiliência digna dos mais fortes.

Paulo é aquela pessoa que com o cotidiano faz graça, que nos transporta para a dimensão do humor, que nos faz esquecer, por uns minutos, qualquer drama de nossa Vida Severina, e com ele sorrir das peripécias de sua mãe.

Recentemente, o Paulo Gustavo nos deu a melhor vacina contra o ódio, a intolerância e a maldade, ele nos falou que é o Amor. Só o amor pode sarar, restaurar, reinventar o sentido das coisas, da vida e da gente.

Paulo Gustavo sabia ser grande, sem ser orgulhoso. Sabia ser farol, sem apagar a luz de ninguém. Era o tipo de pessoa que fez o preconceito sobre uniões homoafetivas se dissiparem.

A coisa mais legal do mundo era ver o carinho dele pelo marido, e como se amavam!

Ele nos ensinou que o amor excede, e transmuta.

Nos seus personagens, estavam nós mesmos, nossos amigos e família. Que, ao tão bem interpretá-los, como numa viagem projetiva, todos nós saíamos melhores. Os risos frouxos, azeitavam nossa alma, e nos faziam crescer humanidade.   

Fica uma lacuna imensa, como se cada brasileiro perdesse um parente próximo da família pelo Covid. 

Eu creio no poder libertador de fazer contato com as emoções mais profundas que neste dia 5 de maio de 2021 muitos brasileiros estão fazendo.

Embora díspares, e em extremos opostos, a emoções com a Juliette e com o Paulo Gustavo, nos fazem amarrar o nosso arado a uma estrela. Como diz a canção.

Amarrar o arado a uma estrela é ter a capacidade de sentir, de ter empatia, de sonhar, de se emocionar, de se solidarizar. É acreditar na poesia de cada encontro, despedidas e descobertas.

Milhões de brasileiros amarraram seus arados a duas estrelas, neste dia.

Estrelas que nos lembram que é possível ser gente, mesmo sob estresse e sofrendo influências negativas. É possível não se corromper e continuar pautando-se por valores, mesmo que possa desagradar, o coro afinado dos contentes – com tudo isto aí que se nos coloca como Normal.

Estrelas que também nos lembram que não temos controle sobre o dia do amanhã. Que a vida é frágil. Que não podemos apequenar nosso existir, pois que a morte um dia chegará.

E, ter a consciência da morte, é ter a urgência da vida.

Paulo e Juliette, cada um à sua maneira, nos tornaram melhores nesta manhã. Fizeram com que retornássemos ao nosso lar interior – local onde mora o nosso Eu Maior e Melhor.

Paulo e Juliette tiraram a anestesia que nos dopava, em dias tão modorrentos de afetos positivos. E fizeram-nos, novamente, coletividade.

Paulo e Juliette nos colocaram em contato com a dor e o prazer de existir, e ativaram em cada um de nós a chama do amor – seja em forma de saudades, seja em forma de gratidão, seja em forma de celebração e irmandade.

Paulo e Juliette são o melhor dos brasileiros. E nos revelam que podemos amarrar nossos arados às suas estrelas, e com eles aprender a valorizar o instante em que se vive, e se tornar necessário a alguém. Aos pais, aos filhos, aos amigos...

E a fazer, de qualquer momento que seja, um infinito particular de intensa entrega, e apaixonada mística relacional, com todos que cruzam nosso caminhar, tornando-os melhores após sair de nossa presença.

“Torna-te Necessário a Alguém”.

De perto, ninguém está normal; e, de longe também! (Autor Ricardo de Faria Barros)


Começo esta reflexão com um trocadilho de uma frase, retirada da canção Vaca Profana, de Caetano Veloso, que diz: “De perto ninguém é normal”.
Eu diria que nestes tempos “Quarentênicos”, e nas cavernas “Covidianas”, ninguém está no seu melhor normal: nem de perto, nem de longe.
E, logo para início de conversa, digo pra você que me lê que é normal não estar se sentindo normal. Não estar bem do cabeção, numa época de tantas mutações.

- Uma amiga revela que anda tendo crises frequentes de ansiedade, de choro e de palpitação. Inclusive vem contando muitos carneirinhos, todas as noites.

- Um outro amigo, conta que sua relação afetiva está bem desgastada, e que andam se irritando por tudo, coisas bobas e rotineiras. E que parece que o apartamento ficou pequeno para eles.

- Uma colega psicóloga me diz que a sobrecarga feminina está enorme. E que mulheres do mundo todo tem adoecido querendo bancar as “mulheres-maravilhas” - num cenário de tantas mudanças.

- Já meus pais, octogenários, andam se sentindo muito sozinhos e com uma saudade enorme de uma aglomeração.

