"Nossa herança maior, será o conjunto de atitudes que tivemos aqui."

Luiz Tadeu, falecido dia 11.02.2013, infarto fulminante.


O inusitado, o imprevisto, o acúmulo de fatais coincidências, o brutal, o inverossímil, o choque, definem uma tragédia.

Uma avó caminhava lentamente com seu neto indo à Igreja, um caminhão desgovernado sobe a calçada e os esmaga.

Um casal amoroso passeia à beira mar, eis que começa uma chuva, cai um raio e os fulmina.

Jovens dançam numa boate, numa boate que em todos finais de semana estes mesmo jovens dançavam, há três anos.
Nesta noite, algo dá errado. Uma sucessão de erros acontecem. Arte pirotécnica insana, para este tipo de lugar, dá sequência a uma série de ocorrências infelizes.
 

Saldo, 200 e poucos mortos.

De um deles, tocava um celular insistentemente. Segundo autoridades policiais, até ser desligado, havia 104 chamadas não atendidas. No visor a expressão: "Mãe".

Uma mãe que o amava muito, e que não se cansou em chamá-lo madrugada a dentro.

Quanta dor nesta espera por um "alô"!

A morte tem seus dias de azedume.
Dias que mata por bobagem: um raio na cabeça de um casal de namorados, uma carreta sem freio, uma fumaça mortal...

A morte tem seus dias de depressão.

Dias de desamor e dia de amor. Sim, dias de amor!

Há mortes amorosas. No regaço da família, esperadas, pressentidas, adivinhadas.

Quase pedidas.

Mortes que nos dão tempo de nos preparar minimamente para a despedida cruel.

Nos dão tempo de tecer as últimas emoções, refazer laços, redescobrir pequenos prazeres, com aquele, que achamos que vai morrer, ou conosco mesmo, vai que sejamos os escolhidos.

Mas, tem as mortes azedas. Trágicas. Sem previsão.

Que desespero aquela mãe sentiu sem ver completada sua ligação!

Que gesto de perseverança ao tentar por 104 vezes, até que alguém deve-lhe ter dito do veredito de seu filho.

104 chamadas não atendidas.

Como seria bom se para cada ser vivente, houvesse alguém que se preocupasse com ele a ponto de procurá-lo por 104 vezes, sem cansar!

Tenho dormido mal com o trágico acidente de Santa Maria-RS.

Eu e um bocado de gente em todo o Brasil.

Sofri por aqueles que se foram tão jovens e seus amigos e familiares.

Solidarizei-me com Cléber Pereira, da Gecap 4, que perdeu sua filha naquela boate, a Sabrina Soares. Quanto dor!

Deveria ser decretado a morte de todas as mortes insanas.

- Um navio que se aproxima muito da costa e tomba.
- Uma bala perdida.
- Um avião que numa estatística de probabilidades ínfimas, consegue chocar-se - na imensidão do céu azul, com um outro que vinha em sua direção.
- Uma criança que ao brincar, na casa de amigos, afoga-se na piscina... sem que ninguém se dê conta e possa salvá-la.

- Um infarto fulminante.

Mortes sem nexo. Sem direito a um adeus.

Nas quais tudo fica em suspenso.

Uma briga não resolvida, um beijo esquecido, um telefonema malcriado, um perdão adiado para depois, ou esquecido nas gavetas de nosso coração.

Tudo fica nas 104 chamadas não atendidas.

Tudo fica naquela despedida do netinho, ao sair de casa, dizendo aos seus pais que ia para igreja com sua vovó.

Tudo fica naquele casal de namorados que rindo, disseram aos amigos que iriam caminhar pela praia.

Tudo fica numa espécie de estado de vir-a-ser.

Por isso são tão brutais.

Tão incompreensíveis e de difícil processamento.

O que nos separa deste raio, deste caminhão desgovernado, desta fumaça tóxica?

O que nos separa daqueles pais, de noticiário recente, que esqueceram os filhotes no carro e estes vieram a falecer. Falecendo com eles, passando a serem vivos-mortos?

Tragédias, o que nos separa delas?

Nada.

