Há alguns dias voltei de merecidas férias e aos poucos restabeleci a desordem de meu apartamento. rsrs
Uma das primeiras coisas que fiz foi encher os bebedouros de meus pássaros de janela, que estavam sem reposição desde a virada do ano. Ou seja, há 20 dias. Coloco neles um pó violeta chamado de Néctar que compro em Pets Shops, misturo com água, e está feita a bebida deles que durará alguns dias. Vê-los alimentando-se rejuvenesce esperanças. É terapêutico e tem sido motivo de inspiração para mim. Já os conheço bem. Têm os Sanhaços, azuis, os Xexeus, laranja e preto, os Canários, amarelos, Beija-Flores, furta-cores.
Moro no sexto andar, e os janelões são margeados pelas copas das árvores, o que também favorece esta aproximação.
Acontece que ando órfão deles. Como deixei de alimentá-los, extingui neles o hábito, e eles cessaram de alegrarem meu lar com a sua presença, pelo menos por enquanto.
Mas, não desisto de repor a água do bebedouros, cujo calor inclemente que tem feito aqui pelas bandas do Planalto Central tem evaporado considerável quantia, todos os dias.
Não desistirei deles.
Creio que estes bebedouros são uma poderosa metáfora de nossas emoções e pensamentos positivos.
Já notou que nos sentimos bem perto de pessoas que expressam emoções do bem, do tipo da paz, do perdão, da misericórdia, da esperança, da gratidão e amor?
E que também nos sentimos muito bem perto de pessoas que colocam para nós seus pensamentos mais edificantes, que nos acolhem, nos incentivam, nos reconhecem, nos estimulam, em palavras tão cheias de ternura e fé, qual o néctar que coloco todos os dias.
Em tempos de grave epidemia mundial da Síndrome da Intolerância a Gente, doença por mim definida noutra crônica, precisamos cuidar de nossos bebedouros existenciais.
Precisamos renovar nosso néctar, diariamente, para que pessoas possam se aproximar de nós, se alimentar de nossos valores, sonhos, ideais, e deixarem a nossa presença melhores do que chegaram.
Tem muita gente reclamando que os tempos andam difíceis mais o que tem feito com seu próprio bebedouro?
Que tipo de energia anda atraindo? Ou nela se sintonizando?
Se eu não repor meus bebedouros, como posso reclamar de meus pássaros que me abandonaram?
Quantas pessoas se sentiram abandonadas por outras, mas que precisam fazer um exercício de autoconhecimento, bem doloroso, de ver se não foram as atitudes delas, expressas em emoções, pensamentos e comportamentos, o que de fato contribuiu para que elas se afastassem.
Somos muito bons em julgar os outros. Em reclamar que o mundo anda em pe de guerra, que todo mundo está muito egoísta, que ninguém quer mais compromisso com ninguém, ou nenhuma causa.
Tudo bem. As coisas estão por aí mesmo.
Mas, e quanto aos nossos néctares? Estamos repondo eles, todos os dias, apesar da seca inclemente que teima em fazê-los evaporar, ao final de um dia de pancadas que levamos da vida?
O grande perigo de se conviver em ambiente de emoções tóxicas e extramente negativas; ou naqueles cheios de pessoas rabugentas, negativas, reclamonas e chatas de galocha, é nos tornar tal qual elas.
Elas desistiram de atrair os beija-flores para seus pássaros.
E aí todos vão empobrecendo como humanidade. A ponto de quando recebemos um atendimento bom, um telefonema de alguém se preocupando conosco, um retorno de uma mensagem nossa, via rede social, ou um simples gesto de querer nos ajudar em algo, ficamos desconcertados.
Como diz a poetisa Verônica Shoffstall: "Plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores." Este texto é erroneamente atribuído Shakespeare.
Plantar o jardim e decorar a alma é alimentar as nossas emoções e pensamentos com as coisas boas da vida e do viver.
É colocar sem moderação o néctar do amor em tudo que fazemos, do perdão, da empatia, da ética, do respeito, da consideração pelo outro.
E sem esperar que alguém faça isto para conosco.
Se ficarmos nessa de esperar receber para poder compartilhar, tenho uma má notícia. Teu bebedouro vai secar.
Precisamos urgentemente voltar a cuidar das entradas de nosso coração. Conforme um sábio escreveu no livro dos Provérbios: Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida. Provérbios 4,2.
E, não menos urgente, precisamos vigiar a qualidade dos pensamentos que invadem nossa mente. E nos reeducar sobre o que circula em nosso processamento cerebral. Como bem disse Paulo: Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. Filipenses 4,8
Dando o melhor que temos aos outros, ao mundo, à realidade, estaremos trazendo pessoas para nossas jornadas de vida. E elas de nós se alimentarão, e cresceram com nosso exemplo inspirador.
