Faça-se Sombra!


Acordei cedinho para ver o primeiro nascer do sol de 2022. Ver o sol nascer, o sol se pôr e a lua cheia são, para mim, terapias naturais, tônicos para almas.
Dei sorte de terem poucas nuvens na barra do horizonte e assim pude vê-lo erguendo-se da noitada no Japão, é já todo majestoso.
Focando mais ao centro, após um bom tempo de contemplação, acho que vi um coração sorrindo, chamando-me para o belo café da manhã que Dona Celina com tanto amor nos prepara.
Refeito da alma e do corpo, com o coração aquecido pelos efeitos do pão e da beleza, saí pelas 7h para minha caminhada de praia.
Na caminhada de ida, dos primeiros 2km, encontrei uma família divertindo-se com uma bebezinha, fazendo piscininha de praia pra ela.
Sempre achei esta cena tocante. Acho que quem constrói piscininhas na areia de praia, para refrescar os seus amados, revelam parte do que a humanidade tem de melhor.
No retorno, para os 2km da volta, decidi me aproximar delas e perguntar a idade da bebezinha.
Ela tem 10 meses e se chama Valentina.
E uma cena, desde que eu deles me aproximava, encheu meu coração de ternura e paz. Era a cena do cuidar, brincar e amar. 
A família eram três pessoas: a mãe da Valentina, a Valentina e a sua vovó (Gisele).
A mãe estava dentro da piscina, brincando com a sua cria.
E a vovô ficava tomando sol em pé, de modo que fizesse sombra pra Valentina.
Perguntei se aquela pose era proposital, incrédulo frente a sensibilidade da cena.
Ela falou que sim. Que sempre que eles estão na praia, bem cedinho, ela fica protegendo a Valentina do sol, enquanto bronzeia as costas. Depois que a Valentina volta para casa, pelas 8 horas, ela cuida de bronzear a outra metade do corpo.
Elas são de São Luís e estão passando uns dias numa pousada perto da beira-mar aqui em João Pessoa, na praia do Bessa.
Despedi-me delas e voltei para casa, para fazer as pequenas tarefas do dia.
No caminho, desejei aquela sombra da Vó da Valentina. O sol queimava minha careca, e chegava com força.
E me veio à mente a importância do que a mãe e a vó da Valentina estavam fazendo e o quanto aquilo ali nos ensina.
Elas não tinham guarda-sol, cadeira de praia, nem piscina inflável.
Mas, com o que tinham elas se faziam presentes na maravilha viagem da vida e do viver.
Com as mãos, cava-se uma piscina que vira a melhor do mundo.
Com morrinhos de areia, feitos nas bordas da piscina, constroem-se torres de um castelo imaginário.
E a Valentina vai se entretendo com a sua mamãe a contar-lhe sobre princesas e duendes que no Castelo da Valentina habitavam.
Mãe e filha conectadas pela palavra, pela imaginação, pela fantasia do brincar, sem nenhum recurso tecnológico para mediar esta relação.
Avó, totalmente engajada em vigiar a sombra, para que de sua projeção o máximo de conforto tivesse sua neta.

Como estes gestos nos falam do amor.

Na avó da Valentina, o amor do servir, do cuidar, do proteger. Aquele amor gostoso que nos mobiliza a fazer algo pelos outros. A dar de nós mesmos, para melhorar a jornada deles.
Que coisa mais linda de meu Deus, é poder ficar à sombra da Vó da Valentina.

Tu já fizeste sombra para alguém? Já diminuiu a exposição de uma pessoa aos riscos do viver?
Têm muitas pessoas precisando de nossa sombra, para que consigam resistir ao sol inclemente de suas vidas.

Essa sombra pode ser uma palavra amiga, uma visita, uma ajuda fraterna. Pode ser a solidariedade perante momentos difíceis que ela vive. Ser sombra é ser cuidados para com o outro. É estar permeável e atento às suas necessidades e com empatia fazer o que se pode para ajudá-lo.

Cuidar é amar.

