Coma suas folhas ao lado de flores.



Fotografei a este animal exótico, chamado de bicho-pau.
Ele não tem graça e formosura, aos olhos dos outros.
Até amedronta.
Parece um ser disforme.
Mas, se parar um pouquinho para percebê-lo, em toda sua essência, ele tem tudo que os outros animais possuem. Só que é diferente.

Aprendeu a se mimetizar em forma de galhos secos.
Para sobreviver.
Embora venhamos a ter momentos-trevas, momentos-seca, momentos estranhos tal qual este bicho. Aqueles instantes que para sobreviver nos adaptamos ao meio.


E nos transformamos num bicho-pau.


Ainda assim, somos belos.
Ainda assim somos luz.
Ainda assim, tal qual este bicho-pau: feio, estranho, sem graça e formosura, cansados, às vezes até entristecidos, há vida que geme em nosso ser interior.
Vida que nos faz caminhar para as bonitezas que existem ao nosso redor, e que precisam de poesia para serem vistas.
Somos caminhantes.
Peregrinos, em busca de instantes que eternizem nossa presença no mundo.
Caminhamos em busca de um sentido, de um belo, de algo que dê significado ao nosso existir, tal qual o caminhar do bicho-pau pra comer suas folhas perto de uma flor, de tantos galhos sem flores, ele escolheu este.
Esta flor que embeleza sua vida são nossos amigos, as pessoas para quem viver vale a pena. São elas que emprestam graça e formosura ao nosso viver.


Esta flor que ele toca, chama-se graça.
Graça por existir, por receber o abraço da vida todos os dias ao acordar.
Nos meus dias bicho-pau, lembrarei de ir comer umas folhinhas, para sobreviver, ao lado de flores.


Elas me ajudarão a continuar alimentando-me de frágeis esperanças. Pois, é de esperança que se constitui a matéria dos que se permitem chorar somente uma noite e um dia.


Daqueles que seguem à frente, abrindo caminhos, desbravando o novo, machucando-se em espinhos tal qual sertanejos ao procurar suas criações perdidas, no meio das árvores espinhentas da Caatinga. Não há caminhos para eles. Eles fazem seus caminhos ao caminharem por entre galhos ameaçadores.
Abrem picadas, aprendendo com os erros e decepções. Crescendo com eles.
Amadurecendo.
E, amadurecer dói, contudo sem dor não há mudança, em nenhum processo psico-físico-social.
Bendito bicho-pau que escolhe um canto florido para perseverar seu vir-a-ser!

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