Caminhos

Termina uma semana cheia de emoções. Novas instalações e local físico de trabalho, mudanças na estrutura organizacional das equipes com as quais me relaciono mais ativamente, medo de não dá conta do recado. 
Era perto do meio dia e teria um compromisso de almoço, particularmente difícil: a despedida de um amigo que irá para outro setor.
Olhei para o relógio e vi que ainda faltavam 60 minutos para o almoço, eu estava ao lado de onde minha filha mora. Mandei um what pra ela, sabendo se estava em casa, e pra minha sorte ela estava.
Logo chamou-me para visitá-la, o que fiz.
Entrando lá senti cheiro de paz: ela estava cozinhando uma comidinha caseira para seu quase marido (casam dia 28 em Campina Grande-PB).
Avistei uma rede na varanda e ali me deitei.
A cada minuto eu ia ficando mais forte, mais esperançoso.
Vendo-a à beira daquele fogão, contar-me com tanta vivacidade as últimas dos preparativos para o casório, sem deixar de mexer as panelas me encantava o coração.
Vivemos tempos tão duros quando de minha separação, e ela sobreviveu, aliás todos os meus três filhos do primeiro casamento são sobreviventes.
Aquele cheirinho de comida caseira era como aroma de lexotan, ia me acalmando, acalmando. Como é bom ter a casa dos filhos para repousar por um momento.
Entre um balanço e outro percebi que tem coisas que precisamos vive-las para compreendê-las em toda sua plenitude. Não adianta vê-las num mapa, num Google qualquer, tem que sentir, tocar, cheirar, provar e permitir-se ao seu absorver.
O amor é uma destas coisas de que falo. Por mais que seja decantado aos quatro cantos, rimado, letrado, dramatizado, dançado, pintado, esculpido e falado precisa-se vivê-lo.
O amor pede a experiência.
Quem ama por mais doloroso que possa ser o estado amoroso, alimenta a alma.
Existe amores de pais e filhos. Amores de colegas de trabalho que tornaram-se grandes amigos, como o que nutro pelo Mauricio Lyra. Amor de recomeços, amor com cheiro de travessuras de crianças, amor de redescobertas, amor de amor a si mesmo.
Todas as formas de amor são sagradas, nos religam ao infinito, nos conectam às emoções mais profundas, que só os amantes me entenderão.
Quinta tracei minha rota para o trabalho pelo Google Maps. Já tinha errado bastante e me aborrecido comigo mesmo em não encontrar a rota mais fácil.
Acesso o google e vejo-a ali na minha frente. Uma economia de 4 km e o trajeto sempre em azul, ou seja, trânsito fluindo.
Levanto-me cedo, na quinta, e começo a dirigir pela nova rota todo orgulhoso de minha capacidade de navegação.
Mas, o Google Maps, por mais sabido que seja, esqueceu de me dizer que aqueles 15 km que percorri, do início do Eixo Monumental, até a antiga Rodoferroviária era eivado de sinais de trânsito. Até onde contei foram 12.
E, como estou no refluxo, acho que programados para mais tempo do que na saída ao trabalho. Ou seja, o caminho era mais perto, trânsito bacana, contudo precisava fazer muitas paradas e esqueça a onda verde.
Acho que amar é como pegar essa rota. Consigo traz um monte de caminhos bacanas, mais curtos de chegar ao coração, mas exigirá paradas. E. algumas vezes exigirá mudar o trajeto, converter, retornar. 
Amar pede paradas. Entendeu?
Eu tive que parar meu ritmo frenético e visitar minha filha.
Amar pede sujar as mãos ao se envolver, ao chorar, ao sorrir, ao perdoar e juntos sonhar novamente.
Amar pede paradas. Momentos que reavaliamos a jornada, que contabilizarmos perdas. Tempo para nos ligarmos ao que realmente importa.
Não se ama pelo Google. Por mais que tenha quase todas as respostas, a resposta do amor será sempre única e plena para quem a vive: não tem como ser vivida a não ser por quem a vive.
Tem gente que começa uma vida a dois e na primeira parada do sinal vai se aborrecendo com o outro. Imagine nos 12 KM que atravessará anos à frente.
Começa a cobrar demais do outro, a persegui-lo com crises de ciúmes. Começa a gostar do joguinho: "eu estou certo, e você não".
Ou o outro jogo pior ainda: a desqualificar o amado perante terceiros, procurando uma forma de dizer publicamente que carrega um mala.
Ambos vão se matando lentamente, de tanta indiferença e resmungamentos que fazem um para com o outro.
Cada parada na jornada afetiva, cada vez que o fluxo do amor deixou de correr, precisamos aproveitar o momento para lamber as feridas - um do outro.
Amar é decisão. Uma decisão de quem diz para si mesmo: isso também passa, amanhã será melhor.
Se você encontra-se parado no sinal de sua vida amorosa - em qualquer forma e expressão de amor que esteja sentido: no lugar da irritação e impotência; como as que tive ontem no trajeto ao trabalho, conecte-se ao infinito.
Faça um exame de consciência, use os breves instantes da parada do sinaleiro para se conhecer melhor e cuidar do jardim de seu coração.
Amar exige paradas. Mas, ficar nas paradas matará o amor.
O amor se faz ao caminhar, e não ao chegar em qualquer destino cobiçado.
Levantei-me da rede, ela não sabia o quanto ajudou o pai a continuar na jornada da vida a confiar. 
O sinal abriu e fui em direção ao almoço de despedida.
No caminho lembrei o quão feliz são as pessoas que se permitem à jornada do amor.
Pessoas que em meio às maiores crises, dificuldades e problemas, continuam suas trajetórias amorosas - não parando à beira do caminho para sentirem pena e chorarem por si mesmas.
Amar pede loucuras santas de místicos recomeços.
Amar pede você, pede eles, pede nós e até um pouco de mim mesmo.

Se amar é decisão, felicidade idem. Para de procurar razões pra ser infeliz, ou desamar.

Desconecte-se do que te rouba as emoções positivas. Conecte-se ao que realmente importa e te faz bem, te deixa em paz. Esqueça de procurar a felicidade no consumo, no dinheiro, no poder ou prazer.

Ela está justamente no lado oposto: no servir, no dar a outra face, no humilhar-se, no perdoar, no amar, na esperança que amanhã será melhor, nas crises a certeza de que ela também passará, no confiar, no ser solidário, no ser disponível para outro, no se alegrar com o que se tem...
Não desista ao primeiro conjunto de faróis vermelhos que enfrentará. Eles estão no pacote de qualquer amor verdadeiro.
Simples assim.

Mas, nada fácil...

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