Você deve ter uma história assim para contar. Sem falar nas pessoas que estão passando por processos de luto, ou dificuldades financeiras, ou as incertezas de quando afinal estarão vacinadas.
Então pessoal, posto estes reais e contundentes exemplos, para criar um pano de fundo nesta reflexão, na qual apelo para a necessidade de buscarmos nossos espaços de autocuidados emocionais. Para que este: “é legal não estar normal”, não venha a se aprofundar e aumentar nossa vulnerabilidade, nos expondo a sequelas mais sérias da falta da saúde mental.
Tem um trecho na Bíblia que fala muito disso, da importância deste cuidado: “Que nenhuma raiz da amargura brote [atitudes, pensamentos e emoções] e cause perturbação, contaminando muitos”. Carta aos Hebreus 12,15
O que a Bíblia chama de raiz da amargura brotando, no Catálogo Internacional de Doenças, CID 10, no item 43.2, chama-se de Transtornos de Adaptação. Que possuem como um de seus gatilhos o enfretamento de situações de mudança existencial, luto, estresse, acontecimentos marcantes, por um certo período. E, pessoas com uma menor vulnerabilidade emocional, expostas a este quadro referencial, poderão vir a adoecer.
E, é neste sentido que assume um papel preponderante o autocuidado emocional. Que cada um de nós precisa fazer para enfrentar estes tempos tão difíceis, com um mínimo de sanidade mental.
O problema foi que nos ensinaram de tudo, do ponto de vista físico-biológico: higiene, alimentação, primeiros socorros, práticas saudáveis ao físico. Só nos esqueceram de nos ensinar como fazer higiene emocional, primeiros socorros emocionais, alimentos emocionais e práticas saudáveis. E a Pandemia pegou a Humanidade de calças curtas, sem saber como se cuidar. E a raiz da amargura tem brotado em muitos corações, tem causado perturbação e contaminando todas as áreas de vida da pessoa.
Gostaria de compartilhar algumas boas práticas de Gestão das Emoções que poderão te ajudar neste momento.

Higiene Emocional

1. Lute conta a “Síndrome do Impostor”. Ela se manifesta por uma autocobrança enorme, por se sentir não merecedora do sucesso, por querer agradar a todos. E nunca estar em paz com o que de fato entrega de resultados e é. Carregue, portanto menos pesos. Pare de querer ser um Super-Homem ou uma Mulher Maravilha, a um custo emocional tão alto. É legal também a casa não estar sempre arrumada, ou o relatório que precisará ser entregue não atingir a nota máxima em perfeição. Pare de se exigir perfeição em tudo, de ser tão rígida(o) para consigo mesma(o).

2. Faça de teu lar um Infinito Particular. Encontre espaços na agenda para ritualizar teu lar. Seja num banho gostoso, seja tomando um café sem acessar celular. Seja vendo um belo filme, ou ouvindo música, e até numa leitura gostosa de 3 minutos. Os prisioneiros, ou o pessoal de expedições da NASA e Ártico, que passaram grandes períodos reclusos e em pequenas áreas, que não adoeceram criaram rituais ao longo do dia, para preenchê-los de um sentido possível, mínimo e energizador.

3. Evite a Criação de Emoções Negativas de Estimação. Como não está fácil para ninguém é normal você se deparar com pessoas mais irritadiças, rabugentas, reclamonas, menos gratas, mais egoístas. Estas pessoas vão deixando em você uma espécie de sujeira emotiva. Cuidado para não ficar alimentando-as, tal qual cuidamos de um bichinho de estimação. Uma dica, você não vai esquecer uma mágoa, pensando na mágoa. Não se diminui a força das emoções negativas: mágoa, desgosto, decepção, rejeição, medo, ódio, desesperança... pensando nelas. Cultive as emoções positivas, que elas por si só vão fazer as outras perderem a força e abrangência. Cultive o perdão, a compaixão, a bondade, a doação, a mansidão, o amor, a esperança, a gratidão... E verá como isto limpa o coração.

4. Diário Apreciativo. Todos os dias tenha uma meta de anotar três coisas boas que viu, fez, ou sentiu que fizeram para contigo. Antes de dormir, faça uma revisão do dia e registre estas coisas num bloco de notas. Esta intencionalidade em perceber o bom, o belo, ou o virtuoso vai modular tua percepção para este objetivo e coisas muito boas ocorrerão contigo, a partir desta expansão da consciência.

5. Carta da Gratidão. Escreva Cartas de Gratidão, e, se puder, encaminhe as mesmas, ou leia para as pessoas que foram nelas retratadas. Degustar nossas boas lembranças ajuda a manter a saturação emocional positiva.

