Na vida, para ser mais feliz, aprenda a também celebrar a Prata. (Autor Ricardo de Faria Barros)


Era dia de final do torneio de futebol Sub-10, um campeonato interescolar do qual você participava.
Estávamos muito ansiosos. Cada um por suas razões. Você por atuar no gol. Eu, por ser pai de goleiro, que só perde em aflição pra mãe de juiz, antes do VAR.
Chegamos bem cedo, umas duas horas antes, e você disse que iria treinar com os colegas.
Fiquei no carro ouvindo música, esperando mais um pouco para ir torcer, já que o jogo só começaria 19h30.
Pelas 18h30, encostou outro carro ao lado do nosso. Dele, saiu um menininho, de tua idade, mas com o padrão de outro colégio. Puxei conversa com ele, perguntando se iria jogar contra o teu time. Ao que a mãe dele, toda orgulhosa, disse que não. Que o seu filho iria disputar o terceiro lugar, na outra final.  Ahh, esclareci então que o teu jogo era a disputa do primeiro lugar.
Teu jogo começou e o resultado não nos foi favorável. Embora você tenha defendido muitas bolas, de tanto eles tentarem conseguiram fazer dois gols. E, o ataque de teu time não conseguia passar do meio do campo.
Na hora da premiação, parte dos teus amiguinhos choravam. Você estava de cabeça baixa. O técnico distribuiu as medalhas de segundo lugar para os pais presentes, e eu tive a honra de te premiar com uma delas.
Tentei te animar, mas vi que era melhor te deixar quieto, na tua sofrência.
Por uma das coincidências da vida, ao retornarmos para nosso carro ao nosso lado também retornava o menininho do estacionamento e sua mãe. Vi que no peito dele estava a medalha de terceiro lugar. Cumprimentei ele, ao que fui correspondido com um sorrisão do mesmo, que era todo alegria. Nem me fale da mãe dele, que não se cabia em tanto orgulho.
Voltamos silenciosos. Então, te perguntei qual dos dois times venceu mais partidas durante o campeonato. Se o teu, ou o dele.  Tu fez as contas e chegou a conclusão que ambos. Só que em momentos diferentes.  As vitórias do teu time, o percurso que trilhou, permitiu chegar ao 2 lugar. A do outro time, permitiu chegar ao terceiro lugar.
Mas, parece que o time que consegue a medalha de bronze vibra mais do que o que perde a de ouro.
Não é?
No de bronze, fica o sabor da vitória. E valorizam ter chegado ao pódio.
No de prata, fica o desgosto da derrota. E desprezam ter chegado ao pódio.
Esta metáfora vale pra nossa vida. Temos esta característica também, de desvalorizar os feitos ao longo da jornada.  Assim como tu esqueceu todas as vitórias que te levaram chegar ao segundo lugar, também esquecemos as nossas.
Basta que algo de ruim nos ocorra, num fechamento de um ciclo, numa transição, que pegamos aquela cena e a extrapolamos para todo o conjunto de nosso viver. Ampliando, ecoando e reverberando a intensidade daquele sofrer.
Vamos dizer que em tua carreira você progrediu em 10 anos por cinco níveis, sendo três neles na carreira técnica e dois na carreira gerencial. Aí, tu vai participar de uma seleção para o próximo nível da carreira gerencial, e não passa na entrevista.
Aí tu passa um tempão de tua vida com esta mágoa remoendo teu viver. Tu fica ruminando a seleção que não passou. Esquecendo as vitórias que já teve e o lugar que já chegou.
Do mesmo jeito que tu ficou em relação ao segundo lugar. Esquecendo que o segundo lugar é melhor que o terceiro.
Se tu pode aprender algo é esta lição. Nada na vida é para sempre. Nem a alegria, nem a tristeza.
A vida não pode ser medida como quem mede uma safra de inverno. A vida precisa ser avaliada numa perspectiva temporal maior, e sempre em referência social, para poder ser contextualizada.
É preciso intervir no processamento cerebral, modulado para sintonizar no negativo, sempre que algo de ruim ocorrer que possa querer tirar o brilho da jornada até então percorrida. Focando com força na cena atual que não é boa, que causa desprazer, mas perdendo de vista as anteriores, que num somatório causam tanto orgulho em teu existir.
Isto é arte. Exige treino. Nessa sociedade somos treinados para sermos os melhores, maiores e mais fortes. Uma sociedade que diz que o segundo lugar é do primeiro perdedor. Uma sociedade que não perdoa o fracasso, e que vive querendo nos iludir com promessas de prosperidade a todo custo, com frases ditas desde a infância:  
“Você é o mais demais de todos...”
“Você merece tudo!”
“A natureza conspira para você, é só mentalizar.”
“Você é o cara e logo vai arrebentar!”
Filho, você não é demais de todos. Não merece tudo Não adianta mentalizar, não funciona assim, precisa se esforçar. E nem vai arrebentar logo, e talvez nunca.
Mas, mesmo assim, pode encontrar a paz, o sentido na vida, se sentir bem em ser quem é, sem precisar viver personagens para ser aceito.
Verá que nem todos ganham, e que perder faz parte do processo de aprendizado. E, que muitas vezes, aquilo que almejava tanto, talvez não tivesse sido tão bom para ti.
A vida vai nos ensinando isto,  pouco a pouco, mas é preciso estar na frequência certa, para aprender isto.
É preciso aprender a carregar menos fardos. Deixar de perseguir um estilo de vida insustentável, cheio de ambição, inveja e cobiça.
O preço disso é a nossa saúde emocional. E é um preço caríssimo.
Então, da próxima vez que ganhar uma medalha de prata, valorize-a. 
Lembre-se que do ponto de vista do pódio, ela está mais no alto do que a de Bronze!

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