Considero o intervalo do coffee-break, em eventos de treinamento,
um espaço muito rico para compartilhar experiências, comentar sobre o
aprendizado, fazer benchmark, ou até de energização para novas atividades que
virão.
Recentemente, participei de um
bastante incomum. É que ao chegar perto da mesa de guloseimas, ali estava
perfilado um Chef.
O Chef que descobri chamar-se José, ao
perceber que os participantes rejeitavam
um bolo, com cara de ser uma bomba de
calorias de chocolate, intervia sorrindo: "Moça, não é de chocolate, é de
café. Uma delícia."
De tanto ouvi-lo fazendo aquela
declaração, e vendo que os participantes não se atreviam a pegar um único
pedaço, tive dó do José e rompi com uma de minhas esquisitices sagradas: a de
não comer doces.
De soslaio, o José acompanhava meu degustar do bolo, e soltou um:
"E aí, está bom?".
Disse-lhe em voz alta que era o
melhor bolo de café que já tinha comido.
Encostei no José e descobri que
ele migrou com os pais, vindo do Ceará. E que aprendeu a cozinhar com a mãe.
Que o bolo é uma especiaria que só eles sabem fazer, e que é o outro chef, um
holandês, que faz, e que ele o ajuda.
A especiaria dele é o wrap, uma
espécie de massa de pão bem fininha com recheios.
Mas, quanta generosidade no
José, ele não fez propagando do wrap. E sim do bolo de café de seu amigo, o
Holandês.
Perguntei para ele se fazia
parte do contrato ele ficar ali perto, nos ajudando a decidir sobre as
guloseimas. Ele me falou que não. Que gosta de explicar como faz as guloseimas,
sempre que alguém lhe pergunta.
Hoje em dia está muito comum um
termo em inglês chamado UX, que se trata de considerar a "Experiência do Usuário",
no desenvolvimento de produtos, bens e serviços.
E é isso que o José está fazendo, e em campo. Está vendo como seus
produtos são aceitos, e ao lado do cliente, agregando valor ao seu produto,
pela educação que nos proporciona ao dizer como ele é feito, e nos seduzindo com
a frase: "está uma delícia".
Precisamos voltar a ser como o José no mundo do trabalho.
A valorizar o produto ou serviço que negociamos, e a facilitar o
entendimento de sua importância, seu benefício para o cliente, e aprender a
destacar o que ele tem de melhor, nos torna profissionais diferenciados, em
qualquer ramos de atividade.
José aprendeu um jeito de fazer
a diferença. Agora ele é um curador de guloseimas, que uma a uma, destaca o
valor delas.
Tal qual os curadores de obras
de arte fazem, nas suas belas exposições.
O mundo do trabalho tem cada
vez mais profissionais no piloto automático, que não enxergam mais a riqueza
dos frutos de seu trabalho, e que não sabem, ou desaprendem a vendê-lo.
Perdem o sentido do trabalho, perdem-se a si mesmo, deixam de
renovar o primeiro amor, e passam a acumular diariamente razões para serem
infelizes.
Esquecem que podem fazer
diferente, podem inovar, podem colocar seu DNA, deixar seu legado naquele
processo, sistema, produto ou serviço que tocam.
Vão vivendo uma vida modorrenta
no mundo do trabalho, sem mais anunciar os "bolos de café" que estão
na sua prateleira.
José não. José sabe o valor do seu trabalho, para o outro, e
mesmo que o outro não o valorize, ele não se cansa em assim fazê-lo, José
encontrou seu jeito de fazer a diferença, mesmo que seja anunciando que o bolo
que não era de chocolate, e sim de café, está uma delícia. O que José ensina
aos profissionais, de qualquer mercado e negócio?
a. Conheça toda a carteira de
produtos e serviços que comercializa. (José conhecia para além do que faz bem,
o Wrap. Conhecia com detalhes o produto de uma outra área, digamos assim, que
na hora da venda passou a ser a área dele também, numa única empresa (Balcão de
coffee-break, entende a metáfora?) Quantos de nós queimamos os produtos
de outras áreas, de nossa mesma Instituição, sem criar entre eles sinergias
negociais.
b. Considere a experiência do
cliente. Coloque-se como ele, com empatia, para entender as lentes pelas quais
eles operam na realidade. Facilitando o entendimento dos sinais de compra, ou
não-compra, para alterar com rapidez o posicionamento estratégico. (No caso,
ele não esperou que a plaqueta na base do bolo cumprisse a missão de informar
que era de café, e ele mesmo passou a informar e valorizar o que estava
exposto)
c. Vá além do papel
institucional esperado. Entregue mais do que o combinado. Supere. Exceda. José
foi além, agregou valor e sentido ao seu trabalho. Muitos outros responsáveis
por coffee-breaks corporativos, mundo afora, apenas acompanham sua colocação, consumo
e retirada, e não fazem como José. Não ficam ali ao lado, babando suas crias,
ajudando a vendê-las, até porque já estão pagas. José não. José queria que tudo
fosse consumido, pois sabia que tudo estava "uma delícia". Ele foi
muito além do que se esperava dele.
Conheça seus bolos de café, e
aprenda a negociá-los. Afinal, podem tornar mais deliciosa a vida de quem os
consome.
O autor é professor do IBMEC, proprietário da Ânimo –
Desenvolvimento Humano (www.animodh.com.br); Autor dos livros: Sobre a Vida e o
Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito; Psicólogo
(UEPB), Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB), Especialista em Gestão de
Pessoas (USP) e membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva. E Life-Coach
(SLAC).
Obs: Na foto, o José.
Divulgação autorizada.
Adorei !
ResponderExcluirMuito bem articulada essa ideia que me instigou... acompanhar o cliente e ter tempo para se reposicionar estrategicamente.
E então. . . Fiquei curiosa, alguém mais apreciou o bolo de café?
😉
Forte abraço
Alessandra Pedrazani
Pós- Mpf
Alê, depois fez fila. Vendeu tudo! Era só o primeiro comer e falar em voz alto para induzir ao restante. rsrs
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFiquei morrendo de vontade de comer esse bolo de café rsrs
ResponderExcluirAbraços
Anne Caroline
Pós - MPT
E tava bom mesmo Anne, e olha que não sou muito de doce.
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