Sobre a arte de tocar bateria e a liderança. (Autor Ricardo de Faria Barros)






Preste atenção na presença de espírito do baterista da foto.
Ele toca o infinito com sua maestria musical.
Envolvido com sua arte, doa-se com o que tem de melhor. Faz daquele show, único.
Não me contive e sentei-me no gramado para apreciá-lo. Fiquei por um bom tempo contemplando-o, em sua performance. Era a coisa mais linda de se ver. O jovem dava sozinho, um show. Concentrado ao extremo, conseguia acompanhar difíceis acordes da guitarra e baixo, sem perder a batida e o ritmo.

Ele usava a baqueta com maestria. Seu corpo o acompanhava
nas piruetas que fazia, mal cabendo no banquinho que sentava, tal a sua empolgação.

Um dos poucos instrumentos musicais que não é tocado com uma parte do corpo humano é a bateria Ela é tocada com a baqueta. Uma espécie de vara que usamos para batermos nos pratos e bombos, e tiramos daí o som. É um som da melhor qualidade. Elas são instrumentos de percussão. Bateristas são percussionistas.

Quase sempre passam despercebidos nas bandas. Não lançam
CD solo. Não brilham sob os holofotes como acontece com os cantores, guitarristas, violonistas, pianistas e saxofonistas.

Aliás, a bateria é um instrumento tão amigo, tão dois, que sozinha não consegue criar uma escala musical. Elas precisam de outros instrumentos para se fazerem notadas, na composição que acompanham. Uma bateria sozinha não toca uma canção. Diferente de um sax, piano ou violão.

Não tem como pedir a um baterista que dê um solo em dó maior. Ou que toque o Bolero de Ravel. Bateristas são belos, pois precisam de outros músicos para fazerem seus shows. Por isso, invariavelmente os percussionistas, categoria de cujos bateristas fazem parte, são humildes.

E, aqui para nós, uma música sem uma boa bateria fica faltando algo.
Não imagino um rock sem uma bateria. Nem, uma guitarra sem sua amada bateria. Elas fazem um arranjo bacana, que, com sua batida marcam qual um coração, a pegada da música.
E, o toque da bateria exige duas baquetas. Uma baqueta só, também
não dá o ritmo de uma bateria. Para explorá-la, em todo seu potencial, o baterista manuseia uma em cada mão. Então a bateria é para mim o instrumento do "Nós", da união, do encontro.
Fiquei ali no gramado embevecido, tentando entender como ele
conseguia, sem uma partitura sequer, captar o ritmo da música, das pausas, das viradas e abrilhantar as melodias com sua arte. Ao término do show, o jovem rapaz dirigiu-se até mim e presenteou-me com uma de suas baquetas.
Fiquei emocionado. O abracei.

Ele tinha os olhos marejados. Não precisou me dizer nada. Senti o que ele queria me dizer. Ele estava reconhecendo a minha audiência. O baterista chama-se Pedro Guerreiro, pela forma de tocar é um guerreiro mesmo!

Líderes precisam aprender com os bateristas "Pedro Guerreiros".
Aprender a deixar que os músicos de sua banda, seus liderados, construam a melodia, e eles acompanhem dando-lhes o ritmo.
Líderes precisam de fartas doses de humildade. Precisam da sabedoria de um baterista, que mesmo sem partitura alguma, consegue acompanhar o grupo de músicos e fazer seu papel, sem atrapalhar os outros. 

Precisam saber formar outros líderes, distribuir tarefas, delegar, confiar, comemorar resultados, usar as falhas para formar, reconhecer e valorizar seus liderados.
E, falo de todos os tipos de lideranças, sejam as hierárquicas
institucionais, sejam as natas. Pais e mães podem liderar seus filhos, como Pedro Guerreiro. Educadores podem liderar suas turmas. 
Religiosos e desportistas, idem.
Todos nós, que em algum momento de nossa vida exerça mais intensamente a liderança, independente do cargo, podemos fazê-la com a maestria do Pedro Guerreiro - o baterista.

Gostei mais da analogia de um líder com um baterista do que a
comumente usada com um maestro de orquestra. Maestro, ainda soa distante, com poder, quase um Showman.


Líderes do pós-moderno não ficam em pedestais regendo, vão pra junto dos liderados e ali também assumem tarefas, dão o tom, como precisa ser feito.

Líderes executam seu som também, embora de seu instrumento não
deva sair nota alguma, apenas o acompanhamento, o arranjo, um naipe melodiosos de sons que se integram às partituras e as enriquecem. Líderes precisam deixar nos grupos de que participa a sua marca, sua identidade, seu amor e entrega.

Essa marca pode ser as avaliações formativas, que fez os membros da equipe e que os ajudaram a ser melhores. Pode ser os valores que deixam nos liderados. Pode ser as orientações, que ao longo da jornada fez para seus liderados. Pode ser até a influência que exerceu sobre eles.

São as marcas da liderança.
Tais quais os sulcos gravados, na baqueta do Pedro Guerreiro. Líderes podem deixar sulcos nos liderados. E que sejam sulcos, marcas do bem.
Infelizmente alguns líderes deixam marcas nos liderados, traumas, mágoas que por muito tempo eles lembrarão negativamente.
Seguro agora a baqueta em minhas mãos, vejo os sulcos na sua
madeira, evoco cenas daquele dia memorável.
 

Líderes deixam as realidades nas quais habitam melhores, transformam e influenciam as mudanças. São marcadores do ritmo das equipes, são percussionistas de corações e mentes. Mas, sabem que sozinhos não tiram som algum. Precisam da companhia de outros músicos e instrumentos.
 

Uma pena que muitos "líderes-bateristas" vão esquecendo-se de
suas equipes à medida que sobem na cadeia alimentar do poder. Vão desaprendendo a força dos nós, e passam a inviabilizar os grupos em que trabalham com estéreis solos de bateria.

Acham que se bastam sozinhos. Precisam ter aulas de bateria.

Faria melhor a eles, ao seu crescimento profissional, do que muitos
MBA’s em Administração. Garanto-lhes! Alguns, de tão inebriados pelo poder, desprezam até as baquetas (utilizadas em duplas) e passam a querer tirar o som com suas próprias mãos. Pobres baterias tocadas dessa forma.

De tão auto-suficientes que vão ficando, de tanto orgulho inflado,
vaidade, nem pensam mais no chão. Então, para que precisar das baquetas?
Suas atuações destrambelhadas adoecem pessoas, diminuem
produtividade, em médio prazo, e expulsam talentos. Sua música solo doi os ouvidos e não toca nada que eleve os corações e almas.
Vão ficando isolados pelo poder, prepotentes e arrogantes. Bateristas sem banda. Uma pena!
Abençoado jovem baterista que me ensinou que, sem as equipes não há liderança! 

Abençoados líderes-bateristas, do tipo Pedro guerreiro, que permitem que suas equipes deem o show sem sufocá-las! Que sabem que seus.papéis são integrar-se à melodia. Dá-lhes um sentido, o sentido do trabalho, reconhecer seus clientes que escutam a banda de suas equipes com baquetas.
 

E que possuem uma inteligência emocional em constante
desenvolvimento, a ponto de conseguirem tocar sua bateria sem ler uma Partitura sequer, e não atravessar o compasso. Eu sou o que sou pela influência, que esses líderes tipo Pedro Guerreiro, tiveram em minha vida.

Ainda aprendo! Mas aprendo com bons bateristas!

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