Contemplar pode. Mas, não avance o sinal! (Por Ricardo de Faria Barros)




Quem deu o direito a algumas pessoas de se acharem superiores às outras por conta da cor da pele, da opção sexual, do sotaque, da cultura em que nasceu, ou do gênero?
Acho tão pobre uma pessoa que desqualifica negros, nordestinos, mulheres, gays, ou que acha que o local em que vive é superior aos demais, colocando-os todos na conta de inferiores e ruins. Que tipo de influência sobre a vida e o viver move-se dentro deste ser humano?
Pessoas arrogantes, aprendizes de autoritários, pequenos tiranos que devem tem um profundo vazio interior. Um dia, quando estiverem num leito de um hospital, sendo cuidadas justamente por quem despreza, será que estas pessoas terão uma iluminação interior, e crescerão? Não sei. Quando começou esta pandemia eu disse em vários eventos de que participei de que haveria uma lente sobre o bom e sobre o mal. Que não acreditava que a humanidade teria uma segunda chance de se redimir do que vem se tornando. E que os ruins continuariam ruins, e os bons, idem. Essas pessoas sempre existiram, mas não tinha palanques digitais para se projetarem, com toda carga de ódio, intolerância e antipatia ao que ela tem como diferente. Hoje, estão soltos e ativos. E sem pudor algum. Quem os critica recebe a alcunha de estarem com mimimi, de serem os chatos, e de não saberem "brincar". Então, é necessário que eduquemos nossos mais próximos noutros valores, para que este povo do mal não continue a reproduzir tanta violência atitudinal.
Também se faz necessário que falemos sobre o assunto. Que mostremos nossa indignação e que estas pessoas comecem a responder juridicamente pelos atos, "brincadeiras", ou toda uma merda mental que produzem e disseminam sem piedade.

O que dá direito a alguém a achar que uma mulher que toma um chope sozinha é sua presa, para investidas nada classudas? Chegando ao ponto de incomodá-la?

O que dá direito a alguém a achar que pode "pegar" uma mulher, dá uma encoxada nela, porque avalia a roupa que ela usa como "chamativa"? Por que na estética do corpo feminino a mulher não tem a liberdade de vestir o que bem quer, sem ficar sendo assediadas por pessoas que acham que "se ela se veste assim é porque quer dá..."? O que pensa um gestor que usa o poder do cargo para se lançar sobre as que trabalham na empresa dele? O que pensa um homem ao ver um decote, um lance de pernas, uma traseira torneada feminina? Ele acha que pode avançar o sinal, que tem direito? Será que o fato de mostrar as pernas, os peitos, ou o que venha a ser, é um indicativo de "pode chegar que a casa é sua...?" Escrevo este texto puto de raiva. Isto não era mais pra ocorrer em pleno Século XXI. Não era pra existir pessoas que discriminam negros, gays, nordestinos, mulheres... Mas, elas existem e aos montes. E, são nem sempre são pessoas sem formação e conhecimento, ou chamados ignorantes funcionais. Muitas destas pessoas são letradas e defensoras da moral e dos bons costumes. E até possuem trabalhos bem legais na sociedade. Só que não valem nada. São podres e pobres. Tenho 4 filhos, uma moça e três rapazes. Dois netos, uma bebezinha e um bebê. Cabe a mim educá-los, e com veemência, para que não reproduzam este germe do mal que tá solto por aí.

Lembro quando o meu pequeno JG, de onze anos, nascido em Brasília, falou que achava estranho o sotaque paraibano. Ele falou na inocência, sem maldade, numa recente ida nossa à Paraíba, meu estado natal. Na mesma hora eu perguntei o que era estranho? E que para nós, paraibanos, também seria estranho o sotaque brasiliense. E que os sotaques são o dna musical da língua de um povo que habita determinada região. Expliquei para ele que até nos EUA, dependendo do estado natal, a pronuncia, as expressões idiomáticas, e a ênfase das palavras em inglês mudam. E que isto não os tornam menos americanos que os outros. Ele abriu um sorriso e entendeu. Então, prometi-lhe levar ao Ceará, em 2022, para ele ter a oportunidade de se deliciar com um povo que fala cantando. Percebem como podemos educar para a convivência?

E isto vale para todas as questões para as quais o mundo cria preconceitos: índios, mulheres, pobres, negros, asiáticos, gays... É preciso que façamos a nossa parte, e que, como sociedade, exijamos respeito às pessoas, e responsabilização criminal de quem assim não o faz.

Não podemos deixar que o mundo volte à idade das trevas!

Pronto, desabafei.

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