Já a mãe da Valentina mostrou uma coisa muito bacana para nós. O valor de estar presente, de se interessar, de se conectar com a outra pessoa.
Ali eram só elas. Mãe e filha, inteiramente envolvidas na construção da piscina e dos Castelos de Areia.
A mãe da Valentina interessou-se pela filha. Estava 100% presente ao mundo lúdico de sua bebê, e envolveu-se com plenitude á aquele momento.

Se interessar é amar.

A piscina e castelo de areia de praia nos ensinam sobre o se interessar pelo mundo do outro.
Interessar-se pelo mundo do outro também é uma das expressões do amor.
Precisamos de muitas mães e avós Valentinianas nesta humanidade, capenga de afeto, empatia e tão individualista.
Precisamos fazer nossa parte para dar de nossa sombra ao próximo.
E para com ele nos conectarmos, despertando interesse e empatia para com a sua jornada.
Sempre que estiver se sentindo sozinho, desamparado e meio que perplexo diante da vida, saiba que ainda assim poderá ser sombra para muitas pessoas que de ti necessitam.
E, com tuas mãos criar uma ponte de amorosidade e interesse para com elas, construindo com este relacionamento afetuoso um novo amanhã possível.

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Notas após postagem:

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Dias depois desta postagem, a vovó da Valentina fez um comentário no meu blog. Quando eu me apresentei para elas , eu falei que escrevia umas coisinhas e disse o nome do Blog. Mas, como ninguém em leva lápis e papel pra praia, e achei que nunca mais teria contato com a vovó, a mãe e a Valentina.  Bode com Farinha. Mas, qual não foi minha surpresa ao chegar das férias e ler isto aqui abaixo. 

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Ricardo, Quão belas e inspiradoras são suas palavras nesta tocante crônica, onde você com sua imensa sensibilidade e amor pela família, pois só quem vive o amor familiar e a natureza, para deixar fluir tamanha doçura de palavras amorosas e sonhadoras. Ratifico suas palavras, onde dizes que podemos a cada dia a cada gesto sermos útil ao próximo, seja ele familiar ou não. Suas palavras emocionaram toda família. Eu como avó de valentina, a bebêzinha de sua crônica.senti-me honrada com sua delicadeza das palavras. Muito obrigada, que você nunca perca sua sensibilidade no olhar para o outro, no gesto amigo, no seu bom dia com sorriso. Assim também se ilumina o dia de alguém que talvez não tenha recebido um bom dia ainda. Gisele Maria Rabelo Pronk, vó de Valentina.

12 comentários:

  1. Ser sombra é uma forma de ensolarar a própria vida!

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  2. Lindo texto, professor!!
    Excelente reflexão!!

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  3. Uma reflexão do cotidiano maravilhoso! O amor está nesses pequenos gestos!

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    1. Sim amiga, em cada gestinho de luz, se esconde a maravilha da vida.

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  4. Texto maravilhoso e que reflete bem a noção de amor e cuidado.

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  5. Conexões vitais cada vez mais raras em um mundo acelerado. Façamos pausas de ternura e paz ...

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  6. Ricardo,
    Quão belas e inspiradoras são suas palavras nesta tocante crônica, onde você com sua imensa sensibilidade e amor pela família, pois só quem vive o amor familiar e a natureza, para deixar fluir tamanha doçura de palavras amorosas e sonhadoras.
    Ratifico suas palavras, onde dizes que podemos a cada dia a cada gesto sermos útil ao próximo, seja ele familiar ou não.
    Suas palavras emocionaram toda família.
    Eu como avó de valentina, a bebêzinha de sua crônica.senti-me honrada com sua delicadeza das palavras.
    Muito obrigada, que você nunca perca sua sensibilidade no olhar para o outro, no gesto amigo, no seu bom dia com sorriso. Assim também se ilumina o dia de alguém que talvez não tenha recebido um bom dia ainda.
    Gisele Maria Rabelo Pronk, vó de Valentina.

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    1. Uauuu, cheguei em Brasília agora e estou acessando o blog. Que massa, vou editar e colocar o nome da vovó. Tu me enche de orgulho.

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