Esta tão falada esperança

Esperança, como definir o indefinível, sem o uso de metáforas?

A esperança é um interruptor que acionamos, crendo que algo se acenderá no futuro.

Filósofos que me perdoem a simplicidade, mas o interruptor emocional que me mobiliza a ir além até de minhas próprias forças, em busca de um objetivo, é a expressão dessa palavra tão preciosa.

Outro dia, fotografando o meu filho no mar, e, entre uma onda grande e outra, larguei a câmera. O mar a engoliu. Desesperado, mergulhei alucinadamente tentando encontrá-la.

Fiquei ali, mar adentro, por um bom tempo. Até raspava o solo do mar com minhas mãos, em apneias ousadas, ou inventava umas dancinhas para varrer o leito com meus pés. O pessoal me chamava para ir para casa. Eu pedia para ficar mais um tempinho.

Por mais de uma semana, acordava cedo todos os dias e caminhava por aquele trecho de praia, olhando fixamente para o resto de sargaço que a maré bota para fora, na esperança de que entre eles visse a cor laranja e o metal reluzente de minha câmera.

Esperança é o tipo do valor que quem tem, sabe que tem. E quem não tem, idem.

Hoje fiz uma limpeza nos trecos eletrônicos que guardo, e vi o carregador da bateria da câmera. Senti um aperto no coração e o botei no lixo. A esperança também tem seus dias de acabou.

Hoje foi um deles. Para que guardar aquilo mais um pouco comigo? Só me faria lembrar de minha tão amiga câmera subaquática.

Não sei se reparou na foto que ilustra este texto, ele é de um tronco de uma árvore.

É minha goiabeira, antes tão bela e frondosa. Eis que ela ficou exatamente no meio de onde um dia, bote esperança nisso, farei outra área de lazer em minha casa, mais espaçosa já que a família cresce.

Então a transplantei para outra área. Tem uns 15 dias. Ela secou todas as folhas.

Não há nada nela que revele beleza e formosura. Mas, todos os dias boto água em suas raízes.

E, periodicamente tirou uma casquinha da pele de seu caule, só para alegrar-me de ver que ainda está verde.

Verde é a cor da esperança. Tirar essa casquinha é esperança pura, em forma de gesto.

Quantas mães entenderam exatamente o que quero exprimir. Elas vendo que seus filhos, embora mortos por fora, desacreditados, abatidos, querendo desistir de viver ou envolvidos com coisas graves, ainda estão verdes por dentro, não morreram, há esperanças.

Mães estão sempre grávidas de esperança.

Todos olham para aquela árvore tosca, com todas as folhas murchas e dizem que ela morreu. Quanto a mim digo-lhes: morreu nada, vai renascer em brotos, é só ter paciência.

Esperança pede paciências.

Todos os dias acompanho o diário de um pai ao visitar seu filho numa UTI. São escritos repletos de esperança. O filhote perdeu os movimentos e está em coma.

Seu pai não o vê como quem está em coma.

Seu pai o vê como quem está voltando.

Percebem a diferença entre a esperança e a realidade?

Uma tentaria provar as dificuldades dos neurônios se recuperarem, ou inundaria o pai com fatos objetivos e dados racionais de desânimo.

A outra segue por um caminho diferente. Ela seleciona pequenas vitórias, e as projeta no futuro. Ela aguarda o retorno do corredor de luz, aguarda o dia de amanhã como se nele tudo pudesse ter sido apenas um pesadelo.

Ela, a esperança, é o combustível dos fortes e corajosos.

É do que se alimenta os sábios e revolucionários do amor, de todos os credos, ofícios e culturas.

Uma câmera perdida no mar; um pé de goiabeira transplantado e um filho em coma são altares da esperança nossa de todos os dias.

Entre a esperança e a visão realista e imanente da realidade, prefiro a primeira.

A primeira estará sempre a desafiar a segunda, e, muitas, mais muitas mesmo das vezes, a primeira: a esperança, acabará no futuro criando a segunda: a realidade.

Deveria ensinar-se a disciplina Esperança nas escolas.

Com seus módulos:

Amanhã vai ser melhor;

Isto também passa.

Nada é tão ruim que não possa melhorar;

Olhe para os lados e faça algo com o que restou.

Levante-se e acione o interruptor do futuro.




Mas, engana-se que a esperança é ficar deitado na cama esperando que algo aconteça.

A esperança move-se na ação, motiva-se em si mesmo numa busca.

Nunca é a alienação de braços cruzados.

A esperança move-se pelos pântanos do ser, em busca de algo que a motiva.

Por exemplo, chego cansado do trabalho, mas vou botar um balde de água na goiabeira.

Ou, mesmo com sono acordei cedo por uma semana e caminhei pelas 6 da manhã na praia, para ver se encontrava minha máquina – que poderia ter sido devolvida pela maré, antes que outros banhistas a encontrassem.

Ou o pai, que conta histórias para o filho, põe música que ele gosta, limpa sua pele com lenços umedecidos, na certeza que que a qualquer hora ele baterá a porta do acordar novamente.

Lembra a segunda frase do texto? Percebe nela a ação? De acionar o interruptor.

Essa é a lição mais preciosa da esperança.

Espere agindo. Semeando e cultivando seus esperares nos canteiros do possível.

Por isso, esperança não são sonhos.

São muito mais que sonhos, pois são agir.

Um agir no hoje que temos, em busca de um amanhã que queremos e podemos ter.

Se há um valor dos valores, energia para tempos difíceis, diria que é o ensinamento e os aprenderes da esperança. Esse sim, torna-nos imortais. Então caro amigo(a) que nutre uma semente de esperança guardada no coração, não a deixe sem um balde de água diário. Continue irrigando-a, mesmo que todos ao teu lado tenha desistido e para ti dirijam palavras de desânimo. Acredite na força de teu baldinho de água diário, para fazer germinar no futuro os rebentos de uma árvore que no hoje parece ainda tão frágil e sem forma, até de certa maneira impossível de acontecer. Desafie a lógica dominante, e acredite nos teus projetos, desejos e sonhos mais caros, criando baldinho a baldinho de água, as condições objetivas para que eles tornem-se presentes num futuro próximo. Isto é esperança. e das boas.

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