6. Combata Teus Sabotadores – Invista pesado em combater pelo menos três deles: o perfeccionista, a vítima e o crítico negativo. Estes sabotadores drenam nossa inteligência emocional e nos colocam numa posição de “desamparo aprendido”, na qual não damos mais respostas à vida, ficando a mercê dos acontecimentos. E, se não pode mudar determinada situação, mude a si mesmo(a); na forma como irá reagir e se adaptar à mesma.

7. Tome diariamente um AAASSS. Para muitas situações, é preciso Acolhimento; Aprendizado; Amorosidade, Sintonia, Superação e Sentido. Foram as pessoas mais resilientes que conheci que me ensinam esta fórmula de bem viver.

8. Fuja das 3N2T1S - Policie todas as afirmações negativas sobre você mesmo(a), sobre os outros e sobre a vida que começam com o 3N2T1S. Nada; Nunca; Ninguém, Tudo, Todos, Sempre. Sempre que começar a construir uma frase sobre algo de ruim que ocorreu, usando estas expressões, você estará generalizando o problema e dificultando encontrar outras possibilidades. “Eu nunca vou me recuperar disto...”

9. Cem Coisas para o Amanhã – Faça um exercício lúdico de cem coisas que pretende fazer num determinado horizonte de tempo. Podem ser das mais simples, às mais complexas. Alimente o sonho dentro de você. Ter algo legal a realizar num amanhã possível e real é algo que gera muita energia positiva. Eu, por exemplo, coloquei como meta conhecer todos os Parques do DF, até o final de 2023.

10. Evite a Morte Social – Pessoas curam pessoas. Grupos sociais, idem. E, em termos de afetos positivos, o real e o virtual se misturam. Encontre teu grupo virtual que seja edificador. Faça contato com os amigos e familiares usando as tecnologias. Participe de causas e mutirões virtuais, de ajuda ao próximo. Veja lives, faça cursos, crie eventos pra juntar o povo. Mas, não se isole.

11. Desenvolva Atividades Flow – O Flow é um estado de ânimo que ocorre quando empregamos nossas competências em fazer algo que gostamos. Pode ser no jardinar, pode ser no bordar, pintar, dançar. Pode ser no criar, cuidar, acarinhar, trabalhar. O que seja, encontre aquilo que quando faz o tempo para, e um sorrisão abre em tua alma, e invista mais nestas atividades.

12. Senso de Sobreviventes – Por último desenvolva a coragem de sobreviventes que relatam que o que fez a diferença, entre a morte e a vida, foi terem dito para si mesmos: “Só por hoje”. Só por hoje resista ficar prostado numa cadeira o dia inteiro; resista a reclamação à toa; resista a descrença em tudo e todos; resista à indiferença pela vida. Só por hoje, cobre-se menos, perdoe mais, tenha menos expectativas sobre os outros e sobre as coisas da vida e do viver. Só por hoje, dispa-se de toda violência, arrogância e insensibilidade, e encontre formas de servir, de se tornar importante para alguém. DE ser presença e apoio amigos.

Os 4 Portais da Saúde Emocional (Por Ricardo de Faria Barros)



Era um daqueles dias de sofrência emocional.
Sabe quando um monte de coisas chatinhas ocorre ao mesmo tempo?
Quem já não teve um dia desses, heim?
Contudo, deixando o estado de desânimo de lado, lembrei-me que eu precisava comprar a ração do cachorro.
Mas, quando cheguei ao carro, que estava estacionada na área externa do bloco, ao lado de um enorme vão-terraço sob pilotis que os prédios do Plano Piloto de Brasília possuem, não consegui dar partida no motor.
Meu cérebro parou um pouco de focar no modo preocupações, desviando a força dos pensamentos e emoções para uma cena de rara beleza, de profunda sensibilidade e intensa amorosidade que à minha frente acontecia.
Na mesma hora, registrei a foto, para não perder este momento e poder um dia compartilhar com vocês.
E é a fotografia que ilustra esta crônica.
Na qual, uma mãe cadeirante aposta corrida com seu filhote, ambos na maior alegria e algazarra.
Fiquei alguns minutos, contemplando aquela cena.
A mãe tocava potência na cadeira motorizada, e o filho ora corria para pegá-la; ora era a mãe que corria para pegá-lo.
Depois, ambos paravam e ficavam gargalhando com o resultado da disputa.
Que mãe resiliente e de bem com a vida, apesar das limitações!
Que filho amoroso e brincante com a sua mãe!
Um show, o show da vida, ali à minha frente!
Liguei o carro e parti pra minha agenda do sábado. Mas, não era o mesmo que tinha chegado àquele veículo.
Algo em mim mudou a polaridade emocional. Abri um sorrisão, contemplei as flores das Paineiras Rosas, sorvi cada aroma que entrava pelo carro. E, esqueci completamente do estado de sofrência.
Eu tinha acessado um dos quatro Portais para restaurar o tecido emocional, o de se alimentar de boas coisas.
Como assim, Ricardim?
Deixa-me me explicar melhor, usando a metáfora de nosso corpo físico e os cuidados para com ele.
Durante nossa vida, desde cedo vamos aprendendo cuidar de nosso biológico-físico. Seja na higiene básica, banho e escovação dos dentes, por exemplo. Ou a também, aprendemos a nos socorrer em dores, traumas, infecções, febres e ferimentos. Por exemplo, muitos têm nem casa um bolsa para compressas, um Band-Aid pertinho, e até analgésicos. Também aprendemos a nos alimentar, para podermos sobreviver adequadamente. Sabemos que precisamos de água, que sal em excesso faz mal, e que ninguém pode comer um prato de sopa cheio de açúcar, e que não se deve tomar um copo de óleo, como se fora um suco. Por último, em algumas situações, aprendemos que chegou a hora de intervir em nosso corpo: malhando em academias, mudando a cor e forma dos penteados, aplicando uma tatuagem, ou até colocando aparelhos ortodônticos.

