Tem dias que precisamos lamber o chão, para prosseguir em nosso processo interior de crescimento. Lamber o chão é aprender com os erros, quebrar todo orgulho, refazer trajetórias. Não é se portar com subserviência. Antes disso, é portar-se com a humildade e sabedoria de quem não tem todas as respostas, nem faz todas as perguntas, de quem sabe que é limitado, passível de fracassos. Percebendo-se até deslocado, marginal, em alguns momentos. Um tanto forte, a metáfora de lamber o chão nos remete à energia transformadora que processos de angústia mobilizam em nossa existência. Como, "de perto ninguém é normal", atitude lambedora-de-chãos nos torna menos deuses e mais humanos, facilita as "aprendescências das coletivências", que escasseiam hoje em dia. Lamber o chão é não se cobrar tanto. É gostar de si mesmo, sem precisar de referências do outro. E gostar do outro, sem precisar de cartas-de-referências abonadoras.
É, antes de tudo, aceitar-se a si mesmo como um ser, embora de luz, intrinsecamente imperfeito e demente. Afinal, como Edgar Morin nos ensina, somos Homo Sapiens Demens, o que mostra o quanto somos paradoxais em nossas fantasias, emoções, desejos e ações cotidianas. Temos o direito à tristeza, à angustia, à nossa cota diária de kryptonita, mesmo que esta roube nossas forças... logo logo, à galope, nos restabelecemos de seu efeito, e seguimos nosso existir a passos mais firmes, e sem fazer tanto estrago naqueles que conosco cruzam ou nos rodeiam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é uma honra.