Demonstre amor, e em vida.

Pousamos em Londrina, perto das uma da manhã, numa madrugada chuvosa. No aeroporto, tivemos que aguardar um tempo na fila do táxi. Era sexta, véspera de carnaval, e aquilo lá tava lotado. Após certo tempo, pegamos nosso táxi e seguimos para casa da Sogrona, perto do Estádio do Cafezal. O taxista era uma figura, 56 anos de boa praça, Sr.Claudio tornou nosso trajeto menos cansativo ao nos revelar as últimas da cidade, sempre com bom humor e um diálogo cativante. Para quem precisar de táxi por aquelas bandas, ligue pra ele: 043 96050906, garanto que não se arrependerá.
Chegando à casa de Dona Madalena, tiramos nossas bolsas do táxi, pagamos e nos dirigimos ao portão para tocar a campainha. Eram umas duas da manhã. Sr. Cláudio não arredou o pé. Ficou aguardando que entrássemos, como os educados seres faziam, à moda antiga. Ainda insisti, sabendo que o aeroporto estava lotado e que ele poderia perder corridas, mas ele ficou.
Toquei uma vez, duas vezes...dez vezes e nada.O último contato com Dona Madá tinha sido pelas 22hrs, quando revelamos o status do voo, já na conexão em Congonhas. Minha esposa tentava pelo celular. Na rua um silêncio sepulcral.Garoava mansinho. JG, foi convidado a adentrar no táxi e papeava com Sr.Claudio. Ouvíamos o som da campainha tocando dentro da casa e nada dela.
Cristina ligou pra suas irmãs, o que só aumentou a preocupação, para elas a mãe estava em casa.
Começou então a chorar, imaginando o pior.
Eu, pasmem, fiquei tentando me lembrar das últimas fotos que fiz dela.
Pode uma coisa dessas? Só eu mesmo.
Sr. Claudio entrou no time e passou a ligar do celular dele para o número fixo.Ouvíamos de fora da casa o telefone tocando, e nada.
Pronto, a velha bateu as bielas. Tentava me lembrar qual seria o número do Samu, pensamentos confusos na minha mente.
Por fora, consolava a mulher e o JG que percebendo algo estranho começou a chorar querendo a avó. Eu dizia: "gente, ela tá dormindo deve ter tomado umas pílulas a mais".
Resolvemos ir buscar num hospital no qual sua irmã dava plantão uma cópia da chave. No caminho a esposa chorava. Sr.Claudio tentava animá-la. E eu pensava em como agir, caso as notícias não fossem das melhores.
No caminho de volta, já com as chaves reservas, o celular da esposa toca e é a outra das suas irmãs. A mãe acordara assustada e estava tudo bem com ela.
Minha tese estava certa.Tomou mais bolinhas do que o recomendado e pimba.
Aí presenciei o abraço mais forte que minha mulher já deu na sua mãe.
Nos outros dias notei o quanto ela ficou mais tempo com ela, mais paciente e atenciosa.
Aquele susto fez um bem danado na relação de todas para com a mãe.
Acontece que vamos esquecendo de dizer a quem amamos o quanto são importantes pra nós. São telefonemas a menos, para os que moram distante uns dos outros; visitas, rareiam;
E, nas vezes que encontramos ainda temos tempo de ficar recolhendo mágoas passadas, chateações ressentidas ou um monte de tranqueira que quando se junta vêm á tona e explodem.
Tem filhos assim com os pais; têm pais assim com os filhos e amigos idem.
Que já não ligam mais, ou que quando estão junto é só para brigar: perderam a capacidade de admirarem o que o outro tem de legal.
Perderam a capacidade de expressar amor, os canais estão entupidos e o fluxo não sai.
Até o dia em que um deles morre. Aí tome sentimento de culpa, de que poderia as coisas terem sido diferentes; e, os "se, se, se, se, se ..." tão comuns.
Ficam ativos de mágoas, ativos de perdões adiados, ativos de desilusões ou desentendimentos não processados.
Ficam passivos de passeios não feitos; de abraços rejeitados; de beijos esquecidos num canto qualquer do coração; de palavras simples de gratidão e atenção para com o amado.
Tocar a campainha do coração do outro e percebê-lo ausente, viver o pânico de poder perdê-lo, o terror de não ter podido fazer um monte de coisas ao seu lado, pode ser salutar.
Você já se imaginou perdendo seus pais, caso vivos ainda?
Ou seus filhos?
Ou aqueles amigos de todas as horas?
Tem pendências afetivas pra zerar, acertos de contas emocionais?
Então aja agora e demonstre o quanto são importantes. Escreva cartas, mande cartões, viaje com eles, vá vê-los sempre que puder, ou os convide para uns tempos contigo.
Faça um almoço de final de semana e os convide para comemorar Nada.
Têm muitas pessoas que chegam à quarta idade sozinhas de filhos vivos.
Não deixe que isso aconteça na tua relação com quem ama.
Tudo que eles não querem é serem lembrados apenas na hora da partida:com aqueles cânticos piedosos, grandes coroas de flores, ou lamúrias compungidas à beira do berço do eterno.
Agora tenho que desligar e ligar para meus pais em Campina Grande-PB, como é bom saber que após alguns toques algum deles vai atender e poderemos conversar de coisas simples da vida, do tipo como anda o clima por aí.
Faça isso também! Ligue pra quem ama e nunca o deixe sem que saiba o quanto é importante em teu viver.

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