Por que será que também não fomos aprendendo a cuidar da saúde de nossas emoções e pensamentos?

Creio que podemos usar a mesma metáfora do biológico e propor um modelo de quatro portais para este aprendizado para uma melhor saúde mental. Vamos a eles.

O Portal da Higiene Emocional – Na metáfora com nosso corpo, são nossos cuidados básicos de higiene pessoal. Este é um Portal muito legal que precisamos aprender a acessá-lo. Todos os dias vamos entrando em contato com sujeirinhas emocionais que vão se acumulando. Qual as sujeirinhas em nosso corpo. É um ressentimento ali, é uma ingratidão acolá. É uma palavra sobre nós que entrou errado, que não digerimos. É um medo sobre algo que tomamos conhecimento. Ou uma insegurança sobre alguém que conosco se relaciona. A Higiene Emocional ajuda a zerar esta conta de coisinhas chatas e não as deixar virarem "grude" em nossa alma. Quais são algumas habilidades e atitudes que fazem esta limpeza?

a) Não levar tudo a ferro e fogo. Dá um desconto, ter mais compaixão e empatia com o imperfeito, com o que não é o que esperava ser. Permite-se ao auto-perdão e se acolher como é, e com menos rigor. Intervir na criação de mágoas de estimação e não as deixar crescer.

b) Ter coisinhas que limpam as emoções e pensamentos sempre por perto. Bons livros, fotos, fé, amigos, músicas e filmes. Evocar estas coisinhas com regularidade.

c) Permitir-se a um banho de alma. Vez por outra. A, de forma ritualizada, dá uma incensada em si mesmo(a), levar-se para passear, colecionar pôr do sol, escrever algo bacana para alguém. Doar tempo e recursos para uma causa.

O Portal dos Primeiros Socorros Emocionais – Na metáfora que tenho usado, com o nosso corpo, são os cuidados que temos com ele quando algo o traumatiza, ou fere. Têm horas, na vida e no viver, que algo dá errado e nos fere. E, feridos que estamos, acabamos por ter nossas energias emocionais drenadas. Perdemos vitalidade e saúde mental. Todos os processos de luto e perdas causam ferimentos. Maiores, ou menores, mas causam. Expectativas mal resolvidas, também causam a ferida da frustação. Entregas não realizadas, do jeito que combinamos, causam a ferida da decepção. Ser passado para trás, em situações amorosas, pessoais, ou profissionais, podem causar a ferida do abandono. Ser desconsiderado, ou não valorizado, pode causar a chaga da rejeição. Ter feito algo, ou não feito algo, pode causar corte na alma que se chama culpa, ou arrependimento. Quais são as habilidades e atitudes emocionais podemos executar que ajudam a não infecionar estas feridas?

a. Apoio social. Quando estamos passando por um ferimento emocional, tendemos ao isolamento. Nós fechamos para todos e todas, e achamos que o tudo gira em torno de nós e para nos fazer mal. Então, nada como colocar nestas feridas uns band-aids de amigos e pessoal da família em quem confiamos. Procurar o apoio social.

b. Cura interior. Buscar instâncias terapêuticas de cura interior. Seja em apoio especializado, na área de saúde mental, seja nos processos de fé. Participar de retiros existenciais, fazer uma viagem de autoconhecimento, iniciar um novo projeto. Tudo isto pode abrir um espaço de cura interior.

c. Cutuque não! Temos a tendência de ficar remoendo o sofrimento, "catucando" a ferida. Se a dor é de amor, ficamos lendo velhas cartas, tão belas. Se a dor é de alguém ter pisado na bola para conosco, ficamos falando daquilo por semanas a fio, postamos nas redes sociais. E vamos alimentando o desejo de vingança e ódio. Faça isto não. Só vai ampliar, enrizar e reverberar mais ainda a intensidade da dor. Evite a ruminação do que deu ruim (Congeminação), intervenha em teus pensamentos e emoções. Brigue consigo mesmo(a), se ajude.

