Um gesto de doação, um calor no coração de quem o recebe.



Cheguei ao trabalho aborrecido, tenho minhas TPMs emocionais.
Hoje era dia dela.
Uns 50 emails para ler e encaminhar, reunião com áreas de regulação e controle, e horas de menos para uma agenda cheia.
Para complicar, o engarrafamento que peguei fazia birra comigo, com carros de "espertos" brincando de esconde-esconde à minha frente - é que eu vinha andando atrás de uma carreta, e os espertos usavam o acostamento para passarem ao meu lado e entrarem à sua frente, aproveitando-se do fato dela ser lenta nas arrancadas, ao avançar fluxo adentro.
Após aumentar o nível da TPM, umas duas horas depois de chegar ao trabalho, vou tomar um café com cabelos desgrenhados e aparência de embravecido. De poucos amigos. Sabem como é?
Aquele dia que achamos que somos os mais feios, os mais gordos, os menos importantes e tememos que o pior estará à espreita a cada telefonema, ou email que chegar. Dia de fragilidade emocional. Todos temos os nossos. 
Entrando na copa, a Lene me saúda efusivamente, trata-se de uma das copeiras que ali trabalham.
E, me diz que fizera um presente para mim: um paninho de prato bordado com as cores de meu estado, a Paraíba, vermelho e preto. Disse-me que era uma forma de agradecer a divulgação do trabalho delas, e que até tinha aumentado as encomendas. Fiquei com aquele pano bordado na mão, "abestalhado", atordoado e sem reação. 
Sabia o quanto era precioso aquele presente. Podia sentir o carinho invadir meu gélido ser.
Aquele gesto de gratidão entrou em minha corrente sanguínea. Foi aquecendo-me, aquecendo-me, e me inundando de amor. Olhei para elas, com olhar embevecido, e agradeci-lhes a delicadeza e gentileza do gesto.
Acabou na hora a TPM. Agora eu era o mais disposto, motivado e potente do setor. Fora amado.
O amor nos torna imbatíveis.
Aliás, ficamos sem mecanismos de defesa para um afeto genuíno, um carinho inesperado, bem dizia Freud.
Aquela dose de atenção curou-me numa fração de segundos. Botei o paninho de prato perto da estação de trabalho, e, todas as vezes que eu olhava para ele me sentia melhor. Foi meu talismã. 
Impressionante como receber carinho nos faz bem. 
Como pode ser a diferença entre um dia bom, e um dia ruim. Voltando para casa, bem feliz com o mimo que recebi, lembrei que uma amiga precisava de mais uma série de lições para sua filha, que está fazendo meu curso de inteligência positiva, com dez anos de idade, e é uma das melhores alunas. Liguei para ela, e por telefone mesmo passei as lições para os próximos sete dias. 
Pude sentir a felicidade daquela mãe, que já vê os progressos da filha, em receber mais uma série de práticas positivas para fazer com ela. Retribuí a corrente do bem. 
Você pode ser bênção no dia de alguém. Já parou pra pensar nisso?
Talvez o único abraço que alguém amanhã receba seja o teu. Talvez o único gesto de afeto seja seu olhar bondoso sobre ele. Talvez, seu único reconhecimento, após um dia cansativo de trabalho, venha de ti. 
Talvez, a única pessoa que parará para escutá-lo seja você.
Quantos "panos de prato bordado" estamos dispostos a doar para pessoas que queremos demonstrar gratidão?
Ou, desaprendemos a demonstrar isso?
Um amigo chamou-me para almoçar. Sou grato a ele. Tantos não têm com quem dividir a vida ao almoçar juntos. 
Uma amiga postou uma poesia e lembrou-se de mim. 
Sou grato a ela, ao lembrar-me que um ou outro texto que postei fez a diferença em seu viver. Ela Inspirou-me a continuar, apesar de cada vez mais difícil a briga com as ideias, fruto de uma amnésia crescente. 

Ao retornar pra casa, dirijo-me a uma obra de construção civil que estou fazendo.
Ondas de TPM Emocional invadem-me novamente. E, nem o paninho tá por perto, pois o deixei no trabalho.
É que os pedreiros construíram a parede no local errado. 
Enquanto olhava para a desgraceira da obra mal feita, um vizinho me viu e chegou perto da divisa dos lotes e me abordou. 
Perguntando-me se eu ia precisar de material para impermeabilizar as paredes.
Falei-lhe que sim. Então, ele me presenteou com sobras desse material, muito caro, e ainda me deu valiosas dicas sobre impermeabilização.
Mais uma vez, uma onda de felicidade e bem-estar invadiu-me.
Esqueci na hora a parede errada. Esse um aprendizado da inteligência positiva. Sair do modo murchar, permitindo ao florescer.  Sair do disco arranhando de "ninguém me ama, ninguém me quer, só comigo, sou a vítima..., etc". 
Viver o luto, ou a eventual dor de viver, só o tempo necessário à sua muda, à sua superação. 
Aquele gesto de doação tirou meu foco no problema, e me fez lembrar que não há nada que uma marreta não conserte numa obra. 
Agora, ter um bom vizinho, do tipo que se preocupa com tua obra de construção civil, e doa sobras de material da dele, é uma bênção. E marreta nenhuma faz isso acontecer. Só o amor. Parei na hora de resmungar da parede de tijolos feita próxima demais do muro de arrimo.
Agora, no meu coração só morava a felicidade e paz que sentimos quando somos amados e valorizados por alguém. 
Assim é com um monte de problemas e preocupações.
Quando estamos nelas perdemos a capacidade de ver para os lados, de olhar coisas legais que ainda estão funcionando e criar forças para enfrentá-los. Chama-se a isto de inteligência positiva. .
E é uma bênção.
Assim, enchi meus pensamentos de coisas boas que me acontecem e pude relevar as não tão, que fazem parte do pacote do viver.
Sem fazer proselitismo religioso, longe disso, lembrei de algo que li na Carta de Paulo aos Filipenses, no qual ele ensina: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento."
É amigos, em nossos pensamentos cabe um mundo de situações que podem nos fazer florescer, ou murchar.
Existem pensamentos murchantes, e os florescentes.
Assim sendo, escolhi naquele dia só pensar nas coisas boas, enquanto atacava as nem tanto. Quase que ganhando energia para enfrentá-las.
Em quanto tenho de familiares, amigos, dádivas, dons, oportunidades que o estresse, ansiedade e preocupações acabam por cegar a visão deles - tornando-lhes o mais grave ainda, indiferentes ao meu viver.
Quero ter sempre "um paninho de prato bordado" para oferecer a alguém.
No sentido da metáfora, entende?
Quero fazer alguém mais feliz, com um gesto de doação, da saudosa fraternidade: palavra cada vez mais utópica e distante em tempos de endeusamento do ter, poder e prazer.

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