Aviso aos Novos Empreendedores! (Por Ricardo de Faria Barros)


Recentemente, participei de um treinamento para me tornar certificado na prestação de serviços de personal coaching, apoiando meus clientes nas suas metas para com a vida. 
No último dia do curso, proporcionado pela SLAC, muitos compartilharam esperanças, ambições, ansiedades e até um certo frisson, para se lançarem nesse mercado, e logo faturarem salários cobiçados, daqueles de concursos público.
Eu entendi perfeitamente aquele movimento.
Pois, para alguns será uma oportunidade de abrir seu próprio negócio, outros de recolocação profissional, ou até de ser uma fonte complementar de renda.
Eu vibrava com a vibração deles.
Era contagiante o clima de: “Sim, nós podemos!”.
Revivi meus momentos de empreendedor, quando cheguei em Brasília em 1999, e estava ávido por montar meu consultório de psicologia.
Até comecei, lembro-me que foi numa sala que a Fran cedeu, lá onde funcionava a primeira escola do IBMEC, perto do Gilberto Salomão.
Engraçado que dez anos depois, daquele fatídico 1999, eu viria a ser um dos professores do IBMEC, num feliz reencontro.
Mas, caros amigos e amigas, eu me estrepei profissionalmente falando. Tinha um cliente, que mal dava para pagar a gasolina. Embora fiquei muito feliz quando recebi aquele dinheiro, ele tornou-se o único.
E saí do mercado de microempreendedor, frustrado e sem pique para ousar novos voos.
Aquilo incomodou-me bastante.
Nas revistas de psicologia, no PowerPoint, no relato de alguns colegas, tudo era tão fácil, o mercado era “comprador”, então o que eu estava fazendo de errado?
Vou contar-lhes.
Eu não sabia caminhar na maré baixa, e, enquanto se caminha, colher conchinhas, mariscos, e iscas para pescar.
Eu só estava preparado para a maré boa, aquela maré alta que possibilita elevar os barcos, fundeados na praia, por falta de condições de atravessarem os bancos de areia e arrebentações à sua frente.
Aquela minha ambição de alçar altos voos, influenciado pelo que eu lia, pelas vidas editadas, pelo relato de professores da clínica, e pelos textos que eu lia com as narrações de colegas psicólogos, cujo teor era repleto de vitórias e vencedores, estava me matando.
Aliás, me matou.
A enorme expectativa de resultados a curto prazo, somando-se com uma ambição desmedida e com a observação seletiva e distorcida da grama do vizinho, contribuíram com meu afastamento da clínica, só retomando agora.
Eu desisti, por não ter feito a coisa certa, por ter acreditado que seria fácil, por não ter pego as conchinhas na maré baixa, e com elas me saciado, na minha fome de um lugar ao sol.
A pressa em chegar no topo, quando se depara com a dureza da realidade, vai erodindo a esperança e tornando tudo mais difícil.
É na maré baixa que conseguimos criar capacidades para aproveitar a cheia, quando ela chegar.
É na maré baixa que conseguimos limpar os cascos de nosso barco interior. Tirando deles as cracas, mexilhões, lodo e todo tipo de sujeira que atravanca nosso deslizar, em busca do alvo.
É na maré baixa que damos valor ao pouco que ainda temos.
É na maré baixa que aprendemos a sobreviver, cuidando da chama da esperança, com zelo e atenção, para que ela não se apague. E, quando chegarem os tempos melhores, já termos desistidos de nós mesmos.
Ao lançar minha empresa no mercado, eu lembrei muito daqueles dias. E, não tenho mais essa ambição e ansiedade desmedidas.
Nada é fácil. E é literalmente de grão em grão.
Mas, tenho que estar capacitado para pegar a boa maré. Meu barco tem que estar lixado, limpo, pronto.
Tenho que ter um monte de conchinhas, que mostram por onde andei e o que já passei e ainda estou aqui, forte e firme!
Tenho que continuar me exercitando, não perder os tônus, para aproveitar melhor as oportunidades que virão.
Não acredite em topo de carreira fácil.
Um palestrante bom pode cobrar acima de RS 30.000,00 por palestra.
Mas, se você conseguir uma por R$ 2.000, agarre essa oportunidade.
E, se eles não puderem pagar, faça assim mesmo.
Você está sendo visto, e no dia em que eles poderem pagar, lembrar-se-ão de você.
Uma consulta com um psicólogo tarimbado pode se igualar ao preço de um pediatra.
Mas, se seu cliente só pode lhe pagar 1/4 disso, avalie a possibilidade de atendê-lo.
Você estará treinando, ajudando a uma pessoa e ainda tendo mais um para distribuir seus cartões, de coração penhoradamente agradecido.
Assim também é para o mercado de sessões de coaching.
O que mais vejo são depoimentos de coachs que estão comprando suas Ferraris. Entendeu?
Tipo aquelas igrejas da prosperidade, ou correntes de marketing de multinível.
Vá para qualquer sessão dessas empresas e os vídeos mostrarão os caras. Os top, os vencedores!
E você sai anestesiado, nas alturas, em êxtase. Quer ser como eles, o que é legítimo.
O problema é que esses vídeos são de vidas editadas.
Não mostra as marés baixas que eles enfrentaram.
Faça treinamentos de empreendedorismo. Ajuda.
Mas, uma coisa é o curso, outra o mundo real.
Neles, tudo parece tão fácil: São cases e mais cases. “é só fazer um plano de mercado”, “faça um plano de negócio”, “elabore o projeto de marketing”, “defina sua estratégia de posicionamento”, “divulgue-se nas mídias digitais”, etc. etc. etc...
E pronto, os negócios aparecerão, como o orvalho da manhã.
Se não apareceu é que tu é fraco mesmo.
Não acredite. Isso é mentira.
Mas, não pare só porquê não chegou naquela tela do PowerPoint ainda.
Não desista. Mas, aprenda a ir devagar e em frente, sempre.
Sem grandes ansiedades, modulando sua ambição à realidade do país, e não pense que o sucesso está na próxima esquina.
Não está! Só para alguns que geram matérias para revistas e programas televisivos, pode até estar. Mas, são poucos.
No geral, tem que ralar, ralar, ralar, ralar e muiiitooo!!!
E leva tempo.
Mas, não faça como fiz em 1999. Quando não ficava feliz em ter apenas um cliente na clínica. E parei.
Não pare.
Não desista de seus sonhos, pois, quase 20 anos depois, ficou bem mais difícil para mim.
Já pensou se eu tivesse me contentado com um cliente novo por mês? Hoje estaria abarrotado de clientes.
Mas não! Ouvi pessoas erradas, li material errado, deixei-me influencia pelas vozes da negatividade que me apontava o dedo em riste, mostrando os vitoriosos à minha frente.
Então, fica a dica: É na maré baixa, naquela que ninguém procura seu negócio, naquela que você está prestes a desistir, naquela que está quase quebrado, que você deverá limpar os cascos do barco de seu sonhar, e poetizar sua vida – cultivando a esperança, aquela que nos faz colher bela conchas, só visíveis porque a água baixou.

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