O Portal do Alimentar Saudável – Na metáfora que uso com nosso corpo, são os alimentos que consumimos que irão definir a qualidade de nossa vida, crescimento e energia vital. Em alguns momentos vamos consumindo muitas coisas ruins da vida. Notícias, fofocas, histórias de vida que deram errado. Tanto nos alimentamos do negativo, como vamos tendo uma predileção por este tipo de pauta, e até de pessoas. Consumimos coisas ruins, ouvimos coisas ruins, vemos coisas ruins e falamos de nossas vivências destacando o ruim. Então, a nossa alimentação emocional e dos pensamentos fica doente. E de tanto operar nas coisas erradas da vida e do viver vamos ficando murchos, a nos expor a tantas coisas pesada. Quais atitudes e habilidades podem nos alimentar melhor, do ponto de vista emocional e dos pensamentos, e nos fazer crescer - emocionalmente falando?

a. Seja um vigia da qualidade do que roda na tua mente. Fique de olho nela. Faça intervenções em si mesmo evitando a construção de crenças sobre si mesmo, sobre os outros e sobre a vida que comecem com as palavras Nada, Nunca, Ninguém, Tudo, Todos e Sempre, e os seus sinônimos. Permita-se ao contraditório do que anda pensando e sentindo. Se coloque em xeque. Pratique o que está contido no livro dos Filipenses, 4,8: "Tudo que é bom, amável, justo e digno de louvor, habite os teus pensamentos."

b. Tenha uma dieta de coisas boas pra consumir, fazer ou ver. Boas leituras, boas músicas, bons vídeos, amigos e grupos edificantes. Um pouco de poesia, uma boa fotografia. Ou momentos de contemplação, relaxamento e meditação, tal o que vivi ao ver a corrida de cadeira de rodas.

c. Faça um diário de três coisas boas a realizar, a ver, ou a sentir que fizeram para contigo, relembrando estas coisas antes de dormir. Pode até anotá-las. Module tua percepção seletiva para isto, tal qual uma meta de crescimento interior.

O Portal das Mudanças Estruturais – Na metáfora com o corpo, é quando fazemos uma intervenção radical nele, seja na cor do cabelo, seja na colocação de um aparelho dental. Em alguns momentos de nossa vida a roda gira. Entramos no carrossel do destino e sentimos que algo nos ocorre para o qual a vida de nós espera uma resposta. Muitas vezes nosso estilo de vida não faz mais sentido. Coisas que antes valorizávamos, que por elas mobilizámos recursos, hoje pode não ter mais sentido. Pode ser quanto à relação a dois. Na relação com filhos e amigos. Na relação profissional, ou familiar. São situações que pedem muita força de mudança, que “não dão mais para continuarem a acontecer, ou explode o coração...” Quais atitudes e habilidades podem nos ajudar a mudar, de forma estrutural?

a) Mude, mas mude devagar e sem perder o ritmo à frente. Toda a vida é feita de mudanças. Muitas coisas em nosso estado emocional, e na qualidade dos pensamentos, que nos aperreiam é derivada de mudanças que estão sendo adiadas. Faça um inventário de ônus e bônus da mudança que se quer e se mexa. No limite, só a você mesmo(a) é que deve satisfações.

b) Questione seus hábitos, e pesos que carrega, achando que os outros precisam dele. Muita coisa em nosso estilo de vida justificamos que fazemos pelos outros. Sem combinar com eles, sem saber se realmente eles querem isto. Ou se passariam sem aquilo. Então, terceirizamos para eles nossas escolhas, e com eles, acabamos por justificá-las. “A minha família não pode passar sem este almoço de final de semana que preparo para eles...”. Será? Quantos hábitos vamos inserindo em nossas vidas que são pesos, que são até como que prisões. E que podemos romper com eles e ser mais leve e feliz.

c) Rompa com o modelo de vida consumista e materialista, que torna tudo descartável e produtivo, fugindo de um contato e experiência mais intensa para consigo mesmo(a). Invista em temas e práticas de paz, ternura, amorosidade e emoções positivas. Participe de grupos com esta pauta, faça cursos. Saia de um modo de vida autocentrado, individualista, para um a proposta mais sustentável, mais coletiva, contribuindo para um bem maior. Seja participando da turma do pedal, da caminhada, do trabalho na Igreja, ou da ação solidária. Há mais vida ocorrendo lá fora, dos que a teimam, e insistem em querer que a vida gravite em torno deles mesmos(as).



