No Dia do Idoso: uma confissão, um perdão, uma revolução
Eu tinha 35 anos. Era um jovem recomeçando a vida em Brasília, pelos anos 2000, cheio de dúvidas e marcas de recomeços. Foi então que, em Cuiabá, num curso que eu ministrava, conheci uma mulher. Ela não era aluna, mas amiga de um dos participantes, o Aldo — meu amigo de tantas jornadas. Ele me pediu que a escutasse. Disse que ela estava em um luto profundo, precisando de apoio.
Eu não podia, em apenas cinco dias de curso, oferecer terapia. Mas podia estar presente. Assim, entre uma aula e outra, fora do horário, ofereci uma escuta improvisada, uma “bar-terapia”, como chamei. Ficávamos conversando longamente. Ela me contava suas dores. Eu, as minhas. Dois perdidos diante dos rumos da vida, dois corações tentando achar chão. E, sem que eu percebesse, nasceu um encantamento.
Ela tinha força no olhar, uma coragem silenciosa que me atraía. Eu sentia que podia nascer dali uma história. Mas dentro de mim se ergueu um muro: ela era dez anos mais velha. E eu, com meus 35 anos, não soube atravessar essa barreira inventada. O preconceito me roubou a coragem. E segui meu caminho de volta ao DF, carregando a dúvida do que poderia ter sido.
Hoje, no Dia do Idoso, faço uma confissão pública. Eu nutria um preconceito contra ela — e contra mim mesmo. Um etarismo íntimo, silencioso, que me fez acreditar que diferença de idade era abismo. Vinte e cinco anos depois, percebo: era só um detalhe. Se tivesse ousado, poderia ter escrito uma história diferente. Carrego essa culpa, mas também aprendi: a vida não mede amores em décadas de nascimento.
Onde mora o preconceito contra o idoso?
Muitas vezes, mora em nós.
Não é só a sociedade que diminui. Somos nós que repetimos frases como: “já não posso mais”, “isso não é pra minha idade”, “estou velho demais”. E assim alimentamos os mitos que nos aprisionam.
A gerontolescência é um tempo de redescoberta. Não somos restos de juventude. Somos uma nova estação da vida, uma primavera de possibilidades.
Como tratamos mal os idosos – às vezes sem notar:
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Falando por eles, como se não tivessem opinião.
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Infantilizando, reduzindo sua autonomia.
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Excluindo de projetos e decisões.
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Rindo de seus esquecimentos.
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Impondo silêncio com frases como “isso não é para sua idade”.
Como romper esse círculo e florescer na longevidade:
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Trocar o “não posso” por “ainda posso”.
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Aprender algo novo: um idioma, uma dança, uma tecnologia.
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Partilhar saberes: cada experiência é um tesouro.
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Celebrar vínculos: família, amigos, comunidade.
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Cuidar do corpo e da mente com movimento, espiritualidade e alegria.
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Ousar: amar de novo, viajar, empreender, recomeçar.
Meu pedido e meu chamado
Hoje, no Dia do Idoso, peço perdão — àquela mulher, a mim mesmo, e a todos que já foram vítimas de meus preconceitos silenciosos.
E faço um chamado: que cada idoso, e cada jovem que envelhece, escolha florescer. Que não aceitemos mais o peso das frases que nos diminuem. Que sejamos protagonistas da revolução da longelescência — um tempo de flores, de raízes profundas e frutos novos.
Que nos perdoemos pelos preconceitos que nutrimos contra nós mesmos.
E que nunca esqueçamos: a vida sempre nos oferece recomeços.