No mundo do trabalho, aprenda a negociar bolos de café. (Autor Ricardo de Faria Barros)

Considero o intervalo do coffee-break, em eventos de treinamento, um espaço muito rico para compartilhar experiências, comentar sobre o aprendizado, fazer benchmark, ou até de energização para novas atividades que virão.
Recentemente, participei de um bastante incomum. É que ao chegar perto da mesa de guloseimas, ali estava perfilado um Chef.
O Chef que descobri chamar-se José, ao perceber que os participantes  rejeitavam  um bolo, com cara de ser uma bomba de calorias de chocolate, intervia sorrindo: "Moça, não é de chocolate, é de café. Uma delícia."
De tanto ouvi-lo fazendo aquela declaração, e vendo que os participantes não se atreviam a pegar um único pedaço, tive dó do José e rompi com uma de minhas esquisitices sagradas: a de não comer doces.
De soslaio, o José acompanhava meu degustar do bolo, e soltou um: "E aí, está bom?".
Disse-lhe em voz alta que era o melhor bolo de café que já tinha comido.
Encostei no José e descobri que ele migrou com os pais, vindo do Ceará. E que aprendeu a cozinhar com a mãe. Que o bolo é uma especiaria que só eles sabem fazer, e que é o outro chef, um holandês, que faz, e que ele o ajuda.
A especiaria dele é o wrap, uma espécie de massa de pão bem fininha com recheios.
Mas, quanta generosidade no José, ele não fez propagando do wrap. E sim do bolo de café de seu amigo, o Holandês.
Perguntei para ele se fazia parte do contrato ele ficar ali perto, nos ajudando a decidir sobre as guloseimas. Ele me falou que não. Que gosta de explicar como faz as guloseimas, sempre que alguém lhe pergunta.
Hoje em dia está muito comum um termo em inglês chamado UX, que se trata de considerar a "Experiência do Usuário", no desenvolvimento de produtos, bens e serviços.

E é isso que o José está fazendo, e em campo. Está vendo como seus produtos são aceitos, e ao lado do cliente, agregando valor ao seu produto, pela educação que nos proporciona ao dizer como ele é feito, e nos seduzindo com a frase: "está uma delícia".

Precisamos voltar a ser como o José no mundo do trabalho.

A valorizar o produto ou serviço que negociamos, e a facilitar o entendimento de sua importância, seu benefício para o cliente, e aprender a destacar o que ele tem de melhor, nos torna profissionais diferenciados, em qualquer ramos de atividade.
José aprendeu um jeito de fazer a diferença. Agora ele é um curador de guloseimas, que uma a uma, destaca o valor delas.
Tal qual os curadores de obras de arte fazem, nas suas belas exposições.
O mundo do trabalho tem cada vez mais profissionais no piloto automático, que não enxergam mais a riqueza dos frutos de seu trabalho, e que não sabem, ou desaprendem a vendê-lo.

Perdem o sentido do trabalho, perdem-se a si mesmo, deixam de renovar o primeiro amor, e passam a acumular diariamente razões para serem infelizes.
Esquecem que podem fazer diferente, podem inovar, podem colocar seu DNA, deixar seu legado naquele processo, sistema, produto ou serviço que tocam.
Vão vivendo uma vida modorrenta no mundo do trabalho, sem mais anunciar os "bolos de café" que estão na sua prateleira.

José não.  José sabe o valor do seu trabalho, para o outro, e mesmo que o outro não o valorize, ele não se cansa em assim fazê-lo, José encontrou seu jeito de fazer a diferença, mesmo que seja anunciando que o bolo que não era de chocolate, e sim de café, está uma delícia. O que José ensina aos profissionais, de qualquer mercado e negócio?

a. Conheça toda a carteira de produtos e serviços que comercializa. (José conhecia para além do que faz bem, o Wrap. Conhecia com detalhes o produto de uma outra área, digamos assim, que na hora da venda passou a ser a área dele também, numa única empresa (Balcão de coffee-break, entende a metáfora?)  Quantos de nós queimamos os produtos de outras áreas, de nossa mesma Instituição, sem criar entre eles sinergias negociais.

b. Considere a experiência do cliente. Coloque-se como ele, com empatia, para entender as lentes pelas quais eles operam na realidade. Facilitando o entendimento dos sinais de compra, ou não-compra, para alterar com rapidez o posicionamento estratégico. (No caso, ele não esperou que a plaqueta na base do bolo cumprisse a missão de informar que era de café, e ele mesmo passou a informar e valorizar o que estava exposto)

c. Vá além do papel institucional esperado. Entregue mais do que o combinado. Supere. Exceda. José foi além, agregou valor e sentido ao seu trabalho. Muitos outros responsáveis por coffee-breaks corporativos, mundo afora, apenas acompanham sua colocação, consumo e retirada, e não fazem como José. Não ficam ali ao lado, babando suas crias, ajudando a vendê-las, até porque já estão pagas. José não. José queria que tudo fosse consumido, pois sabia que tudo estava "uma delícia". Ele foi muito além do que se esperava dele.

Conheça seus bolos de café, e aprenda a negociá-los. Afinal, podem tornar mais deliciosa a vida de quem os consome.

O autor é professor do IBMEC, proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano (www.animodh.com.br); Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito; Psicólogo (UEPB), Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB), Especialista em Gestão de Pessoas (USP) e membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva. E Life-Coach (SLAC). 

Obs: Na foto, o José. 
Divulgação autorizada. 

5 comentários:

  1. Adorei !

    Muito bem articulada essa ideia que me instigou... acompanhar o cliente e ter tempo para se reposicionar estrategicamente.

    E então. . . Fiquei curiosa, alguém mais apreciou o bolo de café?

    😉

    Forte abraço

    Alessandra Pedrazani
    Pós- Mpf

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    Respostas
    1. Alê, depois fez fila. Vendeu tudo! Era só o primeiro comer e falar em voz alto para induzir ao restante. rsrs

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Fiquei morrendo de vontade de comer esse bolo de café rsrs

    Abraços

    Anne Caroline
    Pós - MPT

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