São estes os quatro Portais para uma maior qualidade de vida emocional, que no meu entender funcionam muito bem. Cada um de vocês, que me leem ,devem ter outras dicas e práticas, neste sentido. E, o que funciona pra um, nem sempre funciona para o outro.

Mas, o importante mesmo, é começar efetivamente  a também cuidar de nossa mente, assim como fazemos com nosso físico-biológico.

 


Os Cinco Capitais para uma Aposentadoria Mais Plena de Sentido. (Por Ricardo de Faria Barros *)





Os Cinco Capitais para uma Aposentadoria Plena de Sentido. (Por Ricardo de Faria Barros *)

Capital Biológico

1. O exame periódico agora é por tua conta. Não relaxe nele. Doenças silenciosas avançam com a idade, e, se forem descobertas a tempo, as chances aumentam em muito de serem tratadas com eficácia. Sim, antes que me esqueça, vacine-se!

2. Alimentos mais saudáveis são muito importantes para esta etapa da vida. Fuja das gorduras, açucares, carboidratos, álcool e fumo. 

3. Encontre teu próprio ritmo de atividades físicas. Movimente-se diariamente.

4. A expectativa de vida tem crescido anualmente, então prepare-se para os cem anos, e mantenha a mente ativa. 

5. Tome muito sol cedinho. E reaprenda a brincar, sonhar, contemplar e amar. 

Capital Econômico-Financeiro

6. Não saia distribuindo pela família tudo que recebeu nos acertos da aposentadoria e FGTS. Fuja desta tentação de querer socorrer a todos. Lembre-se que precisará desta renda pelos próximos 50 anos. Inclusive para custear tua autonomia na velhice e demandas de saúde.

7. Não use suas reservas financeiras para amealhar migalhas de afeto e de atenção. E, você não é responsável pelos gastos de seus filhos, ou parentes, e nem pelas aventuras financeiras nas quais eles se metem. Estabeleça limites.

8. Não compre nada antes de um ano de aposentado. Se dê um sabático financeiro. Você terá uma febre, um júbilo, que poderá induzir péssimas aquisições, tipo comprar uma chácara ou uma lancha. Sem ter vocação para isto.

9. Muitos aposentados voltam a trabalhar. E isto não é nenhum demérito. Mas, não fique triste se as oportunidades não aparecerem logo. Então vá fazendo cursos de empreendedorismo ou de novos ofícios. O Sebrae, Senai e o Sesc têm vários. Cuidado em querer torrar o dinheiro em novos negócios, sem fazer um bom plano de mercado antes. E sem emocionalismo. Nada de querer voltar a tocar o negócio de teu pai. Só faça isto se for economicamente viável.

10. Ajuste o teu estilo de vida a uma renda que será 20% menor após aposentado. Não saia torrando os cartões de crédito e a poupança em viagens pelo mundo, investimentos duvidosos, ou no consumo desenfreado. Isto pode ser uma fuga de si mesmo, algo para compensar tua angustia. 

Capital Social

11. Participe da vida cultural de tua cidade. Muitas coisas "de grátis' acontecem nela. E a cultura é um grande continente a ser conquistado com a aposentadoria.

12. Afilie-se a grupos, de qualquer objetivo e origem deles: religiosos, voluntários, esportivos, culturais... Volto a dizer, envolva-se e participe de tudo, até da quermesse da igreja. 

13. Exercite a capacidade de  fazer novas amizades. Tem muita gente legal que ainda não conhece e que poderá lhe proporcionar bons momentos juntos. 

14. Não se isole. Evite a morte social, há vida para além da empresa que se aposenta. Promova encontros com a família e amigos, mesmo que nem todos possam participar. Reaprenda  a festar a vida e a celebrar tudo, inclusive o nada. Sim, volte a namorar caso tenha relacionamento estável com alguém, pois que o mundo do trabalho limitou muito as noites de vinho, vela e volúpia. E, caso não tenha relacionamento afetivo, sempre é tempo de arrumar uma boa tampa pra tua panela. 

15. Uma das boas formas de encontrar pessoas é descobrir onde elas se juntam. Pode ser a turma do pedal, do teatro, do futebol, da pescaria, da caminhada, da dança, do baralho, do grupo de oração, do estudo de línguas, ou outros. Pessoas amigas são o oxigênio da aposentadoria. Lembre-se sempre disso. 