Como disse no início da crônica eu estive de férias, e foi em João Pessoa. Num dia, pela manhã, vi um sobrinho levando a sua tia para conhecer o mar pela primeira vez, Dona Maria Dulce, a da foto, natural de Patos-PB. Ela tinha vindo à capital fazer exames cardíacos, e ficou hospedada na casa do sobrinho. Ele, após a bateria de exames a que ela se submeteu, a agraciou com esta visita ao mar. A cena era linda, ela mal se continha de emoção. Mas estava cansada. Sentado de meu posto de observação, percebi a aflição do sobrinho, em segurá-la perto do mar, do alto de seus 74 anos.
Então, corri com minha cadeira para melhor acomodá-la na beira-mar.
A água do mar lambia seus pés, e ela sorria. Falou que a vida dura no sertão nunca deu-lhe esta condição de passar uns dias na praia. E que ao se deparar com uma quase morte, pelo desmaio que teve, fruto de uma patologia no coração, ela decidiu que não morreria sem ver o mar.
Fiquei um tempão com ela, seu sobrinho, o Jarbas, e sua filha a Alice. Abasteci meu bebedouro com eles. Que gesto humano e solidário!
Perceberam como faço? São as pessoas boas as que melhor nos abastecem, inspiram e nos estimulam. Fico que nem meus pássaros à procura de beber do néctar delas e me fortalecer, e crescer.
No outro dia, no jornal local, aquele que passa na TV cedinho da manhã, a matéria destacava um voo de parapente para cadeirantes, organizado por voluntários.
Eu fiquei estatelado com a beleza da cena. Enchi muitos bebedouros de néctar com o que via. Consegui um trecho da mate´ria que um jornal local fez, vejam:
"Sessenta cadeirantes tiveram a oportunidade de voar gratuitamente de parapente na Praia do Sol, dias 19 e 20 de janeiro 2019, em João Pessoa, através do Projeto Não consigo andar, mas posso voar. Cláudio Cloudd, instrutor e piloto há mais de 18 anos, explicou que a ideia surgiu após um cadeirante falar que o sonho dele era voar. No mesmo momento, Cláudio o equipou e proporcionou o voo. Foram selecionados 30 cadeirantes de Pernambuco, 20 da Paraíba e 10 do Rio Grande do Norte.
Funcionando há dois anos, o projeto tem o apoio de uma faculdade Maurício de Nassau e o auxílio de mais 18 instrutores. Carolina Vieira, uma das selecionadas, perdeu o movimento das pernas após um acidente de moto. Já envolvida com o outros esportes e atividades antes do acidente, ela afirmou que foi a primeira vez que teve uma oportunidade como essa. “Antes do acidente, eu era professora de dança e fazia o curso de educação física, então já tinha essa coisa do esporte. Mas essa trip radical é a primeira vez, estou maravilhada com a sensação”, destacou. “Estamos desenvolvendo um projeto belíssimo que tem tirado as pessoas com deficiência de dentro de casa e feito com quem elas possam voar. No céu não existem muros, obstáculos e barreiras”, destacou Sérgio Murilo, coordenador do projeto."
E aí, encheu seus bebedouros também? Em todo lugar tem gente fazendo coisas assim. Aposto que aí pertinho de você. Ou até você mesmo faz um monte de coisas legais pelos outros.
Então, esta é a mensagem desta crônica. Não podemos desistir de nós mesmos, naquilo que temos de mais precioso: nossas emoções e pensamentos positivos. Serão eles quem capacitarão nossa percepção a também colher da realidade aspectos bacanas, esperançosos, otimistas, bons, legais e virtuosos da vida e do viver. Afinal, quem tem um jardim dentro de si, costuma ver jardins por todo lugar, inclusive nos outros.
Não espere pelos outros para dar o seu melhor na jornada do Ser. Pássaros sedentos dependem das gotas de seu néctar de esperança, amor, paz, apoio e inspiração em momentos dolorosos do existir.
E sabe onde é o melhor local para isto? No teu trabalho, na tua família, na tua escola, ou no teu condomínio. O melhor local para dar o nosso melhor é o que nele estamos.
Temos uma mania de não fazer a nossa parte, atribuindo apenas ao Governo, aos outros, ou até às circunstâncias, as justificativas para que eles façam.
E aí calamos a nossa consciência. Afinal, o problema não é meu. E por que serei uma pessoa justa, ética, boa e mansa, convivendo nesta selava humana?
Elementar meu caro amigo, para não se tornar como eles!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é uma honra.