Sepulcros Caiados

Uma charge, uns tiros, e fere-se a esperança.

Hoje anoiteci solidário. Gosto de charges e de chargistas.
Mas, preocupa-me a explosão de separações que tenho visto pelas redes sociais, já não bastando as de cunho político no Brasil.
A humanidade acirra diferenças, produzindo guetos sociais.
Irmãos muçulmanos, perseguidos por atitudes extremas de outros que não cultuam fé alguma.
Quem ousaria sair às ruas de Paris usando uma burca, nessa noite de caça?
E, na selva, todos os bichos são percebidos como violentos.
Não há espaço para pet-shop.
Nenhuma grande religião do mundo prega esse tipo de "vingança".
Só extremistas, de todos os credos e ideologias, aceitam esses meios para justificar os fins.
E, acabam por destruir as chances de uma convivência pacífica entre culturas distintas.
Em todo mundo, barreiras xenofóbicas se erguem, com mais um pretexto para punir o estanho: "aquele que vem de longe roubar meu emprego".
No fundo, são iguais aos que combatem.
Gritam: Morte ao diferente. Morte ao diferente. Morte ao diferente.
Ódio e desejo de vingança, escuto em todos os portões da civilização contemporânea.
A turba grita por sangue, lei de talião, qual uma horda de sanguinários.
Precisamos de flores desafiando os horrores.
De simples flores de plástico que diferenciem sepulcros caiados, uns dos outros, lápides insossas em sua mesmice burocrática de uniformidade.

Precisamos de mais compaixão e menos ódio. Compaixão para com os que sofrem, justiça para com os que provocam.

Nada justifica a insanidade de tirar vidas em nome de uma pseudo-fé. A ética da vida prevalece.

Dependendo da leitura de qualquer manual sagrado pode-se embarcar em extremos.

Vejam por exemplo a Bíblia, no Novo Testamento, livro de Coríntios 14:33-35
"Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar".

Imagine se levássemos ao pé da letra, nossa igrejas seriam mudas.

A leitura de um versículo bíblico precisa ser feita sob o estatuto do amor, contextualizando o texto sociologicamente falando, e o amparado na história, economia e política da época.
Alguns, simplesmente, foram invencionices de um povo (poesias, fantasias, ficções, delírios, sonhos...)
Coisa plantada do homem, dentro do escrito sagrado.

Como separar o joio do trigo? Amando a Palavra, Lendo-a com olhos do amor,para relativizar cenas que não fazem mais sentido - contextualizando-as historicamente, e identificar a as que ainda hoje falam ao coração.

Pegar um versículo e sair bradando aos quatro ventos que Deus é contra aquilo, ou isto aqui, é o primeiro passo para o extremismo religioso - mãe de todas as segregações.  Calem as mulheres, escuto radicais do 14-33-35. Livros sagrados podem ser usados para prender ou libertar, em suas interpretações. Quanto a mim, prefiro os que libertam, os que falam de amor de Deus, e não da força do Diabo.

Não sou muçulmano, mas Alá não é um Deus de discórdia.

De discórdia são crentes de toda a natureza, de todas as religiões, quando só precisam de um versículo para calarem a voz de quem lhes faz qualquer tipo de crítica, ou se comporta de modo inadequado ao que espera. Empunham versículos como armas de fogo, ou amoladas facas, cravadas no peito de seu oponente de fé, ou de comportamento.

Neste caso, fecho com os ateus.

Em tempo: Também não gostei das charges com minha fé cristã; mas, aprendi que "Bem aventurados são os mansos de coração, eles verão a Deus."  Aprendi Dele. Então, viro a página e sigo firme na fé. Não gosto quando chutam a imagem de Maria, mas não persigo evangélicos por isso, sei que são extremistas, malucos da fé. Então viro a página e não crio muros para todos indistintamente, por causa de uns radicais. Sim, mulheres: dancem, louvem, cantem, preguem, profetizem, as igrejas são vossas, como nossas.

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