Zere suas faturas com a vida sempre que puder.

Deixe a todos que gosta com saudações positivas.

Perdoe.

Ame sem pudor.

Carpe-diem sempre.

Faça a diferença, para o bem, por onde passar. 

Faça como o jovem Luiz Tadeu, o da fot dessa crônica,  que do alto de seus 58 anos continuava sendo um aprendiz da vida. Luiz no  feriado de carnaval foi visitar sua família no RJ e ali, no seio dos amados, teve um infarto fulminante e morreu, ontem dia 11.02.2013.

Luiz morreu sem dívidas para com o amor. Era o próprio amor em pessoa. Veja como ele se descrevia: 

"Acredito na importância dos valores morais, tais como, amor ao próximo e tolerância. Sou muito calmo, e paciente... Adoro rir. Adoro meu trabalho e minha família. Desde 1997, dou aula de 
informática para crianças e adolescentes de uma comunidade carente em Niterói (RJ)."



Um exemplo. 

Dia 8,  três dias antes de falecer, ele deixou esta mensagem para mim, quando reclamava de atitudes nada-humana que testemunhara:


"Ricardo, administrar pessoas é antes de tudo administrar vaidades, por mais que tentamos não nos chocarmos com este tipo de atitude, sempre nos chocamos. É isso! 
Nossa herança maior, será o conjunto de atitudes que tivemos aqui."  

Assim o amigo Rodrigo Bueller o definiu hoje, dia 12.02.2013, veja se não é a descrição de alguém, vítima de uma tragíca morte, daquelas azedas, que não aviusam, não pedem licença, mas que para este não o pegou desprevenido. Sua foice o ceifou em paz!
 "Um cara alegre, de bem com a vida, jovem apesar da idade, conselheiro, estudioso e camarada...O Tadeu era tbm um exemplo de carioca, até pq era apaixonado pelo Rio, era o boa praça, conversava com todo mundo, tinha um comentário otimista e um jeito leve de viver...Como alguns já disseram ele era o mais jovem de todos nós!!! Tadeu era gentil, experiente, mas não arrogante...Era o exemplo em pessoa...Profissional experiente vivendo ali conosco, sem querer ser mais do que ninguém, simples, humilde...Tadeu marcou!!! Sensacional quando brincavam com o Rio e ele dizia: "Esse queria ser carioca hein", ou quando falava comigo na sala me chamando "ô carioca"...Tadeu, você foi um exemplo pra mim e espero que cada um possa também levar seu exemplo!!! A prova de que antes de qualquer coisa devemos nos comprometer...com o trabalho, com a família e com a VIDA! Menos estresse e mais vida, menos reclamação e mais trabalho e humildade. Foi muito bonito ver o jeito carinhoso que vc falava de sua esposa...Fica com Deus amigo! Estou verdadeiramente triste, mas ainda contaminado pelo seu jeito jovem e sei que vc não ficaria triste com o que eu vou dizer...Você ficou um tempão em Brasília e veio passar seus últimos momentos no Rio, pra terminar a vida ao lado da família, sorrindo, amando, vivendo, vendo o Rio que vc tanto amava...Vc realmente é o Carioca, não poderia ter escolhido outro lugar, né!? Vai com Deus amigo! Vai com Deus! Foi mto bom conviver com vc! Continuaremos nessa jornada, com vc na memória."

Portanto, seja como Luiz, e tantos outros. Não faça dívidas afetivas com a vida e esteja sempre pronto a partir.  De malas prontas apra a eternidade.

Seja bom, gentil, ético, justo e grato.

Você e ninguém saberá quando será a próxima fatalidade, se você ou eu seremos suas vítimas, e de que forma, a astuta morte e a sua foice amolada, irão aprontar novamente.

Assim sendo, fecho numa súplica ao Deus de todos os credos, e até ao Deus dos incredúlos, que Você um dia atenda à chamada 105, de nossa mãe, filhos, esposa, familiares, amigos ou a minha própria e nos conforte, e nos ampare, nem que seja no envio de anjos-amigos-da-guarda, para que nos sustentem e nos levantem da protação e dor dos enlutados.



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