Capital Humano

16. Continue aprendendo algo. Não perca a curiosidade pela vida, pelas descobertas, por novas experiências. Não é tarde para tocar aquele projeto acadêmico que adiou ao entrar na empresa. E, muitos cursos podem ser feitos a distância.

17. Encontre algo que lhe dê prazer para ocupar o tempo com significado: jardinagem, hobbies, artesanato. Cursos de gastronomia, artesanato, fotografia, vinhos e cervejas, também são prazerosas ocupações do tempo.  

18. Crie valor com o que sabe, viveu e aprendeu. Quem sabe assumir outra profissão. Ou abrir um blog para contar suas histórias. Ou ensinar na academia e ensino médio. Ou criar cursos e ofertá-los no mercado. Muito conhecimento há em você para ficar estacionado.

19. Crie objetivos de autodesenvolvimento, inclusive em espaços que promovam o autoconhecimento. Tais como fazer cursos de yoga, mindfulness, tai-chi-chuam, arteterapia e capoeira.

20. Não deixe que ninguém diminua seus sonhos em adquirir e aplicar novas atitudes, habilidades e conhecimentos. Há preconceito contra gente de cabelo grisalho que continua ativa, não ligue para isto. E, se quiser, aprenda até a surfar. A juventude é uma conquista do avançar da idade. Pense nisso! 

Capital Espiritual-Existencial

21. Compre uma agenda. E vá colocando nela coisas bacanas que fará todos os dias. Tipo, visitarei um amigo, conhecerei melhor meu bairro, irei na academia, escreverei  uma crônica. Nesta agenda, escreva com as tintas da esperança, do otimismo, da resiliência e da gratidão.

22. Alguém precisa de tua liderança. Não deixe de ser líder ao se aposentar. Continue inspirando pessoas. Continue transformando situações, ambientes e pessoas, e para o melhor.

23. Escreva um diário com as cem coisas que irá realizar como aposentado. Este diário é flexível. Você poderá repensar alguns itens, e substituí-los por outros. Mas, faça seu plano de vida para este momento.

24. Cuidado com as emoções negativas que podem tornar tua aposentadoria um inferno. São elas,  as mágoas de estimação, a negatividade extrema, a rabugice rancorosa, a falta de perdão e gratidão, e o saudosismo mórbido.

25. Cuide do tempo como um recurso maravilhoso que recebe todos os dias. Haverá tempo do não fazer nada. Tempo do fazer algo. Tempo de ficar consigo mesmo, silencioso. Tempo de se aventurar em algo novo. Tempo de ler. Tempo de descobrir novos prazeres. Não deixe que a ausência do tempo, antes ocupado com a produtividade laboral, te enlouquecer. Pessoas ficam agoniadas, após as férias da aposentadoria, porque acham que o tempo livre precisa ser ocupado. Como se ainda estivessem trabalhando. Chegam a ficar com culpa. Esqueça isto. Pinte o tempo de teus dias com coisas legais pra fazer diariamente. Que não precisam ser difíceis, caras ou que exijam grande esforço. 

26. Tenha paciência com a família e com seu cônjuge (caso tenha). Principalmente se eles não se aposentaram ainda. Não queira suprir teu vazio com a presença deles. Isto pode sufocá-los. E é preciso respeitar também a agenda de vida deles, com a sua própria dinâmica de vida. Não atrapalhe o casamento de teus filhos.

27. Entenda que a fila anda. Desapegue-se de muita coisa. E não vá ao antigo local de trabalho para rever amigos, nem para matar o tempo. Será normal não ser convidado para alguns happy-hours e não foi por mal. Ou não ser lembrado no aniversário.

28. Quando tiver que resolver algo, na empresa em que se aposentou, trate bem todo mundo. Tenha respeito e cortesia por quem está na linha de frente.

29. Uma vez por mês escreva uma carta de gratidão, relembrando pessoas importantes na tua trajetória de vida, ou fatos marcantes, pelos quais sente e na carta expressa gratidão.  

30. Cultive a espiritualidade. Se professar algum credo religioso participe dele com mais frequência. A oração é um bálsamo na vida. Mas, existem também outras formas de  espiritualidade: a poesia, a música, as pinturas, ou colecionar pôr do sol, lua cheia, abraços encantados, empatias engajadas, flores e pássaros da cidade. Encontre maneiras de se conectar a algo maior do que a si mesmo. 

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1, O autor é aposentado do BB, escritor, psicólogo, mestre em gestão social e trabalho, especialista em gestão de pessoas e em psicologia positiva.  Ele publica conteúdos no seu blog e canal do youtube em:  http://www.bodecomfarinha.blogspot.com.br  e http://www.youtube.com/user/mrricardim
2. Para comprar o livro impresso, sobre aposentadoria, e que é a capa deste texto, entre na loja virtual do site do autor em: https://www.animodh.com.br/online-store

Contemplar pode. Mas, não avance o sinal! (Por Ricardo de Faria Barros)




Quem deu o direito a algumas pessoas de se acharem superiores às outras por conta da cor da pele, da opção sexual, do sotaque, da cultura em que nasceu, ou do gênero?
Acho tão pobre uma pessoa que desqualifica negros, nordestinos, mulheres, gays, ou que acha que o local em que vive é superior aos demais, colocando-os todos na conta de inferiores e ruins. Que tipo de influência sobre a vida e o viver move-se dentro deste ser humano?
Pessoas arrogantes, aprendizes de autoritários, pequenos tiranos que devem tem um profundo vazio interior. Um dia, quando estiverem num leito de um hospital, sendo cuidadas justamente por quem despreza, será que estas pessoas terão uma iluminação interior, e crescerão? Não sei. Quando começou esta pandemia eu disse em vários eventos de que participei de que haveria uma lente sobre o bom e sobre o mal. Que não acreditava que a humanidade teria uma segunda chance de se redimir do que vem se tornando. E que os ruins continuariam ruins, e os bons, idem. Essas pessoas sempre existiram, mas não tinha palanques digitais para se projetarem, com toda carga de ódio, intolerância e antipatia ao que ela tem como diferente. Hoje, estão soltos e ativos. E sem pudor algum. Quem os critica recebe a alcunha de estarem com mimimi, de serem os chatos, e de não saberem "brincar". Então, é necessário que eduquemos nossos mais próximos noutros valores, para que este povo do mal não continue a reproduzir tanta violência atitudinal.
Também se faz necessário que falemos sobre o assunto. Que mostremos nossa indignação e que estas pessoas comecem a responder juridicamente pelos atos, "brincadeiras", ou toda uma merda mental que produzem e disseminam sem piedade.

O que dá direito a alguém a achar que uma mulher que toma um chope sozinha é sua presa, para investidas nada classudas? Chegando ao ponto de incomodá-la?

O que dá direito a alguém a achar que pode "pegar" uma mulher, dá uma encoxada nela, porque avalia a roupa que ela usa como "chamativa"? Por que na estética do corpo feminino a mulher não tem a liberdade de vestir o que bem quer, sem ficar sendo assediadas por pessoas que acham que "se ela se veste assim é porque quer dá..."? O que pensa um gestor que usa o poder do cargo para se lançar sobre as que trabalham na empresa dele? O que pensa um homem ao ver um decote, um lance de pernas, uma traseira torneada feminina? Ele acha que pode avançar o sinal, que tem direito? Será que o fato de mostrar as pernas, os peitos, ou o que venha a ser, é um indicativo de "pode chegar que a casa é sua...?" Escrevo este texto puto de raiva. Isto não era mais pra ocorrer em pleno Século XXI. Não era pra existir pessoas que discriminam negros, gays, nordestinos, mulheres... Mas, elas existem e aos montes. E, são nem sempre são pessoas sem formação e conhecimento, ou chamados ignorantes funcionais. Muitas destas pessoas são letradas e defensoras da moral e dos bons costumes. E até possuem trabalhos bem legais na sociedade. Só que não valem nada. São podres e pobres. Tenho 4 filhos, uma moça e três rapazes. Dois netos, uma bebezinha e um bebê. Cabe a mim educá-los, e com veemência, para que não reproduzam este germe do mal que tá solto por aí.

Lembro quando o meu pequeno JG, de onze anos, nascido em Brasília, falou que achava estranho o sotaque paraibano. Ele falou na inocência, sem maldade, numa recente ida nossa à Paraíba, meu estado natal. Na mesma hora eu perguntei o que era estranho? E que para nós, paraibanos, também seria estranho o sotaque brasiliense. E que os sotaques são o dna musical da língua de um povo que habita determinada região. Expliquei para ele que até nos EUA, dependendo do estado natal, a pronuncia, as expressões idiomáticas, e a ênfase das palavras em inglês mudam. E que isto não os tornam menos americanos que os outros. Ele abriu um sorriso e entendeu. Então, prometi-lhe levar ao Ceará, em 2022, para ele ter a oportunidade de se deliciar com um povo que fala cantando. Percebem como podemos educar para a convivência?

E isto vale para todas as questões para as quais o mundo cria preconceitos: índios, mulheres, pobres, negros, asiáticos, gays... É preciso que façamos a nossa parte, e que, como sociedade, exijamos respeito às pessoas, e responsabilização criminal de quem assim não o faz.

Não podemos deixar que o mundo volte à idade das trevas!

Pronto, desabafei.

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